Leitor não compreende artigo e nos acusa de “patriarcais”

Pergunta

O artigo “Até que a felicidade os separe” é um verdadeiro absurdo. Embora eu considere importante combater o hedonismo e a exaltação do sexo na sociedade atual, e acredite que o divórcio está acabando com a família (e sei disso porque meus pais não eram casados e se separaram pouco depois de eu nascer), mas dizer que o casamento não deve ter como objetivo comum construir uma união feliz é completamente anacrônico: e deve-se ter cuidado com exaltações ao modelo antigo de família: naquele caso, o pai era o chefe supremo, os filhos e a mulher tinham de obedecê-lo cegamente (inclusive no que tocava à profissão que escolhiam), e o adultério masculino era freqüente. Isso é o que se chama de “uma sociedade ideal”? O casamento deve ter como objetivo construir uma família, sim, mas isso deve ocorrer num ambiente de amor, carinho e compreensão. Espero não ver entre os próximos artigos posições defendendo uma educação avara de afetos para com os filhos e o espancamento gratuito deles. Ficaria muito decepcionado.

Resposta

Olá caríssimo sr. Renan, que satisfação é receber vosso contato e vossa mensagem. Desejamos a paz e a graça da parte de Nosso Senhor a vós e a toda a vossa família.

O artigo “Até que a felicidade os separe” foi publicado na seção de opiniões do site Veritatis Splendor, e como qualquer opinião, está também passível de discordâncias por parte dos leitores. Contudo os vossos argumentos contra o referido artigo parecem não fazer muito sentido com o que efetivamente está sendo proposto e escrito. A impressão sincera é a de que o sr. não leu, ou pelo menos não soube interpretar o texto, ferramenta tão importante para o ato de julgar.

O artigo não defende que o casamento não deva ser uma instituição feliz e que não busque a felicidade, pelo contrário, apenas tentar ordenar quais os motivos estão por trás da existência do casamento e da família e demonstrar como é muito mais necessário ter em mente valores como o autruísmo, a fraternidade e o amor para então se chegar a uma felicidade verdadeira que não seja fruto do egoísmo: “necessitamos de um ambiente de confiança e intimidade, onde não entre a competição e a disputa, onde cada um conduza o outro a felicidade, mesmo que à sua maneira, e onde não entre a possibilidade de ruptura“. E em seguida fecha-se o raciocínio com uma proposição muito simples: “que mudemos o foco do porquê decidimos e queremos nos casar; podemos acabar sendo mais felizes e tendo casamentos mais duradouros“. No fundo tal proposta tem como última finalidade incrementar a felicidade e a harmonia familiar a partir de valores e atitudes anteriores que abram os cônjuges um para o outro e os coloquem acima de emoções e sentimentalismos passageiros: “laços de união e parentesco não estão atrelados necessariamente a uma emoção, a um sentimento, ou a auto-satisfação, mas ao compromisso de ser família“. Quer dizer, que se busque a felicidade, mas não ao ponto de ser a única busca de um casamento.

Em nenhum momento se defende a tese de que a construção de uma felicidade comum deva ser posta de lado, e que se deva voltar ao modelo antigo familiar para se criar uma sociedade ideal, mas que sim, os pontos positivos sejam conservados (que afinal são os únicos no artigo exaltados). E não é verdade que o modelo antigo familiar era como a que o sr. descreve, ainda mais no que concerne a questão do adultério, tão menos frequente do que atualmente a ponto de ser já despenalizado. Se voltarmos ao tempo veremos sociedades muito mais cristianizadas, com valores e missões muito mais em consonância com o Evangelho e onde a confiança, a obediência, e a entrega eram muito mais postas em atlo do que atualmente.

Parece que o sr. tem um lapso ainda quando escreve que este artigo tem “posições defendendo uma educação avara de afetos para com os filhos e o espancamento gratuito deles“; mais uma vez tem-se a sincera impressão de que o artigo não foi lido em sua intregalidade por receber acusações que simplesmente não procedem do mesmo.

Leia atentamente a seguinte passagem do artigo: “Se tenho noção de que me caso para criar e formar uma família acima de tudo, para entregar à sociedade pessoas maduras, serenas, com virtudes, para afinal de contas deixar ao mundo um legado que valha a pena, então naturalmente a felicidade aparece“. Pessoas maduras, serenas, com virtudes, que possuem uma natural felicidade, combinam para o sr. com pessoas espancadas, com baixa-estima, em desafeto e com educação avara?  Caro sr. Renan, isso não faz o menor sentido!

Agradecemos o contato e esperamos ter esclarecido as vossas considerações, que postas ao lado do artigo “até que a felicidade os separe” simplesmente não resistem.

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