Evangelho de mateus i

EVANGELHO DE MATEUS I


É um evangelho sistemático tanto na composição geral quanto no modo de reagrupar os temas: Jesus é apresentado nos cap. 5 a 7 como grande Mestre da justiça, superior aos rabinos , os mestres do judaísmo e é apresentado na segunda etapa, quando descreve os milagres como  um incomparável taumaturgo 8,1- 9 9,34.


Todo o evangelho de Mateus é atravessado por uma clara linha de antítese:
– O não a Jesus contraposto ao sim a Jesus;

– A sinagoga contraposta à Igreja;

– O povo de Deus da antiga aliança contraposto ao povo de Deus da nova aliança;
– O antigo povo de Israel contraposto ao novo povo, que tem seu fundamento;

– nos doze apóstolos contrapostos às doze tribos de Israel;

– a mensagem de Jesus contraposta explicitamente por ele à tradicional interpretação dos escribas: “ouvistes o que foi dito aos antigos… Eu, porém, vos digo…” (5,21.27.31.33.38.43).

Estrutura e Divisão


A ordem concatenada dos temas era mais importante para Mateus do que a seqüência cronológica dos acontecimentos. Por isso ele agrupou em blocos acontecimentos ou sermões de Jesus que, segundo a ordem histórica, deveriam estar muito distantes uns dos outros, mas que, reunidos, melhor ajudam o leitor a compreender a mensagem.

Mateus cita mais de 60 vezes o Antigo Testamento sendo 41 vezes explicitamente. Dessas, 21 em comum com Marcos e Lucas. Dessas, 37 são introduzidas com a fórmula “para que se cumprissem…”.


Dentro da estrutura do evangelho, o título “filho de Abraão”, dado a Jesus no prólogo (1,1), se relaciona com a ordem dada aos apóstolos no epílogo:” de fazer que todas as nações se tornem discípulos” (28,19). Jesus é a realização da promessa feita a Abraão: “por ti serão benditos todos os povos da terra” (Gn 12,3). Nota-se o destaque para a universalidade da salvação.


Há dois textos que só se encontram em Mateus: o primeiro é a declaração de que Jesus “não foi enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel” (15,24), e o segundo é a aceitação por parte do povo judaico da responsabilidade pela morte de Cristo (“o seu sangue caia sobre nós e nossos filhos” 27,24-26). Tomando simultaneamente estas duas afirmações entendemos que Israel teve, um dia, uma posição privilegiada, mas que a perdeu. A insistência na universalidade da salvação indica que seu lugar foi ocupado pelos gentios.


Em 200 versículos, Mateus e Lucas são tão parecidos que é razoável supor que os dois fizeram uso de uma fonte comum. Esta fonte foi uma coletânea de ditos de Jesus difundidos em grego nos anos 50 e costuma ser designada pela letra Q (da palavra alemã Quelle = fonte).


O evangelho pode ser dividido em 4 partes que se subdividem:

1ª. parte: cap. 1 a 13

– cap. 1-2 : prólogo, genealogia, nascimento e infância de Jesus.

– Cap. 3-4: preparação de Jesus para seu ministério público e começo deste na Galiléia. João Batista, batismo de Jesus, tentações. Seção narrativa.

– Cap. 5-7: sermão da montanha. Primeiro discurso.

-Cap. 8-9: missão salvadora de Jesus. Os dez milagres. Seção narrativa.
-Cap. 10: discurso missionário. Segundo discurso.

– Cap. 11-12: o reino escondido. Oposição e divisão do antigo ao novo povo de Deus. Seção narrativa.

-Cap. 13: parábolas do Reino. Terceiro discurso.

2ª. parte: cap. 14 a 18.

– cap. 14-17: o Reino se desenvolve. Formação dos discípulos. Jesus retira-se do território judeu. Transfiguração. Seção narrativa.

– Cap. 18: discurso comunitário ou eclesiástico sobre a vida da futura Igreja. Quarto discurso.
3ª. parte: cap. 19 a 25

– cap. 19 23: da Galiléia a Jerusalém. A caminho da Paixão. Oposição crescente do judaísmo. Três parábolas: história da salvação e mistério da Igreja. Seção narrativa.

– Cap. 24-25: discurso escatológico. Quinto discurso.

4ª. parte: cap. 26 a 28

– cap. 26-27: Paixão e Morte do salvador.

– Cap. 28: ressurreição e mandato missionário.


Jesus segundo São Mateus


O livro começa dizendo “Livro das origens de Jesus Cristo filho de Davi, filho de Abraão” ou seja o Salvador (Jesus = Javé salva) é o consagrado (Cristo = Messias = o ungido, o consagrado) descendente de Davi a quem foi prometido um trono eterno e de Abraão cuja descendência será tão numerosa quanto as estrelas do céu.

Na genealogia apresentada ao dizer que Jacó gerou José, esposo de Maria de quem nasceu Jesus (1,15) ele afirma a concepção virginal de Jesus, afirmando assim a sua divindade. José, filho de Davi, reconhece Jesus como seu filho com a imposição do nome. Ele assim assume a paternidade de Jesus, conferindo ao menino os direitos legais, inclusive o da inserção na linha davídico-messiânica. Jesus será filho de Davi por José, nunca poderia tê-lo sido por Maria, porque naquele tempo só contava a linha paterna, fosse essa real ou legal. O Messias além de filho de Davi é Filho de Deus por ter sido gerado pelo Espírito Santo.(14,33; 16,16; 27,40-43).


Comparando Marcos com Mateus, vemos que Marcos realça mais a natureza humana de Jesus e Mateus mais a natureza divina. Ele elimina do seu relato tudo que pode lembrar a sua humanidade. Por exemplo seus sentimentos: Mc 6,6 Mt 13,58; Mc 14,33 Mt 26,37; Mc 3,5 Mt 12,11.


Jesus é situado num plano sobrenatural onde é enfatizada a grandeza de seus milagres, que o coloca bem acima de seus discípulos e do povo. Para mostrar a onisciência de Jesus, Mateus suprime perguntas formuladas por Jesus em Marcos. Por exemplo: Mc 5,30 Mt 9,20-22; Mc 6,38Mt 14,15-18; Mc 9,21 Mt 17,14-17; Mc 9,33-

Mt 18,1-4; Mc 10,2- Mt 19,4; Mc 14,14 Mt 26,18.


Jesus é descrito como o Mestre da Justiça: 4,23; 5,19; 7,29; 21,23; 22,16 , o Rabi miraculoso que ensina uma justiça melhor que a dos fariseus no Sermão da Montanha. Ele é também o Servo Sofredor, o Caminho, a Verdade e a Vida, o Vencedor da morte e do diabo. Sua ressurreição o situa à direita de Deus Pai e confirma sua vocação de Salvador de Israel e da humanidade. Mateus esmera-se em mostrar como os diversos eventos da vida de Jesus realizam as profecias do Antigo Testamento: do nascimento à paixão podemos verificar isto. Elas não só se realizam conforme era esperado, mas também chegam a uma perfeição que as coroa e as supera. Mateus nos mostra que Jesus é o Messias, legislador superior a Moisés, visto que fala em nome próprio e com autoridade divina: mas não o Messias que os nacionalistas e os zeladores esperavam, mas aquele que os profetas haviam descrito: misto sublime de grandeza e de humilhação.


Vemos a majestade de Jesus realçada nos textos que falam do “prostrar-se” diante dele: exprime sempre uma atitude de profunda reverência ou adoração ou sinal de profunda homenagem, por exemplo: Mt 2,11; 8,2; 15,25; 18,26; 20,20; 28,9; e também de “aproximar-se” o verbo aproximar-se é usado 52 vezes em Mateus, 5 em Marcos , 10 em Lucas e 10 em Atos, significa o acesso reverente, quem vai pedir ou falar aproxima-se, por exemplo: 4,3; 8,19.25; 9,18.20.28; 14,33; 15,23; 17,14; 20,20; 24,3; 26,17; 28,17.


Mesmo com as diversas provas e testemunhos que Jesus é o Filho de Deus, alguns não o reconhecem e até mesmo chegam a renegá-lo (15,24), mas a medida em que o povo recusa a graça, o Reino lhe é tirado. (21,43; 8,11s). Os títulos de Filho de Davi e Messias são integrados e completados pelo título de Kyrios (Senhor). Onde Marcos define Jesus como Mestre e Doutor (Mc 4,38; 9,5;10,51), Mateus coloca Senhor (8,25; 17,4; 20,33).

 

Ora Jesus fora enviado primeiramente ao povo de Deus da Antiga Aliança, mas ao mesmo tempo Ele funda o novo povo de Deus, ou seja, a Igreja, na qual segundo o plano de Deus, judeus e pagãos juntos participam das promessas (28,18-20).

Ademais em sua condição de Filho do Homem e Kyrios, Cristo do Evangelho de Mateus é o juiz escatológico do mundo (7,2s). Fecha-se assim o grande arco: Jesus, Messias, Filho de Deus encarnado é o Redentor e Senhor de todos os homens; judeus e pagãos.

A divindade de Jesus é professada nitidamente neste Evangelho, onde se encontram fórmulas que a põem em relevo, por exemplo: 7,21; 11,25-27 ;12,50; 13,55;16,16; 26,65; 28,19. Sem deixar de ser verdadeiro homem, nascido da estirpe de Davi e Abraão, Ele é descrito de maneira que sua divindade sobressai com evidência se compararmos o texto de Mateus com o de Marcos. Em Mateus emerge a figura do Mestre. Jesus ensina e o tema central é a Lei. Jesus é aquele de quem Moisés e os profetas falaram. Isto reflete a polêmica com os doutores da Lei e com os fariseus que controlavam a religião judaica. Como Mestre soberano Ele algumas vezes é fiel à Lei: não veio abolir a Lei mas levá-la à perfeição pelo cumprimento (5,17). Por outro lado Ele rompe com várias prescrições dos antigos, quer na pratica quer na formulação (5,21s).

Jesus é o novo Moisés, maior que ele. Jesus é o Mestre dos grandes sermões. É o Filho de Deus da intimidade com o Pai. É o Filho do Homem do julgamento escatológico. É o Senhor da comunidade. Dirige-a por intermédio dos discípulos. Eles não são nem donos, nem mestres, mas as suas obras tem poder na terra e no céu (18,18) ele os chama para que, por sua vez, façam discípulos a todos os povos (28,19). E finalmente, Ele permanecerá até o final dos tempos na sua Igreja (28,20) como o único Mestre.

Todos os outros são irmãos (23,8). Em comparação com Marcos, Mateus revela maior cautela, sensibilidade e equilíbrio na escolha de vocábulos para descrever a humanidade de Jesus. Foi Mateus quem nos transmitiu mais palavras do Senhor, palavras simples, diretas e tão vivas que nos parece ouvi-las com a entonação que traziam ao sair da boca do Homem Deus.





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