Identificando a Igreja que é “coluna e fundamento da Verdade” (Parte 3/5): ponto 3

3. TEXTOS PARALELOS RELACIONADOS COM 1TIMÓTEO 3,15

Uma vez vistos os dois pontos anteriores, creio ser necessário ver esse mesmo ensinamento contido em passagens paralelas, as quais reforçarão ainda mais tudo o que dissemos até agora.

  • “Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos e da família de Deus; edificados sobre o fundamento dos Apóstolos e dos Profetas, sendo Jesus Cristo a principal pedra angular; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor” (Efésios 2,19-21).

1Timóteo 3,15 define diretamente “Casa de Deus” como “a Igreja do Deus vivo”. Portanto, sabemos que Efésios 2,19-21 se refere também à Igreja, ainda que esta palavra não esteja presente. Em 1Timóteo, a Igreja é “a coluna e o fundamento da Verdade”; aqui, próprio do “fundamento” da Igreja são “os Apóstolos e os Profetas, sendo Jesus Cristo a principal pedra angular”. Considere, então, que temos conceitos estreitamente relacionados, embora não idênticos. O fundamento da mesma Igreja é Jesus, os Apóstolos e os Profetas.

Jesus é a [principal] pedra angular da Igreja. A Igreja é também identificada com o próprio Jesus, ao ser chamada de “seu Corpo” (cf. Atos 9,5; 22,4; 26,11; 1Coríntios 12,27; Efésios 1,22-23; 4,14;5,23.30; Colossenses 1,24). Logo, se a Igreja está intimamente relacionada com Jesus, este é um forte argumento em si mesmo de que é infalível e sem erro, já que este também é o caso de Jesus.

Em segundo lugar, os Apóstolos e os Profetas (sobre os quais a Igreja também está edificada, cf. Efésios 2,20) não erraram: eles também eram infalíveis ao proclamarem sua autoridade de maneira oral (os Profetas) ou escrevendo a Revelação inspirada (o Novo Testamento, escrito pelos Apóstolos), ou quando infalivelmente proclamaram o Evangelho e outros ensinamentos da Tradição cristã.

Portanto, é indiscutível que devemos concluir que se a Igreja é o fundamento da Verdade, a Igreja deve ser infalível, visto que a Verdade é infalível e o fundamento não pode ser menor e menos forte do que aquilo que se edifica sobre ele. Se a Verdade é infalível (como de fato é), seu “fundamento” também deve ser. A verdade não pode ser edificada sobre qualquer espécie de erro, porque tornaria a base mais frágil do que a super-estrutura que se ergue acima dela, o que constituiria uma antítese.

Pois bem: não apenas se deduz esta ideia do texto de 1Timóteo como temos ainda outros textos que nos ensinam a mesma coisa:

  • “Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela; e eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mateus 16,18-19).
  • “Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão; mas, se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda a palavra seja confirmada. E, se não as escutar, dize-o à Igreja. E, se também não escutar a Igreja, considera-o como um gentio e publicano” (Mateus 18,15-17).
  • “Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido” (2Timóteo 3,14).
  • “Na verdade pareceu bem ao Espírito Santo e a nós, não vos impor mais encargo algum, senão estas coisas necessárias” (Atos 15,28).
  • “Pareceu-nos bem, reunidos concordemente, eleger alguns homens e enviá-los com os nossos amados Barnabé e Paulo, homens que já expuseram as suas vidas pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo” (Atos 15,25-26).
  • “Então pareceu bem aos apóstolos e aos anciãos, com toda a Igreja, eleger homens dentre eles e enviá-los com Paulo e Barnabé a Antioquia, a saber: Judas, chamado Barsabás, e Silas, homens distintos entre os irmãos” (Atos 15,22).
  • “E, quando iam passando pelas cidades, lhes entregavam, para serem observados, os decretos que haviam sido estabelecidos pelos apóstolos e anciãos em Jerusalém” (Atos 16,4).
  • “Quem vos ouve a vós, a mim me ouve; e quem vos rejeita a vós, a mim me rejeita; e quem a mim me rejeita, rejeita aquele que me enviou” (Lucas 10,16).
  • “Porque não sois vós quem falará, mas o Espírito de vosso Pai é que fala em vós” (Mateus 10,20).
  • “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; o Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós. Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós” (João 14,16-18).
  • “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito” (João 14,26).

Todas estas citações nos ensinam o mesmo que defendemos até agora: a Igreja é infalível! Creio ser conveniente enumerar as doutrinas expostas nessas passagens:

  1. A Igreja tem a autoridade suprema conferida por Deus para guiar, ligar, desligar e estabelecer sentenças e juízos definitivos sobre temas de fé e moral (cf. Mateus 16,18;18,15-17);
  2. A Igreja é infalível quanto aos seus ensimentos, já que os seus líderes também o são (cf. 1Timóteo 3,14; Lucas 10,16; Mateus 10,20);
  3. A Igreja é infalível porque nela encontra-se o Espírito da Verdade, que a sempre guia e protege de todo erro (cf. João 14,16-18; 14,26);
  4. A autoridade da Igreja resta refletida nos Concílios: o caso mais claro é o de Jerusalém, onde vemos como há unidade entre a Igreja e o Espírito Santo e, além disso, ordena-se observar as matérias nele estabelecidas (cf. Atos 15,22.25-26; 16,4).

Assim, vemos que não é errado interpretar 1Timóteo 3,15 como a infalibilidade da Igreja porque ela é o fundamento da Verdade de todo cristão. Esta interpretação está intimamente relacionada com os quatro pontos anteriormente expostos, já que nela há autoridade por ser a Casa de Deus, o Corpo de Cristo, e também porque Jesus concedeu a Pedro as chaves, de modo que seus líderes, Bispos e Cardeais unidos ao Papa, [bem como este último por si] são infalíveis uma vez que o Espírito Santo guia a Igreja e os mantém livres do erro. Ademais, como declara Mateus 10,20, o Espírito Santo fala através deles.

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