Dúvida sobre o perdão das penas temporais

– É possível que apenas pela fé na obra redentora de Cristo se obtenha o perdão das penas temporais sem necessidade de recorrer a alguma pratica indulgenciada pela Igreja? Por exemplo: creio que Jesus não só me substituiu na Cruz quanto a pena eterna que eu teria que pagar, mas também com relação a pena temporal. O ato de eu crer nisto mais o errependimento acompanhado da confissão já não é o suficiente para obter também a remissão da pena temporal. Resumindo: Se eu arrependido orar para que Deus me perdoe também as penas temporais sem recorrer a indulgencia ele me ouvirá? (Emerson)

Caro Emerson,

Que a graça e a paz de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja conosco!

Agradecemos o seu contato e rogamos a sua oração por nosso apostolado.

Sobre a sua pergunta, o Catecismo da Igreja nos ensinando sobre “as penas dos pecados” prescreve:

”Para compreender esta doutrina e esta prática da Igreja, é preciso admitir que o pecado tem uma dupla conseqüência. O pecado grave priva-nos da comunhão com Deus e, conseqüentemente, nos toma incapazes da vida eterna; esta privação se chama “pena eterna” do pecado. Por outro lado, todo pecado, mesmo venial, acarreta um apego prejudicial às criaturas que exige purificação, quer aqui na terra, quer depois da morte, no estado chamado “purgatório”. Esta purificação liberta da chamada “pena temporal” do pecado. Essas duas penas não devem ser concebidas como uma espécie de vingança infligida por Deus do exterior, mas, antes, como uma conseqüência da própria natureza do pecado. Uma conversão que procede de uma ardente caridade pode chegar à total purificação do pecador, de tal modo que não haja mais nenhuma pena. (CIC § 1472)”

Como se pode depreender dessa última seção, uma conversão que proceda de uma ardente caridade pode chegar à total purificação do pecador, de tal modo que não haja mais nenhuma pena. Então, apenas “ter fé na obra redentora” ou “orar pedindo perdão das penas temporais” não adiantam. A ardente caridade se expressa com ação, não é fruto de uma fé estática, e sim de uma fé que se expresse em obras, como nos diz São Tiago:

“De que aproveitará, irmãos, a alguém dizer que tem fé, se não tiver obras? Acaso esta fé poderá salvá-lo? Se a um irmão ou a uma irmã faltarem roupas e o alimento cotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, mas não lhes der o necessário para o corpo, de que lhes aproveitará? Assim também a fé: se não tiver obras, é morta em si mesma. Mas alguém dirá: Tu tens fé, e eu tenho obras. Mostra-me a tua fé sem obras e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras”. (Tg 2,14-18)

É preciso que tenhas em mente também, que a pena temporal “não é uma espécie de vingança infligida por Deus do exterior, mas uma conseqüência da própria natureza do pecado”. Com efeito, nos diz São Tomás de Aquino:

“Sendo o pecado um ato desordenado, é evidente que todo o que peca, age contra alguma ordem. E é, portanto decorrência da própria ordem que seja humilhado. E essa humilhação é a pena” (S. Th. 1-2,q87, a.1; DI, ref.3 apud Aquino Felipe. In: O Purgatório: o que a Igreja ensina, p.44).

E a pena temporal, é paga (remida) não apenas por obras indulgenciadas (1), mas pela caridade e penitência.

Para aprofundamento recomendo a leitura dos seguintes artigos:

– JESUS, Leandro Martins de. Apostolado Veritatis Splendor: ENTENDENDO A DOUTRINA DAS INDULGÊNCIAS. Disponível em https://www.veritatis.com.br/article/5663. Desde 27/03/2009

– BRODBECK, Rafael Vitola. Apostolado Veritatis Splendor: JESUS JÁ PAGOU PELO PECADO NA CRUZ. QUAL O SENTIDO DAS PENITÊNCIAS E JEJUNS?. Disponível em https://www.veritatis.com.br/article/5319. Desde 15/09/2008.

– BRODBECK, Rafael Vitola. Apostolado Veritatis Splendor: O QUE SÃO AS INDULGÊNCIAS?. Disponível em https://www.veritatis.com.br/article/3874. Desde 16/06/2006.

– RAMALHETE, Carlos. Apostolado Veritatis Splendor: A IGREJA CATÓLICA VENDIA LUGARES NO CÉU?. Disponível em https://www.veritatis.com.br/article/3843. Desde 03/02/2002.

– SEMEDO, Alexandre. Apostolado Veritatis Splendor: SOBRE PENAS TEMPORAIS E PURGATÓRIO. Disponível em https://www.veritatis.com.br/article/2635. Desde 29/03/2004.

In caritate Christi,
Leandro

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NOTA:

(1) “Na Idade Média, a Igreja, com a certeza de que ela é a depositária dos méritos de Cristo (…) começou a aplicar isto aos seus filhos pecadores (…) entenderam que podiam aplicar esses méritos em favor dos penitentes que deviam cumprir penitências rigorosas. Assim surgiram as “obras indulgenciadas”, que substituíam as pesadas penitências (…) A partir daí, a remissão da pena temporal do pecado, obtida pelas prática dessas “obras indulgenciadas”, tomou o nome de “indulgência”. (Aquino Felipe. In: O Purgatório: o que a Igreja ensina, p.41-42).

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