Evangelho de Mateus III
As comparações de Jesus com Moisés estão presentes em vários momentos do livro. Já no nascimento, aparece a estrutura mosaica. Como Moisés, Jesus é milagrosamente salvo da morte. Lá pela obra da filha do faraó, aqui por uma intervenção angélica. Lá morrem os filhos dos egípcios, aqui os filhos dos judeus. Em relação ao Egito, há uma inversão de sinais. Moisés sai. Jesus vai e volta, sempre sob a orientação do anjo. No deserto, Moisés e o povo judeu fizeram a dupla experiência da proximidade de Deus e da tentação, e diante dela, o povo peca. Jesus ao ser tentado não vacila.
O sermão evangélico inicia-se com as bem-aventuranças e prolonga-se com a maravilhosa série de ensinamentos sobre a conduta do cristão muito mais exigente no perdão, na pureza, no testemunho, na veracidade, no amor ao inimigo. A imagem da luz que ilumina e do sal que dá gosto caracteriza o comportamento do discípulo.
O sermão da missão traduz o próprio comportamento missionário de Jesus. Perseguições, comunicar a paz, renúncia são traços da sua vida ministerial. Recebe-lo é receber ao próprio Deus Pai.
As parábolas do Reino revelam a vida cotidiana de Jesus: a semeadura, o crescimento das sementes, a colheita do trigo, o cozimento do pão, a pesca, etc e a partir desses exemplos deixa entrever o mistério mesmo de sua vocação missionária e a sua pedagogia.
O sermão comunitário retrata diretamente a vida da comunidade. Mas, no fundo, pulsa aí o coração de Jesus que reconhece no menor, na criança a presença do Reino, que incrementa e vive o perdão sem limite, que não mede o tamanho da ofensa para perdoar.
O sermão escatológico apresenta previsões do fim trágico que envolve a vida de Jesus, a respeito da destruição do templo e de Jerusalém, projeções de perigos e medos da comunidade para um fim último, perdido no mistério de Deus.
A divindade de Jesus é afirmada de diversas formas ao longo de livro. Desde a concepção de Jesus por obra do Espírito Santo. Muitas passagens mostram a divindade de Jesus de modo implícito, isto é, atribuindo-lhe as mesmas prerrogativas e poderes que o Antigo Testamento atribuía a Javé. Ele é igual ao Pai e ao Espírito Santo: o mandato missionário coloca as três pessoas divinas no mesmo plano: “batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. (28,19).
Ele tem poder e sabedoria iguais ao Pai: “ninguém conhece o Filho senão o Pai e ninguém conhece o Pai senão o Filho” 11,27. Ele possui a mesma autoridade de Deus: “Foi dito aos antigos Eu vos digo” 5.
Nos cap 8 e 9 Mateus apresenta um conjunto de milagres, mediante os quais o Senhor apóia com autoridade divina os seus ensinamentos. Estes milagres significam também que a salvação prometida no Antigo Testamento chegou já em Jesus. A cura de doentes demonstra igualmente a libertação da tirania do pecado, visto que este á a causa da doença e da morte dos homens. Estes dois capítulos vêm a ser, pois, como um resumo das obras do Messias.
O Evangelho de Mateus na vida da Igreja
Em finais do século I, com a epístola do Papa São Clemente aos Coríntios, comprova-se o uso do I Evangelho na Igreja. Os Santos Padres dos séculos finais da Idade Antiga comentam-no amplamente, ex. São João Crisóstomo e também os grandes doutores da Idade Média, ex. Santo Tomás de Aquino. A Liturgia, tanto oriental como ocidental e o Magistério da Igreja, usam-no com grande profusão até os nossos dias.
Durante muitos séculos, na Catequese e na Liturgia, o evangelho de Mateus desenvolveu o papel de “Evangelho da Igreja”. Somente com a renovação empreendida pelo Concílio Vaticano II é que os outros Evangelhos também encontraram um maior espaço, com a introdução do ciclo trienal de leituras litúrgicas, enfocando a cada ano um evangelista em particular: Ano A: Mateus, Ano B: Marcos, Ano C: Lucas.
Alguns textos
Eis alguns trechos e acontecimentos que só se encontram em Mateus
Parábolas: o joio 13,24-30; o tesouro escondido 13,44; a pérola 13,45; a rede 13,47-50; o servo implacável 18,23-35; os operários da vinha 20,1-16; os dois filhos 21,28-32; o matrimônio do filho do rei 22,1-14; as dez virgens 25,1-13; os talentos 25,14-30.
Milagres: os dois cegos 20,29-34; o endemoninhado mudo 9,32-34.; a moeda na boca do peixe 17,27.
Acontecimentos: sonho de José 1,20; visita dos magos 2,1-12; fuga para o Egito 2,13; massacre dos inocentes 2,16; sonho da mulher de Pilatos 27,19; morte de Judas (narrada também em Atos) 27,35; os santos ressuscitados em Jerusalém 27,52; o suborno dos guardas 28,12s; a missão universal 28,19.
Que o Evangelho de Mateus nos encoraje para termos a atitude dos discípulos que reconhecendo Jesus como o Senhor Todo Poderoso saíram para levar a Boa Nova até os confins da terra.