Evangelho de marcos ii

Evangelho de Marcos II

 


O Jesus de Marcos e seus títulos


Sem o Evangelho de Marcos a imagem de Jesus seria mais simples e mais pobre. Sua figura é tratada tão vivazmente que toma um caráter de grandeza e heroísmo notáveis. É um Jesus que está sempre em atividade. Dos quatro “retratos” evangélicos de Jesus, o de Marcos é, de longe, aquele que melhor revela o lado humano de Jesus. Esse homem partilha, com os leitores, sua emoções, seus sofrimentos, sua fraqueza, sua esperança. Embora passe a maior parte do tempo realizando atos de misericórdia incríveis, que o revelam como Filho de Deus, ou realizando milagres; Marcos descreve 20 deles; eles sublinham seu poder e ao mesmo tempo a perfídia dos que recusaram a luz e o levaram à morte.


Jesus é o poderoso Filho de Deus e ao mesmo tempo uma pessoa muito humana. Jesus é bastante acessível, porque experimentou a vida como os homens, com todos os desapontamentos e amores, com toda alegria e tristeza: podia ser agressivo (1,25) movido de compaixão(1,41), profundamente triste e desiludido (3,5) indignado com os que o rodeavam (10,14) temeroso e angustiado (14,33) questionador (9,16.33).

Assim só Marcos acrescenta o detalhe tocante à história da ressurreição da menina de seu leito mortuário por Jesus: “e mandou que dessem de comer à menina” (5,43); só o Jesus de Marcos fita o rico e começa a amá-lo (10,21) antes de desafiá-lo a desistir de tudo e segui-lo. O Jesus de Marcos fica muitas vezes desanimado por não conseguir fazer com que os discípulos O compreendam ou a sua missão(4,13; 8,14-21)

Quando encontramos o Jesus de Marcos, encontramos o lado de Jesus que é o mais simples dos quatro evangelistas e o mais exigente. Descobrimos que a versão de Marcos da vida de Jesus concentra-se na morte dele e no significado do sofrimento. Somos convidados a descobrir o significado da vida e da morte como ele o fez, isto é, pela confiança radical em Deus e pelo serviço dedicado às necessidades dos outros.

Todos os títulos e feitos que Marcos atribui a Jesus tem uma finalidade única: mostrar que Ele é o Salvador. Aparecem diversos títulos de Jesus no decorrer do seu Evangelho, interpretados a partir da afirmação inicial “Jesus Cristo Filho de Deus” ( 1,1; 3,11; 15,39),Filho amado (!,11; 9,7), Santo de Deus (1,24), Filho do Deus Altíssimo (5,7), Cristo ( 8,29),Filho do Deus Bendito ( 14,61) Filho de Davi (10,47; 11,10), Mestre (10,20; 4,38), Rabi (14,45; 11,21).


Sendo que Jesus aparece 80 vezes e Filho do Homem 14 vezes. Ele preferiu chamar-se a si mesmo Filho do Homem, que poderia soar simplesmente como “este homem”. A expressão messiânica Filho do Homem encontrava-se já na profecia de Daniel (7,13 s) e não dava nenhuma interpretação nacionalista, mas conservava o seu valor religioso designando um messianismo transcendente.

 

Já o título “Filho de Deus”, Marcos o emprega em três grandes momentos, a saber: 1,11 no Batismo de Jesus e 9,7 na Transfiguração de modo solene e ao pé da cruz 15,38. Jesus é reconhecido como Filho de Deus pelo Pai, pelos espíritos impuros 3,11 ; 5,7 e por um centurião pagão e pelo próprio autor ao apresentar o seu livro em 1,1.

Jesus renuncia a se utilizar de seu poder vencedor sobre os demônios e as forças do mal e de seu poder taumatúrgico para convencer os homens do seu messianismo e sua divindade. O Messias anunciado por Marcos esta muito mais ligado ao Servo Sofredor de Isaias 53 do que a idéia de ser um Messias vitorioso, libertador político ou nacionalista que pretendesse libertar Israel do domínio do Império Romano, tal como o imaginavam , não só os demais judeus mas também os próprios apóstolos, por este motivo lhes impõem silêncio com uma finalidade pedagógica. Em oito ocasiões a afirmação do Messianismo de Jesus é confessada: 1,1.34; 8,29; 9,41; 12,35; 13,21; 14,61; 15,32.

 

O motivo do sigilo, da imposição do segredo messiânico aparece na primeira parte do Evangelho e está relacionado com a incompreensão dos discípulos. Diante da pergunta “E vós, quem dizeis que Eu sou? Pedro responde: Tu és o Cristo” não obstante sua confissão Pedro ainda não captara o sentido essencial da messianidade, surpreso e transtornado ante a inesperada perspectiva, ousa “advertir” Jesus, coisa que nenhum outro discípulo jamais fizera. Jesus o repreendeu: “Afasta-te de mim Satanás”. Jesus aceita plenamente a vontade de Deus, que inclui a cruz, mas não a dos homens.

Na segunda parte, Jesus cada vez com mais clareza prepara os seus discípulos para O reconhecerem como Salvador, portador da Revelação Divina, que redimi os homens e os reconcilia com Deus,. Não por meio do poder do exército ou da força política, mas pelo seu sacrifício no Calvário, “Por que o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em redenção por muitos” 10-,45.


Diante do sumo sacerdote Caifás, Jesus confirma ser Ele o Messias. O fim está próximo. Marcos relata a Paixão com toda a sua crueza, sem atenuar nada; aparece com toda claridade o contraste do mistério de Cristo: Filho de Deus, mas abandonado ao sofrimento; no Getsêmani salienta a debilidade de Jesus. Seu medo diante do sofrimento e sua angústia perante a morte (14,32). Na crucificação ressalta a solidão de Cristo, os chefes e os crucificados zombam dele (15,32) mas ao morrer o centurião, um pagão afirma “Verdadeiramente este homem era Filho de Deus”. Após a sua morte os discípulos estão com medo, as mulheres que vão ao sepulcro também. Mas Ele ressuscitou, Ele é o Senhor, o Messias , o Salvador.


É preciso aprender o significado do sofrimento, morte e ressurreição de Jesus, pois o Messias não será chamado à glória de seu Reino sem sofrer e morrer em expiação daqueles que Ele redime e salva. Quando tal acontece não há necessidade de ser mantido o segredo messiânico. Não se pode ter um Senhor ressuscitado sem um Messias sofredor.


A divindade de Jesus é especialmente realçada pela sua humanidade. A divindade de Jesus é demonstrada na linguagem dos fatos: impera (dá ordens) à doença, à morte, aos demônios, aos homens, às forças da natureza, suscitando repetidamente admiração nos espectadores.


Jesus é perfeito Deus e perfeito homem. Se não acreditarmos que Jesus é o Messias e o Filho de Deus, não entendemos nada do Evangelho.


 

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