Frequento a Igreja Católica Tradicionalista (Missa Tridentina) e aglumas pessoas, perguntam porque a nossa religião não permite a mulher usar calça comprida. Como devo explicar e onde encontrar explicação?
Caríssimo senhor, estimado em Cristo,
Se o senhor freqüenta a Igreja Católica Tradicionalista, então não freqüenta a Igreja de Cristo. Nosso Senhor fundou uma só Igreja: una, santa, católica e apostólica. São essas as suas notas características. E por estar unida e submissa ao Bispo de Roma, Vigário de Cristo e Sucessor de São Pedro, também é romana. Não consta que ela seja tradicionalista, nem progressista.
Por outro lado, dividir ou caracterizar a Igreja sob o epíteto de uma inexistente “ala” eclesiástica é de um reducionismo extremamente pernicioso!
Melhor seria dizer que freqüenta a Igreja Católica Apostólica Romana, e que tem preferência pela forma antiga do rito romano. Sim, forma antiga, porque há uma nova, válida, lícita, e que também é rito romano. Ambas as formas, tridentina e Novus Ordo, São Pio V e Paulo VI, são rito romano.
Pode-se ter preferência pela forma antiga, dita tridentina, do rito romano, mas não por considerar a chamada Missa Nova inválida ou ilícita. Os que assim agem, deturpam o sentido da Bula Quo Primum Tempore, e, na prática, deixam de reconhecer a suprema autoridade de governo da Igreja, que pertence ao Soberano Pontífice. Querer preservar um patrimônio litúrgico antiquíssimo, ver na Missa Tridentina uma melhor explicitação acidental do aspecto de sacrifício, considerá-la como mais “protegida” contra os abusos pela precisão das rubricas: eis motivos fundados por preferir a forma tradicional do rito romano. Nunca, porém, pode-se opor a Missa Tridentina à Missa Nova, como se esta última fosse inválida, ilícita, tendente à heresia. Também não podemos confundir os abusos litúrgicos que alguns clérigos fazem em cima do Novus Ordo com a Missa Nova em si. Nem mesmo cair no simplismo de acreditar que a Missa Nova é em vernáculo e a Tridentina é em latim, dado que a forma renovada continua em latim, tendo apenas permissão para se fazer celebrar em vernáculo. Também a Missa Nova é sacrifício, também ela santifica.
Quanto à pergunta do senhor, creio que, novamente, há um equívoco. Não há nenhuma norma canônica da Igreja, nem tradição espiritual, no sentido de proibir às mulheres o uso de calças compridas. Existe, isso, sim, uma moral, e ela nos diz que todos, homens e mulheres, temos de demonstrar o pudor com nossas vestes. Ocorre que a falta de pudor não está necessariamente associada ao uso de calças compridas por mulheres. Muitos vestidos são mais sensuais que calças.
Temos de lembrar que a moral é absoluta, mas as situações são relativas. A moral da Igreja não é uma lista de “pode, e não pode”, a qual tem forte sabor protestante, de influência rigorista, jansenista, puritana, erros condenados infalivelmente pela autoridade eclesiástica em diversos documentos.
Mais sobre o assunto, o senhor poderá encontrar no seguinte link: https://www.veritatis.com.br/article/3910
Alguma Diocese ou mesmo paróquia pode, nos seus estatutos próprios, criar regras sobre trajes facultados aos seus freqüentadores. Dentre essas regras, o uso de véu pelas mulheres, terno e gravata para homens etc. Também a obrigatoriedade de vestidos ou saias para mulheres pode existir. Contudo, não são regras “da Igreja” nem fazem parte da doutrina católica. No máximo, são regras locais, cujo descumprimento não é pecado em si (poderia ser pecado de desobediência, se o uso desrespeitar o aviso da autoridade, só isso).
Claro que o bom senso pede que determinados trajes sejam evitados, principalmente na igreja. Decotes muito generosos, roupas sensuais, são imorais. Mas, a calça comprida não é, necessariamente, sensual.
Para resumir, a Igreja Católica permite, sim, à mulher usar calça comprida. Em alguns lugares pode proibir seu uso durante a Missa ou dentro de uma igreja, mas ainda assim seria um costume local e não uma aplicação da doutrina católica.
Espero ter sido útil.
Em Cristo, Nosso Salvador,