Deus mentiu para Adão?

– A Bíblia diz que o pecado entrou no mundo através de ADÃO e EVA… Mas ha uma passagem onde diz que, DEUS fala a ADÃO que se ele comece do fruto da arvore do bem e do mal, o mesmo morreria INDUBITAVÉLMENTE, e após ADÃO comeu do fruto o mesmo não morreu… Isso significa que DEUS mentiu a ADÃO, então se já havia a mentira já havia o pecado. (Anderson)

Caro Anderson,

Que a graça e a paz de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja conosco!

Em sua mensagem, “errais não compreendendo as escrituras” (1). Deus não peca, portanto não mente… O texto a que se refere, é Genesis 2,15-17:

“O Senhor Deus tomou o homem e colocou-o no jardim do Éden para cultivá-lo e guardá-lo. Deu-lhe este preceito: “Podes comer do fruto de todas as árvores do jardim; mas não comas do fruto da árvore da ciência do bem e do mal; porque no dia em que dele comeres, morrerás indubitavelmente.”

Ora, indubitavelmente (2), não quer dizer imediatamente (3). Antes que Adão e Eva pecassem desobedecendo a Deus e dando ouvidos à serpente (cf. Gn 3,1-5), estes viviam na “amizade de Deus”, gozando de um estado de graça, harmonia e felicidade (4). O livro da Sabedoria demonstra que Deus criou o homem para a imortalidade:

“Ora, Deus criou o homem para a imortalidade, e o fez à imagem de sua própria natureza. É por inveja do demônio que a morte entrou no mundo, e os que pertencem ao demônio prová-la-ão. (Sb 2,23-24).

Somente após desobedecerem a Deus, é que Adão e Eva perderam a graça da imortalidade, um dos dons preternaturais (cf. Nota 4), e isso não implicou em uma morte instantânea, mas indubitavelmente na morte (cf. Gen 3, 17-19).

“Comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de que foste tirado; porque és pó, e pó te hás de tornar.” (Gn 3,19)

Note que São Paulo afirma categoricamente:

”Porque o salário do pecado é a morte, enquanto o dom de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 6,23); ”Por isso, como por um só homem [Adão] entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim a morte passou a todo o gênero humano, porque todos pecaram… (…) Portanto, como pelo pecado de um só a condenação se estendeu a todos os homens, assim por um único ato de justiça recebem todos os homens a justificação que dá a vida. Assim como pela desobediência de um só homem foram todos constituídos pecadores, assim pela obediência de um só todos se tornarão justos. Sobreveio a lei para que abundasse o pecado. Mas onde abundou o pecado, superabundou a graça. Assim como o pecado reinou para a morte, assim também a graça reinaria pela justiça para a vida eterna, por meio de Jesus Cristo, nosso Senhor.” (Rm 5,12.18-21)

Esperando ter sanado a tua dúvida, despeço-me.

In caritate Christi,
Leandro.

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NOTAS:

[1] Cf. Mc 12,24.
[2] [Do lat. indubitabile.] Adjetivo de dois gêneros. Sobre que não pode haver dúvida; incontestável, irrefragável… (Dicionário Eletrônico Aurélio)
[3] Rápido, instantâneo (Dicionário Eletrônico Aurélio)
[4] “Na verdade, quem lê atentamente o texto bíblico, verifica-se que os primeiros homens gozavam de dons especiais constitutivos da “justiça original”¹; esta compreendia: 1) A filiação divina ou a graça santificante ou a elevação do homem à condição do filho de Deus, chamado a participar da vida e da felicidade do próprio Deus. É o que se deduz do texto sagrado, o qual indica claramente que Adão vivia na amizade com o Criador. Este Dom é dito “sobrenatural”, isto é, ultrapassa todas as exigências de qualquer criatura. 2) Os dons preternaturais, isto é, ampliavam as perfeições da natureza:
a) a imortalidade, pois em Gn 2,7; 3,3s.19 a morte é apresentada como conseqüência do pecado; isto significa que, antes do pecado, o homem não morreria dolorosa e tragicamente como hoje morre;
b) a impassibilidade ou ausência de sofrimentos, pois estes decorrem da sentença contraditória de Gn 3, 16;
c) a integridade ou a imunidade de concupiscência desregrada, visto que os primeiros pais, antes do pecado, não se envergonhavam da sua nudez (cf. Gn 2,25; 3,7—11); os seus instintos ou afetos estavam em consonância com a razão e a fé; não havia neles tendências contraditórias;
d) a ciência moral infusa, que os tornava aptos a assumir as suas responsabilidades diante de Deus. Os dons da justiça original não implicam que os primeiros homens fossem formosos; terão sido dons meramente interiores, compatíveis com a configuração rude e primitiva que as ciências naturais atribuem aos primeiros seres humanos. (cf. D. Estevão Bettencourt, osb In: Pecado Original: como entender?, PR nº 285, 1986,p.79)

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