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Devemos ser uma Igreja humana, sempre na necessidade de se renovar e se purificar (“Ecclesia sancta simul et purificanda”) – Nós somos a Igreja: papa, bispos, padres e povo. Ora, todos nós somos pecadores…
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Uma Igreja hierárquica sempre em estado de diaconia – A pobreza e a humildade são os meios escolhidos por Deus para a santificação da Igreja. […] A Igreja não foi instituída para buscar a glória terrestre, embora necessite de meios materiais. “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir”. A Igreja tem de conservar esse aspecto de diaconia… A Equipe de Liturgia, as Equipes de Celebração, bem como os Ministros de todas as categorias, estão a serviço do Povo de Deus, para o esplendor do culto. Ninguém está a serviço do padre. Também o padre preside como servidor. Quem é o maior deve portar-se como o menor, e quem manda, como quem serve.
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Uma sem compromissos, totalmente católica, aberta a todos – A Igreja não se prende a formas de cultura, de condições sociais, etc. A Igreja assume, purifica tudo quanto de bom têm todos os povos, as culturas, as civilizações. Não se pode identificar Igreja Latina com Igreja Universal. Evangelizar outros povos não significa levar-lhes a Igreja Latina. O Concílio Vaticano II é uma tentativa de purificar a Igreja, num trabalho de deslatinização, de desitalianização, de desromanização.
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Uma Igreja missionária, pluralista na unidade (unidade de fé) – Unidade não significa uniformidade e não exclui as consequências decorrentes da catolicidade. Todos, na Igreja, devem guardar a unidade nas coisas necessárias e a devida liberdade no pluralismo litúrgico. No Oriente como no Ocidente, subsiste aquela unidade que Cristo quis (Unit.Redint. 17b). Entretanto, a Liturgia e a Teologia têm suas diferenças. O pluralismo da Igreja reforça o conceito de catolicidade. “As Igrejas do Oriente e as do Ocidente têm o direito e o dever de se regerem por disciplinas diferentes” (L.G. 13). O próprio Concílio ensina como ideal para reafirmar a catolicidade a existência de Igrejas Particulares: “De tal forma que a variedade, longe de a prejudicar, antes a reafirma católica, aumenta-lhe o brilho”. No Brasil existe a Igreja latina, falta a Igreja brasileira (a liturgia é latina). Enquanto a Igreja não for brasileira, os brasileiros não serão Igreja. Pastoralmente, parece necessário e urgente levar todos os pequenos grupos (nº 44) – índios, africanos, etc. – a exprimirem, a seu modo, a mensagem de Deus.
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Uma Igreja humilde que reconhece poder receber ajuda de fora – Humilde, mais identificada com Cristo e seu Evangelho, mais desimpedida de compromissos com política, cultura ou filosofia (nº 76), a Igreja não coloca sua esperança nos privilégios e concessões da autoridade civil (Da Lib.Rel. 6). Através da humildade, a Igreja deve reconhecer que não tem resposta pronta para todos os problemas. Que os Pastores de Almas esclareçam seus fiéis sobre essa verdade. O pároco não é o “doutor sabe-tudo”; a Igreja não pode dar resposta clara a todo problema.
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Uma Igreja ecumênica que proclama haver elementos de santidade nas igrejas e comunidades não católicas – O Concílio afirma, em seus documentos, que fora da Igreja há elementos de santidade e de verdade (a Palavra escrita de Deus, a vida da Graça, as virtudes fé, esperança e caridade, e outros elementos). Entre os irmãos separados, há outras ações que podem produzir a vida da graça e abrir as portas à salvação. Ainda que tenham suas deficiências, as igrejas não-católicas não estão fora do plano da Graça e têm também riquezas espirituais; a Graça do Espírito Santo realiza algo nos irmãos separados. Todos esses bens pertencem à única Igreja de Cristo, mas essa perspectiva nos é estranha: o Concílio nos leva a atribuir também aos que estão fora da Igreja jurídica elementos de salvação. A verdade pastoral, que salva, não pode ficar no campo puramente especulativo e na prática dos princípios teológicos. Isso vale como resposta aos que acham que essas opiniões do Concílio não têm valor universal, porque o Concílio é pastoral e não dogmático.
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Uma Igreja perene, mas sempre imanente ao plano existencial – Realidade é a nota dominante no Concílio. […]
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Uma Igreja dialogante que convoca todos à colaboração – A palavra diálogo foi canonizada pelo Concílio, sendo citada várias vezes em muitos documentos. Diálogo com todos, universal, com respeito e caridade, mesmo com aqueles que pensam e agem de modo diferente de nós. O Concílio nos convida para um diálogo, inclusive com os ateus. Diálogo sincero. Devemos começa-lo entre nós, admitindo toda diversidade construtiva. Vale a pena dizer que essas coisas do Concílio não foram escritas por teólogos, em gabinetes, em torres de marfim… mas por homens experimentados nos campos de concentração durante a guerra. O Concílio afirma que qualquer católico pode, válida e licitamente, receber os sacramentos da Penitência e dos enfêrmos, de ministros orientais e vice-versa (decr.s/Igr.Or., 858/27).
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Uma Igreja otimista perante as realidades deste mundo que convida os portadores da esperança escatológica a ajudar na construção da cidade terrestre – A esperança escatológica e a construção da cidade terrestre podem unir-se plenamente, contra a teoria comunista que diz que o homem preocupado com os fins últimos não liga para a cidade terrestre. O Concílio diz, entretanto, que todo aquele que podendo, não liga para a construção da cidade terrestre, corre perigo de não se salvar (nº 333). O cristão que negligencia seus deveres para com o próximo também os omite para com Deus e corre o risco de perder a salvação.
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Uma Igreja confiante que pede respeito à dignidade da pessoa humana – O Concílio afirma que nunca, em tempo algum, o homem se afirmou tão livre e responsável. Somente na liberdade o homem pode decidir-se e voltar-se para o bem. Liberdade exterior e interior (Dign.Hum. nº 7). O próprio Deus respeita o princípio de que o homem só pode voltar-se para o bem em liberdade (G.S.). […].