Festa de Santa Maria, Mãe de Deus

Por Dom Alberto Taveira Corrêa, Arcebispo Metropolitano de Belém.

No dia 1° de janeiro, a Igreja celebra a Solenidade de Maria Mãe de Deus. Em todas as celebrações, sobe a súplica confiante do Povo de Deus: ´”Ó Deus, que pela virgindade fecunda de Maria destes à humanidade a salvação eterna, dai-nos contar sempre com a sua intercessão, pois ela nos trouxe o autor da vida”. Virgindade e Fecundidade! Duas realidades que atraem as pessoas. Tê-las simultaneamente é presente do Céu, obra do Espírito Santo. É o mistério do Natal no qual estamos mergulhados, desejosos de que muitas outras pessoas sejam contagiadas com a alegria que se respira na Igreja.

O magnífico mosaico do Natal, composto como obra-prima pelas mãos de Deus, apresenta, dentre tantas belas cenas, a maternidade. A mais simples e mais carregada de sentido de todas é o Menino Jesus ao colo de sua Mãe e José, o justo, silenciosamente presente (Cf. Lc 2, 16-21)! No correr da história, foram tantos os outros artistas, além de Deus, que procuraram descrevê-la e não conseguiram esgotá-la. A cada ano, nos cartões de Natal escritos ou virtuais que circulam pelo mundo, novos ângulos serão descobertos e o mistério continuará a atrair. Só a experiência da fé pode aproximar adequadamente as pessoas de tamanha riqueza! De fato, “quando se completou o tempo previsto, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sujeito à Lei, para resgatar os que eram sujeitos à Lei, e todos recebermos a dignidade de filhos. E a prova de que sois filhos é que Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: “Abá, Pai”. Portanto, já não és mais escravo, mas filho; e, se és filho, és também herdeiro; tudo isso, por graça de Deus” (Gl 4, 4-7).

No Concílio de Éfeso, celebrado no longínquo ano de quatrocentos e trinta e um, a Virgem Maria foi reconhecida como “Theotokos”, Mãe de Deus. É um título que se refere primeiro a Jesus. Nós dizemos que Cristo é verdadeiro homem porque nasceu de Maria, uma criatura humana. Mas atesta também que Jesus é Deus! Ele não é apenas homem, mas Deus verdadeiro. Se ele é reconhecido como Deus, podemos chamar Maria “Mãe de Deus”. E Jesus é Deus e homem numa só pessoa. Foi no ventre de Maria, ensinaram os Padres da Igreja, que se realizaram as núpcias de Deus com a humanidade. Nela Deus se fez Emanuel, Deus-conosco! Enfim, o título “Mãe de Deus” nos faz entender a humildade de Deus, que quis ter uma mãe na terra. Deus se fez presente silenciosamente no útero de uma mulher!

Chamar Maria de “Mãe de Deus” nos faz conhecê-la e amá-la. Ela é a única pessoa no universo inteiro que pode dizer a Jesus “Tu és meu Filho, eu te gerei”, como pode dizer-lhe o Pai Celeste. Escolhendo o caminho da maternidade para se manifestar a nós, além de tudo Deus revelou a dignidade da mulher. É a mulher mesma, cada mulher, que foi elevada a uma incrível magnitude.

Maria, Mãe de Deus. Basta chamá-la assim para justificar a honra a ela tributada na Igreja. Ninguém poderia dizer algo maior a seu respeito! “Chamando-a Mãe de Deus, entende-se toda a sua honra; ninguém pode dizer a seu respeito coisa maior, mesmo se existissem tantas línguas quantas são as folhas da grama da terra, a estrelas do céu ou a areia do mar. Também nosso coração deve refletir o que significa ser Mãe de Deus… O artigo que afirma que Maria é Mãe de Deus é vigente na Igreja desde o início e o Concílio de Éfeso não definiu algo novo, porque é uma verdade sustentada na Sagrada Escritura… As palavras de Lucas 1,32 e Gálatas 4, 4, com muita firmeza, sustentam que Maria é verdadeiramente a Mãe de Deus” (Martinho Lutero, citado em Raniero Cantalamessa, Gettate le Reti, Anno B, Piemme, 2004, pág. 54). Se este título vier a ser bem entendido, Maria deixará de ser ponto de divisão entre os cristãos, para se tornar, depois do Espírito Santo, fonte de unidade ecumênica, aquela que ajuda maternalmente a reunir os filhos de Deus que estão dispersos (Cf. Jo 11, 52).

É neste colo de Mãe, capaz de reunir os filhos, que queremos pedir a Deus o dom precioso da Paz, cujo dia mundial se celebra no primeiro dia do ano novo. Paz nas famílias, paz na cidade e no campo, paz entre os diversos grupos de cristãos, paz entre as pessoas de convicções diferentes, paz nos corações para superar a violência! Para tanto, acolhamos a bênção bíblica que ressoa nestes dias: “O Senhor te abençoe e te guarde! O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e se compadeça de ti! O Senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz!” (Nm 6,23-24).

Fonte: Família de Nazaré

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