Na terça-feira, 27 de Janeiro de 2009, o Jornal O Estadão publicou matéria do jornalista Phillp Ullella, da Agência Reuters. A matéria intitula-se Papa divide Vaticano ao reabilitar bispo que nega o Holocausto[1].
Vamos às pérolas do texto (os trechos da matéria de Ullella estão em itálico e negrito):
Fontes da Igreja dizem que a iniciativa reflete o estilo autocrático de Bento no comando da Igreja
OK… Então se o Papa, o Supremo Governante da Santa Igreja, aquele que faz as vezes do próprio Cristo na terra, decide uma coisa que cabe somente a ele decidir, então Sua Santidade está sendo… autocrático?
Ora, a excomunhão de Dom Richard Williamson e dos outros três Bispos da FSSPX Dom Bernard Fellay, Dom Alfonso de Galarreta e Dom Tissier de Mallerais foi decretada por um Papa João Paulo II e só poderia ser revogada também por um Papa no caso, Bento XVI. Portanto, levantar ou não as excomunhões deste Bispos não reflete o estilo autocrático de Bento no comando da Igreja: simplesmente só cabia a Bento decidir ou não fazê-lo! Não cabia a mais ninguém nem Padre, nem Bispo, nem Cardeal, nem Prefeito de qualquer Dicastério da Cúria Romana que seja: cabia unicamente ao Papa Bento decidir se levantava as excomunhões ou não.
Então o Papa, por ter tomado uma decisão que só cabia a ele, e a mais ninguém, está sendo autocrático?
Ou não estará simplesmente fazendo o que lhe cabe fazer, o que era somente de sua responsabilidade e competência, e para o que somente ele tinha o poder de fazer?
O papa Bento XVI decidiu reabilitar um bispo que nega o Holocausto e o fez sem amplas consultas prévias no Vaticano, onde a decisão dividiu prelados que temem que ela tenha efeitos duradouros sobre as relações da Igreja com os judeus.
Novamente perguntamos: se a decisão cabia somente ao Papa Bento XVI, era necessário consultar a quem quer que fosse?
Objetivamente, não havia nenhuma necessidade de consulta: somente a Sua Santidade cabia decidir, somente Sua Santidade tinha o poder para tomar esta decisão… então somente a Sua Santidade ela compete!
É óbvio que o Papa faz consultas aos seus auxiliares sempre. E neste caso também o fez, pois a decisão de levantar as excomunhões não foi tomada de uma hora para outra: ela vem sendo pensada há muito tempo, desde o Pontificado do Papa João Paulo II!
Mas faltava o momento propício para este levantamento: e o momento chegou, e Sua Santidade levantou as excomunhões! Simples assim.
A matéria coloca a questão como se fosse de suma necessidade o Papa consultar seus auxiliares: ora, se são auxiliares, estão ali para auxiliar, não para tomar parte na decisão. A decisão cabe unicamente a quem pode decidir: o Papa! A decisão não cabe aos auxiliares, a quem compete… auxiliar, não decidir!
Desta maneira, se o Papa consultou ou não consultou, ou se consultou muito ou pouco… nada disso importa: esta decisão cabia unicamente a Sua Santidade, somente ele tinha o poder para tomá-la, e a tomou.
Não há nada de estranho, inusitado ou dramaticamente inaceitável no fato de que a única pessoa que poderia tomar uma decisão a tomou: é o mais normal de acontecer!
Fontes da Igreja dizem que a iniciativa, que suscitou ultraje entre judeus e católicos progressistas, reflete o estilo autocrático de Bento no comando da Igreja de 1,1 bilhão de fiéis, comparado a seu predecessor, João Paulo II, que tinha o hábito de fazer amplas consultas prévias.
Aqui nos deparamos novamente com aquele velho clichê midiatico sinceramente, não sei como os jornais ainda não se cansaram dele de contraposição entre Bento XVI e João Paulo II. Contraposição mais que errônea, pois um Pontificado nada mais é que a continuação natural do outro… Bento está apenas construindo nos alicerces que João Paulo firmou.
Já falamos sobre o suposto estilo autocrático de Bento e chegamos à conclusão de que está na cara! não há nada de absurdo no fato de que a única pessoa que poderia tomar esta decisão simplesmente a tomou: é normal que aqueles que podem tomar decisões as tomem… afinal, está na natureza da função!
O que se quer fazer neste trecho da matéria, numa tentativa de desprestigiar o Papa Bento XVI, contrapô-lo ao Papa João Paulo II.
Ora, que importa se João Paulo II tinha o hábito de fazer amplas consultas prévias? No final das contas, consultando ou não, era ele mesmo quem tomava as decisões, ele era o único que tinha poder para isso mesmo…
Podia até mesmo fazer muitas consultas, e houve casos em que as decisões de João Paulo II partiram de si mesmo, ou contrariando o conselho de seus auxiliares, ou mesmo não os consultando: o que há de estranho nisso? Não era a ele mesmo que cabia decidir? Então por que estranhar que em algum momento tomasse decisões sem consultar? No final das contas, o que vale mesmo é a decisão, não a consulta…
Mas, eu lembro, João Paulo II também foi muito tachado de autocrático e até ditador quando publicou documentos como a Encíclica Evangelium Vitae e a Instrução Dominus Iesus…
De todo modo, sabemos que o Papa Bento consulta seus auxiliares… quando julga dever consultá-los! E quando não julga oportuno consultá-los… não os consulta, ora! Se são auxiliares estão ali para auxiliá-lo quando ele o pede: o Papa não tem a obrigação de pedir auxílio, mas a faculdade de pedir auxílio.
O próprio conceito de auxílio contraria esta suposta necessidade do Papa sempre fazer consultas, que a matéria levanta. Auxílio se pode quando se precisa, e somente quando se precisa! Não se tem a obrigação de pedir auxílio, porque aí já não seria auxílio…
O Papa consulta seus auxiliares quando acha necessário, e quando não acha, não os consulta. Simples assim. Afinal, não é para isso que servem os auxiliares, para auxiliar quando se está precisando? Ótimo. Quando Sua Santidade julgar que precisa, ele pedirá seus auxiliares.
E isso vale para todo Papa: Bento XVI, João Paulo II, Pio XII, Gregório XVI… quem quer que seja.
E, no fim das contas, Deus prometeu o Espírito Santo ao Seu Vigário na terra: se o Espírito Santo inspira o Papa numa direção, ele deve ir naquela direção ainda que todos o aconselhem em contrário.
Contudo, a despeito do que insinua a matéria, sabemos que a decisão de levantar as excomunhões foi uma decisão pensada e há muito tempo se pensa nela!
O bispo britânico Richard Williamson, um de quatro bispos tradicionalistas cujas excomunhões foram revogadas no sábado, deu no passado declarações negando a plena extensão do Holocausto dos judeus da Europa, ao contrário do que é afirmado pela maioria dos historiadores.
Perfeitamente. Como bem salienta a matéria, as declarações negando o Holocausto foram do Bispo britânico Richard Williamson: foram do Papa? foram da Santa Sé? foram da Fraternidade São Pio X?
Não! Foram declarações somente do Bispo Richard Williamson!
Uma declaração pessoal de Dom Richard Williamson não representa a opinião do Papa, nem da Igreja, nem da Fraternidade São Pio X: representa unicamente a opinião de Dom Richar Williamson, afinal, a declaração foi dele!
O Papa, ao levantar a excomunhão destes Bispos, pretendia sanar uma ferida dolorosa na Igreja. Não vem ao caso o que um Bispo ou outro disse: o que importa realmente é que Sua Santidade deseja a unidade dos cristãos, e por isso quis sanar esta ferida.
O Papa não levantou a excomunhão porque Dom Williamson é negacionista, mas apesar de Dom Williamson o ser. Dom Williamson é só um dentro de um grupo: veja-se que o Papa não levantou a excomunhão só dele, mas dele e de outros três.
Agora, se Dom Williamson diz que o Holocausto não aconteceu, isso é lá com ele! Isso é problema dele! Não é nem do Papa, nem da Igreja, nem da Fraternidade.
Quem esquece as inúmeras declarações de Sua Santidade contra os crimes nazistas, contra a intolerância, contra a loucura genocida de Hitler coisas das quais ele foi testemunha ocular em favor de uma declaração que um Bispo certo dia deu numa TV Sueca, o faz por um claro desejo de desprestigiar ao Santo Padre!
Porque é completamente irracional senão má-fé enorme trocar tudo que Sua Santidade disse em seu frutuoso diálogo com os judeus, todas as suas manifestações de respeito, todas as suas declarações sobre a loucura nazista, a intolerância e o Holocausto, por apenas um discurso de certo Bispo em certo programa de certa TV Sueca…
Isso me soa como algo de muita má-fé. Na verdade, uma clara tentativa de atacar o Santo Padre, e como não encontram outra coisa, se apegam a isto.
Reiteramos: o que Dom Williamson fala sobre História é o que Dom Williamson fala sobre História; sua opinião pessoal sobre esta ou aquela questão não representa a opinião da Fraternidade Pio X, da Igreja ou do Papa: é a sua opinião pessoal!
Aprendamos a separar as coisas!
Dom Bernard Fellay, Superior da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, visando a resolver logo este impasse largamente aproveitado pela mídia contra a Fraternidade e contra a Igreja , proibiu[2] Dom Williamson de falar publicamente sobre política ou História, e esclareceu que o que Dom Williamson declara nestas matérias não representa a opinião da Fraternidade nem do Papa:
Tomamos conhecimento de uma entrevista que Dom Richard Williamson, membro de nossa Fraternidade, deu à televisão Sueca. Na entrevista ele se expressa sobre questões históricas, especialmente quanto ao assassinato de Judeus pelos Nazistas. É óbvio que um bispo pode falar com autoridade religiosa apenas sobre Fé e Moral. Nossa fraternidade não clama autoridade alguma sobre questões históricas ou seculares.
A missão da Fraternidade é a propagação e a restauração do autêntico ensinamento Católico e como exposto nos dogmas. Por isso somos conhecidos, aceitos e apreciados mundialmente.
Vemos com grande preocupação como a violação desta ordem acrescenta grande dano por um membro de nossa fraternidade religiosa. Pedimos desculpas ao Santo Padre e a todas as pessoas de boa vontade pelo aborrecimento incitado através disso.
Ao mesmo tempo deve ficar claro que essas observações de maneira alguma representam a posição de nossa Fraternidade. Portanto, proibi Dom Williamson até segunda ordem de falar em público sobre matérias políticas e históricas.
As acusações lançadas contra nossa Fraternidade servem obviamente para desacreditar nossa missão. Não permitiremos isso, mais, continuaremos a anunciar os ensinamentos Católicos e a administrar os sacramentos em sua forma venerável.
Menzingen, 27 de janeiro de 2009
+ Dom Bernard Fellay
Superior Geral
Vê-se portanto que, se Dom Richard Williamson não estava falando com sua autoridade religiosa sobre Fé e Moral, e se não estava apegando-se ao ensinamento da Igreja, mas apenas dando uma opinião sua sobre determinada matéria histórica, aquilo deve ser tomado como opinião particular sua, uma opinião pessoal, e não como uma declaração dogmática solene da Santa Igreja!!!
Quem confunde o que Dom Richard Williamson diz em seu nome com o que a Fraternidade São Pio X prega e com o que o Papa ensina, está tomando uma atitude claramente ignorante.
Para terminar, o próprio Dom Williamson pediu desculpas ao Cardeal Darío Castrillón Hoyos e ao Papa Bento XVI pelos inconvenientes provocados por suas declarações, conforme divulgado nesta sexta-feira, 30 de Janeiro, em seu Blog pessoal:
No meio desta tremenda tempestade midiática provocada por imprudentes observações minhas na televisão sueca, eu vos imploro aceitar, com todo respeito, as minhas sinceras desculpas por ter causado a vós mesmo e ao Santo Padre tanta aflição e problemas desnecessários[3].
Ademais, conversas extra-oficiais com várias fontes da Igreja mostram que praticamente ninguém no Vaticano sabia que o bispo tradicionalista Richard Williamson tinha dado declarações negando o Holocausto. Todo o mundo que conheço tomou conhecimento disso pela mídia, falou uma fonte. Não fizeram a lição de casa necessária neste caso.
Interessante que o maior artífice de todo este problema não seja o Papa ou sequer Dom Williamson, mas a mídia!
Vejam as palavras da misteriosa fonte que deu entrevista ao Jornal: Todo o mundo que conheço tomou conhecimento disso pela mídia.
A Mídia… a Mídia… Sempre ela!
A Mídia como O Estadão, Reuters…
O Vaticano intensificou sua defesa do papa Bento XVI em meio aos apelos contra a reabilitação do bispo que diz que nenhum judeu foi morto durante a Segunda Guerra Mundial.
Êpa! Não foi isso que Dom Williamson disse! Dom Williamson afirmou não acreditar que seis milhões de judeus tivessem sido mortos, mas apenas de 200 a 300 mil deles: ele não disse que nenhum judeu foi morto durante a Segunda Guerra Mundial, como insinua a matéria.
Ainda que não concordemos com sua tese e que a rejeitemos categoricamente, devemos prezar pela verdade do fato e não distorcer o que Dom Williamson afirmou para tornar as coisas mais interessantes.
Quem se usa deste tipo de estratagema sensacionalista não merece credibilidade.
Sejamos coerentes e justos.
A Radio do Vaticano levou ao ar um longo programa para marcar o dia de lembrança do Holocausto. Foi lembrada a visita de Bento XVI a Auschwitz, sua visita à maior sinagoga da Alemanha e outros pontos marcantes em que ele denunciou a “ideologia racista e insana” que produziu o Holocausto. Vídeos desses momentos foram postados no canal do Vaticano no YouTube: youtube.com/Vatican Que a humanidade de hoje nunca esqueça de Auschwitz e outras fábricas da morte em que o regime nazista tentou eliminar Deus e tomar seu lugar, disse Bento XVI durante sua audiência geral de 31 de maio de 2006, ao retornar a Roma da Alemanha.
Ótimo! Então, diante disto, não se insinue que o Papa Bento XVI está negando o Holocausto ou outros crimes nazistas, dos quais ele foi testemunha ocular e vítima do mesmo terror.
[1] http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,papa-divide-vaticano-ao-reabilitar-bispo-que-nega-o-holocausto,313765,0.htm
[2] http://fratresinunum.wordpress.com/2009/01/27/dom-williamson-proibido-de-falar-em-publico-sobre-politica-e-historia/
[3] http://dinoscopus.blogspot.com/