Infalibilidade do Papa: impecabilidade e salvação do homem

a) O papa, sendo dirigente de Deus na terra, é como Davi: “um anjo de Deus” (2Samuel 14,17), não necessariamente na santidade moral de ser um angelical (haja vista, o próprio Davi cometeu ímpios e nefandos crimes), mas, na autoridade do cargo que ocupa. Ele é capacitado para o discernimento do que é aceito ou não por Deus.

E olhe que o pecado de Davi não só foi o “adultério” com Betsabá, que, aliás, era mais do que um simples adultério, pois havia, conjuntamente, traição, mentira, assassinato. E disto ele teve que se arrepender e assumir a devida penitência. Além do mais, posteriormente, o mesmo Davi tornou a pecar gravemente, cedendo a incitação demoníaca:

– “Deus viu com desgosto esse fato e feriu Israel. Então Davi disse a Deus: ‘Pequei gravemente fazendo tal coisa! Mas agora perdoa, eu te peço, esta falta a teu servo’ ”(1 Cron 21,7-8).

Também, aqui, o Altíssimo, junto ao perdão da culpa, estabeleceu que ele deveria assumir uma “pena”. Lembremos sempre: Deus é infinitamente misericordioso; mas também ele é infinitamente justo. Em Deus não há só misericórdia; como costumo dizer: tem gente que confunde autoridade com santidade (pessoal); como, aliás, costuma confundir infalibilidade com impecabilidade…

Um rei, por exemplo, pode ser extremamente ruim, mas sua palavra tem força-de-lei; já um mendigo, por mais virtuoso que seja, não goza de autoridade alguma. O primeiro, poderíamos até dizer, não é santo; o segundo é. Entrementes, não é a santidade moral que está em discussão. Vejamos o exemplo de Pilatos, a respeito do qual Cristo testemunhou:

– “Não terias poder sobre mim se não te fosse dado do alto; por isso, quem a ti Me entregou tem maior pecado” (João 19,11; v.tb. Romanos 13,1ss).

Alguém, por acaso, pensaria que Pôncio Pilatos detinha tal autoridade por que era um homem impecável? Claro que não! Aliás, a História dá testemunho totalmente desabonador a respeito da conduta deste. Mas, nem precisamos recorrer a textos históricos, basta o que o próprio Senhor declarou: “Quem te entregou tem maior pecado”.

São João faz observar o seguinte sobre o chefe religioso de seu povo:

– “Um deles porém, Caifás, que era o Sumo Sacerdote daquele ano, disse-lhes: ‘Vós de nada entendeis. Não compreendeis que é de vosso interesse que um só homem morra pelo povo e não pereça a nação toda?’ Não dizia isso por si mesmo, mas sendo Sumo Sacerdote naquele ano, profetizou” (Jo 11,49-51)

E aí? Caifás, por ventura, vaticinou por que era uma pessoa muito boa? Também é óbvio que não! O texto bíblico deixa bem claro: “Mas sendo o Sumo Sacerdote naquele ano, profetizou” (João 11,51). Foi em virtude da autoridade religiosa que detinha e não pela virtude da santidade pessoal da qual, ao que tudo indica, tanto carecia.

b) Quem exige que o Papa seja impecável, não é Deus; são os hereges que assim exigem… Se Deus não exigiu homens impecáveis para escrever os Livros Sagrados que compõem a Escritura Santa, por que haveria de exigir impecabilidade para interpretá-la? Ele deu, sim, autoridade àqueles (aos hagiógrafos) para escrever, e aos Papas para interpretá-la.

Um dos escritores sagrados foi São Paulo (aliás, um dos mais profícuos), e veja o que ele diz de si:

– “Não faço o bem que quero, mas pratico o mal que eu não quero” (Romanos 7,19).

São João, outro insígne hagiógrafo, escreveu também na própria Bíblia:

– “Se dissermos: ‘não temos pecado’, enganamo-nos a nós mesmo, e a verdade não está em nós” (1João 1,8).

c) O papa goza da infalibilidade, sobre certas matérias e em certas circunstâncias; não por mérito, mas por gratuidade de Deus. É por graça divina, em favor de todo o rebanho, que o Altíssimo concede aos Romanos Pontífices serem infalíveis. E “se é por graça, não é pelas obras; do contrário, a graça não é mais graça” (Romanos 11,6).

É verdade, porém, que a graça doada, procedente do amor divino, exige que se produzam boas obras para alcançar a eternidade, “para as boas obras que Deus já antes tinha preparado para que nelas andássemos” (Efésios 2,10). E quão ingratos somos nós, os homens! Como uma criancinha mal-educada que, recebendo um presente, nós o destruímos sem mostrar qualquer gratidão!

Faz-se premente retribuir o amor com amor:

– “Quem tem meus Mandamentos e os observa é que Me ama: e quem Me ama será amado por meu Pai” (João 14,21);

porém,

– “Se alguém, possuindo os bens deste mundo, vê o seu irmão na necessidade e lhe fecha o coração como permanecerá nele o amor de Deus? Filhinhos, não amemos com palavras nem com a língua, mas com ações e em verdade” (1João 3,17-18).

Afinal, Nosso Senhor não ‘estᒠtambém no pobre e no sofredor?

– “Estive nu e me vestistes, doente e me visitastes, preso e vieste me ver” (Mateus 25,36).

É necessário, de fato, amar o Senhor no próximo! E amar não simplesmente com palavras… Com efeito, tem que ser muito torpe (e infernal) uma crença, que se alega cristã, dizer que só basta a fé, dispensando a necessidade das obras. São Paulo mesmo proclamou:

– “Se eu não tivesse caridade, eu nada seria” (1Coríntios 14,2);

ou ainda:

– “Se eu não tivesse caridade, isso nada me adiantaria” (1Coríntios 14,3);

o que não quer dizer que os dons e as outras coisas mais não serviriam para os outros. Por exemplo: o dom de milagres pode despertar no incrédulo, pela graça divina, a conversão. E na conversão, pela perseverança, conduzi-lo à eternidade ao lado de Cristo. Para quem tem o referido dom, pode ser que o mesmo venha ainda se perder, pela falta de amor. Assim, o papa, com toda infalibilidade, poderá servir a outros; mas, a si mesmo, isso não lhe redunda na salvação eterna. Noutras palavras: o Romano Pontífice, com toda sua autoridade, com toda sua infalibilidade, com todo seu poder, poderá acabar se condenando ao Inferno. É um pouco do que diz São Paulo:

– “Trato duramente o meu corpo e reduzo-o à servidão, a fim de que, tendo proclamado a mensagem a outros, venha eu mesmo a ser reprovado” (1Coríntios 9,27).

De sorte que, até os papas estão sob a exigência de que nos falou São Tiago:

– “É morta a fé sem obras” (Tiago 2,26).

A fé viva que conduz à Vida é aquela que é regada pelas obras, alicerçadas no vínculo da caridade (aliás, é o amor que torna boas as obras!). Pode um jardim prosperar sem as águas e os nutrientes? Também a fé sem obras (e os adubos da misericórdia ou do amor) tende à sequidão… Assim, aquele que se tornou como a figueira com folhas (com fé), mas que não produz frutos (obras) está destinado à maldição eviterna.

Tem gente que acha que fé viva é ficar feito um papagaio repetindo: ‘Jesus (alguns com afetação de voz, já estão quase a dizer ‘Gizuz’) é o Senhor!’; mas está escrito:

– “Nem todo aquele que diz ‘Senhor, Senhor’ entrará no Reino dos Céus” (Mateus 7,21).

Sim! Jesus é o meu Senhor… Por isso, mesmo, é que eu devo obedecer tudo o que Ele disse e não simplesmente, como um vitrola emperrada, repisar, de forma falaraz, o Seu senhorio.

d) E já que os grupos protestantes são como falsas testemunhas do Senhor, eles mesmos são acusadores um dos outros, porquanto divergem nos seus testemunhos desencontrados sobre o que Cristo teria ensinado. Assim, no Dia do Juízo, eles serão, ao mesmo tempo, réus e testemunhas de acusação uns contra os outros!

Obviamente, também houve divergências nesta questão das obras serem ou não necessárias para alcançar o prêmio da bem-aventurança eterna. Lúcio Navarro cita o caso daquele que foi o braço direito de Lutero, Melachton:

– “Em 1536, no Comentário sobre o Evangelho de São João, diz que as obras são condição necessária para a justificação. Essa doutrina da justificação pela fé juntamente com as obras, ele ensinou até o fim de sua vida”[1].

e) Jesus não é simplesmente “o meu Salvador pessoal”; Ele é também o meu Legislador.

O ímpio Lutero rejeitou o Cristo que Se apresenta como um legislador, cujas “leis” temos que obedecer para alcançar os céus. Aliás, o dever da Igreja é de levar a Boa Nova a todas as nações, “ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei” (Mateus 28,20). Nesse tom bem nos alerta Lúcio Navarro:

– “Lutero, como sabemos, quis ir buscar nas Escrituras a certeza absoluta de que estava salvo folgadamente, e de que não precisava ter que continuar naquela luta tremenda contra as tentações. Gostou muito daqueles textos em que se diz que quem crê em Cristo se salva. Mas se fosse tomar a palavra ‘crer’ no sentido de ‘convencer-se de todas as palavras de Jesus’, isso iria dar novamente em um ponto que ele não queria, porque Cristo se mostrou não só Salvador, mas também Legislador. Daí a alteração que se faz no sentido da palavra crer (…) Para o infame reformista, ‘Crer em Cristo é crer que eu estou salvo’”[2].

Trocando em miúdos, Lutero quis a salvação no mole! Opondo-se àquela que era ofertada por Cristo, a qual NÃO dispensa, de forma alguma, que cada um tenha que “carregar sua cruz” (Lucas 14,27), nem o combate contra as paixões por meio das mortificações:

– “Mortificai, pois, os vossos membros terrenos: fornicação, impureza, paixão, desejos maus, e a cupidez, que é a idolatria” (Efésios 3,5);

até porque:

– “Vos foi concedida, em relação a Cristo, a graça não só de crerdes Nele, mas também de por Ele sofrerdes” (Filipenses 1,29);

ademais, o caminho da perdição é o caminho da facilidade; difícil é o caminho do céu:

– “Entrai pela porta estreita, porque largo e espaçoso é o caminho que conduz a perdição” (Mateus 7,13).

f) Muitos protestantes se apresentam já com a salvação eterna garantida (e pior: há aqueles que dizem que ela sequer pode ser perdida!). E depois, alguns ainda têm a cara-de-pau de dizer que o Papa é arrogante…

Não sendo impecáveis, eles acreditam receber o crédito de impecáveis, já que se consideram irremediavelmente salvos! Quando, na verdade, Deus – que é um Deus retribuidor, que dá a cada um segundo as suas obras – jamais se coaduna com tal estultícia. Por isso, quem obra iniqüidade terá o credito de iníquo (e não de justo), e sua porção na Geena. É preciso ser, de fato, santo para adentrar nos umbrais celestiais, pois:

– ‘Sem a santidade ninguém verá a Deus’ (cf. Hebreus 12,14).

Que ninguém se engane… É imprescindível ser verdadeiramente santo:

– “Tornai-vos também vós santos em todo o vosso comportamento, porque está escrito: ‘Sede santo porque Eu sou Santo’” (1Pedro 1,15-16).

Deus deixou vários meios de santificação na sua Igreja, principalmente os Sacramentos… Não à toa, o diabo, como quer ver os céus despovoados, tanto odeia os divinos e maravilhosos Sacramentos. Daí existir denominações heréticas que não aceitam sequer um único sacramento. E como é que Satanás costuma engabelar essas pobres almas? É convencendo-os de que só basta a Fé. De fato, esse papo de “só a fé” é coisa dos demônios – que, aliás, “crêem mas não tem boas obras” (Tiago 2,19)! São os que rezam pela cartilha do diabo que aludem a tão errôneo princípio, afinal:

– “A fé sem obras é v㔠(Tiago 2,20).

g) Mas nisso também (quanto a santificação), o luciférico doutor Lutero inventou mais um malicioso conceito: que Deus declararia santo o que não é santo. Isso mesmo! Deus daria o título de santo às pessoas sem que estas fossem verdadeiramente santas! Mas isso não és uma espécie de estelionato?!

Ora, o correto é que Deus verdadeiramente nos santifica. A santificação é real. O Altíssimo, de forma veraz, nos purifica; mas não tão-somente nominalmente. Ele nos recobre com uma capa de santidade; mas isso porque antes nos investiu dela. Assim como Deus transforma a água em vinho, Ele transforma o homem impuro em santo. Muda, verdadeiramente, a realidade das coisas, porque Ele é, de fato, um Deus onipotente e santificador.

O pecador é como uma porta de ferro enferrujada, que perdeu a cor, o brilho, a textura, etc. A ação de Deus não é simplesmente recobrir com uma nova pintura o portão enferrujado. O Altíssimo, como todo bom pintor, primeiramente tira toda parte enferrujada e toda sujeira (ou seja, tira todas as escórias) e só depois recobre de tinta. Na visão demoníaca de certos hereges, Deus faria um “serviço de porco”: pintaria por cima da ferrugem… Pai, perdoai-os porque não sabem o que dizem!

A santidade é, sem dúvida, uma condição “sine qua non” para se adentrar no céu, pois no céu “jamais entrará nada de impuro” (Apocalipse 21,26).

No programa ‘Questões de Fé’ (na TV Século XXI), do dia 31 de janeiro de 2004, o ex-pastor batista Francisco Almeida comparou a falsa concepção da justificação professada por Lutero como uma criança que, mergulhada num lamaçal, depois vai até uma festa sem antes tomar um banho para se limpar da sujeira; bastaria apenas vestir um manto limpo por cima (em outras palavras: um absurdo!). E o mesmo Sr. Francisco Almeida lembrava, mais ou menos com as seguintes palavras:

– “João Batista disse que Jesus é o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. João Batista não disse que Ele é o cordeiro de Deus que ‘cobre’ o pecado. Ele tira(remove) o pecado!”

A justificação apregoada por aquele que foi, neste mundo, um cão do inferno é comparável também a alguém que pega um recipiente com água poluída e coloca, no vasilhame, a seguinte etiqueta: “Água Pura”: declarando-a como sendo água impoluta mas que, no fundo, não é. Ora, isso é uma aberração, ímpia e herética! É chamar Deus de mentiroso e falsificador.

Como o Deus que é verdadeiro e que é pela verdade – Ele que é a própria Verdade – pode sustentar um embuste destes: chamar de justo o injusto? O Altíssimo chama de justo aquilo ou aquele que Ele preservou na justiça ou que Ele restaurou; em suma: ao que de fato é justo. Deus é um Deus purificador e não simplesmente nomenclador (ou seja, “que nomeia”):

– “Porque Ele é como o fogo do fundidor e como a lixívia dos lavadeiros. E se assentará Aquele que funde e purificará; Ele purificará os filhos de Levi e os acrisolará como o ouro e a prata” (Malaquias 3,2-3).

h) “Só Jesus salva! A Igreja não salva ninguém…” Esse é um dos chavões imbecis que costumeiramente ouvimos sair da boca dos sectários. Ademais, se nenhum igreja salva ninguém, então por que há tantas no Protestantismo (se é que se pode chamar as mesmas de “igrejas”)? Milhares e milhares delas pululam, infestando nosso planeta como uma praga de gafanhotos!

Se não existisse necessidade da Igreja para a salvação, então Cristo perdeu o seu tempo fundando uma. Ora, essa consideração é uma grande e estúpida ofensa contra Nosso Senhor!

Assim como um marinheiro que atira uma bóia para um náufrago e este se salva, semelhantemente, é Cristo e Sua Igreja. Jesus é o marinheiro, a bóia é a Igreja. Quem poderá negar que o marujo é o Salvador, sendo a bóia o instrumento por ele utilizado para o salvamento? E como a Igreja é seu “Corpo” (cf. Efésios 1,23; Colossenses 1,18), logo é o próprio Cristo, misticamente, quem está salvando por meio ou através da Santa Igreja.

Assim é que a imagem mais adequada e precisa é a de um braço que puxa a pessoa que se afoga. Esse braço espiritual de Cristo, na História dos Homens, é a Igreja Católica. É pela Igreja que Cristo salva e há de salvar o mundo! Pois é a Igreja quem prega a Palavra de Deus sem erro; é a Igreja quem ministra todos os Sacramentos (sinais eficientes da graça divina); é a Igreja que constantemente, em unidade insuperável, ora pela salvação dos homens. Aliás, numa certa medida, Maria, que é o arquétipo da Igreja, também é um meio salvífico; haja vista ter sido por ela que a Salvação – que é Jesus – aportou neste mundo…

Resumindo, é como respondeu certa vez o Prof. Orlando Fedeli:

– “Só Jesus salva, sim: por meio da Cruz, por meio da Igreja, por meio de Maria, sua Mãe Santíssima”[3] .

E é por isso, semelhantemente, que se um membro da Igreja encaminhar alguém que jazia nas trevas do pecado para a Luz, ele estará “salvando” esta pessoa. Obviamente, desde que lhe introduza na verdadeira e Sã Doutrina, preservada e comunicada pela única Igreja de Deus. São Paulo mesmo dizia a Timóteo:

-“Vigia a ti mesmo e a doutrina. Persevera nestas disposições porque, assim fazendo, salvarás a ti mesmo e aos teus ouvintes” (1Timóteo 4,16).

Além de tudo, este trecho também manda às favas o ímpio conceito de que só basta crer que “Jesus é meu Salvador” (a “Sola Fides”), pois é preciso estar na doutrina perfeita.

i) Toda essa asneira sectária de que “a Igreja é dispensável” também está vinculada ao próprio conceito errôneo que muitos dos sectários têm sobre a fé. Haja vista a fé que eles costumam professar é apenas uma fé de ‘patente’; crer em Jesus seria crer que Ele é o Senhor Salvador, reconhecendo-lhe a ‘patente’.

Mas a perfeita crença em Cristo impõe que é preciso acatar aquilo que Ele, que tem senhorio sobre nós, ordenou; como, por exemplo: é necessário comungar, pois o mesmo ensinou: “Quem come minha carne e bebe o meu sangue tem vida eterna” (João 6,54), “Se não comerdes a carne do Filho do Homem (…) não tereis a vida em vós” (João 6,53). Também ele proferiu: “Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus” (João 3,5).

Em suma: não basta crer que Jesus “é meu Salvador pessoal”; é preciso aceitar e acolher a muitas outras coisas que Ele próprio nos instruiu.

Imagine um general que se dirige a um dos seus pelotões: “Eu sou o general e ordeno-lhes que deveis obedecer todas as minhas ordens, dentre elas, usar máscara anti-gás; porquanto se não usardes, não se salvarão!’. Pergunto: Os soldados se salvarão, diante de um ataque de gás mortífero, se não obedecerem às prescrições do general? Bastando tão somente crer que aquele que lhes falou era, de fato, o general? Ou, além de crer ser ele o general, obedecer-lhe a ordem?… Portanto é preciso acreditar mais do que na patente do instrutor; é preciso, crendo, cumprir as suas determinações.

Noutras, palavras não é só crer! Repito: não é suficiente crer que Jesus é o Senhor; é necessário cumprir todas as Suas determinações. Assim como o médico salva o enfermo prescrevendo uma série de procedimentos que este deve acatar. Mas se o paciente recusar as prescrições do médico ficará sujeito à enfermidade e à morte. Como muito bem se expressou Lúcio Navarro:

– “Em nome do bom senso – que nos ensina claramente que não se pode ter fé numa pessoa sem acreditar naquilo que ela diz – em nome da própria doutrina de Cristo, o qual exige que se acredite nas Suas palavras: ‘Se eu vos digo a verdade, por que me não credes’ (João 8,46), temos que estabelecer este princípio: Não tem fé em Cristo aqueles que não acreditam na Sua Palavra[4].

j) Tem protestante de todo tipo. Mas, no fundo, a grande maioria acredita que simplesmente basta “crer que Jesus é o Salvador e pagou por meus pecados (sem nada mais a exigir) e já está salvo”… Na prática, para eles, toda a doutrina de Cristo se resume a isso somente. Esses são os que não querem admitir a evidente balbúrdia de contradição que é o ímpio e satânico Protestantismo. E se apega a esse malfazejo princípio porque não têm como justiçar a desgraça que é a Rebelião Protestante, cujas doutrinas são uma infernal contradição.

É verdade que, muitos destes, quando “prensados contra a parede”, ainda reconhecem que devem se arrepender dos pecados cometidos depois de ter “aceitado” Jesus. Bem, aí, cai na interessante questão suscitada por causa de Lutero, como bem explica Lúcio Navarro:

– “Por que é que Lutero tanto se zangava quando se falava em arrependimento?. Só posso arrepender-me de não ter feito uma coisa quando reconheço que tinha a obrigação de fazê-la. Como posso arrepender-me de não ter sido casto se não reconheço a obrigação da castidade? Como posso arrepender-me de ter feito um roubo se não reconheço a obrigação de respeitar a propriedade alheia? Como posso arrepender-me de uma grosseria para com meus pais se não reconheço a obrigação de honrá-los? Afirmando a necessidade do arrependimento dos pecados para salvação, você está reconhecendo que é necessário para a salvação a observância dos Mandamentos. Logo, não é somente a fé”[5].

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Observação 1: Mal-comparando, a graça da salvação é como alguém que, sem prestar qualquer concurso, consegue um emprego. Todavia, essa pessoa só vai se manter no emprego SE submeter-se a todos os regulamentos e prescrições que o cargo exige; senão, acabará tendo a sorte dos desempregados. O que é recebido de graça não significa, obrigatoriamente, que seja mantido de graça… Se “antes”, nada do que eu faça me faz merecer a graça imerecida da salvação, “depois” entretanto só permanecerei nela se eu perseverar… Mas, somos fracos, constantemente pecamos. Então, constantemente devemos buscar os santos Sacramentos (falo, principalmente, o da Reconciliação ou Confissão); eles, que nos vêm em auxílio à nossa fraqueza; eles, que provêm de Cristo, por causa de Cristo, e em Cristo têm a sua eficácia.

Observação 2: Obviamente, alguém que nunca ouviu o anúncio da Boa Nova, ou não pode (por algum outro motivo válido) receber, por exemplo, o sacramento do Batismo, isto não lhe será exigido. Mas, em um país onde o Evangelho está presente, e ainda mais tendo lido a Bíblia, se recusar a recebê-lo, será reputado culpado e terá de arcar com as consequências da sua rebelião.

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NOTAS:

[1] NAVARRO, Lúcio. “Legítima Interpretação da Bíblia”. Recife: Campanha de Instrução Religiosa Brasil-Portugal, 2ª ed., 1957, p.323.
[2] Idem.
[3] Site Montfort: http://www.montfort.org.br/perguntas/celibato.htm.
[4] NAVARRO, Lúcio. “Legítima Interpretação da Bíblia”. Recife: Campanha de Instrução Religiosa Brasil-Portugal, 2ª ed., 1957, p.520.
[5] Idem, p.64.

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