Leitor pergunta sobre a Renovação Carismática Católica

Rondinelly Alves Santos

Data: terça-feira, 13 de abril de 2004 08:35:27

O que é a Renovação Carismática?

Eu posso considerá-la como uma religião diferente da Religião Católica?

Desde já, obrigado.

O que é a Renovação Carismática?  

1 – HISTÓRICO

A Renovação Carismática na Igreja completou mais de 30 anos. Surgiu logo após o encerramento do Concílio Vaticano II, um entre muitos movimentos do Espírito na Igreja.  

O Pentecostalismo, de longa data presente no Protestantismo, teve seu despertar com o surgimento de novos movimentos no início do século XX, nos Estados Unidos, difundindo-se pelo mundo. A partir de 1967 penetrou na Igreja Católica com o nome de Renovação Carismática Católica ou Renovação no Espírito.

O início deve-se a um grupo de professores e alunos da Universidade Católica da Pensilvânia e da Universidade Católica de Indiana. Em 1967 realiza-se o primeiro Congresso do movimento. O movimento carismático chega ao Brasil em 1972 através dos jesuítas. Fala-se hoje de cerca 40 milhões de adeptos católicos no mundo, dos quais 30% na América Latina.

Na sua organização, a RCC se apresenta em nível internacional com o ICCRO (= Internacional Catholic Charismatic Ofice – em Roma); – em nível latino-americano em Bogotá com realização de encontros cada 2 anos; – em nível nacional tem um conselho nacional de 15 membros, que se reúne 2 vezes por ano; – existem as equipes regionais de acordo com os Regionais da CNBB.

A Comissão Nacional se encontra em Brasília e consta de 7 membros, que atende as equipes regionais, promove encontros nacionais e edita o Boletim Nacional.- Em nível local o núcleo ou equipe de servos organiza reuniões.

2. – LINHAS DOUTRINAIS.

1. A RCC deseja dar uma teologia trinitária, centrada, porém na pessoa e missão do Espírito Santo. Jesus, em sua humanidade, recebe o Espírito e o envia. E a Igreja, como sacramento de Cristo, estende aos homens a unção do Cristo pelo Espírito Santo, que permanece na Igreja como perpétuo Pentecostes. A plenitude de vida no espírito é um bem comum da Igreja, embora nem todos se apropriem com igual intensidade. Sem Espírito e seus carismas não há Igreja. Neste sentido todo cristão deve ser carismático. Os ministérios são carismas de modo que não há oposição entre Igreja institucional e Igreja carismática. Propõe um sopro do Espírito Santo para os cristãos terem uma experiência pessoal e vida da presença e ação de Deus, fazendo-os reconhecer que Jesus Cristo é o Senhor de suas vidas, da Igreja e da história. Professa um novo Pentecostes, levando a uma vida nova, de acordo com o Espírito.

2. Valoriza a oração individual e comunitária, principalmente de louvor, a partir da vida e da Palavra de Deus. Através de reuniões semanais e Seminários de Vida deseja evangelizar e aprofundar o estudo da Sagrada Escritura.

3. Não pretende constituir uma estrutura, mas engajar-se nas estruturas já existentes da Igreja: CEBs, paróquias e dioceses. Põe-se a serviço da Igreja para a renovação espiritual.

4. O plano de ação se desenvolve em diversos níveis com a associação dos servos, e procura se situar diante das realidades locais, buscando assim espiritualidade e atividades variadas, quase sempre fundamentadas no tripé: testemunho, perseverança e crescimento.

3. -AVALIAÇÃO.

É útil recordar que o Conselho Permanente publicou orientações, ressaltando tanto os pontos positivos, como negativos, chamando a atenção para alguns pontos considerados essenciais. O Documento 53 da CNBB: “Orientações Pastorais sobre a Renovação Carismática Católica” é um instrumento válido e claro para ajudar o Movimento a crescer e ser útil à Igreja.

Resumimos alguns pontos.

1. Aspectos positivos. Assinalam-se os seguintes: a busca da oração individual e comunitária, o amor à palavra de Deus, a disponibilidade à vontade de Deus, a manifestação dos carismas, a maior união familiar, o sentido de louvor, a valorização do Espírito Santo, a redescoberta do papel de Maria, a freqüência aos sacramentos, e o surgimento de vocações sacerdotais e religiosos.

2. Aspectos negativos. A oração em línguas pode gerar a impressão de constituir ponto alto de espiritualidade e o dom das curas cair no curandeirismo, sem valorizar suficientemente o mistério da cruz e o valor salvífico do sofrimento. – O repouso no Espírito pode ocasionar um clima de histeria coletiva e levar à debilidade psíquica, e o apelo indiscriminado aos carismas ocasionar confusões e fanatismo, sem distinguir dom do Espírito e desvio psicológico. O chamado “batismo no Espírito” pode criar confusão em relação às dimensões do sacramento do batismo. – A fácil credibilidade em profecias e visões podem levar as pessoas a ser joguete do vento de qualquer doutrina, comprometendo a fé católica. – A insistência unilateral – pneumatológica – pode deixar sombras no mistério da Encarnação; – o fechamento na própria espiritualidade, como única “renovada”, causa tensões na própria Igreja; – a interpretação da Sagrada Escrituras, sem a devida preparação e orientação, pode gerar um fundamentalismo e um intimismo não condizentes com a fé católica. – A insistência nos exorcismos e na ação maléfica do demônio produz a impressão de que ele é o senhor do mundo e assim esvaziar a ação libertadora de Cristo. – Algumas práticas, como a unção do óleo, aclamações durante e após a Consagração, a comunhão fora da Missa, podem ser utilizadas fora do espírito litúrgico.

Os pontos acima são reais, se não houver sólida formação ou se a coordenação da RCC não estiver na mão de pessoas equilibradas e de preparação eclesial.

CONCLUSÃO

Esta exposição da teologia dos movimentos destaca apenas alguns pontos, que pareceram importantes para despertar estudo mais aprofundado. Sabe-se da variedade de opiniões a favor e contra.

Os Movimentos possuem estrutura própria, espiritualidade própria, orientação própria, líderes próprios. Eles podem ser dentro da Igreja autêntico fermento evangelizador, como podem criar igrejas paralelas. Se permanecerem fermento evangélico, poderão prestar grande ajuda às pastorais; mas se se firmarem como igrejas paralelas, fechadas em si mesmas, podem prejudicar a evangelização, a pastoral, a Igreja em sua missão evangelizadora. Por isso, é indispensável que os Movimentos e Grupos se insiram na pastoral de conjunto de toda a ação evangelizadora e pastoral
da Igreja.

Sugere-se que teólogos e pastoralistas das várias tendências examinem atentamente todos os aspectos, – positivos e negativos, – de cada movimento, para assim se chegar a uma sadia e proveitosa discussão a bem da Igreja e da evangelização.

Itaici, Indaiatuba-SP, abril de 1997.

Comissão Episcopal de Doutrina – Teologia dos Movimentos 

“Batismo no Espírito Santo”

Há várias abordagens possíveis para um entendimento da Renovação Carismática. Da perspectiva da história da salvação, fica evidente a ligação com a descida do Espírito Santo em Jerusalém no dia de Pentecostes, o que, quando interpretado à luz do chamado universal à santidade, explica perfeitamente as características essenciais da Renovação.

Para os que se abrem à Renovação, a nova vida em Cristo relaciona-se com a experiência espiritual chamada “batismo no Espírito Santo”, “derramamento do Espírito” ou “manifestação do Espírito Santo”. A expressão “batismo no Espírito Santo” (cf. Mc 1,8; At 1,5; 11,16) exige, claro, uma descrição mais exata. A expressão passou a descrever a experiência primordial com o Espírito Santo, na Renovação Carismática como um todo – exceto em regiões de língua francesa e italiana, nas quais “derramamento do Espírito” é mais comum.

1. A GRAÇA DE PENTECOSTES

O “batismo no Espírito Santo” é experiência concreta da “graça de Pentecostes” na qual a ação do Espírito Santo torna-se realidade experimentada na vida do indivíduo e da comunidade de fé.

A experiência do “batismo no Espírito Santo” é a “percepção” incontestável e às vezes avassaladora da amorosa proximidade de Deus proclamada na mensagem da Igreja e encontrada no ato individual de fé. É um limiar de vida espiritual que atravessamos, trazendo confiança no Pai e o desejo de estar aberto ao ensinamento do Espírito Santo. Aprofunda constantemente nossa fé, desse modo confirmando nosso conhecimento de “realidades que não se vêem” (Hb 11,1) e tornando possível a percepção da presença efetiva de Deus. Essa percepção experiencial revela Deus em Seu cuidado amoroso e paternal. Essa revelação de Deus atrai, abre novas categorias de pensamento, revela novos propósitos e desejos, esclarece a importância da Vontade divina, bem como da pecaminosidade humana e da necessidade de arrependimento. Essa experiência assemelha-se à de S. João da Cruz, quando ele afirma: “Não chegará à perfeita compreensão disso, penso eu, quem não o houver experimentado. Só a alma que o experimenta, vendo que lhe fica por entender aquilo que tão altamente sente, chama-lhe ‘um não sei o quê’. E, se o não compreende, muito menos o sabe dizer, embora, como explicamos, bem o saiba sentir”.

Com freqüência acompanhada do dom das línguas (“glossolalia”) (cf. 1Cor 14), essa experiência é, às vezes, também acompanhada de lágrimas. É experiência que não exclui as emoções humanas na descoberta da bondade e da misericórdia divinas. É experiência espiritual de sede, que encontra satisfação na única fonte interior verdadeira, um rio imenso que jorra pacificamente no qual podemos submergir (cf. Jo 7,37s). Para muitos participantes da Renovação, esses e outros efeitos empíricos do dom do Espírito Santo podem ser especificamente datados. Ligam-se a um acontecimento experimentado como intervenção intelectual e emocionalmente localizada. O “derramamento do Espírito Santo”, é introdução decisiva a uma renovada percepção e a um novo entendimento da presença e da ação de Deus na vida pessoal e no mundo. É, em suma, a redescoberta experiencial, na fé, de que Jesus é Senhor pelo poder do Espírito para a glória do Pai. Enraizado na graça batismal, o “batismo no Espírito” é essencialmente a experiência da renovada comunhão com as Pessoas divinas. É abertura e manifestação da vida trinitária nos que foram batizados.

Entretanto, com essa experiência, não estão em jogo apenas as emoções. O indivíduo é iluminado com nova luz de autocompreensão. A dimensão experiencial transcende a emocional, mesmo quando a faculdade emocional do indivíduo é profundamente afetada. É inquestionável que tal experiência tem lugar e sentido legítimos para a vida de fé do cristão. É possível que, dessa maneira, os elementos da fé objetivamente válidos e dados – em especial a eleição e o chamado à graça e sua confirmação no sacramento do batismo – tornem-se subjetivamente mais óbvios e compreensíveis.

A prece para o “derramamento do Espírito” é oração de entrega pessoal ao Senhor Jesus Cristo. Ocorre com mais freqüência no contexto das orações de intercessão dos participantes de uma comunidade de oração. Aqui, manifesta-se a dimensão de communio do Espírito de Deus. Em geral, ele escolhe o caminho de mediação pelos irmãos e irmãs na fé, isto é, pela comunidade de fé da Igreja. Não se isola da Igreja em sua concreta expressão de comunidade, mas sim une os fiéis nessa comunidade. Em comunhão fraterna e com confiança na bondade do Senhor inspirada pela experiência deles, os participantes da comunidade de fé ajudam o indivíduo a se entregar simples e profundamente à ação do Espírito Santo. Em geral essa oração é acompanhada pelo gesto de impor as mãos na cabeça ou no ombro da pessoa, o que expressa comunhão, proximidade fraterna e zelosa e encorajamento. A imposição das mãos não é rito sacramental, embora esse gesto esteja muitas vezes presente na celebração dos sacramentos. É, antes, gesto cotidiano que a tradição judeu-cristã sempre conheceu e praticou.

Devemos acrescentar que “batismo no Espírito” é um dom de Deus gratuito e imerecido e, em geral, fruto de uma decisão livre, um passo de conversão, um ato de confiar tudo a Cristo, o Senhor, de entregar nossa vida toda a Ele, para que Ele a transforme. É também a decisão de se entregar ao Espírito Santo, sem estabelecer limites para a livre ação divina, decisão de receber na fé a plenitude da graça divina. Para os fiéis, esse é apenas um meio de reviver a graça do batismo, que muitas vezes está, por assim dizer, inoperante dentro da alma, e permitir que ela produza todos os seus frutos potenciais. “Desde o momento de nosso batismo, a graça está oculta nas profundezas de nossa inteligência, sua presença escondida até da percepção interior; mas quando começamos a desejar Deus com todas as forças, então, em uma palavra inexprimível da percepção interior da mente, ela deixa a alma partilhar suas boas coisas”. Com demasiada freqüência, indivíduos batizados não tiveram um encontro genuíno com o Senhor; “muitas vezes não se verificou a primeira evangelização” e ainda não há “adesão explícita e pessoal a Jesus Cristo” (CT 19). Portanto, como renovação da graça batismal em um encontro pessoal com o Senhor Jesus, o “batismo no Espírito” não substitui a necessidade de catequese, mas exige-a. Quando não ocorre nos elementos básicos da fé católica, é preciso proporcionar tal catequese. Naturalmente, uma continuação dessa catequese também é necessária. A decisão fundamental de confiar nossa vida na fé a Jesus Cristo torna indispensável também um crescente conhecimento concreto de Sua pessoa, Seus ensinamentos e Seus feitos salvadores; em outras palavras, conhecimento de Sua Palavra e dos ensinamentos de Sua Igreja, o que geralmente ocorre nos grupos de oração e nas comunidades da Renovação por intermédio de “Seminários da vida e do Espírito”. Essa catequese para adultos prolonga-se, com freqüência, por várias semanas, com o objetivo não só de recordar os principais elementos da fé, mas também de inspirar uma dedicação mais pessoal ao Senhor Jesus e a expectativa de uma experiência pentecostal de Seu Espírito Santo.

É sempre difícil analisar a experiência religiosa, em especial porque ela varia bastante de pessoa para pessoa. É nos frutos de tal experiência que se torna evidente até que ponto a experiência religiosa contribui para uma verdadeira renovação da vida cristã. A tradição espiritual ensina que é comum os fiéis suportarem períodos – às vezes até prolongados – de secura e aridez interior, períodos aparentemente sem nenhuma experiência espiritual significativa. Essa aridez nem sempre deve ser interpretada como resultado de falta de abertura ao Espírito Santo. Os mestres espirituais ensinam que os fiéis podem glorificar a Deus pela fidelidade, em especial nas ocasiões em que parecem estar privados do conforto da presença divina.

Por fim, devemos reconhecer que essa profunda “percepção” do relacionamento pessoal com Jesus Cristo a que a Renovação chama “batismo no Espírito Santo” ou “derramamento do Espírito Santo” não faz parte de nenhum movimento em particular, mas da Igreja, que celebra os sacramentos da iniciação.

2. INTERPRETAÇÃO TEOLÓGICA

“Batismo no Espírito Santo” é expressão de uma realidade ainda não perfeitamente esclarecida. O que se segue é uma tentativa de contribuir para futuras reflexões em nosso esforço de entender a realidade do “batismo no Espírito Santo” à luz da teologia e da tradição viva da Igreja. Às vezes, ele pode parecer uma novidade de nossa época, mas há provas dessa experiência em toda a história da Igreja. Em todas as épocas da Igreja, há momentos iniciais na vida dos fiéis de um encontro vivo, uma percepção real, um sabor e um gozo de Deus.

  1. A Igreja afirma que, juntamente com a eucaristia, os sacramentos do batismo e da confirmação são os da iniciação à comunhão com Deus e a confraternidade do povo de Deus. Contudo, os teólogos fazem distinção entre o “banho do novo nascimento” (cf. Tt 3,5) e a concessão do Espírito Santo pela imposição das mãos (p.ex., At 19,1-7), demonstrada claramente pela erudição bíblica e patrística. Os dois aparecem na iniciação cristã, juntos ou separados, mas relacionados um com o outro.
  2. Em movimentos dentro e fora da Igreja, a expressão “batismo no Espírito Santo” é usada em muitos sentidos. Aqui mencionamos dois. Primeiro, um uso bastante amplo de “batismo no Espírito Santo” com respeito à experiência de receber os dons proféticos, em geral pela imposição das mãos em um contexto não-sacramental. Segundo, “batismo no Espírito Santo” é usado com respeito à experiência de receber o Espírito Santo com a vida de graça, juntamente com a recepção dos carismas, como parte integrante da iniciação cristã, ou como reapropriação ou inspiração mais tardia em um contexto não-sacramental do que já foi recebido na iniciação. Neste documento, entendemos “batismo no Espírito Santo” nesse segundo sentido, a menos que seja indicado o contrário.
  3. Falando-se apenas de uma experiência subjetiva certa, isto não é sacramento, embora possa acompanhar a verdadeira ação sacramental ou a reapropriação da iniciação. A experiência subjetiva, portanto, não pode, por si só, ser considerada necessária para se tornar cristão.
  4. Devido à estreita relação de “batismo no Espírito Santo”, no segundo sentido, com a iniciação cristã, está claro que ele não faz parte de nenhum movimento dentro da Igreja, mas da própria Igreja.
  5. Embora mantendo a estreita relação de iniciação à recepção dos carismas, precisamos também dizer que os carismas nunca estão ligados aos sacramentos em sentido absoluto. Os carismas também não são “coisas”. São o meio de o Espírito encontrar “visibilidade” no serviço da Igreja e no mundo. Por muitas razões, os carismas podem, em algum momento, estar inoperantes ou não plenamente operantes. A reapropriação de nosso batismo sacramental pode ser um momento dotado de graça quando os carismas se manifestam como realidade experimentada. Essa experiência que abrange o intelecto, a vontade e as emoções é diversas vezes acompanhada de uma experiência de Poder que se identifica espontaneamente com o poder do Espírito Santo. Esse Poder é percebido diretamente relacionado com a missão. Manifesta-se em fé corajosa, inspirada pelo amor, que nos torna capazes de empreender e realiar grandes coisas para o Reino de Deus. Outro resultado característico dessa percepção de Presença e Poder é a intensificação de uma vida de oração, na qual somos, em especial, atraídos à oração de louvor. Em geral, percebemos essa experiência renovadora como uma espécie de ressurreição que freqüentemente se expressa em alegria e entusiasmo, mas, claro, não impede a experiência da cruz (cf. 2Cor 4,10). E, acima de tudo, deve ser mantida por um arrependimento constante (metanóia).
  6. Entendido corretamente, esse “derramamento do Espírito” não obscurece o fato de que o indivíduo que se aproxima de Deus aproxima-se de uma Pessoa objetiva. Quem busca é orientado para uma Realidade que não pode ser “entendida” pela experiência, nem pelas emoções ou pelo intelecto do indivíduo. Deus revelou-se Palavra e na história da salvação. O “eterno poder e a eterna divindade” de Deus tornam-se realmente “visíveis” e são, portanto, para todo indivíduo, verdade objetiva; Deus não pode ser reduzido àquilo que é experimentado subjetivamente. Toda realidade que a pessoa enfrenta transcende sua capacidade intelectual e emocional individual de compreensão. Somos muito mais limitados ao ser confrontados pelas infinitas Existência e Personalidade de Deus.

Portanto, o apoio fundamental da “prova subjetiva” para o ato de fé, à medida que este ocorre no “batismo no Espírito Santo”, não dispensa a necessidade do esforço para entender e aceitar o “conteúdo objetivo de fé” que é revelado.

  1. No batismo de água, o indivíduo nasce para uma nova vida. É o sacramento que realiza e dá testemunho desse acontecimento de fé, mesmo quando esse início espiritual permanece oculto à percepção puramente humana. Por outro lado, a realidade espiritual torna-se tangível na dimensão empírica. O que é batizado entende, no fundo do coração, que Deus opera em sua vida, e seus companheiros cristãos vêem isso em seu comportamento. Desse modo é possível que a graça do batismo seja experimentada em carismas discerníveis que edificam “o corpo de Cristo” (Ef 4,12).

A tradição eclesial está ciente de expressões diversas que abrangem essa manifestação de realidade espiritual ou tentam pôr em palavras seus efeitos:

·        “A sabedoria, que instrui, torna a pessoa sagaz e leva à perfeição” – Orígenes.

·        “A unção, que possibilita o conhecimento de toda realidade espiritual” – Dídimo, o cego.

·        “A sabedoria, que revela Cristo em toda a sua grandeza” – Basílio Magno.

·        “A fé, que não é só dogmática, mas realiza atos que excedem a capacidade humana” – Clemente de Alexandria.

Embora pareçam abstratos, esse termos, que são apenas indicativos e poderiam facilmente ser multiplicados com os escritos dos Padres primitivos, pretendem abranger a própria mudança concreta na vida dos fiéis, que se realiza pela recepção de nova vida em Cristo.

  1. É o dom do Espírito que intervém na vida dos que vão ser batizados e produz essa mudança de vida. Sua descida sobre o indivíduo provoca a renovação da natureza espiritual e intelectual. Mais uma vez, expressões teológicas ajudam a entender melhor esse acontecimento. As expressões usadas nas Escrituras têm força especial e confiabilidade a esse respeito:

·        “Unção do Espírito Santo” (Is 61,1; Lc 4,18; At 10,38; 2Cor 1,21s; 1Jo 1,20-27).

·        “Derramamento do Espírito Santo” (Is 32,15; Ez 39,29; Zc 12,10; At 2,17; 10,45; Rm 5,5; Tt 3,5s).

·        “Batismo no Espírito Santo” (Is 1,16; 44,3s; Ez 36,25s; Mc 1,8; At 1,5; 11,16).

A Tradição da Igreja também mostra a importância dessa experiência espiritual para o conhecimento em busca de perfeição. Mostra-a como limiar de conversão, encontro compreensivo com o Senhor Jesus ou como toque delicado do Espírito Santo, que leva os fiéis a uma educabilidade ainda maior.

  1. É, por fim, a Igreja que dá aos fiéis que buscam a experiência espiritual liderança e orientação insubstituíveis; o indivíduo, bem como o grupo, falíveis em seu entendimento, encontram na Comunidade de Fé a interpretação fidedigna da Palavra de Deus e Sua instrução obrigatória. Só a Igreja garante as verdades da Fé, pois a ela foi feita a promessa do Senhor, de que Ele a manteria na verdade (cf. LG 12). Portanto, o indivíduo e a comunidade apostólica continuam dependentes da Igreja.

Texto retirado das páginas 23 a 32 (capítulo “A Experiência do Espírito Santo e seus Frutos”). Reflexões Sobre A Renovação Carismática Católica, Autor: D.Paul Josef Cordes, Editora: Loyola

Eu posso considerá-la como uma religião diferente da Religião Católica?

Não! Caro Rondinelly, apenas seja fiel a  Igreja e não faça da religião antropocentrismo ( Deus a serviço dos homens ) e sim teocentrismo ( Deus é o centro das atenções, o homem a serviço de Deus ).

A Paz de Cristo e o Amor de Maria!

Alessandro Manoel da Silva ( NINO )

 

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