Biografia de Gianna Beretta Molla

Por Jaime Francisco de Moura

“Teremos que submetê-la a uma intervenção cirúrgica, ou do contrário sua vida está em risco mortal”. Talvez estas tenham sido as palavras do médico que atendeu a Gianna Beretta, uma italiana, que estando doentes de câncer, decidiu continuar adiante com a gravidez de seu quarto filho antes de submeter-se a uma operação que poderia tê-la salvo, às custas da vida do bebê não nascido.

Transcorridos 31 anos, o Papa João Paulo II beatificou no dia 24 de abril de 1994 a Gianna, convertendo-a em um símbolo da defesa da vida.

Quem foi?

Gianna foi a sétima de trezes filhos, de uma família de classe média de Lombardia (norte da Itália), estudou medicina e se especializou em pediatria, profissão que atuou junto com sua tarefa de mãe de família.

Quem a conhecia diz que foi uma mulher ativa e cheia de energia, que conduzia seu próprio carro algo pouco comum nesses tempos, tocava piano e desfrutava indo com seu esposo aos concertos no conservatório de Milão.

O marido de Gianna, o engenheiro Pietro Molla, recordou há alguns anos a sua esposa como uma pessoa completamente normal, mas com uma indiscutível confiança na Providência.

Segundo o engenheiro Molla, o último gesto heróico de Gianna foi uma conseqüência coerente de uma vida gasta dia a dia na busca do cumprimento do Plano de Deus. “Quando se deu conta da terrível conseqüência de sua gestação e o crescimento de um fibroma lembra os esposo de Gianna sua primeira reação, racional, foi pedir que se salvasse a criança que tinha em seu ventre”.

Sua oblação

O engenheiro Molla manifestou que “tinham-na aconselhado uma intervenção cirúrgica…isto teria lhe salvado a vida com toda segurança. O aborto terapêutico e a extirpação do fibroma, teria permitido que mais adiante tivesse outros filhos”. “Gianna escolheu a solução que era mais arriscada para ela”.

O velho viúvo da beata afirmou que naquela época era previsível um parto depois de uma operação que extirparia somente o fibroma, mas isso seria muito perigoso para a mãe, “e isto minha esposa como médica sabia muito bem”.

Gianna faleceu em 28 de abril de 1962, com 39 anos de idade, uma semana depois de ter dado à luz. O último requisito cumpriu-se em 21 anos de dezembro, quando o Papa aprovou um milagre atribuído à intercessão de Gianna.

O milagre

A protagonista do milagre, ocorrido em 9 de novembro de 1977 em um hospital brasileiro, foi uma jovem parturiente que se curou de septicemia infecção generalizada o organismo. As religiosas do hospital tinham passado a noite encomendando sua cura à intercessão de Gianna, cuja figura era-lhes conhecida porque o promotor do hospital era um irmão da beata, médico e missionário capuchino no país. O Papa aprovou o decreto que reconhecia suas virtudes heróicas e a beatificou.

O esposo de Gianna Beretta narra suas experiências

“Ao buscar entre as lembranças de Gianna algo para oferecer à priora das Carmelitas descalças de Milão, lembra o esposo da beata Gianna Beretta, encontrei em um livro de orações uma pequena imagem na qual, no dorso, Gianna tinha escrito de seu punho e letra estas poucas palavras: “Senhor, faz que a luz que se acendeu em minha alma não se apague jamais”.

Com estas e outras anedotas, combinadas com emotivas reflexões, Pietro Molla revelou os perfis desconhecidos de sua esposa Gianna Beretta, falecida em 1962 e beatificada em 24 de abril de 1994 pelo Papa João Paulo II.

Em uma emotiva entrevista concedida à jornalista Giuliana Peluchi, Pietro desenhou um perfil e Gianna que definiu com uma só frase: “Minha esposa era uma santa normal”.

Peluchi, autora de um livro sobre a vida de Gianna, recebeu uma repentina chamada de Pietro Molla, com quem tinha se reunido em numerosas ocasiões para elaborar a biografia da “mãe coragem” que preferiu oferecer sua vida antes de aceitar a operação que custaria a vida da menina que levava em seu ventre”.

“Vão beatificar a Gianna”, disse-lhe Pietro, emocionado, por telefone. A jornalista atônita, só atinou de pedir uma última entrevista, já não em busca de dados biográficos, mas para escutar um testemunho de Pietro sobre a vida de sua esposa.

O testemunho

“Jamais acreditei estar vivendo com uma santa. Minha esposa tinha infinita confiança na Providência e era uma mulher cheia de alegria de viver. Era feliz, amava sua família, amava sua profissão de médica, também amava sua casa, a música, a montanha, as flores e todas as coisas belas que Deus nos tinha dado”, confessou à entrevistadora Pietro Molla, enquanto seus olhos brilhavam de intensa emoção. “Sempre me pareceu uma mulher completamente normal, mas como me disse o Monsenhor Carlo Colombo, a santidade não é feita somente de sinais extraordinários. É feita, sobretudo, da adesão cotidiana aos desígnios inescrutáveis de Deus”, acrescentou.

Pietro Molla ainda lembra quando o Monsenhor Colombo o chamou para pedir que introduzisse a causa da beatificação de Gianna. “Minha resposta positiva foi muito sofrida. Sentimos que tínhamos que expor algo muito nosso. A história de minha esposa e sua figura de mulher foram cada vez mais conhecidas – A nós e à família de minha esposa nos seguiam chegando numerosas cartas de todas as partes do mundo. Nos escreviam mulheres alemãs e americanas que chamavam a Gianna de “mamãe” , que declaravam que nela encontravam uma amiga e que afirmavam que se dirigiam a ela quando tinham necessidade de ajuda e que a sentiam muito próxima -.

A oração que Gianna Beretta escrevera no verso daquela imagem pedindo que a luz da graça não se apagasse nela jamais, se fez, segundo seu esposo, realidade: “agora vejo que esta luz, que alegrou durante um tempo lamentavelmente brevíssimo minha vida e a de meus filhos, se difunde como uma benção sobre quem a conheceu e a amou. Sobre quem reza a ela e se encomendam a sua intercessão ante Deus. E isto me faz, reviver, de maneira alentadora, o privilégio que o Senhor me concedeu de compartilhar com Gianna uma parte de minha vida”.

Todas as mães

A pequena Gianna Emanuella, a bebê pela qual Gianna Beretta deu a vida. A jornalista Peluchi não pode evitar perguntar a Pietro Molla sobre seus sentimentos com respeito à beatificação de sua falecida esposa.

“Meus sentimentos, responde emocionado, têm vários matizes, de surpresa, quase maravilha, de agradecimento a Deus e de aceitação jubilosa, certamente feliz e singular, deste Dom da Divina Providência, que também considero um reconhecimento a todas as inúmeras mães desconhecidas, heróicas como Gianna, em seu amor materno e em sua vida”.

Os Molla Beretta entretanto, esperam que a beatificação, que converteu a Gianna em um estandarte vivo da santidade na vida familiar moderna e da defesa da vida do não nascido, não mude sua vida cristã cotidiana.

“Espero, disse Pietro, que Gianna possa descansar no cemitério de sua localidade natal junto com sua filha Mariolina e junto às demais mães que a chamavam com ternura “nossa doutora”, junto a muitas mulheres que Gianna curou e às quais deu, com amor, seu tempo e profissionalidade”.

Os Molla Beretta continuarão vivendo o exemplo de santidade simples na vida cotidiana que deixou-nos Gianna. “Para mim e para meus filhos, Gianna continuará sendo algo muito íntimo. Uma esplêndida esposa, uma terníssima mãe. Se alguém tem que falar, que fale a Igreja”.

 

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