Globalização e economia política

Os vocábulos mundialização e globalização atualmente fazem parte do linguajar
comum. Em nível muito geral, os dois termos são equivalentes entre si, por assim
dizer. Significam que, na escala mundial, os intercâmbios se multiplicaram e
essa multiplicação ocorreu rapidamente. Tal é certamente o caso no plano da
ciência, da tecnologia e da cultura. A multiplicação dos intercâmbios tornou-se
possível graças a sistemas de comunicação sempre mais aperfeiçoados ou, na
maioria dos casos, instantâneos.

Sempre no sentido óbvio, os termos mundialização e globalização evocam a
interpedendência das sociedades humanas. Uma crise econômica nos Estados Unidos,
as decisões da OPEP relativas ao preço do petróleo, as tensões entre palestinos
e israelenses para citar apenas estes exemplos têm repercussões de alcance
mundial. Somos envolvidos, interpelados e mesmo afetados por catástrofes que
ocorrem longe de nós; sentimos nossa responsabilidade frente à fome e às doenças
em qualquer parte do mundo. As próprias religiões dialogam mais entre si. No
seio mesmo da Igreja Católica as comunicações se intensificaram.

Adquirimos assim a consciência muito perspicaz de nossa pertença à sociedade
humana. Neste primeiro plano, familiar, falamos de integração. Em linguagem
comum dir-se-á que as distâncias já não existem; as viagens aproximam os homens,
o mundo se tornou uma aldeia.

O mundo tende a mais unidade; em princípio só nos podemos regozijar com isto. É
também normal que, para chegar a essa meta, seja necessário procurar novas
estruturas políticas e econômicas capazes de responder às novas necessidades.
Não, porém, a qualquer preço nem segundo quaisquer condições.

Unificação política, integração econômica De alguns anos para cá, o sentido das
palavras mundialização e globalização tornou-se um pouco mais preciso. Por
mundialização entende-se a tendência a formar um governo mundial único. O acento
é colocado sobre a dimensão política da unificação do mundo. Em sua forma atual,
tal tendência desenvolveu-se em várias correntes que os internacionalistas
estudam. Baste-nos citar dois exemplos: o primeiro modelo data do fim da década
de 1960, e é da autoria de Zbigniev Brzezinski. Segundo este modelo, os Estados
Unidos devem assumir a liderança mundial, reformular seu messianismo
tradicional; devem organizar as sociedades políticas particulares, levando em
conta uma tipologia que classifica essas sociedades em três categorias, segundo
o seu grau de desenvolvimento. Em conseqüência a mundialização se define a
partir de um projeto hegemônico, cujo objetivo é impor a Pax americana ou
afundar no caos. [Nota: Bom exemplo foi a invasão dos EUA ao Iraque, a
pretexto de combate o ?terrorismo? e desmantelar o arsenal de armas de
destruição em massa do país. O que há de hipocrisia nisso tudo é que todos os
terroristas do 11/09 eram sauditas, provenientes de um país que é um dos grandes
parceiros econômicos dos EUA, nenhuma prova de armas de destruição em massa foi
encontrada e o vice-Secretário de Defesa dos EUA, Paul Wolfowitz, confessou que
o grande interesse era o petróleo iraquiano. É possível que o mundo árabe
resista às investidas de tão tenazes adversários?]

No fim da década de 80, apareceu outro projeto mundialista, do qual Willy Brandt
é um dos principais artesãos. O Norte (desenvolvido) e o Sul (em
desenvolvimento) precisam um do outro; seus interesses são recíprocos. É urgente
tomar iniciativas internacionais novas para preencher o fosso que os separa.
Essas iniciativas hão de ser tomadas no plano político e devem versar
prioritariamente sobre o sistema monetário, o desarmamento, a fome. Segundo “o
programa de sobrevivência” do Relatório Brandt, é preciso constituir “um
organismo de controle de alto nível”, que teria por objetivo principal tornar a
ONU mais eficaz e consolidar o consenso que a caracteriza. O conceito de
mundialização assim concebido não está, de modo algum, ligado a um projeto
hegemônico. Situa-se, antes, na tradição do internacionalismo socialista. É
certo que não chega a recomendar a supressão dos Estados, mas apregoa que a
soberania destes seja limitada e posta sob o controle de um poder político
mundial desde que
queiramos garantir a sobrevivência da humanidade. [Nota: Não é de se
surpreender como programas tão demagógicos como o ?Fome Zero? seja tão incensado
pela imprensa; como o projeto de desarmamento civil foi praticamente imposto
sobre o cidadão, ganhando dimensão nacional através das novelinhas da Rede Globo
etc. Outro exemplo concreto é como ultimamente a ONU e as organizações
mundialistas, como a Anistia Internacional por exemplo, vêm se intrometendo em
questões de interesse nacional, como a questão da ação da polícia e do
Judiciário, a fim de retirar cotas de soberania dos Estados Nacionais.
Recentemente, o Deputado Irapuan Teixeira do PRONA-SP denunciava um novo esquema
de contratação implantado pelos órgãos do Governo Federal: ?a edição de um
edital para preenchimento de 102 vagas de gerentes-executivos para comandar as
agências da Previdência Social espalhadas pelos Estados brasileiros,
apresentando como requisito principal a participação sindical e em ONGs, em
detrimento do
critério de escolaridade?. Fica claro que do entrechoque entre estes dois
modelos de mundialização poderá sair uma síntese que agrade a ambos projetos de
globalização.]

Enquanto o termo mundialização adquire uma conotação mais política, a palavra
globalização assume uma conotação mais economista. A multiplicação dos
intercâmbios, a melhora das comunicações internacionais levam a falar de uma
integração dos agentes economistas mundiais. As atividades econômicas seriam
repartidas entre os diversos Estados ou regiões; o trabalho seria dividido. A
uns tocariam, por exemplo, as tarefas de extração; a outros, as de
transformação; a outros, enfim, as de produção tecnológica, de coordenação
mundial, de decisão. Esta visão da globalização é de inspiração abertamente
liberal, feita, porém, uma ressalva: se, de um lado, favorece a livre circulação
dos bens e dos capitais, de outro lado é menos propensa a aceitar a livre
circulação das pessoas.

Globalização e Holismo Nos recentes documentos da ONU o tema da globalização
aparece mais freqüentemente do que o da mundialização, todavia sem que estes
dois temas entrem em concorrência.

A ONU incorpora as concepções correntes dos dois temas que acabamos de expor.
Todavia ela aproveita a onda proveniente da concepção corrente de globalização
para submeter este vocábulo a uma alteração semântica. A globalização é
reinterpretada à luz de uma nova visão do mundo e do lugar do homem dentro do
mundo. Esta nova visão traz o nome de holismo. Esta palavra significa que o
mundo constitui um todo que tem mais realidade e mais valor do que as partes que
o compõem. Neste todo, o aparecimento do homem é apenas um avatar da evolução da
matéria. O homem só tem realidade por efeito da sua aderência à matéria e deve
retornar definitivamente à matéria. O destino do homem é o de ser devotado à
morte ou é desaparecer inevitavelmente na Terra-Mãe, da qual ele saiu.

O grande todo ou, para simplificar, a Terra-Mãe transcende o homem. Este deve
dobrar-se aos imperativos da ecologia ou às conveniências da Natureza (por
exemplo, o mico leão em extinção tem mais importância de preservação do que um
ser humano). Aliás, os Transgênicos são provas do Genocídio em Massa. Me lembra
o que fez Hitler. O homem deve aceitar não mais emergir acima do mundo ambiente,
deve também aceitar não ser mais o centro do mundo. Segundo esta filosofia, a
lei natural já não é aquela que está inscrita na inteligência e no coração. do
homem, mas a lei implacável que a Natureza impõe ao homem. A mente ecológica
apresenta o homem como um depredador e, como todas as populações depredadoras, a
população humana deve ser contida dentro dos limites do desenvolvimento
duradouro. Por conseguinte o homem deve não somente aceitar sacrificar-se hoje
aos imperativos da mãe Gaia (Terra), mas há de aceitar sacrificar-se aos
imperativos do tempo futuro. [Nota: Certa vez, debatendo na
internet em correio eletrônico, expunha a um comunista – como eles são difíceis
de convencer! – razões que procuravam dar fundamento à primazia do homem sobre
os demais animais em questão de direito, fatos por ele contestado, que acabou
rotulando minhas opiniões como sendo ?antropocêntricas?, dando a entender que as
diferenças entre homens e animais em questões sociais deveriam ser minimizadas.
Não, não é brincadeira… Bom lembrar também das leis severas contra ?crimes
ambientais? que dão cadeia para quem matar certos animais selvagens inclusive
para se alimentar. Lembro-me também do caso do tubarão que apareceu na Praia da
Barra, rondando e ameaçando a integridade física de banhistas, crianças
inclusive, que acabou linchado e morto. O ato dos banhistas, porém, foi
qualificado como ?massacre? por um diário carioca. Um promotor do Ministério
Público declarou que eles poderiam ser condenados a um ano de prisão. Razão:
?Não podemos invadir o habitat dos tubarões e matá-los?. Um
amigo de academia endossou a tese de que as pessoas haviam barbarizado com o
animal para minha perplexidade. Olha, é impressionante como a juventude está
impregnada com uma corrosiva cultura ?politicamente correta?! Vamos chegar a uma
hora em que haverá festa quando uma pessoa for devorada!]

A ONU está preparando um documento muito importante, que sistematiza a
interpretação holística da globalização. Trata-se da Carta da Terra, da qual já
foram publicados diversos rascunhos, e cuja redação está em fase final. Esse
documento será destinado não apenas a complementar a Declaração Universal dos
Direitos do Homem, mas, segundo alguns pensadores, elevará suplantar o próprio
Decálogo. [Nota: É interessante notar que até em nossos meios de comunicação há
uma tendência clara nesta direção. A Rede Globo, em uma de suas vinhetas, exibe
Moisés com uma das tábuas da Lei, e logo depois uma mão que surge no meio das
nuvens rabiscando nelas o preceito: ?não poluirás?. Nada contra uma campanha
contra a poluição, mas tratou-se de uma brincadeira tapada e grosseira diante da
santidade dos Dez Mandamentos. Parece óbvia, portanto, a preparação das
consciências à impressão deste preceito ?politicamente correto? para retirar do
homem o domínio universal e como destinatário do próprio
direito. Na semana passada, o presidente de um tribunal do Alabama perdeu o
cargo depois de se recusar a retirar um monumento dos Dez Mandamentos da casa de
Justiça, conforme pode-se ver no site do Estadão –
http://www.estadao.com.br/agestado/noticias/2003/nov/21/123.htm. A seguir,
começarão a iludir as pessoas com teorias imaginárias sobre discos voadores,
ET?s e reencarnação, para dar maior credibilidade de que não há fundamento em
conceder ao homem a primazia sobre a criação. Quem viver, verá!]

Eis, a título de exemplo, alguns extratos dessa Carta: “Estamos vivendo um
momento crítico da história da Terra, o momento de escolher o seu porvir…
Devemos todos unir-nos para formar uma sociedade global duradoura, fundamentada
sobre o respeito à natureza, os direitos humanos universais, a justiça econômica
e a cultura da paz…

O gênero humano é parte de um vasto universo evolutivo. ..O meio ambiente
global, com seus recursos finitos, constitui motivo de preocupação comum para
todos os povos. A proteção da vitalidade, da diversidade da beleza da Terra é um
dever sagrado… O crescimento surpreendente da população humana sobrecarregou
os sistemas econômicos sociais…

Eis nossa escolha: formar uma sociedade global ( para cuidar da Terra e cuidar
uns dos outros ou expormo-nos ao risco de nos destruir- mos a nós mesmos e
destruir a diversidade da vida…

Necessitamos urgentemente de uma visão compartilhada referente aos valores
básicos que oferecem um fundamento ético à comunidade mundial emergente”.

As religiões e o globalismo Para consolidar essa visão holística do globalismo,
devem ser aplainados alguns obstáculos e hão de ser preparados alguns
instrumentos.

As religiões em geral e, antes do mais, a religião católica, aparecem entre os
obstáculos que é preciso neutralizar. Com esta finalidade foi organizada, no
quadro das celebrações do Milênio, a Cúpula dos Líderes Espirituais e
Religiosos; foi lançada então a “Iniciativa Unida das Religiões”, que conta,
entre os seus objetivos, vigiar pela saúde da Terra e pela de todos os seres
vivos. Altamente influenciado pela Nova Era, este projeto visa à criação de uma
religião mundial, que implicaria, para qualquer outra religião, a proibição de
fazer proselitismo. Segundo a ONU, a globalização não deve afetar apenas as
esferas da política, da economia e do direito; ela deve compreender a alma
global. Representando a Santa Sé, o Cardeal Arinze não pôde assinar o documento
final que igualava todas as religiões entre si. [Nota: Concordar com a idéia de
que todas as religiões são iguais, ou seja, têm o mesmo valor, é pactuar com o
relativismo moral, ou seja, é concordar com a idéia de que ?verdade?
e ?mentira? estão em pé de igualdade assim como o ?bem? e o ?mal?. Estando
estas expressões em igualdade teórica, na prática elas passam a não existir.
Explicando: inexistindo ?verdade? não pode existir ?mentira?, inexistindo ?bem?
não pode existir ?mal?, eis que são coisas antagônicas entre si e que só existem
em função uma da outra. Primeiro surgiu a verdade e o bem, que dão fundamento
na crença de um Deus bom, para surgir depois a mentira e o mal. Mas se
verdade=mentira e bem=mal, o que é ?verdade? e ?bem?; ?mentira? e ?mal?? Nada
passa a existir! Recaímos no mundo de matrix de que ?nada? é tudo. Pelo mais
elementar raciocínio lógico, se temos que as religiões são todas iguais, ou
todas são falsas ou todas são verdadeiras. Ora, é um acinte à minha razão
declamar que a ?magia negra? está em pé de igualdade com o ?catolicismo?. Seria
o mesmo que dizer que o diabo estivesse ao pé de igualdade de Deus. No fim das
contas, engolindo esse argumento é o ateísmo prático e todos
acabam enganados por esta lógica falsa. Claro, para respaldar estas tolices,
iremos ouvir os delírios de certas figurinhas do meio acadêmico que,
consubstanciadas no ateísmo comunista, afirmarão que tais expressões não passam
de abstrações ou construções sociais etc.]
O Pacto Econômico Mundial

Entre os instrumentos preparados pela ONU em vista da globalização, merece
referência o Pacto Mundial. Por ocasião do seu discurso de abertura do Forum do
Milênio, o sr. Kofi Annan repetiu o convite que em 1999 ele dirigira ao Forum
Econômico de Davos: propunha “a adesão a certos valores essenciais nos setores
das normas de trabalho, dos direitos do homem e do meio ambiente”. O Secretário
Geral da ONU garantia que assim se reduziriam os efeitos negativos da
globalização. Mais precisamente, segundo o sr. Annan, para preencher o fosso
entre o Norte e o Sul, a ONU deveria fazer um grande apelo ao setor privado.
Seria preciso obter a adesão, a tal pacto, de elevado numero de agentes
econômicos e sociais: Companhias, empresários, sindicatos, ONG. Esse Global
Compact ou Pacto Mundial seria necessário para regrar os mercados mundiais, para
alargar o acesso às tecnologias vitais, para distribuir a informação, para
divulgar os cuidados de base em matéria de saúde etc. Esse Pacto já recebeu
numerosos votos de apoio; entre outros, o da Shell, o de Ted Turner, presidente
da CNN, o de Bill Gates e mesmo de diversos sindicatos internacionais.

Como se compreende, o Pacto Mundial suscita sérias interrogações. Pode-se contar
com as grandes empresas mundiais para resolver problemas que, há muito, elas
podiam ter contribuído para resolver, se o quisessem? A multiplicação dos
intercâmbios econômicos internacionais justifica a instauração progressiva de
uma autoridade centralizada destinada a reger a atividade econômica mundial? De
que liberdades gozarão ainda as organizações sindicais se as legislações
trabalhistas, incorporadas ao direito internacional, terão que se submeter aos
imperativos econômicos globais? De que poder de intervenção gozarão os governos
dos Estados soberanos para intervir em nome da justiça nas questões econômicas e
sociais? Mais grave ainda: visto que a ONU corre sempre o risco da falência, ela
pode tornar-se vítima de uma OPA da parte de um consórcio de grandes empresas
mundiais.

Um Projeto Político apoiado pelo Direito Contudo é no plano político e jurídico
que o projeto da ONU de globalização se torna mais inquietante. Na medida em
que, como vimos, a ONU, influenciada pela Nova Era, professa uma visão
materialista, estritamente evolucionista do homem, ela desativa necessariamente
a concepção realista do homem que está subjacente à Declaração de 1948. Segundo
essa visão materialista, o homem, pura matéria, é incapaz de dizer o que quer
que seja de verdadeiro sobre si mesmo e sobre o sentido da vida. É reduzido ao
agnosticismo de princípios e ao ceticismo. Os porquês? não têm sentido; só
importam os como.

A Declaração de 1948 apresentava a originalidade de fundamentar as novas
relações internacionais sobre a extensão universal dos direitos do homem. Tal
devia ser o fundamento da paz e do desenvolvimento. Tal devia ser a base que
legitimaria a existência da ONU e justificaria a sua missão. A ordem mundial
devia ser edificada sobre verdades fundamentais reconhecidas por todos,
protegidas e promovidas progressivamente por todos os Estados.

A ONU de nossos dias desativou essas referências fundamentais. Hoje os direitos
do homem já não são baseados sobre uma verdade que se imponha a todos e seja
livremente reconhecida por todos, a saber: a igual dignidade de todos os homens.
Doravante os direitos do homem são o resultado de procedimentos consensuais.
Visto que não somos capazes – dizem – de ter acesso a uma verdade sólida a
respeito do homem e que uma tal verdade não é acessível ou não existe, é preciso
que nos ponhamos de acordo e decidamos, por um ato da vontade apenas, o que é um
comportamento correto, pois a necessidade de agir nos pressiona. Todavia não
decidiremos referindo-nos todos às exigências de valores que se nos imponham tão
somente pela força de sua verdade. Vamos iniciar um procedimento de discussão e,
após ter ouvido a opinião de cada um, vamos resolver, vamos tomar uma decisão.
Tal decisão será considerada correta, porque será o resultado do procedimento
consensual.

Os “novos direitos do homem”, segundo a ONU de nossos dias são derivados de
procedimentos consensuais que podem ser revistos indefinidamente; já não são a
expressão de uma verdade referente ao homem, mas são a expressão da vontade
daqueles que decidem. Doravante, ao cabo de um procedimento consensual, qualquer
tipo de comportamento poderá ser apresentado como “novo direito” do homem;
direito às diversas modalidades de união sexual, direito de repudiar, direito ao
lar monoparental, à eutanásia ficando a expectativa do direito ao infanticídio,
à eliminação dos deficientes físicos e mentais, aos programas de eugenia… Eis
a razão pela qual, nas assembléias internacionais organizadas pela ONU, os
funcionários desta se aplicam com todo o seu talento achegar a um consentimento.
Com efeito, uma vez atingido, o consentimento é aproveitado para fazer adotar
convenções internacionais que adquirem força de lei nos Estados que as
ratificaram. [Nota: Sobre as resoluções da ONU com caráter de lei
nos Estados signatários, que já estão próximos às feições de verdadeiras
federações de um Poder Mundial, o Brasil (logo quem!?) está propondo a adoção de
uma resolução de caráter mundial que dá aos gays certos privilégios (chamados
por eles ?direitos humanos?) que acabam amordaçando por força de lei quem se
oponha às suas práticas horríveis. No Canadá, falar mal do homossexualismo dá
cana! Os países islâmicos estão se opondo a esta imposição. Ainda bem! Até
quando, não sabemos! Fora o homossexualismo, temos ainda a clonagem humana
pairando no ar, ainda em estudo sabe-se lá por quais interesses!]

Sistema de Direito Internacional Positivo Tal é o nó dos problemas colocados
pela globalização segundo a ONU. Por suas convenções ou por seus tratados
normativos, a ONU está erguendo não um sistema de Direito Internacional
meramente positivo, que leva a marca de Hans Kelsen. Observa-se mais e mais uma
tendência fundamental: as normas dos direitos estatais são válidas tão somente
se convalidadas pelo direito supra-estatal. Como Kelsen havia antecipado na sua
célebre obra Théorie Pure, os poderes da ONU se concentram de forma piramidal. O
direito internacional meramente positivo, despojado de qualquer referência à
Declaração de 1948, é o instrumento utilizado pela ONU para se constituir num
Super-Estado.
Um Tribunal Penal Internacional
Controlando o direito, colocando-se mesmo de modo definitivo como a fonte do
direito e podendo verificar a qualquer momento se esse direito é respeitado
pelas instâncias executivas, a ONU entroniza um sistema de Pensamento Único. Ela
institui para si um tribunal à medida do seu apetite de poder. Em conseqüência,
crimes contra “os novos direitos” do homem poderiam ser julgados pela Corte
Penal Internacional fundada em Roma no ano de 1998. Por exemplo, na medida em
que o aborto não for legalizado em tal ou tal Estado, esse Estado poderá ser
excluído da “sociedade global”; na medida em que um grupo religioso se opuser ao
homossexualismo, poderá ser condenado pela Corte Penal Internacional por atentar
contra “os novos direitos do homem”.

O Governo Global

Por conseguinte estamos diante de um projeto gigantesco, que tem a ambição de
realizar a utopia de Kelsen, visando a “legitimar” e fundar um Governo Mundial
único, do qual as agências da ONU poderiam tornar-se os Ministérios. É urgente –
dizem – criar uma nova ordem mundial, política e legal, e faz-se necessário
apressar a procura de fundos para realizar esse projeto.

A idéia de um Governo global já fora objeto de um inciso no Relatório do PNUD em
1994. Esse texto, redigido a pedido do PNUD por Jan Tinberge, Prêmio Nobel de
Economia (1969), tem todas as características de um Manifesto encomendado pela
ONU e para a ONU. Eis um extrato desse documento: “Os problemas da humanidade
não podem ser resolvidos pelos Governos nacionais. Precisamos de um Governo
mundial.

A melhor maneira de chegar a tanto é reforçar o sistema das Nações Unidas. Em
alguns casos, isto significa que é preciso mudar o papel das Agências das Nações
Unidas, para que de consultivas se tornem executivas. Assim a FAO se tornaria o
Ministério Mundial da Agricultura, a UNIDO se tornaria o Ministério Mundial da
Indústria, e o ILO seria o Ministério Mundial das Questões Sociais.

Em outros casos far-se-iam necessárias instituições totalmente novas. Seriam,
por exemplo, uma Polícia Mundial permanente, que poderia citar qualquer nação
para comparecer diante da Corte Internacional de Justiça ou diante de outras
instâncias especialmente criadas. Se as nações não respeitassem as decisões da
Corte, seria válido aplicar-Ihes sanções, tanto militares como não militares”.

Sem dúvida, enquanto existem e cumprem bem o seu papel, as nações particulares
protegem os cidadãos e promovem o respeito aos direitos do homem e para tanto
utilizam os meios apropriados. Atualmente, nos ambientes da ONU a destruição das
nações aparece como um objetivo a ser considerado e procura-se sufocar
definitivamente a concepção antropocêntrica dos direitos do homem. Extinguindo
esse corpo intermediário que é o Estado nacional, extinguir-se-ia a
subsidiariedade, pois se ergueria um Estado mundial centralizado. O caminho
estaria então aberto para a vinda de tecnocratas globalizantes e outros
aspirantes ao Governo mundial.

Reafirmar o Princípio de Subsidiariedade

Como se vê, o direito internacional positivo é o instrumento utilizado pela ONU
para organizar a sociedade mundial global. Sob a cobertura de globalização, ela
organiza, para seu proveito, o “Governo” mundial. Sob a cobertura de
“responsabilidade partilhada”, ela convida os Estados a limitar sua justa
soberania. A ONU globaliza erguendo-se cada vez mais como Super-Estado mundial.
Ela tende a erguer todas as dimensões da vida e da atividade humanas, realizando
um controle cada vez mais centralizado da informação, da ciência e das técnicas,
da alimentação, da vida humana, da saúde e das populações, dos recursos do solo
e do subsolo, do comércio mundial e das organizações sindicais, como também da
política do direito. Exaltando o culto neo-pagão da Terra-Mãe, ela priva o homem
do lugar central que lhe é reconhecido pelas grandes tradições filosóficas,
jurídicas, políticas e religiosas.

Frente a esse globalismo baseado na areia, é preciso reafirmar a necessidade e a
urgência de fundar a sociedade internacional sobre o reconhecimento da igual
dignidade de todos os homens. O sistema jurídico que predomina na ONU faz que
essa reconstrução universal seja estritamente impossível, já que o direito e os
direitos do homem são aí tidos como procedentes da vontade exclusiva dos
legisladores. É preciso, pois, reafirmar a primazia do princípio de
subsidiariedade em seu teor correto. Isto significa que as organizações
internacionais não devem despojar os Estados e os corpos intermediários das suas
competências naturais e dos seus direitos, mas, ao contrário, hão de ajudá-los a
exerce-los.

Quanto à Igreja, ela só pode insurgir-se contra essa globalização que implica
uma concentração de poderes de índole totalitária. Frente à impossível “coesão,
globalização” que a ONU procura impor como conseqüência de um consenso sempre
precário, a Igreja tem de aparecer, à semelhança do Cristo, como um sinal de
divisão; cf. Lc 2, 335; 12, 51-53; 21′ 12-19; Mt l’ 34-36, 23, 31 s; Jo 3, 22-4,
5. Ela não pode apoiar nem uma “unidade” nem uma “universalidade” dependentes da
vontade subjetiva dos indivíduos ou impostas por alguma instância pública ou
privada. Diante da emergência de um novo Leviatã, não podemos permanecer nem
mudos nem inativos nem indiferentes

(Revista Pergunte e Responderemos de Dom Estevão Bittencourt)

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