Chegou-me por e-mail uma mensagem com algumas besteiras. Seguem o original (em negrito) e meus comentários:
– Você sabe que os católicos se salvam SÓ PELA FÉ e não por qualquer prática dominical? Não sabe que o catolicismo praticado pela maioria (com falta de sabedoria sobre a Bíblia e sobre o que a Igreja ensina) é condenado até pelos próprios católicos que sabem desses erros?
Lamento informar, mas você está errado. Ninguém se salva “só pela fé”. Nós podemos nos salvar quando recorremos aos meios de salvação instituídos por Nosso Senhor (os Sacramentos), aderimos à Fé que Ele nos deu (a Sã Doutrina que prega a Igreja) e obedecemos aos Seus Mandamentos, ou seja, escolhemos – na difícil escolha de cada dia entre Criador e criatura, entre a castidade e a moça bonita, entre o respeito à propriedade privada e a ocasião de furto, etc. – com o auxílio sempre presente da graça de Deus, o que é certo.
Ou seja: salvamo-nos pelos Sacramentos que nos dão, aumentam ou devolvem a Graça e pelos nossos atos e escolhas que fazem com que a mantenhamos e nela cresçamos. Sem Fé nada disso faríamos, é claro, mas só a Fé não basta. Quantos há que têm Fé, que crêem, mas que não cumprem os Mandamentos? Quantos há que, mesmo com Fé, afastaram-se da graça e não buscam recuperá-la?
A pregação protestante de salvação pela fé apenas é decorrência da negação protestante do livre-arbítrio. A Fé é dom de Deus, a que devemos corresponder com nossos atos. Para o protestante, que busca diminuir ou simplesmente negar o valor dos atos do homem (por negar o livre-arbítrio, o que faz com que todo ato humano seja “teleguiado” por Deus ou pelo Demo, sem mérito algum), é necessário mentir e falsificar a Escritura para afirmar que só a fé poderia salvar. Caso não o fizessem, teriam que aceitar o livre-arbítrio.
Quanto ao segundo ponto que deixei de sua msg: cabe lembrar que a Bíblia não é manual de instruções e, principalmente, não é fácil de ler. Esta mania perigosíssima de sair lendo a Bíblia (que, como escreveu S. Pedro, “os ignorantes e indoutos distorcem para sua própria perdição” – 2Pd 3,16) deve ser combatida. Não há problema algum, muito pelo contrário, em não ler a Bíblia por conta própria, contentando-se com o que é lido (e explicado!!!) pelo padre em cada Missa. Cada um tem um talento, cada um tem uma posição na vida. Se o sujeito é um pesquisador, um médico, um advogado, é alguém, em suma, acostumado a ler e entender textos difíceis, ele tem a obrigação de estudar a Sã Doutrina (no Catecismo e em livros que o aprofundem), dando-lhe assim condições de – depois de não mais ser “um ignorante e um indouto” – ler uma Bíblia com comentários e entendê-los. A dona-de-casa de poucas leituras, porém, assim como o pedreiro, o sapateiro, etc., têm o dever de buscar a santidade em sua condição de vida, o que não inclui necessariamente (a não ser que tenham um talento para o estudo que não usam em suas profissões) estudo aprofundado o suficiente para que deixem de ser “ignorantes e indoutos” a quem a leitura da Sagrada Escritura é prejudicial.
Como regra básica, poderíamos dizer que só deve ler a Bíblia quem no mínimo tenha lido e entendido todo o Catecismo, e mesmo assim não a deve ler sem auxílio. Cabe sempre o conselho do eunuco que disse ao apóstolo, ao ser interrogado sobre o livro que lia: “como posso entender, se não há quem mo explique?!” (At 8,31)…
Aqueles cuja condição não obriga aos estudos têm sim a obrigação de conhecer o elementar, e só isso. Não têm nem a obrigação nem, via de regra, as condições necessárias para ler a Bíblia. Devemos conhecer, sim, o que a Igreja ensina de acordo com a nossa condição. Se sou um professor – e o sou – tenho a obrigação de aprofundar-me muito mais na teologia que minha esposa, que é dona de casa. Ela não peca ao não saber que – por exemplo – o Espírito Santo procede do Pai e do Filho por expiração e não por geração. Eu pecaria. Compete-lhe, contudo, saber que Deus é um só Deus em três Pessoas, que aos Santos devemos apelar, que não se pode roubar nem matar, que devemos buscar a Confissão ao menos uma vez ao ano e a comunhão pela Páscoa, que devemos ir à Missa dominical e nos dias santos, etc.
É a Soberba, mãe de todos os pecados, que leva muitos a querer elevar-se acima de sua condição, o que leva gente incapaz de entender as notícias do jornal a querer ler a Bíblia. Antiga artimanha demoníaca, tão antiga quanto eficaz!!! Assim o adversário criou o protestantismo e o mantém, e assim ataca ele agora os menores na Igreja. Que Deus nos livre destas tentações, e que percebamos, com a graça de Deus, quais são nossos limites e dentro deles nos mantenhamos.
- Fonte: A Hora de São Jerônimo