Nome do leitor: Juliano
Cidade/UF: Curitiba / PR
Religião: Cristã
Confissão: Católico
Mensagem
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LITURGIA – Missas de Movimentos e Grupos
Olá a todos Do Veritatis Splendor
Parabéns a todos por este belo e fecundo ministério.
Sou membro da Equipe Litúrgica de minha paróquia e tenho percebido uma tendência que me inquieta.
Alguns Movimentos e Pastorais de minha comunidade têm reclamado recentemente para si a possibilidade de terem “Misas Temáticas” (não sei se essa é a expressão adequada), Missas particulares suas, fora ou não dos horários normais de missas dominicais, onde não só teriam seus membros fazendo parte da equipe litúrgica (no que não vejo problema algum, desde que preparados para esse ministério – animadores, leitores, músicos, precistas), como a própria Missa teria um enfoque voltado para esse grupo específico (p. ex. Missa da Catequese, do Ministério Jovem da RCC ou Missa da Legião de Maria, etc.), com cantos exclusivos, homilia direcionada, símbolos nas procissões de entrada e ofertório (Bandeiras do Movimento) e até padre convidado. Sei que a Liturgia da Igreja prevê missas para ocasiões especiais (como p. ex. Missa com Crianças), mas acho que não é o caso e, procurando em vários sites católicos e em livros de liturgia, não encontrei nenhuma orientação específica a esse respeito.
Isso me inquieta muito, pois não é essa a função da Liturgia. Parece que o Mistério Pascal de Cristo passa a parecer algo secundário, o memorial e a renovação do sacrifício, e onde o que vale é o “meu” grupo, o “Meu” ministério, e a Missa “mais legal, menos chata” é aquela que tem a cara do meu Movimento, que pensa como eu penso. A Missa vira “palanque” de Movimentos e o povo é privado da verdadeira Liturgia. Me passa a impressão de algo completamente desvinculado da vida Comunitária da Igreja, onde teríamos uma competição de qual seria a melhor missa, ou a Missa que mais me “agradasse” (como um cardápio) – Missa mais popular, mais carismática…
Até entendo a boa intenção que possa haver: maior divulgação perante a comunidade de tal Pastoral ou Movimento, participação de seus membros no serviço litúrgico, etc, mas não creio ser esse o caminho correto. Se a intenção desses coordenadores é aumentar o amor de seus membros pela liturgia (louvável), porque não se engajam nas estruturas já disponíveis? Equipe litúrgica Paroquial, com formação ampla e árdua em várias áreas (bíblica, litúrgica, mistagógica, espiritualidade e música litúrgica,…).
Meu raciocínio está correto? Meu pároco e o coordenador da Equipe Litúrgica também não concordam com isso, mas quero buscar o embasamento devido e não ser radical, com receio de “Extinguir o Espírito” (1Ts 5,19). O que poderia ser feito para resolver esse impasse, sem magoar ninguém?
Já que um dos raros momentos em que a comunidade se reúne é a Eucaristia, como apresentar e valorizar esses grupos e movimentos (os leigos atuantes) de outra forma perante a comunidade? È possível uma solução dentro dessa linha sem ferir as normas litúrgicas?
Um grande abraço a todos
Em Cristo Senhor
Juliano
RESPOSTA:
Caríssimo Juliano,
Pax et Bonum!
Primeiramente, agradeço-te a confiança depositada em nosso Apostolado e as felicitações que nos dispensastes!
Sobre tua pergunta, o essencial na Liturgia é apenas uma coisa: que as normas litúrgicas da Igreja sejam seguidas com fidelidade estrita e completa obediência, e assim o Sacrifício de Cristo possa ser celebrado em todo o seu esplendor.
Pouco importa se é Missa voltada ao grupo tal, ou à sociedade tal. O que importa é se a Missa está seguindo as rubricas, as normas litúrgicas, se o Sacrifício de Cristo está sendo celebrado com fidelidade e obediência às determinações da Igreja. Este é o critério preciso para se avaliar a questão, pois há uma tendência ainda mais inquietante nos dias atuais que é a dos padres mudarem a Missa a seu arbítrio próprio, como se eles decidissem o que deve ser feito ou não na Celebração. Isto tem dado lugar aos mais variados abusos. Desrespeita o ensino da Igreja, que em seu Catecismo, por exemplo, afirma: Nenhum rito sacramental pode ser modificado ou manipulado ao arbítrio do ministro ou da comunidade. Nem mesmo a suprema autoridade da Igreja pode alterar a Liturgia ao seu arbítrio, mas somente na obediência da Fé e no religioso respeito do Mistério da Liturgia (n.1125).
Eu, particularmente, não vejo mal algum em uma Missa voltada para um grupo ou para um Movimento, desde que essa Missa siga as rubricas litúrgicas.
Por exemplo, uma Missa de grupos carismáticos não raro é inaceitável, por desrespeitar e muito as rubricas. Nestas Missas carismáticas muitas vezes se adiciona coisas estranhas à celebração, como os shows de danças e músicas não condizentes com a contrição com que se deve assistir ao Sacrifício de Cristo, ou as inúmeras orações em línguas, ou as frases adicionadas no texto da Missa para torná-la mais interessante. Esse tipo de abuso é inaceitável, onde quer que aconteça. Obviamente não acontece só em ambientes carismáticos. Ambientes infectados pela Teologia da Libertação também possuem seus abusos, como levar leigos para consagrar junto do Padre no altar, em nome da igualdade de todos, etc.
São Missas de grupos que, por seus abusos, são absolutamente inaceitáveis.
Mas uma Missa de um Movimento fiel às normas da Igreja, celebrada por um Padre deste mesmo Movimento, é perfeitamente aceitável e recomendável, não só para os membros do grupo como para qualquer outro fiel, pois está estritamente conforme as rubricas. São Missas belíssimas de se assistir, pois respeitam obedientemente as normas litúrgicas da Igreja.
Eu não vejo o problema aí na Missa estar voltada a um público específico. O problema fundamental é se ela segue as rubricas ou não, isto é, se o Sacrifício de Cristo é celebrado com a dignidade que merece. No mais, não importa…
Muitas vezes um grupo busca uma Missa própria até como uma fuga das Missas mal celebradas da paróquia. Muitas vezes estas Missas particulares são o único meio de manter a sacralidade da Liturgia, em meio a várias Missas mal celebradas e cheias de abusos.
É interessante notar que nunca uma Missa bem celebrada, isto é, de acordo com as rubricas e normas litúrgicas, será motivo de separação ou desunião; ao passo que uma Missa mal celebrada, cheia de abusos e desobedientes às normas litúrgicas sempre é motivo para isto tudo!
Veja por exemplo que as Missas dos carismáticos, por quase sempre extrapolarem os limites da Liturgia e se encherem de abusos e inovações, são toleráveis apenas aos carismáticos, acostumados com aquilo tudo. Qualquer Missa que desobedeça a Liturgia, se voltada para um grupo, será tolerada somente por aquele grupo, ele mesmo desobediente. E aí temos a desunião. é na desobediência, pois ,que repousa a separação.
Por outro lado, é na obediência que repousa a unidade. Se uma Missa, ainda que voltada a um grupo ou um público específico, for realmente obediente e fiel às normas litúrgicas católicas e celebre o Sacrifício de Cristo com a dignidade que a Igreja ordena, esta Missa será útil a qualquer fiel; e qualquer fiel que entrar nesta Missa, mesmo não pertencendo ao grupo que a organizou, reconhecerá nesta Missa a face da Igreja e poderá participar dela ativamente! Pela obediência à liturgia, pois, conserva-se a unidade.
O ponto culminante da tua questão está, pois, na obediência às normas litúrgicas. Se a Missa deste ou daquele grupo obedece às normas da Igreja, se celebra com dignidade o Sacrifício de Cristo, por sua obediência será motivo de unidade, já que qualquer fiel pode entrar nela e participar.
Mas se a Missa deste ou daquele grupo não obedece às normas da Igreja e faz do altar um palco ou um palanque, por sua desobediência será motivo de desunião, separatismo, e neste caso não é benéfica (como na Missa do Dia do Trabalho em São Paulo, onde, com a anuência passiva do Cardeal Dom Odilo Scherer, a celebração virou um palanque para comunistas da Pastoral Operária, que não admitiram a presença de patrões e empresários, numa clara demonstração de desunião).
Preze, pois, e antes de tudo, pela obediência e fidelidade às normas litúrgicas. E Deus estará feliz com uma Missa assim.
Esperamos ter te ajudado.
Meu cordial abraço!
Atenciosamente,
Taiguara Fernandes de Sousa.