Leah Libresco: Ateísta se converte ao Catolicismo

– Leah ateia e Leah cristã são uma pessoa só. Tentar caricaturá-la para criticá-la ou exaltá-la é uma tática desonesta, definitivamente vedada aos que se ocupam do Evangelho de Nosso Senhor

A história é antiga, mas não vi repercussão adequada no Brasil. Além do que, é o tipo de evento que deixa os cristãos com olhos marejados e um enorme grito preso na garganta: aleluia!!! Embora haja objetivos motivos de alegria, não se pode deixar levar pela empolgação, confundindo alguns elementos importantes. Bem, mas vamos à história.

Leah Libresco, eminente e atuante defensora do ateísmo, anunciou sua decisão de abraçar o catolicismo em junho, depois de muitos anos de discussões sobre o assunto, em um famoso site ateísta americano. A postagem que anunciou sua decisão causou surpresa aos ateus que acompanhavam seu blog: seria seu último texto sobre religião para o portal ateísta Patheos. A notícia foi tão importante para a mídia americana especializada, que a CNN realizou uma entrevista com a ex-ateia para entender sua decisão. Curiosamente, não houve repercussão da conversão da blogueira e da entrevista no Brasil.

Segundo seu próprio testemunho, Leah avaliou a possibilidade de “estar errada” a partir de questões teóricas, que a levaram a ler e tomar a sério textos de Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino. Mas foi a questão concernente à fundamentação da moral – questão inegavelmente filosófica – que a fez aproximar-se surpreendentemente do teísmo e – ato contínuo – do catolicismo. Com efeito, a justificativa da ação moral encontra no ato de fé sua mais acabada elaboração: mais que um dever (como Kant defendia), a ação ética é fundamentalmente uma resposta de amor. Ora, o homem ético ama a humanidade. Contudo, ainda que Leah tenha razão em apontar uma relação óbvia entre teísmo e moralismo, a ligação pura e simples entre os conceitos é equivocada. Aliás, já disse o Papa Bento XVI que o cristianismo não é uma religião de regras, nem de normas éticas frias. Quem procura o catolicismo buscando um conjunto de orientações simplistas que calem seu interior, que torne o homem um estoico satisfeito com si mesmo, terá más notícias:

“O moralista contente consigo mesmo deve aprender, do mesmo modo como o escrupuloso destruidor de si mesmo, que há perdão. Também a escrupulosidade é uma expressão da justificação de si mesmo e precisamente ela: não espera mais por Deus, não quer que seja verdade que é capaz de receber o perdão” (Fonte: Biblioteca de Citações).

Com efeito, ainda que seu caminho de conversão passe pela questão da ética, é preciso dizer com todas as letras à Leah: o catolicismo não é um moralism0 travestido de liturgias e músicas piedosas. Antes, é até possível ser um homem extremamente moralista e um péssimo cristão. Na verdade, o moralista satisfaz-se em andar 2 mil metros com o amigo; o cristão, anda 4000 por amor a Deus; o moralista é capaz de dar a túnica; o cristão cede ao contentador também a capa. Emfim, o ético orgulhoso de si é capaz de amar o amigo até expor sua própria vida, mas nunca fará o que ordena o Evangelho com respeito aos cristãos: dar a vida pelos que nos perseguem, amar o inimigo. É precisamente neste ponto que fica evidente a imprecisão das motivações moralistas para qualquer conversão possível.

Os ateus costumam afirmar que, se uma pessoa abandona o ateísmo, o motivo é seu senso pouco crítico, suas enfraquecidas potências cognitivas. Não caiamos nós no erro contrário, que é afirmar a genialidade da Leah por causa da sua conversão. Leah ateia e Leah cristã são uma pessoa só. Tentar caricaturá-la para criticá-la ou exaltá-la é uma tática desonesta, definitivamente vedada aos que se ocupam do Evangelho de Nosso Senhor. Mas como se sabe, nem tomo mundo é honesto intelectualmente…

No dia seguinte ao anúncio do início de seu processo de conversão, começou também o imediato processo de desconstrução da imagem dessa menina por blogs ideológicos e mentirosos. Alguns ateus começaram um linchamento intectual da menina, tentando induzir o incauto de que a Leah nunca foi verdadeiramente ateia e/ou sempre foi muito “burrinha”, não alcançando a profundidade dos argumentos ateístas. Essa decisão é extremamente desonesta.

De nossa parte, nada de transformar Leah na nova doutora da Igreja em vida, nem de viver desconfiado de suas intenções. Deus pode fazer o impossível ao homem, pode inclusive resgatar para a vida alguém que estava no erro. Mas se há um conselho para Leah é o paulatino distanciamento das questões sobre o bem para voltar-se a problemas relativos à verdade. É evidente que saber o fundamento do bem humano é fundamental; mas permanece prioritária a pergunta sobre a natureza do bem humano, isto é, sobre a verdade acerca da ética. Mesmo que de tal verdade decorra necessariamente consequências práticas. Estas, porém, são derivadas.

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