Judas está no Inferno; mas depois irá para o Céu?

Prezados Amigos,
Pax Domini!
Espero que estejam bem!
Escrevo-lhes hoje porque tenho uma dúvida vinda de um amigo. É que o mesmo me afirmou que Judas Iscariotes, está no inferno, mas vai sair de lá e vai para o céu isso é verdade?
No Evangelho de São Mateus, 19 no versículo 27 e 28 diz o seguinte:
27 Então Pedro, tomando a palavra, disse-lhe: Eis que nós deixamos tudo, e te seguimos; que receberemos? 28 E Jesus disse-lhes: Em verdade vos digo que vós, que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do homem se assentar no trono da sua glória, também vos assentareis sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel.
Jesus disse isso aos seus doze apóstolos, e isso inclui Judas. Mas em Atos dos apóstolos Cap,1 e do Versículo 15 em diante diz que Judas Iscariotes foi predestinado como filho da perdição e foi para o inferno.
Logo com isso gostaria de saber se é correto afirmar que Judas foi para o inferno e depois poderia ir para o céu, e porque?
Desde já agradeço pela sua ajuda.
Ad Majorem Dei Gloriam. (Edgar)

Prezado Edgar,

A paz de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Agradecemos pelo contato e pela confiança depositada em nosso apostolado.

Com relação à sua dúvida, parece-me que seu amigo parte de uma interpretação demasiado literalista do texto sagrado. A respeito dessa passagem, vejamos o que escreveu São João Crisóstomo:

“Mas como se cumpriu esta promessa? Porventura sentar-se-á também Judas? De jeito nenhum. Porque diz a Lei de Deus, promulgada pelo profeta Jeremias (Jr 18,9-10):
“9. Outras vezes, em relação a um povo ou reino, resolvo edificá-lo e plantá-lo.
10. Se, porém, tal nação proceder mal diante de meus olhos e não escutar minha palavra, recuarei do bem que lhe decidira fazer.”; que equivale a dizer: Se fazem-se indignos de minha promessa, não farei o que prometi, e Judas fez-se indigno do apostolado. Por esta razão, ao dirigir-se o Senhor a seus discípulos, não disse simplesmente: “Sentar-vos-eis”, senão que acrescentou: “que me seguistes”, para deste modo excluir a Judas e atrair a todos os que depois deviam seguir ao Senhor. De maneira que as palavras do Senhor foram dirigidas não só aos apóstolos e excluem a Judas, que já era indigno.” (São João Crisóstomo, Homiliae in Matthaeum, hom. 64,2).

Vejamos agora o que disse Santo Agostinho sobre a mesma passagem:

Daqui devemos tirar como conseqüência que Jesus julgará juntamente com seus discípulos. Por isto se diz aos judeus em outro lugar (Mt 12,27; Lc 11): “E serão juízes vossos”. Não devemos achar que porque o Senhor diz que sentar-se-ão seus discípulos sobre doze tronos, não julgarão em união com o Senhor mais que só doze homens a todo o gênero humano, porque o número doze expressa toda uma multidão de juízes, tomando em conta, que as duas frações que constituem o número sete – isto é, três e quatro – significam com freqüência a universalidade das coisas; e multiplicadas essas duas frações formam o número doze. De outro modo Matías, que foi eleito em lugar do traidor Judas, nem o apóstolo São Paulo, que trabalhou mais que todos os outros, não teriam onde se sentar no tribunal. O mesmo Paulo não deixa lugar a dúvidas de que ele, em união com os outros santos, serão juízes, quando diz (1Cor 6,3): “Ignorais que nós julgaremos aos anjos?” (Santo Agostinho, De civitate Dei, 20,5)

Com base no que disseram São João Crisóstomo e Santo Agostinho, podemos concluir que:

1) A promessa de Nosso Senhor Jesus Cristo consignada na passagem em questão não se restringe aos apóstolos, mas se estende a todos os santos, isto é, a todos os que, tendo seguido fielmente a Cristo, alcançarem a bem-aventurança eterna. Por essa razão, o número doze não deve ser entendido de forma literal.

2) A promessa foi feita, sim, a Judas Iscariotes, mas este se perdeu (tornou-se “indigno”, nas palavras de São João Crisóstomo), e por isso foi excluído daquilo que Nosso Senhor Jesus Cristo prometeu a todos quantos lhO seguirem.

À guisa de complemento, sugiro a leitura de uma homilia de Sua Santidade Papa Bento XVI, intitulada “Judas Iscariotes e Matias”, a qual foi publicada no site [do Apostolado Veritatis Splendor] e pode ser lida no link abaixo:

– https://www.veritatis.com.br/article/5022

Fraternalmente,
Marcos M. Grillo

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