Leitor acusa paulo vi de louvar e promover contraceptivos

Caríssimo sr. Bruno, com alegria recebemos o vosso contato enquanto desejamos toda a paz que procede de Nosso Senhor Jesus Cristo. Como vossos comentário e indagações são numerosos, faremos cada um deles separadamente.

[Leitor autorizou a publicação de seu nome no site] Nome do leitor: Bruno
Cidade/UF: Brockton, MA – USA
Religião: Católica

Mensagem
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“Não vos prendais ao mesmo jugo com os infiéis. Que união pode haver entre a justiça e a iniqüidade? Ou que comunidade entre a luz e as trevas?”
(2Cor 6,14)

Que o Espírito Santo vos iluminee para nos explanar as verdades eternas, pois estou aqui exatamente para tratar de um assunto de grande importância: métodos de evitar a prole.

Muito nos toca a necessidade de sermos esclarecidos sobre o uso de métodos para evitar a geração de filhos. Um documento novo diz uma coisa, outro mais antigo diz outra coisa. Afinal, há mais documentos mais “antigos” do Magistério sobre este assunto?

A Igreja é, foi e continuará sendo sempre coluna e fundamento da verdade (1Tm 3, 15), fundada por Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, a quem lhe garantiu isenção no ensino do erro afirmando que as portas do inferno jamais prevaleceriam sobre ela (Mt 16, 18), após conferir ao primeiro papa, São Pedro, autoridade divina confiando-lhe as chaves do Reino dos Céus no poder de ligar e desligar (Mt 16, 18-19). Sendo assim é tola pretensão que beira ao pecado colocar-se em situação de julgar ou questionar a Esposa do Senhor, mãe e mestra, ignorando a virtude da humildade que pede antes da acusão uma sã instrução e formação, que aliás não pode senão dar testemunho da verdade e do próprio magistério infalível.

O que diz os novos ensinamentos (que insistem em dizer que não são novos)?

Paulo VI, encíclia Humanae Vitae, #16:
“Ora, sendo assim, perguntam-se alguns, se atualmente não será talvez razoável em muitas circunstâncias recorrer à REGULAÇÃO ARTIFICIAL DOS NASCIMENTOS, uma vez que, com isso, se obtém a harmonia e a tranqüilidade da família e melhores condições para a educação dos filhos já nascidos. A este quesito é necessário responder com clareza: a Igreja é a PRIMEIRA a ELOGIA e a RECOMENDAR a intervenção da inteligência, numa obra que tão de perto associa a criatura racional com o seu Criador; mas, afirma também que isso se deve fazer respeitando sempre a ordem estabelecida por Deus.”

Ora, ele está dizendo que a Igreja elogia e louva a intervenção da inteligência, que busca meios de se evitar filhos? e por meios artificiais ainda?.. Isto para mim é um absurdo. Eu queria saber se vós — membros do VS — têndes acesso à algum documento da Igreja, infalível, que testemunha o que Paulo VI acaba de dizer. Pois como o dar a entender nestas linhas, até mesmo o preservativo poderia ser usado então, pois que é REGULAÇÃO ARTIFICAL. E por que chamam o “Método Billings” de “natural”? Pode-se então, evitar filhos “respeitando a ordem estabelecida por Deus”? A ordem estabelecida por Deus não é mais: “multiplicai-vos e enchei a terra”?

Verdadeiro erro crasso é isolar textos de contextos, desviando e mutilando intenções e direcionamentos para vãs interpretações que não podem senão levar para o engano e para a falsidade. Não existe qualquer incoerência ou apoio velado a regulação artificial de natalidade nas palavras do Papa Paulo VI. Sua encíclica Humanae Vitae constrói desde o início uma defesa clara, objetiva e direta da moralidade conjugal e sexual.

Paulo VI não diz que louva a inteligência que busca meio de se evitar filhos, mas tão e somente que louva a inteligência que intervêm respeitando a ordem estabelecida por Deus (que óbviamente não está nos meios artificiais de regulação de natalidade) e que não ofende a dignidade humana. Não existe qualquer louvor ou recomendação do uso de tais métodos que disassociam a procriação da união no ato conjugal aqui, pelo contrário, as condenações são claras e explícitamente severas:

Em conformidade com estes pontos essenciais da visão humana e cristã do matrimônio, devemos, uma vez mais, declarar que é absolutamente de excluir, como via legítima para a regulação dos nascimentos, a interrupção direta do processo generativo já iniciado, e, sobretudo, o aborto querido diretamente e procurado, mesmo por razões terapêuticas (14).
É de excluir de igual modo, como o Magistério da Igreja repetidamente declarou, a esterilização direta, quer perpétua quer temporária, tanto do homem como da mulher.(15)
É, ainda, de excluir toda a ação que, ou em previsão do ato conjugal, ou durante a sua realização, ou também durante o desenvolvimento das suas conseqüências naturais, se proponha, como fim ou como meio, tornar impossível a procriação (16)”

Quanto a questão do método de ovulação Billings, ele em nenhum momento foi se quer citado na referida encíclica. Mas é chamado de método natural porque não faz uso de nenhum artifício, mas apenas da auto-observação da mulher em seus ritmos e períodos férteis ou inférteis. Não é a Igreja que a classifica como método natural (pois é mera constatação), e nem muito menos a adota como método católico, apenas declarando o seu uso lícito ou ilícito dependendo do caso.

É evidente que a expressão “ordem estabelecida por Deus” quer significar aqueles tempos fecundos ou infecundos do ser humano colocados na natureza humana pelo criador, e não o conselho divino dado ao primeiro casal humano. A “ordem estabelecida por Deus” e “mandamento dado por Deus” são coisas completamente distintas.

continua Paulo VI:
“Se, portanto, existem motivos sérios para distanciar os nascimentos, que derivem ou das condições físicas ou psicológicas dos cônjuges, ou de circunstâncias exteriores, a Igreja ensina que então é lícito ter em conta os ritmos naturais imanentes às funções geradoras, para usar do matrimônio só nos períodos infecundos e, deste modo, regular a natalidade, sem ofender os princípios morais que acabamos de recordar.”

É de notar a ambiguidade exagerada, primeiro ele diz que A IGREJA É A PRIMEIRA A ELOGIAR E RECOMENDAR a REGULAÇÃO ARTIFICAL. Mas agora ele está dizendo que a IGREJA ENSINA que é LÍCITO seguir o método Billings (ter uniões somente nos períodos inférteis) para REGULAR A NATALIDADE. Ora ele disse que a Igreja elogia e recomenda a regulação artificial, mas que ensina a seguirmos o método Billings para não ofender os princípios morais. Então a Igreja elogia e recomenda um método artifical (ilício), mas ensina a seguir método natural (billings – lícito)?
E quais seriam as “condições físicas ou psicológicas” que impedem que os pais tenham mais filhos, mas que não os impedem de praticarem o ato conjugal para tirarem prazer dele?? Ainda mais que este próprio texto diz que é lício somente o “DISTANCIAMENTE” da geração de um filho ou outro; por exemplo, pelo menos alguns meses ou um ano após a mulher ter dado à luz um filho. Será que mesmo os “verdadeiros católicos tradicionais” que aceitam o método “natural” de evitar filhos, seguem verdadeiramente este limite sem ultrapassá-lo? Me digam algumas famílias como exemplo e diga quantos filhos o casal tem e quais os motivos “sérios” que os levaram a evitarem a geração de mais filhos.

Colocas palavras na boca de um Santo Padre. Paulo VI não disse que a Igreja recomenda a regulação artificial coisa nenhuma. Ele a condena severamente em diversas ocasiões, a tal ponto que não parece que lestes sua encíclica com o mínimo de atenção. Este Santo Padre também não defende a moralidade do método Billings de modo algum, pois como já dito, não há referência para este método em todo seu texto. Paulo VI é apenas claro em dizer que há moralidade em usar de métodos naturais de regulação de fertilidade (e são muitos, desde a conhecida tabelinha, a temperatura basal, o método de Ogino Knaus, do Dr. Billings etc) em determinadas situações, evidenciando ainda mais que a orientação católica é ter filhos. Essa é a regra. Algumas situações dão exceção à regra, é sobre isto que Paulo VI escreve.

As condições físicas ou psicológicas a que faz menção são aquelas que tornam a recepção de um filho temeroso sob aspectos de saúde, eugênia etc. Provém da justa noção de paternidade e maternidade responsável, guiada pela prudência e pela justiça que impera que cada casal tenha os filhos que possa ter. Não é próprio da virtude impor que um casal com sérios problemas de saúde (por exemplo, portadores de alguma doença degenerativa), ou econômicos (por exemplo, que não tenham condições de alimentar ou de vestir outros além de sí mesmos), ou psicológicos (por exemplo, que sofram de alguma patologia esquizofrênica), tenham 8, 10, 12 filhos. Esta idéia não é própria da moral e nem da Igreja.

mais:
“A Igreja é coerente consigo própria, quando assim considera lícito o recurso aos períodos infecundos, ao mesmo tempo que condena sempre como ilícito o uso dos meios diretamente contrários à fecundação, mesmo que tal uso seja inspirado em razões que podem aparecer honestas e sérias. Na realidade, entre os dois casos existe uma diferença essencial: no primeiro, os cônjuges usufruem legitimamente de uma disposição natural; enquanto que no segundo, eles impedem o desenvolvimento dos processos naturais. É verdade que em ambos os casos os cônjuges estão de acordo na vontade positiva de evitar a prole, por razões plausíveis, procurando ter a segurança de que ela não virá; mas, é verdade também que, somente no primeiro caso eles sabem renunciar ao uso do matrimônio nos períodos fecundos, quando, por motivos justos, a procriação não é desejável, dele usando depois nos períodos agenésicos, como manifestação de afeto e como salvaguarda da fidelidade mútua.”

Desisto até de destacar alguns pontos e comentar, pois não precisa. Quanto mais se lê isso, mais se vê a ambiguidade e contradição, e a audácia ainda de dizer que a Igreja ensina isso.

Caro sr. Bruno, audácia é a vossa de acusar um sucessor de São Pedro de contradição, incoerência e ambiguidade quando este se faz claríssimo e objetivo até para os mais incautos. Se o sr. não consegue entender essas pontifícias palavras, peça auxílio, mas por favor, não se coloque numa posição como a vossa, aonde sobra evidente orgulho e falta simples interpretação de texto.

* * *

Por outro lado, eu acho que é isto é o que a Santa Igreja ensina verdadeiramente:
PIO XI, ECÍCLICA CASTI CONNUBII. #54-58:

“Mas, para tratarmos agora, Veneráveis Irmãos, de cada um dos pontos que se opõem aos diversos bens do matrimônio, falemos primeiro da PROLE, que MUITOS OUSAM CHAMAR MOLESTO ENCARGO DO CASAMENTO E AFIRMAM DEVER SER EVITADA CUIDADOSAMENTE PELOS CÔNJUGES, NÃO PELA HONESTA CONTINÊNCIA (permitida até no matrimônio, pelo consentimento de ambos os cônjuges), MAS VICIANDO O ATO NATURAL. Alguns reclamam para si esta LIBERDADE CRIMINOSA, porque, aborrecendo os cuidados da prole, DESEJAM SOMENTE SATISFAZER A SUA VOLUPTUOSIDADE, SEM NENHUM ENCARGO; outros porque, dizem, não podem observar a continência nem permitir a prole, POR CAUSA DAS DIFICULDADES QUER PESSOAIS, QUER DA MÃE, QUER DA ECONOMIA DOMÉSTICA.

Mas nenhuma razão, sem dúvida, embora gravíssima, pode tornar conforme com à natureza e honesto aquilo que intrinsecamente é contra a natureza. SENDO O ATO CONJUGAL, POR SUA PRÓPRIA NATUREZA, DESTINADO À GERAÇÃO DA PROLE, AQUELES QUE, EXERCENDO-A, DELIBERADAMENTE O DESTITUEM DA SUA FORÇA E DA SUA EFICÁCIA NATURAL PROCEDEM CONTRA A NATUREZA E PRATICAM UM ATO TORPE E INTRINSECAMENTE DESONESTO.

Não admira pois que, segundo atesta a Sagrada Escritura, a Majestade divina odeie sumamente este NEFANDO CRIME e algumas vezes o tenha castigado com a morte, como recorda Santo Agostinho: “Ainda com a mulher legítima, o ato matrimonial é ilícito e desonesto quando se evita a concepção da prole. Assim fazia Onã, filho de Judá, e por isso Deus o matou” (Sto. Agost., De conjug., livro, II n. 12; cf. Gn 38, 8-10.).

Por conseguinte, havendo ALGUNS que, AFASTANDO-SE MANIFESTAMENTE DA DOUTRINA CRISTÃ, ensinada desde o princípio e nunca interrompida, pretenderam publicamente proclamar, há pouco, DOUTRINA DIVERSA acerca deste modo de proceder, a Igreja Católica, a quem o próprio Deus confiou a missão de ensinar e defender a integridade e a honestidade dos costumes, posta no meio desta RUÍNA MORAL para preservar de tanta torpeza a castidade da união nupcial, PROCLAMA ALTAMENTE E DE NOVO PROMULGA PELA NOSSA BOCA: QUALQUER USO DO MATRIMÔNIO EM QUE, PELA MALÍCIA HUMANA, O ATO SEJA DESTITUÍDO DA SUA NATURAL FORÇA PROCRIADORA INFRINGE A LEI DE DEUS E DA NATUREZA, E AQUELES QUE OUSAREM COMETER TAIS AÇÕES SE TORNAM RÉUS DE CULPA GRAVE.

Por isso, em virtude da Nossa suprema autoridade e do cuidado da salvação de todas as almas, advertimos aos sacerdotes que se entregam ao Ministério de ouvir confissões, e todos os outros curas de almas, que não deixem errar os fiéis que lhes foram confiados em ponto tão grave da lei de Deus, e muito mais que se conservem eles próprios imunes dessas PERNICIOSAS DOUTRINAS e que, de nenhum modo, sejam coniventes com elas. Se, porém, algum confessor ou pastor de almas, o que Deus não permita, induzir ele próprio nestes erros os fiéis que lhe foram confiados, ou ao menos, quer aprovando, quer se calando culposamente, neles os confirmar, saiba que tem de dar contas severas a Deus, Supremo Juiz, de ter traído a sua missão, e considere que lhe são dirigidas aquelas palavras de Cristo: “São cegos e guias de cegos; e, se o cego serve de guia ao cego, ambos cairão no abismo” (Mt 15, 14; Santo Ofício, 22 de novembro 1922).”

* * *

A Solene Condenação diz: “QUALQUER USO”! Isto inclúi o método Billings! Pois tem o mesmo fim malicioso que o preservativo ou qualquer outro método artifical: EVITAR A GERAÇÃO DE FILHOS.

Devemos notar também que alguns poderiam interpretar o primeiro parágrafo [onde diz: “afirmam dever ser evitada cuidadosamente pelos cônjuges, não pela HONESTA CONTINÊNCIA (permitida até no matrimônio, pelo consentimento de ambos os cônjuges), mas VICIANDO O ATO NATURAL.”] sobre a HONESTA CONTINÊNCIA como se referindo ao método “natural” Billings.

Primeiramente que a continência jamais será honesta se tiver o fim de evitar fihos, pois que esta continência DESonesta não corta “o vício do ato natural”. Querem fazer o ato, mas NÃO querem que o fim principal deste ato (gerar filhos) aconteça. Então, fazem uma continência (desonesta) no tempo fértio da mulher, simplesmente para evitar a geração de filhos (muito contrária à honesta continência que São Paulo sob a divina inspiriração recomenda: para aplicar à oração – 1Cor 7,5), e depois voltam a praticar o ato de união no tempo de infecundidade da mulher, viciados no ato natural pelo prazer que dele usurfruem.

Sim, é verdade, a encíclica do Santo Padre Pio XI condena de fato qualquer uso do matrimônio aonde aconteça uma anulação da força natural procriadora num ato conjugal. Acontece que nos métodos naturais de regulação da fertilidade o ato conjugal não está destituído da sua natural força, eles continuam lá, e podem, se Deus desejar, fecundar uma nova vida. Isto porque nos métodos naturais, e isso inclui o método Billings que o sr. tanto gosta de citar, não há fechamento à possibilidade da procriação; a abertura à vida segue da forma como o Criador colocou no homem e na mulher. Neste método a mulher segue com seus 12 ciclos anuais, com seus 5 a 7 dias férteis em cada ciclo, e o homem, com sua fertilidade natural diária. O homem continua ejaculando esperma sem barreiras no canal vaginal, e a mulher segue acolhendo-o como é sem cancelar sua natureza ovulatória.

Ademais, Pio XI, associa também sua condenação à malícia humana. Dessa forma salienta que a ausência de justos juízos e a presença do egoísmo, já apontada no início de seu texto, é quem sempre faz o pecado e a culpa. Não é só uma questão de “pode” ou “não pode”, há também os elementos da retidão de consciência e da moralidade dos motivos em jogo, como bem lembra Pio XII na alocução de 29-X-1951: “só o fato de os cônjuges não atacarem a natureza do ato e estarem dispostos a aceitar o filho que, não obstante as suas precauções, venha à luz, não basta por si só para garantir retidão da intenção e a moralidade irrepreensível dos próprios motivos“. A coisa é um pouco mais complexa.

Um ato moral é feito de intenção, meio e fim bom, caro leitor. Para um ato ser imoral, basta que um único item seja perverso. Evitar a geração de filhos não pode ser um fim perverso em sí mesmo, este juízo depende de mais elementos. Nossa Senhora e São José não tiveram filhos, e os evitaram observando a perfeita continência. Foram depravados? Não! Foram santíssimos e elevados em glória diante de Deus e dos homens, porque tiveram uma sã e retíssima intenção, usaram de meios louváveis e buscaram nisso o fim da maior glória de Deus. Estás julgando e generalizando que todas as pessoas que evitam ter filhos em determinado momento o fazem por egoísmo e comodidade, como se não houvessem nenhum outro fator justo para se espaçar filhos:

Um aspecto particular desta responsabilidade diz respeito à regulação da procriação. Por razões justas, os esposos podem querer espaçar os nascimentos de seus filhos. Cabe-lhes verificar que seu desejo não provém do egoísmo, mas está de acordo com a justa generosidade de uma paternidade responsável. Além disso, regularão seu comportamento segundo os critérios objetivos da moral.
A moralidade da maneira de agir, quando se trata de harmonizar o amor conjugal com a transmissão responsável da vida, não depende apenas da intenção sincera e da reta apreciação dos motivos, mas deve ser determinada segundo critérios objetivos tirados da natureza da pessoa e de seus atos, critérios esses que respeitam o sentido integral da doação mútua e da procriação humana no contexto do verdadeiro amor. Tudo isso é impossível se a virtude da castidade conjugal não for cultivada com sinceridade” (CIC §2368).

Creio que vale salientar aqui as diferenças reais e objetivas entre o método natural e artificial:

“1º. Nos métodos naturais:
– os cônjuges seguem uma lei fisiológica natural, criada por Deus, que marca os ritmos da fecundidade periódica da mulher;
– o ato conjugal se realiza de forma normal;
– os esposos renunciam, responsavelmente e de comum acordo, ao uso do ato matrimonial nos períodos fecundos, respeitando as leis de Deus.

2º. Nos métodos antinaturais:
– bloqueia-se o processo generativo natural, utilizando fármacos ou dispositivos mecânicos que tornam anti-natural a união conjugal;
– por essa mesma razão, o ato sexual é em sí mesmo anormal, pois não se respeita a sua natureza, tornando-o artificialmente infencundo;
– os cônjuges desvirtuam assim a lei de Deus, atribuindo a sí próprios o direito de serem árbitros do nascimento ou da suspensão da vida humana” (Sexo e Amor, Rafael Llano Cifuentes – Ed. Quadrante, São Paulo, 1995; pág. 136, 137).

Além disso há uma idéia constante em vossos argumentos que transparece um certo maniqueísmo, um pensamento de que a busca pelo prazer no ato conjugal é perversa e culpável. Isto não tem nada de cristão caro sr. Bruno. As finalidades do ato conjugal são a procriação e também a união. Buscar a união no ato sexual, mesmo em períodos inférteis quando por motivos sérios e graves não se pode ter filhos, não é de modo algum um vício ou uma depravação já que se trata de um bem instaurado pelo criador na natureza humana.

A Igreja sempre reconheceu no prazer um dom divino dado gratuitamente ao homem. Santo Tomás de Aquino afirmava que para cada necessidade humana satisfeita, foi dada ao homem a faculdade de gozar um prazer específico anexo. Assim pois seguem muito prazerosas eventos necessários a sobrevivência e a procriação humana, como por exemplo, o descanso mediante o sono, a comida e a bebida, e o sexo. Tais prazeres são um bem e existem como um estímulo para que o homem sobreviva e procrie, para que espalhe a vida pelo mundo. Seria um grande perigo para a existência da humanidade se fossem retiradas o prazer das funções vitais; correriámos sério risco de extinção por falta de estímulo.

Neste sentido é o que diz a Summa Teológica: “É vicioso tudo aquilo que se opõe à ordem natural. Mas foi a própria natureza que colocou o prazer nas operações necessárias a vida humana. Por isso, a ordem natural exige que o homem desfrute desses prazeres, na medida em que são necessárias para a saúde humana, quer seja em ordem a conservação do indíviduo, quer da espécie“.

Quer dizer, Deus não fez uma brincadeira com o ser humano colocando prazer nas funções vitais e então proibindo-o de gozá-lo. Mas colocou um lugar e um tempo para que tais prazeres sejam gozados com racionalidade. A Igreja não proibe o ato sexual onde se busque o prazer dentro do matrimônio, porque como já visto acima, o prazer é um bem.

Neste sentido afirma o Papa Pio XII: “O próprio Criador… estabeleceu que nesta função (i.é, de geração) os esposos sentissem prazer e satisfação do corpo e do espírito. Portanto, os esposos não fazem nada de mal em procurar este prazer e em gozá-lo. Eles aceitam o que o Criador lhes destinou. Contudo, os esposos devem saber manter-se nos limites de uma moderação justa” (CIC, 2362). E ainda o Catecismo: “Os atos com os quais os cônjuges se unem íntima e castamente são honestos e dignos. Quando realizados de maneira verdadeiramente humana, testemunham e desenvolvem a mútua doação pela qual os esposos se enriquecem com o coração alegre e agradecido” (CIC, 2362; GS, 49).

Julgar que todo ato sexual que busque a união em período menos favorável a geração de filhos, por necessidade, é egoísta, porque busca o prazer matrimonial, é fechar os olhos para a dimensão esponsal da relação conjugal, expressão da entrega mútua e da doação do casal, fundamental e essêncial para a constante revitalização da dinâmica do amor humano.

“Ouve-me, e eu te mostrarei sobre quem o demônio tem poder: são os que se casam, banindo Deus de seu coração e de seu pensamento, e se entregam à sua paixão como o cavalo e o burro, que não têm entendimento: sobre estes o demônio tem poder. Tu, porém, quando te casares e entrares na câmara nupcial, viverás com ela em castidade durante três dias, e não vos ocupareis de outra coisa senão de orar juntos.” (São Rafael, Tb 6,17-18)

* * *

Quanto mais filhos, melhor.

Eu diria, quanto mais se cumpre a vontade do Senhor, melhor. Que cada casal tenha quantos filhos Deus deseje os enviar.

Será que o casal Beltrão Yánez de Onaz y Loyola & Marina Sáenz de Licona y Balda (séc. XV – XVI) seguiria algum método (artificial ou natural) de evitar filhos, se vivessem nestes nossos dias tão pervertidos e repleto de heresias enganadoras e camufladas? Se o fizessem, não nasceria aquele santo gigante, Santo Inácio de Loyola, 13º filho do casal…

O que dizer então do tintureiro Giacomo di Benincasa (sec. XIV) que após 23 filhos, recebeu a benção gigante, para si e para a Igreja, de ter Santa Catarina de Sena como a 24ª criança?

E Santa Teresinha de Lisieux (Teresinha do Menino Jesus), que foi a 9ª criança do casal Louis Martin e Zelie Guerin!

Não nos cabe responder. A divina providência sabe porque colocou cada pessoa em cada época, tempo e lugar. Ademais, a situação social e econômica destes períodos são abismávelmente diferentes das atuais, com estruturas sociais e familiares tão incomparáveis, que qualquer paralelismo superficial grita à injustiça. O que importa saber é que em todos os tempos e épocas nosso bom Deus deu a graça e os meios para que todas as pessoas respondessem generosamente à vontade divina e que cobrará cada consciência disso. A associação que o sr. faz de santidade com o número de filhos pelo simples fato de tê-los é farisaica, positivista. Esqueces a intenção, os meios, os fins, e até a vontade do Senhor Deus que muito bem pode desejar dar apenas um ou dois filhos a algum casal (e também os meios para educá-los) sem que isso afete em absoluto a graça santificante em suas almas.

Obrigado desde já pela respota. Espero que dêem uma resposta esclarecedora e tenham coragem de publicar na íntegra para esclarecer não somente a mim (se eu estiver enganado), mas outros tantos que pensam do mesmo modo que deixei bem claro aqui.
Atenciosamente,
Bruno.

ps:
“PROCURAI MULHER E GERAI FILHOS E FILHAS,
PROCURAI MULHERES PARA VOSSOS FILHOS,
E DAI VOSSAS FILHAS A MARIDOS PARA QUE DÊEM AO MUNDO RAPAZES E MOÇAS.
MULTIPLICAI-VOS EM LUGAR DE DIMINUIR.” (Diz o Senhor, Jr 29,6)

Esperamos ter sido úteis. Em Cristo Jesus:

 

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