- Autor: Jesus Manuel Urones Rodriguez
- Fonte: Site “Catolico, Defiende tu Fe” (https://www.catolicodefiendetufe.org)
- Tradução: Apostolado Veritatis Splendor
Quando uma pessoa é batizada na Igreja Católica, há a figura do “padrinho”, que possui uma missão específica: apresentar a Igreja àquele que será batizado; e se este último não tiver ainda o uso da razão, fará por ele a profissão de fé e as promessas batismais. Também teremos os padrinhos e outros sacramentos, como na Confirmação. Mas de onde procede este termo? É bíblico? Tentemos responder a essas perguntas.
Para começar, vejamos o a Igreja ensina sobre os Padrinhos:
- “Para que a graça batismal possa desenvolver-se, é importante a ajuda dos pais. Este é também o papel do padrinho ou da madrinha, que devem ser cristãos firmes, capazes e prontos a ajudar o novo batizado, criança ou adulto, em sua caminhada na vida cristã (cf. CIC, cânn. 872-874). A tarefa deles é uma verdadeira função eclesial (“officium”, cf. SC 67). A comunidade eclesial inteira tem uma parcela de responsabilidade no desenvolvimento e na conservação da graça recebida no Batismo” (Catecismo da Igreja Católica, §1225).
- “Para a Confirmação, como para o Batismo, convém que os candidatos procurem a ajuda espiritual de um padrinho ou de uma madrinha. Convém que seja o mesmo do Batismo, a fim de marcar bem a unidade dos dois sacramentos (cf. Ritual da Confirmação, Praenotandos 5; Ibíd.,6; CIC cân. 893,1.2)” (Catecismo da Igreja Católica, §1311).
Portanto, o padrinho deve ser um crente sólido, que ensine o batizado em seu caminho na fé cristã. O §1311 indica que devem buscar auxílio espiritual de um padrinho ou madrinha. Então, este parágrafo indica que o padrinho dá “ajuda espiritual” ao batizado, de modo que podemos dizer que o batizado se converte em “filho espiritual” do padrinho, de modo que entre eles existe um “parentesco espiritual”. Para enxergarmos isto de uma forma mais clara, é bom recordar o que ensinava o Catecismo de São Pio X:
- 573. Quem são os padrinhos e madrinhas do Batismo? R.: Os padrinhos e madrinhas do Batismo são aquelas pessoas que por disposição da Igreja têm as crianças na sagrada fonte, respondem por elas e saem como fiadores diante de Deus quanto à sua educação cristã, especialmente se nisto faltarem os pais.
- 576. Quais são as obrigações dos padrinhos e madrinhas? R.: Os padrinhos e madrinhas estão obrigados a buscarem que seus filhos espirituais sejam instruídos nas verdades da fé e vivam como bons cristãos, edificando-os com bons exemplos.
- 577. Quais vínculos contraem os padrinhos do Batismo? R.: Os padrinhos contraem um parentesco espiritual com o batizado e este parentesco produz impedimento matrimonial.
E é este o conceito que encontramos na Bíblia. Sabemos que nem tudo está escrito de forma literal nas Sagradas Escrituras, mas podemos encontrar nelas, às vezes de maneira implícita, outras vezes de maneira explícita, as bases da nossa Fé. E neste caso dos padrinhos, não podia ser diferente. Vejamos aqueles versículos que nos falam de um “parentesco espíritual” entre duas pessoas:
- “Por esta causa vos mandei Timóteo, que é meu filho amado, e fiel no Senhor, o qual vos lembrará os meus caminhos em Cristo, como por toda a parte ensino em cada igreja” (1Coríntios 4,17).
- “Mas bem sabeis qual a sua experiência, e que serviu comigo no evangelho, como filho ao pai” (Filipenses 2,22).
- “A Timóteo meu verdadeiro filho na fé: Graça, misericórdia e paz da parte de Deus nosso Pai, e da de Cristo Jesus, nosso Senhor” (1Timóteo 1,2).
Pauloi enxerga Timóteo como seu filho espiritual porque foi Paulo quem o guiou na Fé, o ajudou a caminhar na vida cristã. É mais! Podemos dizer que Paulo o apadrinhou.
- “A Tito, meu verdadeiro filho, segundo a fé comum: Graça, misericórdia, e paz da parte de Deus Pai, e da do Senhor Jesus Cristo, nosso Salvador” (Tito 1,4).
São Paulo também chama Tito de “filho na fé”, situando-se como seu pai na Fé: o padrinho. Porém, este ensinamento de adquirir filhos espirituais e ensinar-lhes o caminho do Evangelho, da santidade, da Fé cristã não é exclusiva de São Paulo, pois outros Apóstolos falam a mesma coisa:
- “A vossa coeleita em Babilônia vos saúda, e meu filho Marcos” (1Pedro 5,13).
- “Muito me alegro por achar que alguns de teus filhos andam na verdade, assim como temos recebido o mandamento do Pai” (2João 1,4).
Tanto São Pedro quanto São João tratam de filhos espirituais, que eles adquiriram. Nós, na Confirmação e no Batismo, recorremos aos padrinhos para que eles nos auxiliem espiritualmente; isto os converte em nossos “pais e guias espirituais”.
Podemos concluir então que “filhos na fé” e “pai espiritual” são as expressões mais próximas de “padrinho” que encontramos na Escritura. Ainda que estas passagens costumem a ser citadas para provar que um sacerdote ou presbítero é nosso “pai espiritual”, são perfeitamente válidas e aplicáveis aos padrinhos, pois falam de um parentesco espiritual.
Desde o Antigo Testamento aparece a figura do “padrinho” como alguém que protege e guia. Neste caso, o próprio Deus foi “padrinho” de Isaac:
- “Se o Deus de meu pai, o Deus de Abraão e o temor de Isaque não fora comigo, por certo me despedirias agora vazio. Deus atendeu à minha aflição, e ao trabalho das minhas mãos, e repreendeu-te ontem à noite” (Gênesis 31,42).
- “O Deus de Abraão e o Deus de Naor, o Deus de seu pai, julgue entre nós. E jurou Jacó pelo temor de seu pai Isaque” (Gênesis 31,53).
Talvez uma das mais antigas menções ao termo “padrinhos” o encontraremos em Tertuliano, por volta do ano 200 d.C. Ele diz:
- “Que necessidade há quando realmente não há que se colocar em perigo os padrinhos, os quais, pela morte, podem faltar ao que prometeram ou podem, com o passar do tempo, ter a decepção de terem apadrinhado alguém de má condição?” (De Baptismo 5,8).