3. Hb 4,14-16: Continuação: Sacerdote
14Visto que temos um sumo sacerdote excelente, que penetrou no céu, Jesus, o Filho de Deus, matenhamos nossa confissão. 15O sumo sacerdote que temos não é insensível à nossa fraqueza, já que foi provado como nós em tudo, exceto no pecado. 16Portanto, compareçamos com confiança diante do tribunal da graça, para obter misericórdia e alcançar a graça de um auxílio oportuno.
Esta passagem introduz o tratamento de Jesus como sumo sacerdote. Estes versículos constituem uma parênesis introduzida por 4,13 e como tal são simétricos com os vv.8-11 que constituem uma parênesis pontual até 4,12. A passagem dos vv.14-16 está demarcada pela palavra oun que se encontra nos vv.14 (econtev oun arcierea) e 16 (prosercwmeya oun meta parrhsiav). O primeiro ocorre pela alusão ao sacrifício que encontramos no v.13 e remete à discussão acerca do sumo sacerdote em 2,13b-18. A alusão a Isaac e Gn 22 que foi afirmada em 2,13a e 2,18 se continua no v.15 com a palavra pepeiramenon[42].
Assim como Jesus como logos é a base para o ingresso definitivo dos cristãos na terra do repouso de Deus nos vv.8-11, assim também Jesus como logos é a base para o recurso cristão a Deus como fonte de graça e misericórdia (v.16). A palavra “misericórida” (eleon) evoca o uso de “misericordioso” (evlehmwn) em 2,17, aplicado a Jesus como sumo sacerdote. A palavra “auxílio” (bohyeian) no v.16 remete à palavra “ajudar” (bohyhsai) em 2,18[44].
O timbre desenvolvido nos vv.14-16 com sua insistência sobre o “acercamento” (prosercomai) ao trono de Deus é inequívoco[45]. O que não está tão óbvio é a tese que defendemos neste estudo de que a promessa de Deus para Abraão acerca da descendência é realizada por Jesus como sumo sacerdote: é através de sua capacidade sacerdotal de purificar os pecados que um novo povo se forma, ao qual leva à perfeição todo povo de fé e verdade ao longo da história sagrada (ou seja, a semente espiritual de Abraão). O povo é um povo espiritual precisamente porque é sacerdotal, quer dizer, o resultado do sacrifício de Cristo.
C. Hb 5,1-10: Sl 2,7 e Sl 110,4: Texto e explicação
Depois da passagem “suporte” 4,12-13 com sua parênesis acompanhante em 4,8-11 e 4,14-16, na passagem 5,1-10 aparece uma gezerah shawah que é simétrica à gezerah shawah de 3,12-4,7. A simetria que envolve 3,12-4,7 e 5,1-10 não é perfeita: 3,12-4,7 é algo mais amplo, tem a função de comentar de modo midráshico um texto da Escritura (a citação de Sl 95,7-11), uma função que 5,1-10 não tem. A gezerah shawah se relaciona à natureza de Jesus como sumo sacerdote e continua a parênesis de 4,14-16 que por sua vez está baseada em 4,12, que também por sua vez, a causa do tema comum de o logos, está conectada com tudo o que precede. Assim, 5,1-10 é uma parte essencial de toda a passagem que começa com 3,7.
1Todo sumo sacerdote é escolhido entre os homens e nomeado representante deles diante de Deus, para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados. 2Pode ser indulgente com ignorantes e extraviados, porque também ele está sujeito a fraquezas, 3e por causa dela tem de oferecer por seus próprio pecados, da mesma forma que pelos do povo. 4E ninguém se arroga tal dignidade se não é chamando por Deus, como Aarão. 5Do mesmo modo, o Messias não atribuiu a si a honra de ser sumo sacerdote, mas a recebeu daquele que lhe disse:
‘Tu és meu filho, eu hoje te gerei’;
6e em outra passagem:
‘Tu és sacerdote perpétuo na linha de Melquisedec’.
7Durante sua vida mortal dirigiu pedidos e súplicas, com clamores e lágrimas, àquele que podia livrá-lo da morte, e por essa precaução foi ouvido. 8Embora sendo filho, aprendeu sofrendo o que é obedecer, 9e já consumado chegou a ser causa de salvação eterna para todos os que lhe obedecem, 10e Deus o proclamou sumo sacerdote na linha de Melquisedec.
A passagem começa com uma definição do sacerdócio aarônico da dispensação mosaica (5,1-4)[46]. A partícula conjuntiva gar alude à palavra avrciereuj em 4,15[47] e mostra que o que segue deve referir-se de algum modo a Cristo como sumo sacerdote tal como se considera naquele versículo.
A passagem 5,1-4 parece ser melhor compreendida se observada como referência ao sacerdócio aarônico em exclusão a Cristo. Pois Cristo não é da linha de Aarão (cf. Hb 7,14) e o principal ponto dos versículos 1-4 é o da dependência do sacerdote aarônico na chamada de Deus ao sacerdócio. Esta dependência está indicada pelo uso de passivos em lambanomenoj e kaqistatai nol v. 1 e kaloumenoj no v. 4, onde o agente, Deus, é indicado explicitamente. Além do mais, Cristo é sem pecado (4,5) e o sacerdote aarônico oferece sacrifícios pelo seu próprio pecado.
Mesmo que Cristo não seja um sacerdote da linha de Aarão, apesar disso Ele é chamando, como também era o sumo sacerdote aarônico. Este é o principal ponto de relevância de 5,1-4 para Cristo, como o indica 5,4-5: nenhum sumo sacerdote aarônico toma a si esta honra senão somente aquele que é chamado por Deus como foi Aarão (5,4). Assim Cristo não se glorificou fazendo-se sumo sacerdote, mas (o que o glorificou) foi o que lhe disse:…(5,5a). Ali continua a gezerah shawah em 5,5b-6. Consiste na citação do Sl 2,7 e Sl 110,4 unidos pelo pronome “tu”. O Sl 2,7 foi usado previamente em 1,5 para introduzir uma gezerah shawah e sua repetição parece ser intencional.
Em 1,5 e no Sl 2,7 é usado para indicar o momento da ressurreição quando a humanidade de Jesus se torna mensurável, proporcionada com sua divindade ao receber um corpo glorificado, e 2 Sm 7,14 na segunda parte da gezerah shawah ali indica o descendente da linha messiânica de Davi. A combinação das citações indica que o autor considera que ao momento da ressurreição o sacerdócio de Melquisedec é realizada no Filho[48]. No contexto, a ressurreição é então a chamada de Deus a ser sumo sacerdote. Desta maneira 4,15 torna-se evidente: o sumo sacerdote que os cristãos têm foi provado (v.15) e agora atua como intercessor no trono da Graça de Deus (v.16).
Deste modo, o autor de Hebreus atribui o sacerdócio de Melquisedec a Jesus como resultado de sua ressurreição. Esta é a segunda fase do sacerdócio de Jesus. A primeira fase é aludida somente em 4,15 em referência à prova de Jesus: Jesus tem sido “provado” (pepeirasmenon – perfeito) e por isso permanece na segunda etapa de seu sacerdócio como resultado de ter sido provado na primeira fase. Porém a segunda fase é aquela que alude 4,14 com a menção de Jesus como um “sumo sacerdote excelente” que “penetrou nos céus”[49]. O sacerdócio definitivo de Jesus é aquele “da ordem de Melquisedec” e se discute em 7,1-28.
Jesus é apresentado nos vv.7-10 como já sendo sacerdote quando Ele é “aperfeiçoado” (teleiow) e ?proclamado? (prosagoreuw) sumo sacerdote segundo a ordem de Melquisedec (vv. 9-10). Isto pode ser inferido do verbo usado no v.7 para descrever como Ele ofereceu “súplicas e orações”: prosferw, pois este mesmo verbo é usado nos vv.1.3 para oferecer os sacrifícios do sacerdócio aarônico[50]. O oferecimento de “orações e súplicas” precisamente como sacrifício é importante para resolver as crux acerca do objeto destas orações e súplicas[51].Porque isto somente pareceria eliminar as respostas usuais dadas ao objeto das orações e súplicas: sendo livre da necessidade de morrer, por exemplo, dificilmente pode ser um objeto de sacrifício[52]. Incluso o pedido de ser ressuscitado da morte não pode qualificar[53]. A única resposta dada que qualifica é que Jesus desejou morrer[54]. A consideração proposta é que Cristo é visto como o novo Isaac (cf. 2,8b-18; 4,13) que enfrenta a morte com fé e confiança como membro da descendência de Abraão. Nesta perspectiva as distintas cruces em 5,7-10 encontram uma explicação inteligível:
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As orações dirigidas a “Aquele que podia salvá-lo da morte” (proj ton dunamenon swzein auvton evk qanatou): como Deus salvou Isaac, assim também podia salvar Jesus;
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A intensidade das orações de Jesus – “com intenso clamor e lágrimas” (meta kraughj ivscuraj kai dakruwn): tal intensidade é compatível com a função de Jesus como alguém sem pecado (4,15) empenhado em levar a cabo a redenção dos homens através de sua própria morte;
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“E por essa precaução foi ouvido” (eivsakousqeij avpo thj euvlabeiaj): “precaução” em hebraico se usa em relação ao temor diante do poder de Deus[55];
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“Embora sendo filho, aprendeu sofrendo o que é obedecer” (kaiper wn uioj emaqen avfV wn epaqen thn upakohn): Jesus aprendeu por experiência, ou seja, como homem, a natureza positiva dos resultados da obediência (ao vir ao mundo já foi obediente -cf. Hb10,5-7)[56];
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Obediência a um Jesus “tornado perfeito” (teleiow) como causa de salvação eterna: A experiência de Jesus da natureza positiva dos resultados da obediência se reflete naqueles que se comportam como Ele frente à morte.
Assim, o contraste com a “debilidade” (avsqeneia) ao qual o sacerdócio aarônico está rodeado (5,2) é intentado para contrapor com a potência de Jesus: Jesus pode compadecer-se com a debilidade dos destinatários (4,5) não porque Ele mesmo foi débil, mas porque Ele foi “provado” (peirazw).
As suposições fundamentais em 5,1-10 pareceriam ser as seguintes: Jesus é sacerdote pelo fato de ter assumido carne e sangue para poder morrer pelos pecados da humanidade (Hb 2,14-15). Veio ao mundo para cumprir a vontade de Deus oferecendo seu próprio corpo no lugar dos sacrifícios da lei mosaica para a purificação do homem (Hb 10,5-10). Apesar da angústia de Deus como pai de permitir a morte de seu filho, Jesus prevaleceu e seu auto-oferecimento foi aceito pelo Pai (Hb 5,7-10). Porém não foi suficiente para constituir uma chamada positiva de Deus a Jesus para ser sumo sacerdote da maneira como Aarão e seus sucessores foram. Jesus não foi “eleito”[57] por Deus neste sentido técnico para oferecer seu sacrifício terreno (mas sim, Deus foi persuadido por Jesus a aceitar o sacrifício de si mesmo: Hb 5,7-8). Porém houve uma chamada oficial de Deus ao sacerdócio, e esta chamando ocorreu no momento da ressurreição, que foi uma iniciativa de Deus pela obediência de Jesus àquilo que ele percebeu ser a vontade de Deus (5,8). E o sacerdócio que resultou foi um sacerdócio segundo a linhagem de Melquisedec (5,10), e não a de Aarão.
D. Hb 5,11 ? 6,20: Parênesis
Até o fim da maior seção, 3,6-5,10, encontramos uma extensa parênesis em 5,11-6,20. Esta se divide em duas: 5,11 ? 6,8 (parênesis negativa) e 6,9-20 (parênesis positiva).
1. Hb 5,11 ? 6,8: Parênesis negativa
5,11SObre este tema temos muito a dizer, e é difícil explicá-lo, porque vos tornastes preguiçosos em escutar. 12Pois, quando devíeis com o tempo ser mestres, é necessário que vos ensinem os rudimentos da mensagem de Deus; estais precisando de leite, e não de alimento sólido. 13Quem vive de leite é criança e não entende de retidão. 14O alimento sólido é para os maduros, que com a prática e o treinamento dos sentidos sabem distinguir o bem do mal. 6,1 Por isso, deixaremos o elementar da doutrina cristã e nos ocuparemos do que é maduro. Não vamos outra vez lançar os alicerces, isto é, o arrependimento das obras mortas, a fé em Deus, 2a doutrina das abluções e da imposição das mãos, ressurreição de mortos e julgamento definitivo. 3(Faremos isso, se Deus no-lo conceder). 4Pois os que foram um vez iluminados saborearam o dom celeste, e participaram do Espírito Santo. 5Saborearam a boa Palavra de Deus e o dinamismo da era futura. 6Se depois renegam a fé, já não podem contar com outra renovação, crucificando de novo e expondo ao escárnio, para seu arrependimento, o Filho de Deus. 7Um terreno que recebe freqüentemente a chuva e produz plantas úteis para os que o cultivam, recebe uma bênção de Deus; 8mas, se produz cardos e espinhos, é inútil e pouco menos que maldito, e acabará queimando
O teor geral da primeira parte desta passagem é de lamentação do autor pelo descuido das coisas fundamentais da fé, corrente entre os destinatários. Esta lamentação está unida com uma insistência de que já é tempo dos destinatários serem levados a um conhecimento mais profundo da sua fé[58]. Está se referindo aos dois estágios do sacerdócio de Cristo. Os destinatários já haviam sido instruídos sobre o primeiro, ou seja, do estágio terreno deste sacerdócio, que inclui a crucificação, e devem agora avançar ao segundo estágio e sua conexão com a ordem de Melquisedec, que transcende a terrestre.
Na parênesis é importante notar a ênfase dada à imagem “falar” e “escutar”. A “palavra” (logos) do autor tem se tornado difícil de os destinatários escutar devido a sua “preguiça”[59]. Os destinatários necessitam retornar aos fundamentos dos “oráculos de Deus” (ta logia tou qeou). O autor deixa atrás “a palavra” do princípio de Cristo[60]. Os destinatários têm experimentado um “mundo maravilhoso de Deus”.
A impossibilidade de renovação do arrependimento expressa em 6,4-6 é outra crux clássica[61]. A apostasia em questão inclui a crucificação do Filho de Deus, ou seja, o sacrifício do primeiro estágio do sacerdócio de Jesus. Uma vez que alguns cristãos tenham caído – e ao fazer isso negaram implicitamente a eficácia da morte de Jesus na cruz – não podem recuperar para si a eficácia desta morte. É como na história de Esaú e sua primogenitura: uma vez que o ato tenha sido realizado e a bênção dada a outro (cf. 6,7) não há lugar para retorno (Hb 12,16-17). A referência latente de 6,6 parece ser ao batismo e sua conexão com a morte de Cristo: assim como a morte de Cristo foi de uma vez por todas, assim também o batismo é realizado de uma vez por todas. Não há lugar para mudanças[62].
2. Hb 6,9-20: Parênesis positiva
Uma parênesis positiva conclui esta seção baseada em 3,6.
6,9Embora nos falemos assim, queridos, cremos de vós o melhor, o que conduz à salvação; 10já que Deus não é injusto e não esquece vossas obras nem o amor que mostrastes em seu nome, servindo antes e agora aos consagrados. 11Mas desejamos que cada um de vós mostre até o fim a vossa diligência, até que se cumpra o que esperais; 12que não sejais preguiçosos, mas imitadores daquele que, pela fé e paciência, recebem como herança o prometido. 13Quando Deus fez uma promessa a Abraão, como não tivesse ninguém maior pelo qual jurar, jurou por si mesmo, 14dizendo: ‘Eu te abençoarei, multiplicarei tua descendência’. 15Abração teve paciência e alcançou o prometido. 16Os homens juram por alguém maior, e o juramento confirma e resolve qualquer discussão. 17Da mesma forma Deus, querendo provar abundantemente aos herdeiros da promessa que sua decisão era irrevogável, interpôs um juramento. 18Assim, com dois atos irrevogáveis, nos quais Deus não pode mentir, temos um consolo válido, nós que buscamos refúgio apegando-nos à esperança proposta. 19Ela é como âncora firme e segura da alma, e penetra para além da cortina, 20onde nosso Jesus entrou como precursor, nomeado sumo sacerdote perpétuo na linha de Melquisedec.
A parte positiva da parênesis começa com uma alusão aos versículos precedentes: o autor está convencido que os destinatários possuem a melhor parte da terra descrita no v.7, ou seja, uma terra que tem recebido as bênçãos de Deus, uma bênção que ainda deve ser alcançada[63]. São animados a imitar aqueles que obtiveram a promessa por meio da fé e da perseverança. A referência aqui é primariamente a Abraão, como mostrado nos vv.13-15. Os destinatários no v.12 são assim associados com os que “herdaram” (klhronomew) as promessas[64].
O que é de particular interesse ao autor é a promessa da descendência (v.14). Esta preocupação está expressa nas palavras do juramento de Deus a Abraão em relação ao sacrifício de Isaac em Gn 22. A seção termina com um sentença de transição que conduz a uma discussão de Jesus como sacerdote segundo a ordem de Melquisedec em 7,1-28. Assim, a associação de sacerdócio e promessa de descendência que começou em 12,13b-18 agora é explícita.
A conexão com o sacrifício de Isaac é enfatizada pela exegese de Gn 22,16-17 citada em Hb 6,13-14: as duas “coisas imutáveis” (duo pragmatwn avmetaqetwn) de 6,18 são 1) as promessas, e 2) o juramento de Deus em seguida da oblação obediente de Abraão[65]. Assim, em adição à associação do sacerdócio com a promessa de descendência, a parênesis positiva também estabelece a associação do sacrifício de Isaac pelas mãos de Abraão com a promessa de descendência.
O autor não se esqueceu da promessa da terra, posto que em 6,18 fala dos destinatários como “aqueles que fugiram” (oi katafugontej). A frase evoca as alusões ao Êxodo nos capítulos prévios[66] e mostra que o autor tem em mente a promessa da terra ainda quando não a desdobra aqui.
Sumário e Conclusões
O terceiro maior seguimento da epístola, depois do exórdio (1,1-4) e a discussão sobre o Filho (1,5-3,6) é 3,7-6,20. Esquematicamente pode se apresentar do seguinte modo:
A 3,7-11 Citação do Sl 95,7-11
B 3,12 ? 4,7 O ?descanso? do Sl 95,7-11 é o ?descanso? de Gn 2,2
C 4,8-11 Parênesis antecipada baseada em 4,2
D 4,12-13 o logov
C? 4,14-16 Parênesis retrospectiva baseada em 4,13
B? 5,1-10 O Filho do Sl 2,7 é o sacerdote do Sl 110,4
A? 5,11 ? 6,20 Parênesis retrospectiva positiva e negativa
O terceiro maior segmento de Hebreus (3,7 ? 6,20) pode então chamar-se uma discussão sobre ?a Palavra? (o logov). 4,12-13 («D») é o centro de atração que orienta tanto em relação ao precedente como em referência ao que segue, e indica o tema mais importante da seção. Cada um dos dois versículos que o formam tem sua própria parênesis («C y C?»). A construção da gezerah shawah se utiliza de 4,8-11 y 5,1-10 («B y B?») para espiritualizar as duas promessas da terra (espiritualizada explicitamente) e da descendência (espiritualizada implicitamente): a ?terra? se torna o ?descanso? eterno de Deus («B»), e o sacerdote que constitui a descendência se torna, em relação ao seu sacerdócio terreno, eterno na sua ressurreição («B?»). A citação do Sl 95,7-11 («A») inicia a passagem com o acento posto na primeira promessa da terra; a parênesis do final («A?») conclui com uma referência explícita à promessa da descendência feita a Abraão, e o sacerdócio segundo a ordem de Melquisedec através da qual esta descendência se torna realidade. Assim, o segmento começa com uma das duas promessas feitas a Abraão e termina com a outra, porém as seções «A» y «A?» são assimétricas na medida em que têm diferentes funções. «A» se ocupa do tema do êxodo de 3,1-6 e dali fala da terra, enquanto que «A?» prepara para a discussão acerca do sacerdócio de Melquisedec em 7,1-28 e dali fala do sacerdócio e descendência. Porém «A» introduz 3,12 ? 4,12 assim como «A?» faz o mesmo com 4,13 ? 5,10. E «A» é uma citação que contém parênesis, de modo que de concreto «A» é parenético tanto como «A?».
A unidade fundamental deste terceiro segmento vem ?da Palavra? (o logos), como pode inferir-se de sua posição central. Na interpretação proposta acima, 4,12 se refere à Palavra no contexto da falida introdução do povo por parte de Josué no repouso da terra física prometida de Deus; em conseqüência, a Palavra introduzirá infalivelmente ao povo no descanso da terra espiritual prometida de Deus. Somente aqueles indivíduos que se encontrem faltos de fé estão em perigo de não lograr entrar. Na interpretação proposta, 4,13 se refere à Palavra sob a figura do sacrifício de Isaac por parte de Abraão e a imagem da intercessão; em conseqüência, a Palavra como sacerdote e vítima terrenos se sacrifica a si mesmo sob a atenção de Deus (o primeiro estágio do sacerdócio de Cristo), e logo está junto a Deus como intercessor a favor de seu povo (o segundo e definitivo estágio do sacerdócio de Cristo).
Assim como a apresentação de Cristo como Palavra que garante a entrada na terra espiritual do repouso de Deus (4,12) foi preparada pela passagem 3,7 ? 4,11, analogamente a apresentação de Cristo como Palavra que realiza o sacrifício de si mesmo e intercede por seu povo (4,13) é desenvolvido na seção 4,14 ? 6,20. Esta última passagem termina com a referência ao juramento de Deus a Abraão que seguiu ao sacrifício de Isaac, concernente à reafirmação da promessa de descendência: Cristo constitui aquela progênie ao derramar seu sangre para a instituição de uma nova aliança e continua protegendo a descendência por sua constante intercessão à direita de Deus. Assim, Cristo como logos pode ser visto como a garantia da realização efetiva da promessa da terra, e como garantia da realização efetiva da promessa de descendência. Porém o último processo é somente insinuado. Mas a maneira como isto é levado a cabo é o material para Hb 7,1 ? 10,39.
[1] Cf. J. Swetnam, ?The Structure of Hebrews. A Fresh Look?, Melita Theologica 41 (1990) 25-46; idem, ?The Structure of Hebrews 1,1 ? 3,6?, Melita Theologica 43 (1992) 58-66.
[2] Cf. E. Grässer, An die Hebräer. 1. Teilband. Hebr 1-6 (Evangelisch-Katholischer Kommentar zum Neuen Testament, XVII/1; Zürich: Benziger Verlag / Neukirchen-Vluyn: Neukirchener Verlag. 1990), 174, n. 71. Para Grässer, uma alusão ao Espírito Santo é totalmente enganosa (ganz abwegig). Porém na visão de Hb 2,4, entendida no contexto de Hb 1,5-14, a alusão é apropriada. Os destinatários estão acompanhando a Nova Lei em seu novo Êxodo, e Deus está atuando como uma ?co-testemunha? mediante a participação em um ?Espírito Santo?.
[3] Grässer, 175 y 175, n.12.
[4] Grässer, 175.
[5] Grässer, 176.
[6] Grässer, 178.
[7] ?Die Verstockten schlesst Jahwe aus der Verheissung des Landbesitzes aus (Num 14,21-23)? (Grässer, 181).
[8] ?Der paränetische Zielgedanke ist klar: die Wüstengeneration als «Gegenbild der Christenheit» lehrt, dass nur dem durchgehaltenen Hoffnungsbekenntnis das Heilsziel sicher ist. «Verbitterung» und «Erprobung» (= Gott auf die Probe stellen) sind die immer aktuellen Stationem auf der Wüstenwanderung des menschlichen Lebens. Sie können wie damals so heute die versucherische Frage aufwerfen: «Ist Jahwe un unserer Mitte oder nicht» (Ex 17,7)?? (Grässer, 82).
[9] ?…an exegetical argument in which a term in one verse of Scripture is interpreted according to its use in another? (H. Attridge, The Epistle to the Hebrews [Hermeneia; Philadelphia: Fortress Press, 1989] 128-129, y 129, n.77).
[10] Attridge, 128-130.
[11] Cf. a importância da citação, situada em posição central, de Is 8,17 para Hb 2,8b-18.
[12] Cf. Grässer, 185: ?v. 12 zeigt, dass der «Predigttext» aus y 94m 7-11 unmittelbar zur Gemeinde redet, und zwar nicht als Paradigma (in diesem Falle würde man ein vergleichendes w`j erwarten), sondern als direkt anredendes «lebendiges Wort Gottes» (4,12). Als solches qualifiziert es jedes «Heute», in dem es laut wird, zum entscheidenden, eschatologischen Augenblick (v. 7.13.15; 4,7).?
[13] ?Im «Predigttext» y 94,7-11 war das Wort «Verheissung» unserem Verf, expressis verbis nicht vorgegeben. Er macht es ab von jetzt an zum zentralen Theologumenon seines Mahnschreibens. Das zeigt neben der Häufigkeit des Vorkommens (4,1; 6,12.15.17; 7,6; 8,6; 9,15; 10,36; 11,9.13.17.33.39; das Verb evpagge,llomai 6,13; 10,23; 11,11; 12,26) vor allem die Tatsache, dass innerhalb des Neuen Testament nur der Hebr als evpaggeila,menoj prädiziert (6,13; 10,23; 11,11). Dabei ist die juridische Komponente im Verheissungsbegriff unübersehbar: Wie die Aufhebrung der ersten Verheissung in 3,18 ist die evpaggeli,a in 6,13-18 mit einer Eidesleistung Gottes Verbunden? (Grässer, 200).
[14] Cf. E. Schippers, ?The Pre-Synoptic Tradition in I Thessalonians II, 13-16?, Novum Testamentum 8 (1966) 230.
[15] Cf. C. Spicq, L?Epître aux Hébreux. II. Commentaire (Études bibliques; Paris: Gabalda, 1953) 80-81.
[16] Cf. Attridge, 124-126.
[17] ?The author is not saying that the ancient Israelites were not united to the faithful remnant, Caleb and Joshua, who heard the message. Rather, he says that they were not united to ?us? who do, he hopes, listen to the message. The conceits is a bold one, and that boldness no doubt was a cause of the plethora of variants in the textual tradition. Yet the notion is quite similar to that expressed later (11:40), that the faithful heroes of the old covenant were to be perfected only by their union with Christians? (Attridge, 125-126).
[18] Para o presente escritor, o autor de Hebreus não tinha dúvida de que havia um substancial núcleo de cristãos que entrariam no descanso de Deus; é somente em relação aos eventuais casos individuais pelo que tem suas dúvidas. Cf. J. Swetnam, ?A Suggested Interpretation of Hebrews 9,15-18?, Catholic Biblical Quarterly 27 (1965) 382-383.
[19] Em 4,9 a idéia de ?descanso? está expressada pelo que parece ser um neologismo, sabbatismoj. Isto refere ao ?descanso? do Gênesis porém com matiz adicional da observância litúrgica (cf. Attridge, 130-131, para uma discussão de sabbatismoj). ?In Jewish tradition generally the sabbath was not simply a time of quiet inactivity but of festive praise and celebration? (Attridge, 131).
[20] A referência a Josué está fora de lugar. Porém a imagem usada no v. 12 indicará que o autor de Hebreus está pensando nos términos da cerimônia de circuncisão administrada por Josué aos homens da geração do deserto quando cruzaram o Jordão (Js 5,2-9).
[21] Attridge, 130.
[22] ?spoudazw é um termo característico da parênesis cristã, associada diretamente à Tradição, seja doutrinal (…), ética (…) ou ambas (…)? (P. Ellingworth, The Epistle to the Hebrews. A Commentary on the Greek Text [The New International Greek Testament Commentary; Grand Rapids: Eerdmans / Carlisle: Paternoster, 1993], 258).
[23] Cf. A. Vanhoye, La structure littéraire de l?Épître aux Hébreux (Desclée de Brouwer, 21976), 102: ?Il en resulte pour le texte un certain bizarrerie…?.
[24] Attridge, 134-136.
[25] Attridge, 136.
[26] Ellingworth (266) nota que oun não aporta uma inreferência do que precede imediatamente e provoca uma interrupção no pensamento de 3,7 a 4,13. Assim mesmo, Attridge (138-139) diz que oun é uma partícula de continuação. Porém nem Ellingworth nem Attridge indicam porquê o autor de Hebreus considera apropriado resumir sua discussão do sacerdócio de Cristo precisamente neste ponto.
[27] J. Swetnam, ?A possible Structure of Hebrews 3,7 ? 10,39?, Melita Theologica 45 (1994) 128-135.
[28] Cf. o uso da palavra VIhsouj referida explicitamente a Josué e implicitamente a Jesus em 4,8.
[29] Cf. a maneira em que Hb 2,13ª parece dirigir a consideração anterior e posteriormente (J. Swetnam, ?Hebrews 1,1 ? 3,6?, 61).
[30] Cf. J. Moatti-Fine, La Bible d?Alexandrie: Jèsus (Josué) (Paris: Cerf, 1996), 116-117, acerca de macaira como ?faca? em Js 5,2. Ela também oferece uma extensa apresentação da discussão acerca da circuncisão espiritual que este versículo tem ocasionado na Igreja primitiva.
[31] Cf. M. Harl, La Bible d?Alexandrie: La Genèse (Paris: Cerf, 1986), 193, acerca de macaira como ?faca? em Gn 22,6
[32] Grässer, 214-216.
[33] J. Swetnam, Jesus and Isaac: A Study of the Epistle to the Hebrews in the Light of the Aqedah (Analecta Biblica, 94; Roma: Biblical Institute Press, 1981), 178-184. Este oferecimento sacrificial do Filho tem sido insinuado desde o princípio, com a menção da purificação do pecado em 1,3.
[34] Cf. o uso de kardia (?coração?) em 3,8.10.12.15; 4,7, para indicar o fator chave no fracasso da geração do deserto para entrar na terra.
[35] Cf. A relação entre sacerdócio, lei e povo em Hb 7,11-12. A relação entre sacerdócio e Lei é frequentemente discutida, porém a dependência intrínseca do povo a respeito destes dois elementos é descuidada (cf. Attridge, 199-201; Ellingworth, 370-375). Cf. também o tema das promessas enraizado no sacrifício de Isaac (Hb 6,13-15, assim como em Hb 6,12 e 8,6). Hb 8,6 é particularmente significativo: a aliança melhor, que constitui o novo povo de Deus, está baseada sobre promessas melhores que a primeira. As promessas são da terra e da descendência, ou seja, mais de uma, como o indica o plural.
[36] J. Swetnam, Jesus and Isaac, 216.
[37] Este livro da lei é o logov do qual fala Hb 2,2. Isto prepara o caminho para Hb 4,12-13, onde a contrapartida cristã à Lei é apresentada como o logov.
[38] A relação da eficácia do logov a respeito da necesidade para a fé se explica graças a uma distinção: o logov ofrece a garantia de ingresso no descanso divino para o povo como um todo, cuja fé se presume (de outro modo não seriam um povo); porém uma falta de fé explica porquê algum indivíduo concreto não participará desta bênção do grupo. Isto explica a ênfase sobre o individual em relação à fé em 3,12.13 e 4,1.11 (cf., mais acima, n.18). Na antigüidade a circuncisão espiritual era freqüêntemente considerada como ligada ao batismo (Cf. J. Swetnam, Jesus and Isaac, 217-218).
[39] Cf. Ellingworth, 264.
[40] Cf. Ellingworth, 264-265. Existe uma tradição judaica, refletida no Targum Pseudo-Jonatan e no Targum Neofiti sobre o Gênesis, que Isaac no v. 10 de ambos targums ?apresentou seu pescoço? (hyrww jyjp no Pseudo-Jonatan, hyraw jyjp no Neofiti) despois de oferecer-se livremente em sacrificio. Cf. M. Maher, Targum Pseudo-Jonatan: Genesis. Translated, with Introduction and Notes (The Aramaic Bible [The Targums], 1B; Edinburgh: T.&T. Clark, 1992), 80, y M. McNamara, Targum Neofiti 1: Genesis. Translated, with Apparatus and Notes (The Aramaic Bible [The Targums], 1A; Edinburgh: T.&T. Clarck, 1992) [1991], 118. Para el texto, cf.: E. G. Clarke, Targum Pseudo-Jonatan of the Pentateuch: Text and Concordance (Hoboken, New Jersey: Ktav, 1984), 24 (Pseudo-Jonatan), y A. Díaz Macho, Neophyti 1. Targum palestinense MS de la Biblioteca Vaticana. Tomo I. Génesis (Madrid ? Barcelona: Conselho Superior de Investigações Científicas, 1968), 127 (Neofiti). Isto não implica, por suposto, que estes dois targums datem, em suas presentes versões, do mesmo período de Hebreus. Porém o fato de que havia uma tradição, ainda que em uma faixa posterior, acerca de Isaac ?apresentando seu pescoço? no momento de seu livre e espontâneo sacrifício em Gênesis, é de grande peso, dadas as outras alusões em Hebreus a este sacrifício, por não mencionar a explícita referência a ele em Hb 11,17. Cf. O ponto de vista de P. S. Alexander, ?Targum, Targumîm?, The Anchor Bible Dictionary, vol. 6 [Si-Z] (D. N. Freedman [ed.]; New York ? London ? Toronto ? Sydney ? Auckland: Doubleday, 1992), 320-331: ?There are no good grounds for dating anything in Neof. Later than the 3d/4th cent. C.E.? (323); ?… Ps.-J. can be seen as the ultimate stage in the evolution of the PT, which in its latest strata betrays the influence of early medieval midrash? (323).
[41] Este rol de Deus no oferecimento de Jesus parecia seguir-se se Cristo ?foi oferecido? (passsivo teológico) em sacrifício (Hb 9,28). Além do mais, se Jesus é realmente o ?novo Isaac? como sustenta o presente escritor, Deus Pai está para Jesus no Calvário assim como Abraão para Isaac em Gn 22.
[42] O fato de que Jesus foi ?provado? (peirazw) tal como os cristãos são ?provados? (peirazw) é uma base para a confiança dos cristãos na benevolência de Jesus para ajudar-los como homem. Porém o mais fundamental como base de nossa confiança é o atributo divino de que Jesus goza de ?(aliança de) misericórdia? (eleoj dsx). ?Although a modern sensibility might feel that Christ would more properly fulfill his role as a «merciful high priest» if he were likened to others human beings even in sin, this is hardly the conception of Hebrews or of early Christians generally? (Attridge, 141).
[43] A imagem do ?trono? (qronoj) no v. 16 evoca a imagem do trono do Filho em 1,8. Pareceria haver em 1,8 e aqui em 4,16 uma referência ao trono divino comum a Deus e ao Filho. O Filho está sentado à direita de Deus neste trono (2,13).
[44] As alusões a peirazw em 2,18, a evlehmwn em 2,17, e a bohqew em 2,18 tendem a confirmar a consideração de que a partícula de continuidade oun em 4,14 foi escrita com esta passagem acerca do sumo sacerdote em mente.
[45] Cf. O. Michel, Der Brief an die Hebräer (Kritische-Exegetischer Kommentar über das Neue Testament, 13; Göttingen: Vandenhoeck & Ruprecht, 12/61966), 209-210; J. Swetnam, ?Christology and the Eucharist in the Epistle to the Hebrews?, Biblica 70 (1989) 90-91.
[46] Grässer, 269.
[47] Ellingworth, 272.
[48] Assim, a palavra ?filho? está ligada com o motivo do ?(sumo) sacerdote?. E o motivo do ?filho? é o predominante: Jesus se torna sacerdote da ordem de Melquisedec porque é filho, não ao inverso. Cf. Attridge, 146, que destaca a ligação entre ?filho? e ?(sumo) sacerdote?.
[49] Cf. Attridge, 139.
[50] Attridge, 149, y 149, n. 152. Cf. o uso de prosferw em 7,27 e 9,14 em referência ao oferecimento de Jesus de si mesmo em sacrifício.
[51] Acerca do problema do objeto das ?orações e súplicas? de Jesus, cf. Attridge, 147-154; Ellingworth, 284-296; Grässer, 293-317.
[52] Cf. Attridge, 150, y 150, n. 168.
[53] Attridge, 150, y 150, n. 170.
[54] Cf. Swetnam, Jesus and Isaac, 178-184.
[55] Cf. Attridge, 151, y 151, n. 184; Ellingworth, 290.
[56] ?Na perspectiva bíblica o sofrimento é menos um meio de desenvolvimento psicológico que um reconhecimento da verdade de Deus. E assim parece que ocorre aqui: Jesus se oferece como um sacrifício ?por reverência?. Logo, ao morrer, a plenitude de obediência a Deus se revelou. Esta plenitude inclui não somente o morrer mas também o ressuscitar (cf. 2,10)? (J. Swetnam, Jesus and Isaac, 182-183).
[57] No sentido técnico de nomeação para um cargo ou função (appointed) [Nota del Traductor].
[58] ?Rather than repeating elementary instruction, the author considers it better to pass on to teaching for the mature (v.1), because (ga,r) there is a serious danger of falling back from the state of the nh,pioj(5:12) to that of apostasy? (Ellingworth, 318).
[59] Cf. Attridge, 157-158, que favorece uma interpretação de ironia na passagem. Porém parece que não há razão do porquê das palavras não poderem ser tomadas em seu sentido mais claro. Os destinatários se acham preguiçosos em prestar atenção ao que já haviam escutado (5,11), e o autor espera que não se tornem preguiçosos em relação a outros temas que virão (6,12). A parênesis de 5,11 ? 6,8 é negativa, enquanto que a de 6,9-20 é positiva.
[60] Há provavelmente um sutil jogo de palavras com logov em 6,1 e 5,11, com relação à mesma palavra ?se bem com diferente significado- em 4,12-13.
[61] Cf. Attridge, 167-172; Grässer, 347-357; Ellingworth, 317-325.
[62] Ellingworth, 323. Para uma sugestão com relação a interpretar Hb 6,4-6 na perspectiva da aliança, cf. Swetnam, análise de H. Löhr, Umkehr und Sünde im Hebräerbrief (Beihefte zur Zeitschrift für die neutestamentliche Wissenschaft, 73); Berlin ? New York: De Gruyter, 1994), en Catholic Biblical Quarterly 58 (1996) 162-163.
[63] Attridge, 173-174.
[64] Ou seja, os Padres ?heredaram? as promessas reiteradas sob juramento por Deus a Abraão depois do sacrifício de Isaac, porém não seu cumprimento. Cf. 6,14, onde a promessa da descendência é ?ensaiada? [rehearsed], sendo esta apropriada para o contexto do sacerdócio, como está explicado mais acima (cf. n. 35). A outra promessa recebida pelos Padres sem seu cumprimento é a promessa da terra, que é o tema de 3,7 ? 4,12.
[65] Cf. Attridge, 181, y 181, n.46; Grässer, 381 (?Mehrheitsexegese?). A menção de algo em Hebreus tão intimamente conectado com a Aquedah, como são as promessas e o juramento de Deus, levam a sustentar aqui a controvérsia de que a Aquedah tem sido uma suposição que está latente ao longo do discurso, desde 2,5.
[66] ?The participle recalls in a general way the imagery of the exodus generation used in chaps. 3 and 4 and it hints at the more developed image of the wandering exiles upon earth in 11:13-16? (Attridge, 182).