Dicionário bíblico – letra a

AARÃO
Membro da tribo de Levi, irmão de Moisés e de Maria (Êxodo 4,14 Êxodo 15,20). Foi um notável colaborador de Moisés (Êxodo 17,8-15 Êxodo 24,1-11), seu porta-voz perante os israelitas e o Faraó (Êxodo 4,14-16 Êxodo 4,27-30 Êxodo 5,1-5). Foi pecador, por isso seu sacerdócio foi caduco (Êxodo 32,1-6 Êxodo 32,25-29; Números 12,1-13 Atos 7,39-41 Hebreus 7,11-14). A tradição sacerdotal vê nele o primeiro Sumo Sacerdote (Êxodo 29,1-30) e o antepassado da classe sacerdotal (Êxodo 28,1 Levítico 1,5). Dentro da tribo de Levi, Aarão e seus descendentes concentram em si o sacerdócio (Levítico 13-14 Números 18,1-28 Êxodo 30,19-20). No Novo Testamento o sacerdócio de Cristo é considerado mais perfeito que o de Aarão (Hebreus 7,11 Hebreus 7,23-27).

ABEL
Segundo filho de Adão e Eva. Era pastor e de seu rebanho oferecia sacrifícios agradáveis a Deus. Seu irmão Caim, que era agricultor, construtor de cidades (Gênese 4,17) e pai da civilização (Gênese 4,22), o assassinou por inveja (Gênese 4,2-8). Por causa de sua fé e justiça Abel tornou-se modelo do mártir cristão (Hebreus 11,4 1João 3,12). Seu sangue lembra o sangue purificador do justo Jesus (Hebreus 12,24 Mateus 23,35).

ABIRAM
Era membro da tribo de Rúben. Com seu irmão Datã e o apoio de Coré, revoltou-se contra a liderança de Moisés e os privilégios do sacerdócio de Aarão. Mas foram punidos por Deus e tragados pela terra (Números 16,1-40 Salmo 106,16-18).

ABLUÇÃO
A impureza legal do Antigo Testamento nada tem a ver com a impureza moral (Êxodo 19,10-14 Levítico 15,5-13 Deuteronômio 23,1-12 Ezequiel 44). Mas os profetas insistem mais na pureza de coração (Isaías 1,16-17 Ezequiel 36,25-27). Jesus e os apóstolos estavam em conflito com as abluções dos judeus (Marcos 7,1-8). A palavra de Deus é que purifica (João 15,3) e o sangue de Cristo nos lava de toda a mancha (João 13,6-15 Hebreus 10,19-22 Apocalipse 7,14). Ver "Puro-Impuro".

ABOMINAÇÃO
Termo de desprezo para indicar uma estátua de um ídolo (Deuteronômio 7,25 Cântico dos Cânticos 12,23). Em Ezequiel indica as práticas idolátricas em geral.

ABOMINAÇÃO DA DESOLAÇÃO
Nome desonroso que os livros de Daniel e Macabeus usam para designar o altar pagão que Antíoco Epífanes (168 a.C.) mandou erigir no templo de Jerusalém em homenagem a Baal Chamem (Senhor dos Céus), equivalente aramaico de Zeus Olímpico (cf. 1Macabeus 1,54 Daniel 11,31 e nota). No Novo Testamento o termo caracteriza a atividade blasfemadora do Anticristo antes da segunda vinda de Cristo (1Tessalonicenses 2,3-8 Lucas 21,14 Lucas 21,20).

ABRAÃO
É o mais antigo dos patriarcas e antepassado do povo de Israel (Gênese 11-25). Atendendo à ordem de Deus, deixou Ur dos caldeus e, na primeira metade do segundo milênio a.C., emigrou para Canaã. Ali Deus fez com ele uma aliança, prometendo uma terra e uma grande descendência. Quando estava em idade avançada, Sara sua esposa lhe deu um filho, Isaac. Mas Deus o submeteu à prova pedindo que lhe sacrificasse o filho único. Justificado por sua fé (Gálatas 3,6s; Romanos 4,1-13), Abraão tornou-se um modelo de fé e o pai de todos os crentes (Romanos 4,18-22 Hebreus 11,8-19).

ACÁIA
Província romana que compreende a parte central da atual Grécia (Atos 18,12 Atos 18,27), onde Paulo pregou o Evangelho durante a segunda e a terceira viagem missionária (Atos 17-19).

ADÃO
É o nome do primeiro ser humano (Gênese 4,25-5,5), criado à imagem de Deus. Em hebraico adam significa "ser humano", "gênero humano", e adamah, "terra". Este sentido coletivo do termo está presente no relato de Gênese 2-4. Mas os LXX e a Vulgata o interpretaram erroneamente como nome próprio, a partir de Gênese 2,19. Por sua origem o homem é terra (Gênese 2,7) e, ao morrer, voltará a ser terra (Gênese 3,19); enquanto vive deve cultivar a terra que é a sua morada (Gênese 2,5 Gênese 3,17 Gênese 3,23). Criado para viver no jardim do Éden, em companhia de Eva e na presença de Deus, Adão de lá foi expulso por causa de sua desobediência. Com esta desobediência o pecado e a morte entraram no mundo. Mas Cristo, o novo Adão, por sua obediência obteve a graça e a ressurreição de todos os homens (Romanos 5,12-21 1Coríntios 15,20-22 1Coríntios 15,25-49). Ver Gênese 2,7 e Gênese 4,26.

ADOÇÃO
São raros os casos de adoção no Antigo Testamento. E são reservados aos filhos da concubina (Gênese 30,1-13 cf. Gênese 49,1-28). Colocar o filho sobre os joelhos era um rito de adoção (Gênese 48,1-13 Gênese 50,23 Rute 4,16-17). O povo de Israel é o filho adotivo de Deus (Êxodo 4,22s; Jeremias 3,19 Oséias 11,1 Deuteronômio 14,1 Romanos 9,4). Oséias profetas lembram a Javé sua paternidade (Isaías 63,16-18 Isaías 64,7-9). O "nascer do alto", mediante a água e o Espírito Santo, é o sinal da adoção divina (João 3,3-7). Cristo resgatou os que estavam escravizados pela lei de Moisés e lhes deu uma adoção filial, que supera a jurídica, mediante o Espírito (Gálatas 4,4-7 Romanos 8,14-29 2Pedro 1,4). Devemos viver, portanto, como filhos de Deus (Filipenses 2,15-16 1Pedro 1,13-17), deixar-nos corrigir por ele quando pecamos (Hebreus 12,5-11) e a ele voltar como o filho pródigo (Lucas 15,11-32). Na oração devemos importuná-lo como a um pai (Mateus 6,7-15 Mateus 7,7-11). Ver "Batismo".

ADORAÇÃO
Somente a Deus se deve adorar (Êxodo 20,3-5 2Reis 17,36 Mateus 4,10 Atos 10,25-26) e Jesus Cristo (Mateus 28,17 Filipenses 2,9-11 Hebreus 1,6). Ver "Culto".

ADULTÉRIO
É toda relação sexual extraconjugal do homem ou da mulher casados. No Antigo Testamento,a mulher é considerada propriedade do marido e a virgem, antes do noivado, propriedade do pai. Por isso o adultério da mulher e a defloração duma virgem são um crime contra a lei e contra o direito da propriedade (Êxodo 20,14 Êxodo 22,15-16), punível com a morte (Deuteronômio 22,22-29). O povo eleito, infiel a Deus, é comparável à mulher adúltera (Oséias 1-3 Jeremias 2-3 Ezequiel 16). Jesus condenou o adultério, até o simples desejo de cometê-lo (Mateus 5,27s; Mateus 19,3-9), mas perdoou à mulher adúltera (João 8,1-11). O cristão é membro de Cristo, templo do Espírito Santo e vive uma vida nova na luz; por isso não deve profanar-se com o adultério e a fornicação (1Coríntios 5 1Coríntios 6,12-19 Efésios 4,17-5,20). Ver "Divórcio".

AGRIPA
São dois os personagens conhecidos por este nome:
1. Herodes Agripa I, neto de Herodes o Grande e Mariamne I. Nascido no ano 10 a.C., em 37 tornou-se tetrarca da Ituréia e Abilene; em 39, da Galiléia e Peréia; em 41, da Judéia e Samaria, e recebeu o título de rei. Em 44 morreu de repente em Cesaréia, após ter perseguido a comunidade cristã (Atos 12,1-23).
2. Herodes Agripa II (27-29), filho de Agripa I. Em 53 tornou-se tetrarca da Ituréia e Abilene e, como tal, escutou a defesa de Paulo reconhecendo sua inocência (Atos 25,13-26 Atos 25,32).

ÁGUA
Sendo a água indispensável para a vida dos homens (Êxodo 23,25), animais (Gênese 24,11-20) e plantas (1Reis 18,41-45), é vista como um dom salvífico de Deus. Ele a concede abundante aos que deseja salvar (Êxodo 17,5s; Isaías 12,5). Mas ela lhe serve também de instrumento de punição para os inimigos, como no dilúvio (Gênese 6-8) e no êxodo (Êxodo 14-15).
Usada na limpeza física, a água serve também na purificação cultual (Êxodo 30,17s; Levítico 16,4 Levítico 16,24) e ritual (Números 19,11-22). Para os tempos escatológicos Deus promete derramar sobre o povo águas purificadoras, acompanhadas de seu Espírito (Êxodo 36,25-27 Isaías 44,3 Zacarias 13,1s).
No Novo Testamento João Batista se serve da água para o seu batismo de penitência (Marcos 1,8-11). O batismo cristão é fonte de regeneração e renovação do Espírito Santo (Tito 3,5). Oséias que a ele se submetem são purificados de seus pecados e recebem o Espírito Santo (Atos 2,38 1Coríntios 10,1s). Cristo promete fazer jorrar a água viva de seu Espírito para os que nele crêem.

ALELUIA
É uma exclamação litúrgica em Tobias 13,22 e especialmente nos Salmos (Salmo 111-112 Salmo 104-105 Salmo 115-117 Salmo 146-150). O termo significa "louvai ao Senhor". É pois um convite do salmista para participar no alegre louvor de Deus, que passou para o uso da liturgia cristã.

ALIANÇA
Na época da monarquia de Israel (1030-587) a relação entre Deus e o povo passou a ser vista como um pacto de mútuo amor e fidelidade. Mas não como um pacto entre duas partes iguais, pois a iniciativa cabe unicamente a Deus. É ele quem escolhe gratuitamente Israel como seu povo. Em virtude desta eleição e aliança, Israel contrai obrigações.
O historiador sacerdotal (séc. VI a.C.) descreve a história salvífica desde a criação até à época de Moisés como uma sucessão de alianças divinas. Após o dilúvio, Deus faz com Noé uma aliança de caráter universal, que tem como preceito a proibição de comer sangue (cf. Gênese 9,1-17 e nota). Após a dispersão de Babel, Deus faz aliança com Abraão, restringindo o seu plano salvífico aos descendentes do patriarca, que são obrigados a praticar a circuncisão (cf. Gênese 17,3-14 e nota). Esta aliança inclui a promessa de descendência e duma terra (Gênese 12,3-7 Gênese 15,1s; Gênese 22,16-18 Gênese 50,24 Salmo 105,8-11). Depois da opressão do Egito, Deus sela com Israel a aliança do Sinai (cf. Êxodo 24,3-8 e nota), por meio do rito de sangue. Assim Israel nasceu como povo livre (Levítico 26,42-45 Deuteronômio 4,31 Eclesiástico 44,21-23) e comprometido em observar os mandamentos e a Lei (Êxodo 20,1 Êxodo 20,22-23,33 e nota; Deuteronômio 5,1-21). Em contrapartida, Deus promete fazê-lo seu povo particular (Êxodo 19,4-8) e cercá-lo com sua proteção (Deuteronômio 11,22-25 Deuteronômio 28,1-14).
Mas o povo foi muitas vezes infiel aos compromissos desta aliança. Oséias profetas denunciaram a infidelidade e anunciaram o exílio como castigo. Ao mesmo tempo, porém, prometeram uma nova aliança para os tempos messiânicos; ela será como um novo vínculo matrimonial entre Deus e Israel (Oséias 2,20-24), e a Lei será inscrita nos corações humanos transformados (Jeremias 31,33s; Jeremias 32,37-41 Ezequiel 36,26s).
Esta aliança cumpriu-se com a vinda de Cristo e foi selada pelo seu próprio sangue (Mateus 26,28 Hebreus 9,20 1Coríntios 11,25). Na nova aliança o pecado será apagado (Romanos 11,27), os corações humanos serão transformados pelo Espírito Santo (Romanos 5,5) e Deus passará a habitar entre os homens (2Coríntios 6,16).
Em grego o termo "aliança"significa também " testamento", ou última vontade que entra em vigor com a morte do testador. Por isso, a nova aliança inaugurada por Cristo é chamada também "Novo Testamento", em contraposição com a antiga aliança ou "Antigo Testamento" (Hebreus 9,16). Ver: Testemunho ou documento da aliança em Êxodo 25,16 e nota; o matrimônio como aliança em Malaquias 2,14 e nota.

ALMA
Não é noção bíblica, mas grega. Ver "Carne", "Homem".

ALTAR
Feito de terra ou de pedras (Êxodo 20,24), o altar servia em geral para oferecer sacrifícios; ocasionalmente é um monumento que lembra experiências religiosas dos patriarcas (Gênese 12,8 Gênese 13,8 Gênese 26,25 Gênese 33,20). O altar tinha nos ângulos quatro pontas salientes, chamadas também "chifres"; elas simbolizavam o poder e a força de Deus (Êxodo 27,2 Êxodo 37,25). Um criminoso agarrando-se nelas poderia garantir para si o asilo (Êxodo 21,14 1Reis 1,50) e escapar à vingança de sangue. No templo havia o altar dos holocaustos e o altar do incenso.
No Novo Testamento o altar perde sua importância, pois Cristo aboliu com seu sangue os sacrifícios cruentos do Antigo Testamento (Hebreus 9,28). Em seu lugar ganhou importância a mesa, pois a eucaristia celebra a ceia do Senhor (1Coríntios 11,20).

ALTÍSSIMO
Ver "Deus".

AMALEC
É o neto de Esaú e antepassado dos amalecitas. Esta tribo nômade do sul da Palestina tentou impedir a passagem de Israel rumo à Terra Prometida (Êxodo 17,8-16).

AMÉM
Termo hebraico que significa "certamente", "verdadeiramente" (cf. Deuteronômio 27,15 e nota).

AMON
É um clã que vive na Transjordânia, nas cabeceiras do rio Jaboc, onde está a atual cidade de Amã. Oséias amonitas tentaram barrar a passagem de Israel à Terra Prometida (Deuteronômio 23,5). Desde a época dos juízes se tornaram inimigos do povo eleito (Juízes 3,13 Juízes 10,6-9) e foram derrotados por Jefté (Juízes 11,1-12,4), Saul (1Samuel 11,1-11) e Davi (2Samuel 12,26-31). Segundo uma anedota popular são descendentes de Ben-Ami, nascido de um incesto de uma das filhas de Ló com o pai (Cf. Gênese 19,30-38 e nota).

AMOR
O amor a Deus é o primeiro e o maior dos mandamentos (Deuteronômio 6,5 Josué 22,5 Marcos 12,28-30). É a resposta do ser humano à iniciativa de Deus, que nos amou primeiro (Oséias 9,10 Oséias 11,1-4 Jeremias 2,2-4 Jeremias 31,3 Isaías 63,9 Gálatas 2,20 1João 4,19). O amor imenso de Deus se manifesta na cruz de Cristo (1João 3,1-16 1João 4,7-19 Romanos 5,8 Romanos 8,32).
O amor a Deus implica obediência à vontade de Deus (Deuteronômio 5,8-10 Deuteronômio 10,12-21 Mateus 7,21-28 João 15,9-11 1João 2,3 1João 5,3 Deuteronômio 5,8-10), o desapego ao mundo (Mateus 6,24 Romanos 8,7-11 Tiago 4,4 1João 2,15-17) e o amor a Jesus (Mateus 10,37 João 14,21-23 1Coríntios 16,24 Filipenses 1,21-23 Atos 5,41).
O amor ao próximo, junto com o amor a Deus, resume a Lei e os Profetas (Levítico 19,16-18 1Tessalonicenses 4,9-12 Gálatas 5,13-15 Romanos 13,8-10 Mateus 22,35-40 1João 2,7); é o "nó"da perfeição (Colossenses 3,14) e apaga os pecados (1Pedro 4,7-11). O amor aos inimigos foi revelado progressivamente (Deuteronômio 15,1-3 Levítico 19,33-34 Provérbios 25,21-22 Romanos 12,20 Mateus 5,43-48).
O amor ao próximo conhece degraus:
a) amar o próximo como a si mesmo (Mateus 22,26);
b) amar o próximo como a Cristo (Mateus 25,31-46);
c) amar o próximo como Cristo o ama (João 15,9s; 1João 3,16-19 1Pedro 1,22-23 João 15,9s); d) amar o próximo à imagem do amor trinitário (João 17,21-23 1João 4,7-16).
O amor fraterno é um sinal de contradição para o mundo (1João 3,11-15 João 15,18-21); é um sinal de que amamos a Deus (1João 2,3-11 1João 4,19-21 Tiago 2,1-3 Tiago 2,14-26). Ver "Próximo".

AMORREUS
Nome de um dos povos pré-israelitas que ocupavam a Palestina e a Transjordânia. Foram derrotados pelos israelitas ao iniciarem a conquista de Canaã, após a saída do Egito (Números 21,21-35). Na Cisjordânia, Josué derrotou cinco reis amorreus (Josué 10,1-14).

ANANIAS
O nome em hebraico significa "o Senhor compadeceu-se". São conhecidos três personagens do Novo Testamento com esse nome:
1. o marido de Safira (Atos 5,1-11);
2. o cristão que acolheu Paulo em Damasco, por ocasião de sua conversão (9,10-17; 22,12-16);
3. o Sumo Sacerdote que mandou esbofetear Paulo frente ao tribunal (23,2-5). Nesta ocasião, Paulo profetizou sua morte violenta; de fato, ele foi assassinado em 66 d.C. pelos zelotes.

ANÁS
Sumo Sacerdote, nomeado por Quirino, que exerceu o cargo entre 6 e 15 d.C. (Lucas 3,2). É o sogro do Sumo Sacerdote Caifás, com quem presidiu ao interrogatório de Jesus (João 18,13-24) e ao de Pedro e João (Atos 4,6).

ANÁTEMA
Ou "extermínio" (em hebraico herem), significa uma pessoa, animal ou coisa que alguém subtrai do uso profano, consagrando-a a Deus (Deuteronômio 12,12-14 Josué 11,11 Josué 11,14). Tal "anátema"não podia ser resgatado, e muitas vezes devia ser destruído (cf. Josué 6,17 e nota). Com o tempo, "anátema"indicava apenas objetos oferecidos a Deus (Levítico 27,28 Ezequiel 44,27 Marcos 7,11 Lucas 21,5). Neste sentido Paulo diz que desejava ser "anátema"de Cristo em favor dos judeus (cf. Romanos 9,2-5 e nota). Mas no Novo Testamento "anátema"podia significar também exclusão temporária ou definitiva de uma pessoa do culto e da comunidade (João 9,22 1Coríntios 16,22 Gálatas 1,8-9 cf. Esdras 10,8).

ANCIÃOS
No período tribal de Israel a autoridade era exercida pelos chefes das tribos, em geral os mais velhos. Em princípio, todos os chefes de família gozavam de iguais direitos, mas na realidade eram os poderosos que exerciam a autoridade na tribo. Assim, o termo "ancião"ficou vinculado mais à dignidade do que à idade. Aos anciãos cabia a chefia em tempos de guerra e o poder judicial em tempos de paz.
No período da monarquia perderam sua importância, graças à centralização do poder administrativo e judiciário em Jerusalém. Mas continuavam a organizar a vida cotidiana nas pequenas localidades, função que também exerceram após o exílio (Esdras 7,25 Esdras 10,8 Esdras 10,14). Junto com os sacerdotes e escribas faziam parte do Sinédrio (Mateus 27,41 Marcos 11,27 Marcos 14,43-53). Nas primeiras comunidades cristãs os anciãos governavam as igrejas locais (Atos 11,30 Atos 14,23 cf. 1Pedro 5,1 e nota).

ANJO
Significa "mensageiro", "enviado". Neste sentido Deus pode enviar profetas (Isaías 14,32) ou sacerdotes (Malaquias 2,7) como seus mensageiros. Em textos anteriores à monarquia, o anjo é às vezes identificado com o próprio Deus (cf. Gênese 16,7 e nota; Gênese 22,11-18 Gênese 31,11-13 Êxodo 3,2-5 Juízes 2,1-4). A preocupação com a transcendência divina (Deus, um ser distante e diferente), leva a falar dos anjos como intermediários (Êxodo 14 Êxodo 23,20-23 Números 22,22-35 Juízes 2,1-4 Juízes 6,11-24 Juízes 13,3-23 Gálatas 3,18-22 Êxodo 14,19-20). Eles são, portanto, os mediadores da Aliança. À maneira de um monarca oriental, cercado de cortesãos, Deus passa a ser visto como rodeado de anjos (Gênese 28,12 João 1,51 1Reis 22,19-23 Isaías 6,2-6 Jó 1,6-12 Mateus 16,27), organizados numa verdadeira hierarquia (Gênese 3,24 Isaías 6,2 Efésios 1,21 Colossenses 1,16 1Pedro 3,22 1Tessalonicenses 4,16).
A crença nos anjos se desenvolveu muito após o exílio. Por isso, o Novo Testamento insiste na superioridade da mediação de Cristo sobre a dos anjos (Hebreus 1,4-6 Hebreus 2,5-16 Efésios 1,20-23 Colossenses 1,15-20).

ANO SABÁTICO
Era o último de um período de sete anos. Nele o escravo hebreu tinha direito de recuperar a liberdade (Êxodo 21,2-6); os campos, vinhas e olivais deviam ficar inexplorados (Êxodo 23,10s). Ver Levítico 25,2 Deuteronômio 15,1 Jeremias 34,8.

ANTICRISTO
Ou "homem da iniqüidade" (2Tessalonicenses 2,1-11), é tudo o que se opõe a Cristo, ao Messias. É um personagem que se dedica totalmente ao mal (cf. 1João 2,18 2João 1,7) e que se atribui honras divinas. Em Mateus e Marcos parece ser um personagem coletivo (Mateus 24,23s; Marcos 13,14-20). É a encarnação das forças políticas e religiosas que se opõem ao reino de Deus inaugurado por Cristo (Apocalipse 13,1-18). Cristo, iniciando o combate escatológico contra o mal, já se encontrou com o anticristo, "o príncipe deste mundo" (João 12,31-32 João 14,30 João 16,11), a quem aniquilará no fim dos tempos (2Tessalonicenses 2,8 2Tessalonicenses 1,7-10). Ver "Parusia".

ANTIOQUIA
Cidade fundada por Seleuco I, que se tornou um rico centro comercial, foco da cultura helênica e residência dos Selêucidas. Em 64 a.C.tornou-se capital da província romana da Síria. Ali foi fundada a primeira comunidade cristã mista, composta de judeus e pagãos convertidos. Oséias membros desta comunidade pela primeira vez foram chamados cristãos. Dela partiram Paulo e Barnabé para as suas viagens missionárias (Atos 13,1-3 Atos 14,26-28 Atos 15,35-40 Atos 18,22). Na Ásia Menor, na Pisídia, havia outra Antioquia, onde também Paulo e Barnabé fundaram uma comunidade cristã (Atos 13,14-52).

ANTIPAS
Ou Herodes Antipas, um dos filhos de Herodes o Grande, que de 4 a.C.a 39 d.C. governou a tetrarquia da Galiléia e da Peréia. Nos Evangelhos é chamado simplesmente Herodes (Lucas 3,19 Lucas 9,9 Lucas 13,31-33) e foi denunciado por João Batista por ter tomado a mulher de seu irmão, Herodes Filipe. Instigado por Herodíades, Antipas mandou degolar o Batista (Mateus 14,1-12). Ver "Herodes".

APARIÇÃO
Ver "Teofania".

APOCALÍPTICA
Ou gênero literário apocalíptico. Amplamente difundido no judaísmo do séc. II a.C.ao II d.C.. Tal literatura se caracteriza por uma fantasia exuberante e mesmo bizarra. Nela, animais simbolizam pessoas e povos; números têm valor simbólico e a revelação sobre a história futura é feita por meio de visões explicadas por anjos intérpretes, apresentados como homens. Exemplos deste gênero literário já aparecem em Isaías 24-27; Ezequiel 38-39; Zacarias 9-14. Mas ele é amplamente usado no livro de Daniel, no Apocalipse e na literatura apócrifa judaica e cristã.

APÓCRIFOS
São escritos judaicos ou cristãos não usados na liturgia e na teologia. Promovem muitas vezes doutrinas estranhas e mesmo heréticas. Para recomendá-las aos leitores são apresentados como pretensas revelações de personagens bíblicos do Antigo Testamento e do Novo Testamento. Mas não foram inseridos entre os livros canônicos. Há livros apócrifos tanto do Antigo Testamento como do Novo Testamento. As Igrejas protestantes chamam de apócrifos aqueles livros do Antigo Testamento que os católicos consideram deuterocanônicos. Oséias que os católicos chamam apócrifos, os protestantes consideram pseudepígrafos. Para o Novo Testamento adotam a mesma terminologia dos católicos.

APOLO
Cristão de Alexandria que pregou o Evangelho em Éfeso e Corinto, mas no começo conhecia apenas o batismo de João Batista (Atos 18,24-28 1Coríntios 1,12).

APÓSTOLO
Significa "enviado", " mensageiro". Nos evangelhos o termo é reservado aos doze discípulos escolhidos por Jesus (Marcos 3,13-19 Lucas 6,13-16), para agir em seu nome (Mateus 10,5-8 Mateus 10,40). Oséias apóstolos são escolhidos por Deus para pregar o Evangelho (Romanos 1,1 2Coríntios 5,20), são a base da Igreja (Efésios 2,20 Apocalipse 21,14) e constituem o novo Israel de Deus, recordando as doze tribos (Gênese 35,23-26 Atos 7,8 Mateus 19,28 Lucas 22,30).
Duas são as condições para ser apóstolo: Ter participado na vida pública de Jesus e ser testemunha da ressurreição (s; Atos 2,32 Mateus 28,19 João 20,21). Por isso, contemporâneos de Paulo negavam-lhe a categoria de apóstolo, pois não pertencia aos Doze, nem havia compartilhado da vida pública do Senhor (1Coríntios 9,1-2 1Coríntios 15,3-9 2Coríntios 11,5 2Coríntios 11,13 2Coríntios 12,11-13). Mas Paulo responde que também viu o Ressuscitado, dele recebeu o Evangelho e a investidura no apostolado. Por isso, ele se considera apóstolo de Cristo (1Coríntios 1,1 1Coríntios 1,1 Gálatas 1,1 Efésios 1,1) distinguindo-se dos apóstolos (enviados) das igrejas (Filipenses 2,25 Filipenses 4,3 2Coríntios 8,23 Romanos 16,7), ainda que não pertença aos Doze e não seja testemunha da ressurreição (1Coríntios 12,28 1Coríntios 15,7-11 Gálatas 1,15s).
Pedro aparece como o primeiro dos apóstolos (Lucas 6,14 Lucas 12,41 Lucas 8,45 Lucas 9,32-33. Ele é a "rocha" e o portador das chaves da casa de Deus (Mateus 16,17-18 João 1,41-42); é a primeira testemunha da ressurreição (Atos 1,15-20).

ÁQÜILA
Judeu que se converteu com sua esposa Priscila em Roma, donde foi expulso por decreto de Cláudio, junto com outros judeus. Nesta ocasião Paulo o encontrou em Corinto, trabalhou e hospedou-se em sua casa (Atos 18,2s). Áqüila e Priscila acompanharam Paulo a Éfeso, onde encontraram Apolo e o instruíram na doutrina do Apóstolo (Atos 18,18-26). Paulo os tinha em grande estima como cooperadores no apostolado (Romanos 16,3-5).

ARCA DA ALIANÇA
Ou "arca de Deus" (1Samuel 3,3), era um cofre de madeira recamado de ouro (Êxodo 25,1-22), sinal visível da presença do Deus invisível no meio do povo. Aos israelitas não era permitido representar a divindade por meio de imagens ou esculturas. No entanto a fé precisa de suportes sensíveis e a arca preenchia tal necessidade. Tanta era a fé do povo na arca sagrada, que por vezes a levavam ao campo de batalha, persuadidos de que assim Deus mesmo lutaria a seu lado (1Samuel 4,2-11). Era chamada "da aliança"ou também "do testemunho", porque nela estavam guardadas as tábuas da Lei, base da aliança de Deus com Israel. A arca foi colocada no recinto do Santo dos Santos do templo de Jerusalém (2Reis 8,1-9). Perdeu-se com a destruição de Jerusalém em 587 a.C.(2Reis 25,1-21). Sobre o destino da arca da aliança veja a lenda em 2Macabeus 2,4-8 (nota). Ver "Imagem".

AREÓPAGO
Colina de pedra junto à Acrópole de Atenas, onde havia santuários pagãos. Ali se reunia o Supremo Tribunal de Atenas. Paulo, no ano 50 d.C., dirigiu um discurso aos membros do Areópago (Atos 17,19-34).

ARQUELAU
Etnarca da Judéia, Samaria e Iduméia (4 a.C. a 6 d.C.), mencionado em Mateus 2,22. Escandalizou os judeus por sua vida particular e pelas nomeações de sumos sacerdotes, que fez. Foi denunciado em Roma e deposto. O seu território passou a ser governado pelos procuradores romanos.

ASCENSÃO
Tradições bíblicas populares falam da ascensão de personagens que voltariam no fim dos tempos (Gênese 5,21-24 2Reis 2,11-13 Jud 1,14). Ressurreição e Ascensão de Jesus são um e o mesmo mistério (Lucas 24,1 Lucas 24,13 Lucas 24,50-53 João 20,17-23 Romanos 8,34). Somente Atos 1,1-11 fala de um intervalo de 40 dias entre a Ressurreição e Ascensão. O binômio descida-subida ilumina o sentido da ascensão (Atos 2,29-36 Filipenses 2,6-11 Efésios 4,10 1Pedro 3,19-22 Romanos 10,5-7); João concentra estes dois aspectos na palavra exaltar (João 3,12-15 João 8,27-29 João 12,31-34). Afirma a divindade de Cristo e tem uma dimensão escatológica (Lucas 24,26 Atos 1,9-11 Efésios 1,20 Hebreus 9,24 1Pedro 3,22 cf. Mateus 24,30-31). É garantia da nossa salvação (João 14,2s; Romanos 8,17 Romanos 8,34 Efésios 2,5s; 1Pedro 1,3-4).

ASERA
Divindade feminina dos fenícios, companheira de Baal, representada por um árvore ou por uma estaca sagrada. Ver "Astarte".

ÁSIA
Correspondia ao reino dos Selêucidas, que abrangia a Ásia Menor e o Médio Oriente (1Macabeus 8,6 1Macabeus 11,3 1Macabeus 12,39 2Macabeus 3,3 2Macabeus 10,24). Mais tarde a província romana da Ásia, cuja capital era Éfeso, abrangia a Mísia, a Frígia, a Lídia e a Cária, ou seja, a parte oeste da atual Ásia Menor (Romanos 16,6 1Coríntios 16,19 2Coríntios 1,8 2Timóteo 1,15). Paulo evangelizou esta região durante a sua terceira viagem (Atos 18-21). A Primeira Epístola de Pedro é dirigida também aos cristãos da Ásia e o Apocalipse envia cartas às sete principais comunidades da Ásia (Apocalipse 2-3).

ASSEMBLÉIA
Ver "Igreja".

ASSIDEUS
Ver 1Macabeus 2,42

ASSÍRIOS
Semitas, descendentes de Assur, um dos filhos de Sem (Gênese 10,22). Estabeleceram-se no curso médio do rio Tigre, na Mesopotâmia. Eram um povo guerreiro, que herdou a cultura hurrita e suméria e fundou um grande império no séc. VII a.C., destruído pelos medos e babilônios em 605 a.C.. Foram eles que destruíram o reino de Israel (722 a.C.) e exilaram sua população (2Reis 17).

ASTARTE
Deusa semítica da vegetação e da fertilidade, associada a Baal. Era cultuada em toda a Ásia Menor, especialmente na Fenícia (1Reis 11,5 1Reis 11,33 2Reis 23,13). Seu culto também foi muito apreciado pelos israelitas, arrastando-os à idolatria (cf. Juízes 2,13 e nota). Ver "Asera".

AUGUSTO
Nome do primeiro imperador romano, sob o qual nasceu Jesus (Lucas 2,1). Significa "abençoado, sublime". Mais tarde passou a ser o nome comum dos imperadores reinantes, como expressão do sentido religioso da dignidade imperial. Por isso no Apocalipse se diz que o nome da "besta" é blasfemo (Apocalipse 13,1 Apocalipse 17,3).

AUTÊNTICO
Ou "genuíno", diz-se de um escrito que é realmente do autor a quem se atribui, ou de um texto traduzido enquanto é fiel ao original. O fato de um livro da Bíblia ser falsamente atribuído a algum determinado personagem bíblico não lhe tira a autoridade de escrito inspirado e canônico.

AUTORIDADE
Oséias israelitas conheceram apenas uma única forma de estado nacional : a monarquia. Na Bíblia havia uma corrente hostil à monarquia (1Samuel 8,1-22 1Samuel 10,18-27 Deuteronômio 17,14-20 Oséias 7,3-7 Oséias 13,9-11 Ezequiel 34,1-10); e outra favorável (1Samuel 9,1-10 1Samuel 9,16 1Samuel 11,1-11 1Samuel 11,15 Salmo 2 Salmo 20 Salmo 21).
Antes da monarquia havia juízes, salvadores das tribos em momentos críticos, chamados por isso "maiores" (Juízes 3,9-10 Juízes 3,15 Juízes 4,7 Juízes 8,22-23); ao lado deles havia os "juízes menores", ou governantes que se encarregavam de administrar a justiça (Juízes 10,1-5 Juízes 12,8-15). Depois dela, após o exílio, são as autoridades locais, tradicionais (Esdras 5,9 Esdras 6,7 Esdras 7,1-26 Lucas 22,66-23,1). Entretanto, Deus é o único e o verdadeiro rei das nações (Êxodo 15,8 Juízes 8,23 1Reis 22,19 Isaías 6,5 Isaías 41,21 Isaías 43,15 1Crônicas 17,14). Ele é também o dono de todas as nações (Isaías 14,21-23,18; 45,1-6; Provérbios 8,15-16 Eclesiástico 10,1-4).
Oséias profetas criticam os abusos das autoridades civis e religiosas (Miquéias 3,1-4 Amós 6,1-4 Oséias 4,1-5 Oséias 4,14 Oséias 7,1-7 Oséias 13,10s; Isaías 3,1-15 Isaías 10,1-4 Ezequiel 34), como Jesus o fará em relação aos escribas e fariseus (Mateus 23). Anunciam o reino de Deus (Isaías 7,14 Isaías 9,5-6 Isaías 11,1-5 Jeremias 23,5 Miquéias 5,1 Zacarias 9,9-10 cf. Salmo 47 Salmo 93 Salmo 96-99 Daniel 10,13 Daniel 10,20-21).
Jesus escolhe o caminho do Servo Sofredor e recusa a realeza temporal (Mateus 4,8-11 João 6,14-15 Atos 1,6) Sua realeza não é deste mundo (Mateus 21,1-9 Lucas 17,20-21 João 12,12-19 João 12,31-32 João 18,36-37 Efésios 1,9-10 Efésios 1,15-23).
Na Igreja, a autoridade está a serviço do próximo (Marcos 9,33-35 Mateus 23,11-12 João 13,12-17 Efésios 4,11s).

ÁZIMOS
São pães sem fermento que se comiam na semana da Páscoa. A festa dos Ázimos celebrava-se no princípio da colheita da cevada e do trigo (cf. Êxodo 12,15-20 Levítico 23,5-8). Ver "Festa".

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