Leitor pergunta sobre a Ordem de Santo André

Caríssimo sr. Lúcio, estimado em Cristo,

Dom Salomão Ferraz foi um Bispo católico, sagrado por Dom Carlos Duarte Costa. Este último tinha sido Bispo de Botucatu e deposto do cargo por insubordinação a Roma, assumindo, então, como Bispo Titular de Maura, i.e., de uma Diocese extinta, apenas de modo honorífico (como o são os Bispos auxiliares, coadjutores ou com cargos apenas na Cúria Romana).

Persistindo as graves perturbações e heresias no ensino de Dom Duarte, foi pela Santa Sé excomungado, mas antes fundara a Igreja Católica Apostólica Brasileira, com a sagração de Dom Salomão Ferraz, em 1945. Esta sagração foi, pois, válida – porque operada pelo ministro válido, e utilizando-se de forma, matéria e intenção válidas -, porém ilícita – pela falta de mandato apostólico, i.e., de autorização do Papa. Mais tarde, em 1963, consta que Dom Salomão tenha sido recebido na Igreja Católica Romana, sendo-lhe dado o título de Bispo de Eleutherna. Morreu, portanto, ao que parece, rompendo com o cisma que ajudara a fundar e em paz com a Igreja de Cristo.

Cumpre salientar que, antes do rompimento definitivo de Dom Duarte com a fundação oficial da "Igreja Brasileira", Dom Salomão já se fazia passar por Bispo, o que não era. Assim, antes de 1945, Dom Salomão era apenas padre, e sua "sagração" era não só ilícita como inválida (ou até inexistente). Após essa data, pelas mãos de Dom Duarte, passa a ser Bispo válido, com uma sagração ilícita, contudo. Em 1963, abjurando o erro, e voltando à comunhão com Roma, sua sagração passa a ser considerada lícita.

Antes de seu arrependimento, porém, Dom Salomão fundara um arremedo de instituição religiosa no seio da "Igreja Brasileira": a Ordem de Santo André. Rompendo com Dom Duarte, e, portanto com a "Igreja Brasileira", a tal "ordem" foi transformada em uma nova "igreja". É próprio do erro produzir mais erros. Abismo atrai abismo. Natural que de um cisma nasça outro cisma. Vemos isso nas assim chamadas Igrejas ortodoxas: cismáticas em relação a Roma, entre elas surgem divisões e cismas internos (ex.: Igreja Ortodoxa Russa Fora das Fronteiras e Igreja Grega do Antigo Calendário, sem comunhão com os Patriarcados de Moscou e Constantinopla). Do cisma pernicioso de Dom Duarte, é iniciado por Dom Salomão um outro cisma! O "filho" revolta-se contra a "mãe"… Já na "carta pastoral" publicada por Dom Salomão após sua ilícita sagração, sobram elogios a todos, e nenhuma palavra há de agradecimento ao seu sagrante, Dom Duarte. Desse época, já se vislumbra uma divisão no meio da cismática "Igreja Brasileira".

O itinerário de Dom Salomão não deixa de ser sociologicamente interessante: é co-fundador de uma seita (a Igreja Católica Apostólica Brasileira), sagrado por Dom Duarte; briga com seu sagrante e funda uma outra seita (a Ordem de Santo André); arrepende-se de tudo e pede reentro na Igreja Católica Apostólica Romana.

De tudo isso, resta a conclusão de que o Papa está sempre de braços abertos a espera dos filhos arrependidos. Ele é o Vigário de Cristo, e, como Ele, um bom pastor.

Também fica o alerta para que o consulente evite, de todos os modos possíveis, o contato com essa perniciosa seita da Ordem de Santo André, que não é católica, não professa a mesma doutrina de Cristo, não tem comunhão com o Sucessor de Pedro, o Apóstolo que conduz a barca da Igreja para que ela, pela assistência do Espírito Santo, enfrente as tempestades e não deixe sobre si prevalecerem as portas do inferno.

Não esqueçamos, enfim, de que há há outros grupos com o nome de Ordem de Santo André (ordens de cavalaria ou honoríficas, que conferem distinções a pessoas que se destacaram). Não devemos confundi-las com a "ordem" fundada por Dom Salomão.

Em Cristo,