Jesus e a samaritana

No encontro de Jesus com a Samaritana refulge um dos capítulos mais belos da notável pedagogia divina (Jo 4, 5-42). Cristo mostra-se sedento da salvação de uma alma pecadora e, ao mesmo tempo, nos faz admirar seu método de preceptor inigualável.

O fato se deu em Sicar. A fonte de Jacó era um poço alimentado por uma corrente profunda de água. Fatigado de suas viagens, Jesus se sentou à borda daquele poço. Era meio dia, hora em que a sede se torna mais intensa. Eis que se aproxima uma samaritana. Santo Agostinho frisou a dupla secura de Cristo: física e espiritual, pois almejava, sobretudo, a fé daquela pobre alma. Os discípulos tinham ido comprar mantimentos e Jesus estava sozinho.

Judeus e samaritanos não se davam bem e proverbial a hostilidade entre estes povos. Os descendentes dos colonos levados de Cuta e outras cidades do Oriente por Sargão e Assaradão eram tidos como pagãos e cismáticos.. O Eclesiástico os equipara aos odiosos edomitas e filisteus ( Ec 50,28).

Jesus quer ir além de toda a animosidade e fala do amor de Deus e do dom do céu. A água se torna então um símbolo vivo de uma bebida viva que brota em borbotões de um manancial cristalino e não água parada de uma cisterna. Trata-se de algo dinâmico, energia vivente e vivificante.

O fundo da consciência da samaritana fora tocado, mas ela desvia o assunto para o fato de que Jesus não poderia tirar água daquele poço sem ter o instrumento necessário para tanto.

Aquele homem, no pensar dela, não poderia ser maior do que o patriarca Jacó que construíra aquele poço. Com rara perspicácia, Jesus não se fixa no personagem citado e passa a comparar as duas águas. Uma sacia temporariamente a sede, a outra é de notória eficácia para a vida eterna, ou seja, a graça santificante.

A reação da samaritana querendo da água de Jesus para não ter que caminhar penosamente até ao poço poderia ser uma ironia, mas a maioria dos biblistas pensam que ela foi sumamente ingênua e não tivera capacidade mental para entender a fala de Cristo. Em todos os casos ela compreendera que aquele homem era um taumaturgo.

Com sabedoria Jesus vai modificar a vida daquela prevaricadora. Patenteia que ela era uma adúltera. Aí ela reconhece ser Jesus um profeta e a luz vai inundando sua mente. Os cultos rivais de Garizim e de Jerusalém oferece uma oportunidade para Cristo mostrar qual o verdadeiro culto a Deus, que pela primeira vez Ele chama de Pai.

Os judeus, pela revelação, já prestavam culto a este Senhor, o qual, entretanto, quer uma homenagem vindo do íntimo do coração para que as cerimônias externas ganhem sentido. É esta adoração, em espírito e verdade, a única digna da grandeza e espiritualidade do Ser Supremo.

A profundidade da lição de Jesus faz aquela mulher se referir ao Messias e Jesus se identifica com o Prometido das nações. O local era propício para esta primeira declaração messiânica, pois na Samaria o messianismo não estava contaminado com aspirações nacionalistas e políticas.

Os discípulos ao retornarem ficaram surpresos, dado que a normas judaicas eram rígidas quanto aos encontros entre homem e mulher em público. A samaritana já estava, porém, convertida. Deixa o cântaro e vai à cidade anunciar a boa nova da chegada do Messias.

Jesus recusa o alimento material dos apóstolos, pois seu alimento era fazer a vontade do Pai, ou seja, a salvação das almas, missão que os apóstolos deveriam abraçar. Muitos samaritanos creram em Jesus. Modelo de apostolado eficiente se tornara aquela mulher convertida. Uns sempre a plantarem, outros a colher, mas todos trabalhando pela salvação do mundo!

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