Evocação de espíritos x invocação dos santos

Na leitura das novas edições da Bíblia Sagrada Ave-Maria (ou de qualquer outra Bíblia se for o caso), o leitor atento deve substituir o termo “invocação” por “evocação” em Deut 18,10-12, que está redigido assim:

 “Não se ache no meio de ti quem faça passar pelo fogo seu filho ou sua filha, nem quem se dê à adivinhação, à astrologia, aos agouros, ao feiticismo, à magia, ao espiritismo, à adivinhação ou à invocação dos mortos, porque o Senhor teu Deus abomina aqueles que se dão a essas práticas“. (Deut 18,10-12) [grifo meu]

Esclarecimento:

O uso do termo “invocação” no contexto citado acima está errado. Nós católicos invocamos os santos que intercedem por nós a Deus. O que Deus proíbe é a evocação dos mortos.

Infelizmente nas novas edições da Bíblia Sagrada Ave-Maria foi substituído erradamente o termo “evocação” por “invocação” em Deut 18,10-12.

Na edição antiga da Bíblia Sagrada Ave-Maria, Edição Claretiana, Editora Ave Maria Ltda., 9a Edição, São Paulo, SP, 1966, [imprimatur Carolus, Card. Archiep. Sti. Pauli, 26-XII-1957, imprimi potest Pe. Joannes de Castro Engler, C.M.F., Superior Provincialis, Sti. Pauli, 16, julii 1959] em Deut 18,10-12 é utilizado corretamente evocação e não invocação, como mostrado abaixo:

 “Não se ache no meio de ti quem faça passar pelo fogo seu filho ou sua filha, nem quem se dê à adivinhação, à astrologia, aos agouros, ao feiticismo, à magia, ao espiritismo, à adivinhação ou à evocação dos mortos, porque o Senhor teu Deus abomina aqueles que se dão a essas práticas”. [grifo meu]

[Observação: a Bíblia Sagrada Ave-Maria, Edição Claretiana, Editora Ave Maria Ltda., 9a Edição, São Paulo, SP, 1966, é uma tradução dos originais hebraico, aramaico e grego, mediante a versão francesa dos Monges Beneditinos de Maredsous (Bélgica) pelo Centro Bíblico de São Paulo. Portanto, é uma tradução a partir do texto em francês para o português].

Na Bíblia Sagrada, Edição da Família, Editora Vozes, 50a Edição, Petrópolis, RJ, 2005 [imprimatur, Brasilia, DF, 17 de dezembro de 1996, Dom Lucas Cardeal Moreira Neves, Arcebispo de São Salvador, BA, Primaz do Brasil, Presidente da CNBB]; Deut 18, 10-12 também está citado corretamente, como mostrado abaixo:

 “Não haja em teu meio quem faça passar pelo fogo o filho ou a filha, nem quem se dê a presságios, nem haja astrólogo, adivinho ou feiticeiro, nem quem se dê à magia, consulte necromantes, interrogue espíritos ou evoque os mortos. Pois o Senhor abomina quem se entrega a tais práticas”. [grifo meu]

[Observação: a Bíblia Sagrada, Edição da Família, Editora Vozes, 50a Edição, Petrópolis, RJ, 2005, é uma tradução direta dos originais hebraico, aramaico e grego para o português, conforme o progresso das ciências bíblicas].

No livro Kloppenburg, Frei Boaventura, Espiritismo – Orientação para os Católicos, Edições Loyola, São Paulo, 1986, na página 49 é tratado sobre a Evocação, que é definida como: “Acudir ao nosso chamado”. “A Evocação ou a manifestação provocada das almas dos falecidos, que são os espíritos do espiritismo, especifica, caracteriza e define o movimento suscitado por Allan Kardec. Sem evocação não há espiritismo“.

O Catecismo da Igreja Católica – edição tipica vaticana, diz em seu parágrafo 2116 o seguinte:

 “2116. Todas as formas de adivinhação devem ser rejeitadas: recurso a Satanás ou aos demónios, evocação dos mortos ou outras práticas supostamente «reveladoras» do futuro (45). A consulta dos horóscopos, a astrologia, a quiromancia, a interpretação de presságios e de sortes, os fenómenos de vidência, o recurso aos “médiuns”, tudo isso encerra uma vontade de dominar o tempo, a história e, finalmente, os homens, ao mesmo tempo que é um desejo de conluio com os poderes ocultos. Todas essas práticas estão em contradição com a honra e o respeito, penetrados de temor amoroso, que devemos a Deus e só a Ele.”

[cf. http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p3s2cap1_2083-2195_po.html] [grifo meu]

O Novo Dicionário Eletrônico Aurélio, versão 5.0 [que corresponde à 3ª. edição, 1ª. impressão da Editora Positivo, revista e atualizada do Aurélio Século XXI, ©2004 por Regis Ltda], define corretamente os verbos evocar e invocar. Podemos verificar, abaixo, que os sentidos (em negrito) de ambos os verbos são diferentes e estão de acordo com o entendimento da doutrina católica a respeito.

evocar
[Do lat. evocare.] Verbo transitivo direto
1. Chamar de algum lugar.
    2. Fazer aparecer, chamando por meio de esconjuros, invocações ou exorcismos (as almas do outro mundo, os demônios).
3. Jur. Transferir (uma causa) dum tribunal para outro.
4. Trazer à lembrança, à imaginação:
evocar o passado. [Conjug.: v. trancar. Pret. imperf. ind.: evocava,…. evocáveis, evocavam. Cf. evocaveis, pi. de evocavel.]

invocar
[Do lat. invocare.] Verbo transitivo direto
1. Implorar a proteção ou auxílio de; fazer súplicas a; chamar em seu socorro:
invocar os santos;
“Debalde invoca Deus, que o não escuta” (Conde de Monsaraz, Musa Alentejana, p. 185).
2. Pedir, rogar, suplicar: invocar a proteção divina.
3. Alegar em seu favor; recorrer a:
Juridicamente ninguém pode invocar o desconhecimento da lei.
4. Evocar, conjurar.
5. Brás. Gír. Irritar (alguém) repetindo com insistência algo que lhe desagrade.
6. Brás. Gír. Impressionar ou preocupar vivamente:
“As três mulheres do sabonete Araxá me invocam …. me hipnotizam.” (Manuel Bandeira, Estrela da Vida
Inteira, p. 135.)
Verbo transitivo indireto
7. Brás. Gír. Antipatizar, embirrar, implicar:
Invocou comigo, e procura prejudicar-me. [Conjug.: v. trancar. Pret. imperf. ind.: invocava,…. invocáveis, invocavam. Cf. invocáveis, pi. de invocável.]

Conclusão:

Deus proíbe a evocação dos mortos (feita pelos espíritas), mas não a invocação dos mortos (santos) (feita pelos católicos).

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