Evangelho de lucas iv

Evangelho de Lucas IV


Mensagem Teológica

A Teologia de Lucas não é muito diferente da de Mateus e de Marcos; Lucas não contem nenhum elemento teológico que não seja encontrado em seus predecessores e destes difere mais pela ênfase que dá a certos tópicos. Pode-se chamar o Evangelho de Lucas de o mais teológico dos Sinóticos.

No Evangelho de Lucas a mensagem teológica desenvolve-se a partir de diversos temas que serão explanados a seguir.


O Evangelho da Infância cap. 1 e 2

Esses dois primeiros capítulos formam o prólogo cristológico do evangelho de Lucas. Não tentam apresentar uma crônica do nascimento e infância de Jesus, mas nos dizer quem é ele, quem o envia e que missão tem de cumprir.

Nesses dois capítulos Lucas já apresenta a plenitude de Cristo à luz da ressurreição. Jesus é: O filho de Davi: “O Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai” (1,32)
É o Salvador, o Cristo Senhor: “Nasceu-vos hoje, na cidade de Davi, um Salvador, que é o Cristo Senhor” (2,11)

“E será chamado Filho de Deus” (1,35). Esse “Filho de Deus” resume a fé de Lucas na divindade de Jesus.

Lucas põe em paralelo João Batista e Jesus. Isso lhe permite, por um lado, sublinhar a continuidade da história da salvação e, por outro, ressaltar a prioridade de Jesus, que com sua pessoa faz presente o Reino.

Maria
O relato de Lucas centra-se em Maria, o de Mateus em José. O Evangelho de Lucas é importantíssimo como fundamento escriturístico para a doutrina acerca da Santíssima Virgem Maria e também para a devoção pessoal e popular à mãe do Salvador sendo também fonte inspiradora de boa parte da arte cristã a esse respeito.

Lucas é chamado por Eusébio de Cesaréia (séc. IV) o “pintor de Maria”. Nenhum personagem da história evangélica, exceto naturalmente Jesus, é descrito com tantos pormenores, amor, admiração quanto Maria Santíssima. No Evangelho da Infância, deixa-se o mais belo retrato da Mãe de Jesus: A Virgem cheia de graça, o encantador modelo de fé, humildade, obediência, simplicidade e pureza, disponibilidade e espírito contemplativo.

Nenhuma criatura humana recebeu graças tão altas e singulares como Maria: ela é a “cheia de graça”, o Senhor está com ela (1,28), obteve graça junto a Deus (1,30), concebeu por obra e graça do Espírito Santo e foi Mãe de Jesus (2,7) sem deixar de ser Virgem (1,34), intimamente unida ao mistério redentor da cruz.(2,35), será proclamada bem aventurada por todas as gerações pois o Todo-Poderoso operou nela grandes coisas (1,49). Com razão uma mulher do povo louvou entusiasmada e de forma muito expressiva a Mãe de Jesus (11,27).

Os tão altos dons divinos Nossa Senhora correspondeu com a mais generosa fidelidade: Santa Isabel chama-a bem-aventurada porque acreditou (1,45); a Virgem Santíssima recebe com humildade o anúncio do Arcanjo acerca da sua dignidade de Mãe de Deus(1,29); pergunta com simplicidade como comportar-se para agradar em tudo a Deus (1,34); aceita submissamente os planos divinos (1,38;2,50); apressa-se a ajudar os outros(1,39.56); sabe agradecer gozosamente os dons recebidos (1,46-55); observa com fidelidade as leis de Deus ( 2,24); e os costumes piedosos do seu povo(2,41); aflige-se profundamente pela perda do Menino e queixa-se a Ele com uma grande ternura(1,48), mas aceita serenamente o que naquele momento não consegue entender(2,48-50). Maria Santíssima soube ter essa admiração contemplativa diante dos mistérios divinos, que conservou e meditou no seu coração (2,19-51).

Universalismo da Salvação                                                                                             Os quatro Evangelhos ensinam o caráter universal da salvação de Cristo; não obstante, pode dizer-se que aparece em Lucas com notável relevo. É sabido que Jesus pregou quase exclusivamente aos judeus. Os pagãos receberão mais tarde o Evangelho por meio dos Apóstolos. O Senhor contava com isso e nas Suas palavras e mandatos, aos Doze prevê este plano para o anúncio da mensagem de Salvação: primeiro os judeus, depois os pagãos. Depois da Ressurreição Jesus constitui os Seus discípulos em testemunhas diante de todo o mundo. A síntese do Evangelho parece consistir nesta frase: “o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido”.

A genealogia que encontramos em Lc 3,23-38 nos apresenta Jesus não só como filho de Abraão e Davi mas também como filho de Adão. O que quer dizer que Ele é irmão de todos os homens- judeus e gentios. Ele é Salvador de todos. No cântico de Simeão se proclama que a salvação se preparou ante a face de todos os povos e é luz que ilumina todos as gentes (2,29-32). Apenas Lucas aplica a pregação de João Batista o texto de Isaías 40,5 “e todo homem verá a Salvação de Deus” (3,6).
Em Lucas 24,47 Jesus explica aos seus discípulos que estava profetizando que Ele devia sofrer e ressuscitar e que se pregaria em seu nome a conversão e o perdão dos pecados a todas as gentes. Depois da ressurreição, Jesus constituiu os seus discípulos como testemunhas perante todo o mundo (24,48). O livro dos Atos mostra que isto já estava sendo cumprido.

Lucas narra a vida de Jesus como constituindo um documento histórico central na história universal. Para ele, Jesus e seu evangelho abrem para a humanidade a porta da Salvação. Salvar-se é encontrar-se com Deus. As palavras e os milagres de Jesus são o ponto de partida para no qual devemos olhar e do qual estamos dependendo em todo instante. Lucas é chamado de “Teólogo da Salvação” isto é, do plano divino que implica a libertação de toda forma de mal especialmente o pecado e da perdição eterna em relação de amizade e comunhão com Deus pois até mesmo o maior pecado pode aproximar-se dEle sem temor ou tremor.

Lucas descreve a Salvação como dom e caminho para a conversão. A palavra conversão (metanoia) esta presente 14 vezes no Evangelho e 11 vezes nos Atos, já em Marcos só aparece 3 vezes. Jesus veio de fato, enviado por seu Pai, Deus, para salvar aqueles que estão perdidos, isto é, todos os homens. O essencial, na marcha em direção à Salvação, é acolher e cumprir os ensinamentos do Messias, à espera da Parusia e da instauração do Reino de Deus na glória. Para Jesus e para os cristãos que se dispõem a seguí-lo ninguém é “estrangeiro”, ninguém é desprezado por Ele e nada é mesquinho demais para o seu amor universal. Ele apresenta os samaritanos como modelo de caridade (10,25-37) e de gratidão (17,11-19) e os gentios como modelo de bom procedimento e fé pronta e disponível (7,9).Numerosos episódios, expressões e parábolas apresentam a amizade e a compaixão de Jesus para com os pecadores, por exemplo, a figueira estéril (13,6-9) e as parábolas da moeda, ovelha perdidas e o filho pródigo (15).
Um a das provas do universalismo de Lucas reside na importância que ele dá às mulheres. Neste Evangelho aparecem mais mulheres do que nos outros.No mundo helenista a posição social e legal da mulher era melhor do que no judaísmo, e ele desejava mostrar claramente que o Evangelho não assumia a atitude judaica em relação à mulher.

Misericórdia e Perdão                                                                                                           O tema da Salvação esta intimamente relacionado com o da misericórdia e do Perdão.
Neste Evangelho fica patente a misericórdia do coração de Jesus para com os pecadores, os pobres, os renegados, os que sofrem: assim em vez dos magos, são os pastores que vem a manjedoura (2,8-18); Ele compadece-se da viúva de Naim (7,13); acolhe a mulher pecadora mas penitente à refeição na casa do fariseu (7,36-50); fala bem dos samaritanos (10,30-37); busca a hospitalidade na casa de Zaqueu, o coletor de impostos (19,1-10); age como amigo das mulheres (10,38-42) e aceita a ajuda delas (8,1-3); perdoa o ladrão arrependido (23,39-43); ora por aqueles que O crucificam (23,34); detém os olhos em Pedro que acabara de negá-lo (22,61).
Mas é no Capítulo 15 que encontramos as mais belas passagens sobre a Misericórdia e o Perdão. É nele que encontramos as parábolas da moeda perdida, a ovelha perdida e o filho pródigo. Elas se desenvolvem em três momentos: primeiro a perda, segundo a procura ou a espera e terceiro o encontro. O final de cada uma delas traduz a sua idéia principal: ” há alegria entre os anjos de Deus por um só pecador que se arrependa” (15,7.10) “estava morto e voltou à vida, estava perdido e encontrou- se (15,32).

Os cristãos devem praticar o amor, a mansidão e a misericórdia: “sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso” (6,36).

 

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