Antes que a sua questão sobre as evidências extrabíblicas da existência de Cristo possa ser respondida, devemos dizer algo acerca do seu comentário sobre o Novo Testamento.
O fato de ter sido escrito por crentes não significa que o Novo Testamento seja tão tendencioso a ponto de ser desprezado como testemunho histórico da existência de Cristo. Os argumentos contrários à historicidade dos escritos do Novo Testamento, baseados no compromisso pessoal dos autores, nada provam.
Na verdade, tais argumentos podem até ser usados para fundamentar ainda mais a confiabilidade do Novo Testamento. A fé em Cristo e, como consequência, um compromisso com a verdade, acabam por aumentar – e não reduzir – a precisão histórica adotada pelos autores do Novo Testamento.
A posição favorável ou contrária à confiabilidade histórica do Novo Testamento deve ser construída com base na evidência. Embora o espaço aqui seja insuficiente para apreciar a questão de maneira adequada, uma abordagem aprofundada da matéria encontra-se disponível nos seguintes livros:
- "The Authenticity of the Sacred Scripture" (A Autenticidade da Sagrada Escritura), de Cornelius Haggerty;
- "The Father's Son" (O Filho do Pai), de James T. O'Connor;
- "The Historical Reliability of the Gospels" (A Confiabilidade Histórica dos Evangelhos), de Craig L. Blomberg; e
- "The New Testament Documents: Are They Reliable?" (Os Documentos do Novo Testamento: São Confiáveis?), de F. F. Bruce.
As evidências antigas não-cristãs favoráveis à existência de Cristo não são tão detalhadas quanto as evidências apresentadas pelo Novo Testamento, nem são tão extensas quanto gostaríamos que fossem, mas algo pode ser concluído a partir delas. Existem evidências diretas da existência de Jesus na tradição rabínica, nos escritos do historiador judeu [Flávio] Josefo e ainda na antiga literatura pagã.
Visto que os antigos cristãos tinham rompido com o Judaísmo, o material sobre Jesus provindo da tradição rabínica não chega a ser complementar, mas é suficiente para estabelecer que Cristo viveu e que era considerado mestre e taumaturgo por seus seguidores.
Josefo faz duas referências a Jesus. Em uma delas, fala dele como o Messias crucificado por Pilatos e que ressuscitou dentre os mortos. O segundo texto refere-se apenas de passagem a Jesus. Alguns pesquisadores entendem que ambas as declarações constituem glosas cristãs ao texto [original]. Mas a maioria aceita a idéia de que Josefo fez uma mínima referência a Jesus em seu manuscrito original.
O historiador romano Tácito, escrevendo por volta do ano 112 d.C., também menciona Jesus:
"Assim, para tentar abafar esse boato [de que teria iniciado o grande incêndio que destruiu Roma], Nero acusou, culpou e entregou às torturas mais deprimentes um grupo de pessoas que eram detestadas por seu comportamento e que o povo chamava 'cristãos'. Este nome lhes provém de Cristo, [um homem] que no tempo de Tibério havia sido entregue ao suplício pelo procurador Pôncio Pilatos" (Anais 15,44).
Mas há ainda algumas outras referências antigas não-cristãs. Um outro escritor romano, Plínio o Jovem (112 d.C.), menciona Cristo como aquele a quem os cristãos cantavam um hino "como que a um deus" (Epístolas 10,29).
Suetônio, em sua obra "Vidas dos Césares" (120 d.C.) pode estar se referindo a Cristo quando escreve acerca da expulsão dos judeus de Roma, determinada pelo imperador Cláudio, "já que os judeus, à instigação de Cresto, não deixavam de provocar distúrbios" (25,4). Muitos historiadores enxergam aqui uma referência a Cristo, cujos seguidores judeus em Roma dissentiam dos judeus não-cristãos ("Cresto" aqui pode representar uma má-ortografia de 'Cristus' ou 'Cristo').
Uma outra possível referência a Jesus pode ser encontrada em uma carta de um certo Mara bar Serapião, um pagão que menciona, juntamente com Sócrates e Pitágoras, um sábio rei dos judeus que os próprios judeus executaram.
Estas referência (e outras evidências indiretas não mencionadas aqui) certamente não são detalhadas, mas atendem às nossas expectativas, uma vez que Jesus de Nazaré só se tornou importante para os romanos após a expansão do Cristianismo. Não há razão, a não ser pelo dogmatismo anti-religioso, para se questionar sua confiabilidade geral. Para um bom aprofundamento nas evidências históricas, leia:
- "Jesus and Christian Origins Outside the New Testament" (Jesus e as Origens Cristãs fora do Novo Testamento), de F. F. Bruce; e
- "Evidence for Jesus" (Evidências [da Existência] de Jesus), de R. T. France.