Nos primeiros tempos, o grego havia sido a língua oficial da Igreja. Tanto o Novo Testamento como os escritos dos Padres Apostólicos e da maior parte dos Apologistas foram feitos em grego. Levaria pouco tempo, no entanto, para que o latim começasse a se firmar no Ocidente.
Minúcio Félix, advogado em Roma, redigiu um diálogo apologético em latim, o Otávio (por volta de 197). A única apologia escrita nesta língua no tempo das perseguições.
Quintus Septimius Florens Tertullianus, nascido em Cartago, por volta do ano 160, filho de um centurião, pagão com excelente formação intelectual, possuidor de grandes conhecimentos jurídicos e de retórica. Conhecia bem o grego. Depois de exercer a jurisprudência em Roma, retornou para sua cidade de origem pelo ano 195, como cristão. Por volta do ano 207 rompe com a Igreja e adere ao montanismo. Sua morte ocorreu, provavelmente, depois do ano 220.
Exímio no uso do latim, Tertuliano foi o primeiro a usar o termo Trinitas para designar a Trindade. Expôs também a tese de que o Pai e o Filho eram da mesma substância. Antecipou-se em um século ao Símbolo de Nicéia.
Suas principais obras foram: Ad nationes, o Apologeticum (aos governadores das províncias do Império – uma apologia que considera as acusações políticas contra os cristãos, como o crime de lesa-majestade e a negação dos deuses imperiais; passa a apologética do plano filosófico para o jurídico), Adversus Iudaeos, De praescriptione haereticorum, Adversus Marcionem (contra a gnose de Marcião), Adversus Valentinianos (contra a gnose de Valentino), Scorpiace, De carne Christi (contra o docetismo dos gnósticos), Adversus Praxean (exposição mais clara antes de Nicéia sobre a doutrina da Trindade, contra o patripassiano Práxeas), De baptismo, De anima (obra antignóstica), Ad martyres, De paenitentia, Ad uxorum… Do período montanista temos alguns escritos de caráter ascético, como o De exhortatione castitatis, em que exorta um amigo viúvo a não contrair novas núpcias (para ele uma forma de devassidão), De corona (onde condena o exercício das funções militares por cristãos e refere de passagem o costume de se fazer o sinal da cruz), De pudicitia (onde, contrariando o que dizia enquanto católico, nega à Igreja o poder de perdoar pecados).
Tertuliano fala das duas naturezas na única pessoa de Jesus Cristo. Ensina que o primado e o poder das chaves foram dados à Pedro (fala da morte de Pedro e Paulo em Roma). Enquanto era católico, ensinava que a Igreja tinha poder de perdoar os pecados, embora apenas uma única vez. Descreveu com detalhes a confissão pública. Como na Didaqué, para ele a Missa é o cumprimento da profecia de Malaquias (Ml 1,10s), sacrifício verdadeiro oferecido a Deus. O Corpo e o Sangue de Cristo são distribuídos na comunhão. Também admite um estado de purificação póstumo, no qual todos, menos os mártires, permanecem até o dia do Juízo. As orações dos vivos, porém, podem confortar os que se encontram no Hades. Afirmava o milenarismo.
Contra os hereges, Tertuliano ensina: apenas a Igreja é quem pode possuir legitimamente a fé. A ela cabe a reta interpretação das Escrituras, à luz da Tradição. A doutrina conservada nas Igrejas apostólicas determina as verdades que devem ser cridas por todos os fiéis. Não adianta discutir com os hereges usando as Escrituras porque eles distorcem e mutilam a Palavra de Deus.
Sua atitude diante da filosofia pagã é essencialmente negativa. A especulação filosófica só é útil enquanto concorda com o Evangelho. Acredita na possibilidade de uma demonstração racional da existência de Deus e da imortalidade da alma.
Ao contrário da grande corrente da Tradição cristã (como a encontramos, por exemplo, no Proto-evangelho de Tiago), Tertuliano negava a virgindade perpétua de Maria.
Comodiano, Vitorino de Petau, Arnóbio de Sica e Lactâncio são outros grandes representantes da literatura cristã em latim no século III e no início do século IV.