Filhos de Maria?

  • Autor: Phillip B. Liescheski
  • Fonte: A Catholic Response Inc. (http://users.binary.net/polycarp)
  • Tradução: Carlos Martins Nabeto

– “Todos estes perseveravam unanimemente em oração e súplicas, com as mulheres; com Maria, a mãe de Jesus; e com os seus irmãos” (Atos 1,14).

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De acordo com algumas pessoas, frases da Bíblia como “o irmão do Senhor”, provam que Maria teve outros filhos além de Jesus. Embora a Bíblia indique que Maria permaneceu virgem com o nascimento de Cristo (cf. Mateus 1,23, Lucas 1,27; 23,53), essas pessoas afirmam que ela teve outros filhos; e como Maria teve outros filhos, ela não permaneceu sempre virgem. Portanto, a doutrina sobre sua Virgindade Perpétua é falsa e a Igreja Católica está errada ao chamá-la de Virgem Maria. Mas tais frases da Bíblia provam definitivamente que Maria teve outros filhos?

São Paulo escreve:

  • “Não vi nenhum dos outros Apóstolos, exceto Tiago, o irmão do Senhor” (Gálatas 1,19).

Aqui é dito que o Apóstolo Tiago é “o irmão do Senhor”. De acordo com a lista dos Apóstolos em Mateus 10,2-3, Tiago Maior é filho de Zebedeu, enquanto que Tiago Menor é filho de Alfeu. Diz assim que nenhum [dos dois] é filho de José ou Maria, mãe de Jesus. Fazendo uso da Bíblia, São Jerônimo demostra que o Apóstolo Tiago Menor era, na verdade, primo de Jesus; e que o nome da sua mãe também era Maria.

Os nomes dos quatro “irmãos de Jesus” são realmente listados nos Evangelhos. Segundo Mateus:

  • “Este não é o filho do carpinteiro? Sua mãe não se chama Maria? E seus irmãos não são Tiago, José, Simão e Judas? E as suas irmãs não estão entre nós?” (Mateus 13,55-56).

Uma lista semelhante de nomes pode ser encontrada no Evangelho de Marcos:

  • “Não é este o carpinteiro, o filho de Maria, e irmão de Tiago, Joses, Judas e Simão? E suas irmãs não estão aqui entre nós?” (Marcos 6,3).

Essas listas concordam entre si, exceto pela pequena diferença entre “José” em Mateus e “Joses” em Marcos. Mais tarde, em ambos os Evangelhos, os nomes daqueles que seguiram Jesus até a Sua crucificação são registrados. Essas listas contêm informações da família de dois dos “irmãos”:

– Segundo Mateus, as mulheres que seguiram Jesus eram “Maria Madalena; Maria, mãe de Tiago e José; e a mãe dos filhos de Zebedeu” (cf. Mateus 27,56).

– A lista de Marcos inclui: “Maria Madalena; e Maria, mãe de Tiago Menor e de Josés; e Salomé; (…) e também muitas outras mulheres”. (cf. Marcos 15,40).

Observe-se que a mesma variação de nome é observada nas duas listas: Mateus refere-se a “José”, enquanto que Marcos refere-se a “Joses”. Esta variação apóia sua conexão com os nomes dos irmãos de Jesus. De acordo com os dois textos, Tiago e José (ou Josés) são filhos de Maria, mas esta Maria não é aquela referida como a mãe de Jesus. Seria, aliás, uma omissão estranha se ela também fosse a mãe de Jesus.

O Evangelho de João traz uma lista semelhante de mulheres: “de pé, junto à cruz de Jesus, estavam: sua mãe; e a irmã de sua mãe, Maria, esposa de Clopas; e Maria Madalena” (João 19,25). Assim, de acordo com João, Maria, a mãe de Jesus, estava presente na cruz; mas João também registra uma outra Maria além de Maria Madalena.

Comparando as listas, parece que Tiago Menor e José (ou Josés) eram filhos dessa outra Maria. Em outro lugar, Mateus realmente a chama de “a outra Maria” (cf. Mateus 28,1). Diz-se que esta outra Maria é “irmã” da mãe de Jesus. Portanto, Tiago e José (ou Josés) são “primos” de Jesus e não Seus irmãos. Pois bem: como as duas Marias compartilham do mesmo nome, é improvável que fossem [de fato] irmãs; ao invés disso, elas seriam, provavelmente, membros do mesmo clã. Seria confuso para os pais nomear seus filhos com o mesmo nome. Isto seria [também] um exemplo de “irmã” sendo usada no sentido mais amplo, como “prima”.

Um pequeno problema ainda permanece: Em Atos 1,13 e Mateus 10,3, o Tiago Menor, um dos Apóstolos, também é dito ser “filho de Alfeu”. Então, é possível que “a outra Maria” tenha se casado duas vezes, a menos que Alfeu também tenha sido chamado Clopas (isto não é incomum na Bíblia, p.ex.: Israel > Jacó; Simão > Pedro; Saulo > Paulo; etc.), ou Clopas não era o nome de seu marido, mas sim de seu pai, do local de nascimento ou algo assim. Esta última explicação é apoiada pela tradução [inglesa] da Bíblia Douay-Rheims: “Maria de Cleofas” (João 19,25).

Com efeito, o texto da Bíblia mostra que Maria, mãe de Tiago, e Maria, mãe de Jesus, são mulheres diferentes. O caso das “duas Marias” pode causar confusão hoje, assim como confundia talvez a multidão nos dias de Jesus.

Segue abaixo uma breve discussão sobre as diversas Marias do Novo Testamento (NT) encontrada na obra [protestante] “New Scofield Reference Edition – King James Bible” (Nova Iorque: Oxford University Press, 1967). Em uma nota de rodapé para Lucas 1,27, a “segunda Maria” é discutida:

  • “2) Maria, a mãe do Apóstolo Tiago (chamada de “menor”, cf. Marcos 15:40) e esposa de Clopas (cf. João 19:25), que pode ser identificado com Alfeu (cf. Mateus 10:3; Marcos 3:18; Lucas 6:15). Ela era evidentemente prima de Maria, mãe de Jesus. Maria assistiu à crucificação (cf. Mateus 27:56; Marcos 15:40; João 19:25), visitou o túmulo do jardim (cf. Marcos 15:47; 16:1; Lucas 24:10) e, presumivelmente, estava entre as mulheres que viram o Senhor ressuscitado no dia da ressurreição (cf. Mateus 28:7-9; Lucas 24:9.22-24). Ela é normalmente mencionada apenas em conexão com um ou ambos os filhos. Alguns supuseram que esta Maria era irmã [de sangue] de Maria, mãe de Jesus, mas é altamente improvável que duas irmãs tenham o mesmo nome” (p.1076).

Com efeito, mesmo a partir de uma obra protestante, esta nota de rodapé confirma o argumento de São Jerônimo de que “havia duas Marias”.

A Bíblia nunca afirma diretamente que Maria, mãe de Jesus, teve outros filhos. Apenas Jesus é dito ser “o filho de Maria” [Marcos 6,3; note-se o emprego do artigo masculino definido]. Embora a Bíblia se refira em vários lugares aos irmãos e irmãs de Jesus (cf. Mateus 12,46; Marcos 3,32; Atos 1,14), eles poderiam [também] ser filhos adotivos ou meros membros do clã de Jesus. Clãs e famílias extensas são comuns na Bíblia. Existem exemplos bíblicos em que o termo “irmão” é usado no sentido estrito de irmãos (cf. Mateus 1,2; 4,18; Marcos 3,17); no entanto, existem exemplos em que os termos “irmão” e “irmã” são usados ​​em um sentido bem mais amplo (por exemplo, João 19,25). Segundo a Bíblia Douay-Rheims, “ele (Abrão) trouxe de volta (…) Ló, seu irmão” (Gênesis 14,16); porém, segundo Gênesis 11,31, Ló era sobrinho de Abrão. Em 2Samuel 1,26, Davi chama Jônatas de “irmão”, mas não havia qualquer ligação com a sua família. Em outras partes da Bíblia, Jesus se refere aos seus discípulos como “irmãos” (cf. Mateus 28,10). Até os fiéis cristãos se chamam de “irmãos” (cf. Atos 1,15-16; 9,30; 13,38; Romanos 1,13; 1Coríntios 1,10).

Há outras palavras, na Bíblia, que podem hoje causar uma confusão semelhante hoje. Como exemplo, as pessoas podem citar o versículo: “E ele (José) levou sua esposa (Maria), mas não a conheceu até que desse a luz a um filho” (Mateus 1,24-25). Segundo essas pessoas, a palavra “até” prova que José “conheceu” Maria depois que Jesus nasceu. Portanto, Maria não permaneceu virgem. Pois, no uso moderno, “até” implica uma mudança na situação após ocorrer algum evento. Embora a Bíblia use a palavra “até” nesse sentido, ela também usa “até” em um outro sentido que não implica nada após a ocorrência de algum evento:

– No evangelho de Mateus, Jesus diz: “Porque se as obras feitas entre vós tivessem sido realizadas em Sodoma, elas permaneceriam até hoje” (Mateus 11,23). Então, Sodoma seria destruída um dia depois do “hoje”?

– São Paulo escreve: “Pois ele deve reinar até que tenha colocado todos os seus inimigos sob os seus pés” (1Coríntios 15,25). Então, depois disso Jesus deixará de reinar? Não!

– Finalmente, São Paulo escreve: “Te encarrego de manter os mandamentos intactos e livres de reprovação até o aparecimento de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Timóteo 6,14). [É óbvio que] ele não está aconselhando Timóteo a quebrar os mandamentos após o aparecimento de Cristo!

Da mesma maneira, Mateus não está implicando que José “conheceu” Maria após o nascimento de Jesus.

Em outros lugares da Bíblia, Jesus é chamado de “o primogênito de Maria” (cf. Lucas 2,7). Algumas pessoas podem afirmar que “primogênito” implica que Maria teve um segundo filho e assim por diante, já que “primeiro” só faz sentido quando existe um “segundo”.

Pois bem: “primogênito” é um título legal na Lei [de Moisés] para aqueles homens que abrem o útero e não necessariamente o primeiro de vários filhos (cf. Êxodo 13,2). Deus ordenou que todos os “primogênitos” fossem dedicados a Ele (cf. Êxodo 13,2-15; 34,19; Salmo 78,51). Essa cerimônia de dedicação deve ser realizada logo após o nascimento do primogênito e não após o nascimento do segundo filho. Mesmo que a mãe tenha apenas um filho, ou seja, que não tenha outros filhos, seu primeiro filho ainda seria chamado de “primogênito”. Todo unigênito é primogênito, mas nem todo primogênito é unigênito. São Paulo se refere espiritualmente a Jesus como o “primogênito” de todos os cristãos desde que abriu os portões do céu (cf. Romandos 8,29).

De acordo com o Evangelho de João, Jesus, enquanto estava na cruz, entrega sua mãe Maria ao Apóstolo João, para seus cuidados (cf. João 19,26-27). Seria muito estranho se Maria tivesse outros filhos, especialmente filhos do sexo masculino. Jesus falou poucas palavras a partir da cruz porque é extremamente doloroso falar enquanto se está sendo crucificado. Se Maria tivesse algum outro filho, ou ainda que João fosse filho dela, Jesus não teria desperdiçado Suas palavras dizendo o óbvio. Isso não seria apenas estranho, como também um grave insulto aos outros filhos. Este insulto não seria apenas para Jesus, mas também para Maria, uma vez que Maria não O impediu. Essa passagem só faz sentido se Maria não tiver outros filhos para cuidar dela.

Jesus é o Filho unigênito de Deus. Paralelamente, Jesus é o filho unigênito de Maria. De acordo com o catecismo, “Maria é virgem porque sua virgindade é o sinal de sua fé, ‘absolutamente livre de qualquer dúvida’, e de sua doação ‘sem reservas à vontade de Deus’ (cf. 1Coríntios 7,34-35). É sua fé que lhe concede tomar-se a Mãe do Salvador” (CIC 506).

A virgindade perpétua de Maria a ajudou a permanecer concentrada em Deus e em Sua vontade de salvar toda a humanidade.

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