Dúvida sobre o pagamento do dízimo

Caros Irmãos, a paz do Senhor.
Sei que a medida correta do dízimo é 10%. A minha dúvida é se os 10% tem que ser todos para a paróquia. Porque eu costumo dividir em três: uma parte para a paróquia, outra para uma instituição de caridade ligada à Igreja( Ajuda à Igreja que sofre) e outra para um programa de evangelização através dos meios de comunicação. Isso está correto?
Aguardo vossa resposta. Em Cristo. (Odair)

Prezado Odair,

Pax Christi!

Antes de mais nada, sugiro que leia o artigo “Uma interessante discussão sobre o dízimo protestante” (https://www.veritatis.com.br/article/4374), em que vemos que o dízimo, obra requerida pela Lei de Moisés, NÃO faz parte da Nova Aliança, muito embora a Igreja Católica (e apenas e somente ela), por deter o poder das chaves conferido a Pedro, possa – se quiser – estabelecer o dízimo.

Assim, na Nova Aliança vigora NATURALMENTE o sistema de ofertas (ou coleta), em que cada fiel deve contribuir RESPONSAVELMENTE (cf. 1Coríntios 9,9.13) com o que “lhe ordena o coração” (2Coríntios 9,7).

Nesse sentido, o Código de Direito Canônico afirma, em seu cânon 1262: “Os fiéis concorram para as necessidades da Igreja com as contribuições que lhe forem solicitadas e segundo as normas fixadas pela Conferência dos Bispos”. No Brasil, a CNBB definiu que: “Cabe à Província Eclesiástica dar normas pelas quais se determine a obrigação de os fiéis socorrerem às necessidades da Igreja, conforme o cânon 222, §1. Busquem-se, contudo, outros sistemas que – fomentando a participação responsável dos fiéis – tornem superada para a manutenção da Igreja a cobrança de taxas e espórtulas”.

Como – infelizmente – muitíssimos católicos não se atentam particularmente para as necessidades da igreja local e universal, muitas dioceses e paróquias acabaram por reavivar o sistema de dízimos ou implantar o aludido sistema de “taxas e espórtulas”, melhor explicado no artigo “Leitor pergunta sobre a cobrança de espórtulas” (https://www.veritatis.com.br/article/4819).

Mas ainda que venha a adotar o sistema de dízimos (que originariamente significa “a décima parte dos rendimentos”), o fato é que a Igreja não exige que seja dado 10% dos rendimentos dos fiéis; geralmente ela estabelece um valor fixo mensal, muitas vezes determinado pelo próprio dizimista, mas sempre prevalecendo o caráter voluntário, de forma que o seu não-pagamento não implicará jamais em excomunhão ou sanção de qualquer espécie.

Há, pois, pontos positivos e negativos no sistema de dízimos, como aponta d. Estêvão Bettencourt (PR 223:293, jul/1978):

– Pontos Postitivos:

a. O sistema de dízimos é extremamente educativo; desperta e cultiva nos fiéis a consciência de comunidade e co-responsabilidade, ou, ainda, de Igreja;

b. Aviva-se entre ricos e pobres da paróquia o sentido de justiça e fraternidade;

c. O sentido de esmola desaparece para dar lugar ao de serviço;

d. Desenvolve-se o espírito de fé e de participação dos leigos;

e. O sacerdote se beneficia de maior tranquilidade para poder dedicar-se ao ministério e planejar as suas atividades paroquiais;

f. Quanto melhor é a conscientização, tanto maior é a participação dos fiéis.

– Pontos Negativos:

a. A maioria do povo, em certos lugares, não contribui espontaneamente.

b. É difícil penetrar nos meios mais pobres.

c. Ocorre falta de pontualidade por parte dos dizimistas.

d. Verificam-se desistências e desânimos.

Nem é preciso falar que é justamente por causa desses pontos fracos que muitas comunidades protestantes (embora não façam jus ao dízimo por diversos motivos) o tornam obrigatório, sob os mais diversos argumentos… alguns até mesmo constrangedores…

Ressalte-se, ainda, que nas comunidades católicas onde o dízimo foi implantado com sucesso, foram suprimidas – coerentemente – TODAS as taxas e espórtulas. Mas isso graças a existência de inúmeros fiéis responsáveis e conscientes do sentido de co-responsabilidade, justiça e fraternidade!

Com tudo isto em mente, podemos agora responder a sua questão.

Você demonstra ser um cristão consciente e responsável, nos moldes como todo cristão deveria ser. Certamente, se todos fossem como você, nenhum fiel ficaria sobrecarregado e ainda sobraria muito dinheiro para se destinar às obras sociais e de evangelização promovidas pela Igreja.

O primeiro passo que deve ser feito por você (supondo que você vai manter o atual valor que separa para o dízimo) é verificar junto à sua comunidade qual o sistema adotado por ela: espórtulas, dízimos ou misto (já que algumas comunidades mantêm os dois sistemas, dispensando apenas os dizimistas das espórtulas e ofertas).

Caso seja adotado o sistema de dízimos ou o misto, você deverá verificar se existe algum valor fixo para o ser dedicado para o dízimo e que tenha sido previamente estipulado pela comunidade.

Existindo algum valor fixo, você deve destinar tal valor para o dízimo e distribuir a sobra para as outras duas obras que vem mantendo.

Contudo, caso não exista um valor fixo pré-determinado, você pode continuar mantendo a sua distribuição atual (1/3 para cada obra); entretanto, fique sempre ATENTO às necessidades da sua comunidade… Pode ocorrer que em alguns momentos ela tenha uma necessidade maior que em outros (p.ex.: uma obra de reforma); se isto ocorrer, destine um valor um pouco maior para ela, distribuindo então o que sobrar para as outras duas obras.

Espero tê-lo ajudado e que seu exemplo seja seguido por muitos outros católicos!

[]s
Fique com Deus

Facebook Comments

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.