Evangelho de mateus ii

EVANGELHO DE MATEUS II


Mensagem Teológica


Seguem-se alguns temas em destaque.

 

A árvore genealógica apresenta três séries de 14 nomes que é explicada através do simbolismo numérico: em hebraico as consoantes equivalem a números, assim o nome David seria igual a 14 pois D=4 v=6 d=4 total 14. Ao colocar três vezes 14 quer o autor dizer que Jesus não só é descendente de Davi mas é três vezes o rei, tido como modelo de rei. Dizer três vezes corresponde ao nosso superlativo: o melhor, o mais. Um outro exemplo é dizer que Deus é santo,santo ,santo ou seja o mais santo dos santos.

Nesta mesma árvore Mateus apresenta o nome de quatro mulheres, coisa que não era habitual. São elas: Raab (prostituta de Jericó, Js 2) Tamar uma cananéia pouco honesta (que ficou grávida do sogro, Gn 38) Rute uma moabita (Rt 1-4) e Betsabeia uma hitita mulher de Urias (que cometeu adultério com Davi, 2 Sm11) São elas estrangeiras e pecadoras; ele quer dizer que a salvação é para todos e não apenas para os filhos de Israel.


Reforçando esta tese ele utiliza a visita dos Magos para confirmar a abertura do cristianismo aos gentios. Herodes e Jerusalém com ele não reconhecem o Messias e até Mandam matá-lo. Já os Magos, estrangeiros , símbolo das nações pagãs, orientados pelos próprios judeus, o reconhecem e o adoram, inaugurando uma religião aberta a todos os povos.


A narração da infância não é uma série de episódios destinados a comover, mas um prólogo teológico, que resume todo o Evangelho. Através da infância de Jesus, Mateus faz pressentir como se realizará sua missão: querem matá-lo… escapa da morte…os judeus os ignoram. Os pagãos se prostrarão diante dele.


A rejeição dos judeus e o sofrimento de Jesus na sua paixão e morte não constituem uma frustração do plano divino de salvação, mas pelo contrário, estava anunciado pelos profetas do Antigo Testamento.


A fé dos gentios vai aparecer não só através dos Magos (2,11) mas também no centurião de Cafarnaum (8,10) que tem uma fé enorme e no centurião romano no Calvário que diz “de fato este era Filho de Deus” .


Entretanto no julgamento de Jesus (27,25) o povo responde: “que o seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos”. Jesus veio inicialmente para as ovelhas perdidas da casa de Israel, mas alguns não o aceitam e são responsáveis pela sua cegueira e teimosia, Israel recusa Jesus: 23,37 “e não o quiseste”. No momento em que Israel assume uma atitude de obstinação os dons de Deus não são retirados mas transferidos para o “Novo Israel”, a comunidade salvífica, isto é a Igreja de Cristo. O universalismo ilimitado constitui um dos pontos cardeais da Teologia de Mateus.


Este Evangelho é chamado do Evangelho do Reino, pois este ocupa um lugar central no livro, sendo falado por 51 vezes, quase sempre com a expressão Reino dos Céus, devido ao costume judaico de evitar, por respeito, o uso do nome de Deus. Jesus o anuncia em primeiro lugar a Israel que o rechaça desde o seu nascimento na figura de Herodes e Jerusalém.


O Reino de Deus inicia-se com a chegada de Jesus, pois ele vem instaurar esse Reino. O plano divino primitivo, ao criar a humanidade foi quebrado pelo pecado do homem. O seu restabelecimento dá-se por uma nova intervenção divina levada a cabo pela obra redentora de Jesus, através da intervenção soberana e misericordiosa de Deus na vida do povo para o salvar, libertando-o da escravidão do pecado, do demônio e da morte eterna.

Entre a primeira vinda de Cristo na encarnação e a segunda vinda (Parusia), neste tempo intermediário o reinado de Deus se estende sobre a terra com avanços e retrocessos parciais. Neste tempo desenvolve-se a Igreja. Só com a segunda vinda será instaurado e consumado na sua plenitude o Reino de Deus.


A vinda do Reino é objeto da proclamação de João Batista, de Jesus, dos doze, da Boa Nova, da oração dos discípulos (cap. 3-4 e 9 10). É uma realidade esperada e ao mesmo tempo presente. Ele já veio a terra e torna-se visível na vida de Jesus e também na do povo messiânico, é a Igreja fundada e convocado por Ele.

A Igreja é a culminação transcendente do antigo povo de Deus ou Israel e é a continuadora legítima do Israel histórico. Ela não é um “novo Israel” mas o verdadeiro Israel. A Igreja é o começo visível do Reino definitivo e perfeito de Deus nos céus, a que todos são chamados, mas só serão finalmente escolhidos se tiverem respondido com generosidade e fidelidade ao chamamento divino. O Reino será dado como herança aos que acolherem o Filho do Homem com fé e amor na pessoa dos pequeninos.

O Reino de Deus é, por si só, o que dá sentido à Igreja. Ela consta de judeus e pagãos convertidos (28,16-20) “todas as nações da terra serão discípulos” e (8,11) ” muitos virão do oriente e do ocidente e se sentarão à mesa do Reino dos Céus.”


O termo Igreja só ocorre em Mateus três vezes em 16,18 e 18,17 (duas vezes) dentro dos escritos evangélicos. Ele é o único a mencionar o primado de Pedro (16,13-20) a quem dedica especial reverencia com episódios próprios: 14,28-32 Pedro anda sobre as águas; 16,17-19 ” sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” e 17,24-27 tributo pago por Jesus a Pedro.


Mesmo quando não usa a palavra Igreja ela se encontra latente no pano de fundo da escrita. Ela está insinuada nas parábolas do Reino e está de algum modo esboçada no discurso eclesiástico do cap. 18 e é apresentada como figura e símbolo em alguns, como no barco de Pedro na tempestade acalmada (8,23-27), insinuada com o novo e verdadeiro Israel na parábola dos vinhateiros homicidas (21,33-45) e finalmente no episódio do mandato missionário do final do Evangelho anuncia-se a sua missão de ser constituída como instrumento universal de salvação.


Jesus limitou a Israel a missão que lhe cabia desempenhar durante a sua vida terrena, cônscio de que um ato do poder de Deus introduziria os gentios no Reino. Após a ressurreição o próprio Jesus irá às nações na pessoa de seus mensageiros e os trará ao Reino. Quando ordena que façam todas as nações se tornarem seus discípulos 28,19, significa que Deus não limita mais a Israel a sua graça salvadora, mas volve a sua misericórdia a todo o mundo gentio. Aos olhos de Mateus se fundem os discípulos e a comunidade (Igreja).


A Igreja é uma realidade sociológica centralizada em Deus, com Jesus como seu modelo. Jesus esta sempre presente no meio de sua Igreja 28,20 conforme o prometido. Ele está com seus seguidores, presente nos seus missionários 10,40, em todos os que estão em necessidade 25,35-45, em todos os que são recebidos em seu nome 18,5 e na assembléia 18,20.

 

Em Mt 28,18-20 atribui-se a Jesus a função de Javé no Antigo Testamento. Tem a soberania universal e promete ser o Senhor que ampara em todos os momentos: “onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou Eu no meio deles.”

Dirigindo-se a judeus convertidos Mateus procurou apresentar a doutrina de modo especialmente significativo para os hebreus de modo que eles compreendessem e aceitassem Jesus como Messias. É comum a fórmula “Isto aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor havia dito pelos profetas” (1,22; 2,15.17.23; 4,14 etc)

Mateus mostra que Jesus é maior que Moisés, Davi, Salomão, o Templo e a Lei. Jesus é a realização do Antigo Testamento, o fim do Antigo Testamento e o julgamento sobre o Antigo Testamento.


Em Mateus, Jesus explica o Reino de Deus em cinco discursos, ora se dirige às multidões (3) ora aos doze (2) e ora aos discípulos (4 e 5). Os fundamentos do Reino estão nos cap. 5 e 7, as normas para ser proclamado pelos missionários no cap. 10, a sua natureza exposta por meio de parábolas no cap. 13, as condições da comunidade no cap. 18 e a sua consumação no fim dos tempos nos cap. 24 e 25.

 

O Sermão da Montanha é um programa de vida, pois reúne o ensinamento de Jesus, indicando a seus seguidores como se deve viver não simplesmente em conformidade com uma série de normas mas revolucionando por dentro a própria atitude e a própria mentalidade. O extraordinário é que Ele deu ao homem a capacidade de viver este ideal aparentemente impossível.

 

Neste sermão a Lei é re-interpretada por Jesus. Como vemos nas antíteses que destacam a oposição entre a tradição e a palavra de Cristo “Ouvistes que foi dito… Eu, porém, vos digo…” cap. 5, 21-22.27-28.31-32.33-34.38-39.43-44, que revelam a vontade nova e absoluta de Deus. Ao colocar o discurso na montanha, Mateus faz uma evocação proposital da primeira revelação da Lei no Monte Sinai (Horeb). Lucas o coloca num lugar plano.

 

Moisés encarna o papel do mediador da lei, do condutor do povo das agruras do exílio para a terra da liberdade pelas provações do deserto. Jesus realiza o projeto de libertação. Ele não é somente um novo Moisés, mas maior que Moisés.



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