Leitor pergunta sobre culto aos santos e idolatria.

[Leitor autorizou a publicação de seu nome no site] Nome do leitor: Eduardo Fernandes
Cidade/UF: RIo de Janeiro / RJ
Religião: Católica

Mensagem
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Prezados da Veritatis,

Salve Maria!

Graças a esse maravilhoso sítio, estudei mais e melhor, aprendi muitas coisas edificantes que em lugar algum eu poderia encontrar. Deus abençoe cada vez mais vocês que fazem parte dessa associação maravilhosa em defesa da verdadeira fé, una, santa, católica e apostólica. Gostaria de compartilhar com vocês uma dúvida, que acredito ser de muitas pessoas, só que muitas delas ainda não pararam para pensar. Entendo a questão das imagens, do culto aos santos, à Maria, e acredito piamente nisso.

Mas temos que concordar que tais coisas podem estar em mãos de pessoas que não tem conhecimento suficiente para discernir o que é certo do que é errado, criando assim uma linha muito tênue entre os cultos aos santos, às imagens e à Maria, e a idolatria. Minha pergunta fundamenta-se nessa base, até onde vai a idolatria? Até onde tais cultos podem nos levar ao pecado? Pergunto isso pois vejo, seja na televisão ou na minha paróquia mesmo, coisas que considero errôneas a luz da nossa fé. Por exemplo, costumo assistir durante a semana a missa na TV Rede Vida, lá em Aparecida – SP. Sinceramente, acho que louvam tanto Maria que esquecem de Jesus. No final da missa, os padres elevam a imagem de Nossa Senhora Aparecida e pedem para que as pessoas aplaudam a imagem enquanto ela passa pela Igreja. Depois, curvam-se diante dela e alguns padres até beijam a imagem. Será que estou sendo exigente demais? Certamente devemos honras àquela que disse “Sim!” aos propósitos de Deus, mas será que às vezes não colocamos Maria no lugar de Jesus, como se Maria fosse o centro e Jesus fosse o coadjuvante? Na minha paróquia, tem pessoas que beijam os pés das imagens… Na Bahia, fazem festa do dia de Senhor do Bonfim, amarram fitas nos punhos e pedem para que se faça 1 pedido a cada nó dado… Aqui, distribuem aqueles santinhos com uma oração no verso, para que se alcance uma graça. Não deveríamos pedir a intercessão dos santos? Ou está correto como está escrito no folheto “santo expedito conceda-nos esta graça (fazer o pedido)…” ? Eu compreendo a questão das imagens, do culto aos santos e de Maria, mas gostaria que fosse elucidado a questão: até onde podemos ir sem cair no pecado? O que nos é lícito fazer quanto ao culto às imagens, Maria e os santos? Desculpem-me pelo longo texto. Agradeço-vos de coração pela atenção, saibam que tenho todos vocês diariamente em minhas orações. Deus esteja convoco.

Eduardo Fernandes

Caro Eduardo,

Que a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja conosco!

Que Deus continue a te iluminar em busca das razões de sua fé (cf. I Pd 3,15), que graças a Deus tem conseguido através do trabalho realizado pelo Apostolado Veritatis Splendor. Contamos com suas orações para continuar nessa árdua tarefa de defender a fé!

No que diz respeito a tua dúvida, a idolatria nada tem a ver com o culto dos Santos ou a Maria. Para não cair no pecado, basta fazer o que manda a Santa Igreja. Vejamos:

 “Todas as gerações me chamarão bem-aventurada” (Lc 1,48): “A piedade da Igreja para com a Santíssima Virgem é intrínseca ao culto cristão”. A Santíssima Virgem “é legitimamente honrada com um culto especial pela Igreja. Com efeito desde remotíssimos tempos, a bem aventurada Virgem é venerada sob o título de ‘Mãe de Deus’, sob cuja proteção os fiéis se refugiam suplicantes em todos os seus perigos e necessidades (…) Este culto (…) embora inteiramente singular, difere essencialmente do culto de adoração que se presta ao Verbo encarnado e igualmente ao Pai e ao Espírito Santo, mas o favorece poderosamente”; este culto encontra sua expressão nas festas litúrgicas dedicadas à Mãe de Deus e na oração mariana, tal como o Santo Rosário, “resumo de todo o Evangelho”. (Catecismo da Igreja Católica § 971)

Assim sendo, o culto a Maria, culto de veneração, é essencialmente diferente do culto de adoração prestado à Santíssima Trindade.  No episódio a que você se refere, da apresentação da Imagem de Nossa Senhora Aparecida, e a manifestação de carinho e veneração dos fiéis e clérigos, não há nada de idólatra, pois, em última instância toda a veneração se volta à Maria e não simplesmente à imagem que a representa. Não há adoração da imagem ou de Maria, há sim, veneração da Mãe de Deus, biblicamente amparada pela Palavra de Deus (cf. Lc 1,42-43.48; ) e pela Tradição da Igreja.

Os gestos de beijar as imagens ou curvar-se, são simbolismos que representam a veneração dos fiéis. Com efeito, nos relata o livro de Reis que  “O profeta Natã… veio perante o rei e se prostrou diante dele” (1 Rs 1,22-23). Nem por isso Natã estava adorando o rei, apenas o cumprimentando.

Também “Eliseu atravessou o rio. Os irmãos profetas… vieram ao seu encontro e se prostraram por terra, diante dele” (2 Rs 2,14-15). Os profetas estariam adorando Eliseu? Claro que não! Por tanto, prostrar-se não significa positivamente adorar.

Sobre as imagens sacras, ensina a Igreja:

“Foi fundamentando-se no mistério do Verbo encarnado que o sétimo Concílio ecumênico, em Nicéia (em 787), justificou, contra os iconoclastas, o culto dos ícones: os de Cristo, mas também os da Mãe de Deus, dos anjos e de todos os santos. Ao se encarnar, o Filho de Deus inaugurou uma nova “economia” das imagens. O culto cristão das imagens não é contrário ao primeiro mandamento, que proíbe os ídolos. De fato, “a honra prestada a uma imagem se dirige ao modelo Original, e “quem venera uma imagem venera a pessoa que nela está pintada. A honra prestada às santas imagens é uma “veneração respeitosa”, e não uma adoração, que só compete a Deus” (Catecismo da Igreja Católica §2131-32).

E São Tomás de Aquino complementa com perfeição o raciocínio: “O culto da religião não se dirige às imagens em si como realidades, mas as considera em seu aspecto próprio de imagens que nos conduzem ao Deus encarnado. Ora, o movimento que se dirige à imagem enquanto tal não termina nela, mas tende para a realidade da qual é imagem.” (S.Th.II-II,81,3,ad3. apud CIC §2132).

No que se refere à intercessão dos Santos, pelo fato destes já se encontrarem na Glória, podem interceder ao Pai por nós, é a solicitude da comunhão dos Santos: “Os santos que reinam agora com Cristo, oram a Deus pelos homens. É bom e proveitoso invocá-los suplicantemente e recorrer às suas orações e intercessões, para que vos obtenham benefícios de Deus, por NSJC, único Redentor e Salvador nosso. São ímpios os que negam que se devam invocar os santos que já gozam da eterna felicidade no céu. Os que afirmam que eles não oram pelos homens, os que declaram que lhes pedir por cada um de nós em particular é idolatria, repugna à palavra de Deus e se opõe à honra de Jesus Cristo, único Mediador entre Deus e os homens (1 Tm 2,5)” (Concílio de Trento – 1545/1563, 25ª Sessão apud  AQUINO, Felipe. Escola da Fé I – A Sagrada Tradição. Lorena – SP: Cléofas, 2000, p.125)

Quem sempre concede a graça é Deus, o Santo age apenas como intercessor, pedindo a graça a Deus por nós. Assim, quando no folheto está escrito: “santo expedito conceda-nos esta graça (fazer o pedido)…”, a ação do Santo é apenas de interceder junto ao Pai por quem pede.

“A intercessão dos santos. “Pelo fato de os habitantes do Céu estarem unidos mais intimamente com Cristo, consolidam com mais firmeza na santidade toda a Igreja. Eles não deixam de interceder por nós ao Pai, apresentando os méritos que alcançaram na terra pelo único mediador de Deus e dos homens, Cristo Jesus. Por conseguinte, pela fraterna solicitude deles, nossa fraqueza recebe o mais valioso auxílio” (Catecismo da Igreja Católica § 956)

Espero que tenha dirimido a tua dúvida, que decorre apenas da piedade popular, sem a devida compreensão da intercessão dos santos e veneração.

In caritate Christi,

Leandro.

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