Cânon vem do grego “kanwn”, que significa “uma vara reta” ou “linha”. Sobra-nos, talvez, ainda hoje, uma expressão herdada dessa palavra: “andar na linha”, ou seja, comportar-se retamente. E essa linha é um padrão de correção. São Paulo a usou por primeiro, como “regra” em 2Cor 10,13-15 e em Gál 6,16. Usando-a, São Clemente nos dá a entender que é a medida da correção que deve ser alcançada pelo cristão. Tertuliano, no fim do sec. II, chama as diversas manifestações do Credo, muitas delas recitadas pelos mártires, como “regras da fé”.
Em resumo, seguem algumas conotações dadas a essa palavra pelos Padres da Igreja, relacionadas por Bright: “O Concílio de Antioquia, no ano de 269, se referindo ao padrão da crença cristã, fala significativamente apenas de ‘o cânon’. Eusébio menciona ‘o cânon da verdade’ e ‘o cânon da oração’. E São Basílio diz ‘o cânon transmitido da verdadeira religião’. Segundo Tertuliano é ‘a regra da fé’ quando diz: ‘Nós, cristãos, sabemos o que cremos: não é uma idéia vaga sem substância ou contornos; pode ser definida formalmente e por ela testamos os espíritos para saber se são de Deus’. Assim, foi natural para Sócrates (nascido em 380) chamar o próprio Credo de Nicéia um ‘cânon’. Clemente de Alexandria usa a expressão ‘cânon da verdade’ como um padrão de interpretação mística.
Referindo-se à Tradição, Santo Irineu a utiliza quando diz que ‘ela assegura a regra da fé’.
Talvez uma nova conotação dessa palavra tenha sido introduzida quando Clemente de Alexandria definiu a harmonia entre os dois Testamentos de ‘um cânon para a Igreja’. Essa conotação se firma quando Eusébio fala do ‘cânon eclesiástico’ que reconheceu como Evangelhos tão somente quatro [Mateus, Marcos, Lucas e João]. Assim surge a segunda acepção da palavra aplicada para estabelecer os livros ‘canônicos’, pois Santo Atanásio se refere à lista dos livros que fazem parte das Sagradas Escrituras, reconhecidos expressamente pela Igreja, como ‘livros canonizados’. Dizemos nós hoje: ‘Livros Canônicos’.”
Em tempos posteriores surgiu a tendência de restringir o termo “Cânon” à matérias de disciplina, mas o Concílio de Trento continuou com o uso antigo do termo, chamando suas determinações doutrinais e disciplinares igualmente de “Cânones”. Por último, convém ressaltar o emprego da palavra para indicar aqueles que foram colocados na lista da Igreja como santos: “canonizados”, pessoas que mereceram a “canonização”.
Em todos essas subtis diferenciações da palavra, subsiste em última análise a conotação: “de acordo com o padrão de perfeição cristã.”