Evangelho de joão iii

EVANGELHO DE JOÃO III

Doutrina e Mensagem Teológica

O Evangelho de João é certamente o mais teológico de todos. Como João escreveu seu Evangelho já adiantado em anos, ele une suas reflexões teológicas às palavras de Jesus. Destaco alguns temas:

O Verbo Encarnado

O Verbo Encarnado é o princípio, o centro e o fim de todo o Quarto Evangelho. Já no Prólogo se diz que o Verbo é Deus. A perspectiva da preexistência e da criação em Cristo de um lado, e da Encarnação, de outro, tem certamente um destaque extremamente significativo: o discurso parte do Verbo que “estava com Deus” e que “era Deus” (v 1). Afirma-se que é consubstancial com o Pai ao dizer que estava junto de Deus. Afirma-se que “tudo foi feito por meio dele” (v 3) para passar através do seu ” fazer-se carne” (v 14), até retornar ao ” Unigênito que esta no seio do Pai” (18) .

Divindade e humanidade

A divindade de Jesus fica fortemente destacada desde o Prólogo, ao longo do discurso e até o final. Jesus é o unigênito e eterno de Deus, encarnado na realidade de uma existência humana concreta. Nele se realiza o encontro de Deus com o homem: Ele é a comunicação da vida divina. João acentua igualmente a divindade e a humanidade do Salvador: a verdade, a luz e a vida de que os homens precisam, foram trazidos do alto pelo Filho, mas são outorgados porque Ele é um com a humanidade, que por seu intermédio pode ingressar na esfera divina.

É verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Como homem, cansa-se e senta-se à vontade na borda do poço de Sicar (4,6); cultiva a amizade com a família de Betânia e chora pelo seu amigo morto (11). Como Deus, é Um com o Pai: Eu e o Pai somos um (10,30), o Pai está em mim e Eu no Pai (10.38) quem me vê, vê o Pai (14,9). Por isso, os judeus procuravam matá-lo, porque se fazia igual a Deus(5,18), acusação que jamais foi feita contra um homem na história do judaismo.

Santíssima Trindade

Este evangelho é o mais rico de todos no que se refere à revelação do mistério do ser divino uno e trino, e ele o faz de modo muito claro: há um único Deus em três Pessoas iguais e distintas.                                                                                         Com efeito, Jesus é o Filho preexistente no seio do Pai, consubstancial com o Pai, Filho por natureza, não por adoção. Deus é seu Pai de modo diferente de como é dos homens “Não me retenhas, pois ainda não subi ao Pai….Subo a meu Pai e vosso Pai”(20,17).
Ao rezar ao Pai, vemos que é distinto do Pai, uma outra Pessoa. Mas Jesus mostra a total intimidade recíproca entre Ele e o Pai ao dizer “Eu e o Pai somos um” (10,30) Se O conhecessem , conheceriam também o Pai ( 8,19;14,8-11), que o Pai está nEle, e Ele no Pai (10,34-39) “O Pai está em mim e Eu estou no Pai (10,38), O fato de terem tudo em comum “Tudo o que é meu é teu e tudo o que é teu é meu”(17,10), a sua perfeita e absoluta unidade” Eu e o Pai somos Um”(10,30) mostra a identidade de natureza entre os dois.

Jesus é o enviado do Pai: assim não só Ele e as Suas palavras são manifestação do Pai mas toda a Sua vida, todas as suas obras e especialmente Sua Morte e Ressurreição. Jesus Cristo crucificado é a manifestação suprema do amor salvífico de Deus.
A Missão de Jesus é revelar o Pai, para isso Ele foi enviado. Ele não fala em nome próprio, nem busca a sua própria glória, mas a de Deus, com cada uma das suas palavras e ações, mas esta glória reverte em sua pessoa, a qual é necessário tributar a mesma honra [“a fim de que todos honrem o Filho, como honram o Pai” ( 5,23)] amor [“Se Deus fosse vosso pai, vos me amaríeis, porque sai de Deus e dele venho”( 8,42)] e fé [ “credes em Deus crede também em mim”( 14,1)] que a Deus.
Os ensinamentos contidos na pregação de Jesus não são nem o reino, nem as parábolas nem nada semelhante, como nos Sinóticos; o ensinamento teológico central de João diz respeito à revelação de Deus de si mesmo neste Filho completamente singular, Jesus de Nazaré, que em suas alocuções à multidão vai paulatinamente revelando a sua pessoa: Jesus é aquele que é uno com o Pai, veio do Pai, se encarnou e desse modo esteve durante certo tempo entre os homens para tornar-se a sua luz salvadora, o mediador do Pai. É o único enviado de Deus ao mundo com uma missão salvífica. Só Ele pode falar das coisas de Deus e dos seus planos com relação ao homem. Ele é o revelador do Pai: Ele anuncia, proclama e se identifica com o Pai. Conhecer Jesus é conhecer Deus.

A expressão “EU Sou” (egò eimi) é uma formulação deliberada do evangelista, de profundo significado e de grande importância teológica. Mateus usa 5 vezes, Marcos 3, Lucas 2 e João 29, sendo 26 por parte de Jesus. Eu Sou lembra o Santo nome de Deus : Javé: “Eu Sou Aquele que É (Ex 3,14-16) Este é um dos termos veterotestamentários que João rele em clave cristológica. É em Jesus que o”Eu Sou” do Antigo Testamento encontra a sua realização máxima.

Em João o Espírito é apresentado como o poder divino que continua e completa o ministério de Jesus: o Espírito é a perpetuação da presença de Jesus entre os seus seguidores. O Espírito é o princípio da filiação divina que Jesus pos ao alcance dos homens. É vivificador e princípio da vida do cristão, iluminando-a. Jesus promete o Paráclito para recordar sua obra e ensinamentos e para conduzir a comunidade na verdade plena. A atividade do Paráclito (designação joanina do Espírito) é revelar a mente de Cristo. Ele é a presença pessoal de Jesus no cristão enquanto Jesus está no Pai, como Paráclito, o Senhor glorificado está sempre presente na sua Igreja.
João Batista dá o testemunho a favor de Jesus como filho de Deus pelo sinal da pomba vinda do céu (1,32-34) sobre o Messias, aquele que batizará no Espírito. Depois na conversa com Nicodemos volta a aparecer a relação entre a água e o Espírito (7,37-39).
O Espírito aparece quando Jesus sai, é entregue quando Jesus morre na cruz, soprado sobre os discípulos na primeira aparição de Jesus ressuscitado, lhes dando o poder de perdoar os pecados, enviado do alto quando Jesus volta ao Pai. O Espírito Santo procede do Pai e do Filho. O Espírito é o consolador que estará sempre com os que crêem em Cristo, morando neles e é também quem lhes recordará tudo que Jesus lhes tinha ensinado e lhes dará luzes para compreender o verdadeiro sentido daquelas palavras (14,26). Será testemunha de Cristo para os apóstolos que, por sua vez, serão testemunhas do Senhor diante de outros homens.

Fé e Amor

A fé desempenha uma parte de suprema importância na teologia de João. Ele assinala que escreveu seu Evangelho “para que acrediteis que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus e, para que crendo, tenhais a vida em seu nome” (20,31), quer dizer, a fé em Jesus conduz à vida eterna porque Ele venceu o pecado e a morte e, pela fé, nos unimos a Ele. João mostra que o próprio Jesus proclama a fé como aquela única coisa necessária à salvação e deixa claro que a fé é fé em Jesus, no qual reconhece aquele em quem Deus se revelou. Para os que não conheceram diretamente Jesus, a fé nele encontra o seu fundamento razoável no testemunho daqueles que o ouviram e o viram (21,24) e nos transmitiram fielmente o que ele fez e ensinou.

João utiliza outros termos que se relacionam com a fé, a saber: crer em Jesus é ir a Ele: “eu sou o pão da vida, quem crer em mim, nunca mais terá fome”. A fé pode ser descrita como “ouvir” a voz e as palavras de Jesus: ouvir e obedecer. Crer é, também, ver; a fé é uma visão.

A fé é um dom gratuito de Deus (a fé enquanto virtude) e também uma resposta livre do homem. O ato de fé do homem é muito meritório, pois é a resposta agradecida ao amor de Deus manifestado em Cristo. A fé vem-nos através da pregação apostólica e é uma graça divina que espera a resposta livre do homem.
A caridade é outro termo importante para João que, por ser o discípulo amado (20,2;21,20) pôde ensinar por experiência própria o que é ser amado por Jesus e amá-lo. Deus é quem toma a iniciativa no amor. A grandeza do amor pode medir-se pelo valor do dom entregado, e Deus entrega-nos o que para Ele vale mais, o que mais ama, o Seu próprio Filho. A prova mais evidente do amor supremo a Jesus e de Deus Pai culmina no sacrifício da Cruz “Deus amou de tal modo o mundo, que lhe deu seu Filho unigênito” (3,16). Jesus, com efeito, entrega-se à morte como o “Bom pastor que dá a sua vida pelas suas ovelhas (10,11). Com razão afirma que ninguém tem maior amor que aquele que dá a vida pela pessoa amada”15,13). O amor de Jesus mostra-se também na fidelidade indefectível até o fim (13,1) “tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” este é o extremo do amor.
João põe em realce de modo especial em Jesus esse traço tão divino e tão humano que é o amor. Assim vemos como Jesus amava seus amigos Lázaro, Maria e Marta.
Cristo que deu o exemplo do seu amor a todos os homens, pode pedir que nós nos amemos também, uns aos outros, como Ele nos amou: esse é precisamente o mandamento do Senhor (13,34-35; 15,12) Esta será a nota peculiar do verdadeiro discípulo, o que distingue o cristão.

 

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