Leitor Testemunha de Jeová pergunta sobre a doação de sangue e a Fé católica

Paz,
Gostava de saber qual a fundamentação bíblica para se poder doar sangue entre católicos. Eu sei a fundamentação contrária e não vejo coerência em tal ato.
Há que se fazer sacrifícios agradáveis a Deus. (João – Testemunha de Jeová)

Prezado João,

A paz do Cristo!

Em primeiro lugar, é necessário esclarecer que não existe na Bíblia nenhuma proibição à transfusão de sangue. As passagens bíblicas (Gn 9,3-6; Lv 7,26-27; Lv 17,10-12; Lv 17,13-14; At 15,28-29; At 21,25) usadas pelas Testemunhas de Jeová para defender essa proibição na verdade se referem ao uso do sangue como comida. Você mesmo pode conferir isso em sua Bíblia. Ademais, é importante observar que as advertências bíblicas quanto ao uso do sangue como comida devem ser compreendidas tendo em vista o caráter sagrado que o sangue (animal) tinha dentro da religião judaica (Antiga Lei) e do paganismo. Com o advento de Nosso Senhor Jesus Cristo, a Antiga Lei foi cumprida (Mt 5,17) e superada, sendo instituída a Nova Lei, e desde então os sacrifícios realizados com o sangue de animais deixaram de acontecer. Processo semelhante aconteceu com o paganismo, no qual os sacrifícios com o uso de sangue foram sendo abandonados na medida em que a fé cristã avançava. Em suma, as advertências bíblicas quanto o uso do sangue como comida devem ser entendidas levando-se em consideração não só o contexto bíblico, mas também o processo histórico.

Com relação à sua questão propriamente dita, a Igreja Católica não proíbe a transfusão de sangue. O próprio Papa João Paulo II afirmou que “a doação de sangue é um grande gesto de solidariedade”[1]. Além disso, o que o Catecismo da Igreja Católica ensina a respeito do transplante de órgãos pode ser aplicado à transfusão de sangue:

“2296. O transplante de órgãos não é moralmente aceitável se o doador ou seus representantes legais não deram para isso explícito consentimento. O transplante de órgãos é conforme à moral e pode ser meritório se os perigos e os riscos físicos e psíquicos a que se expõe o doador são proporcionais ao bem que se busca no destinatário.”

À guisa de conclusão, ressalte-se que a proibição da transfusão de sangue, defendida pelas Testemunhas de Jeová, no mais das vezes tem diminuído ou mesmo impedido a sobrevida de milhares de pessoas que, ainda que de boa fé, submetem-se a uma interpretação particular da Escritura Sagrada, sem levar em consideração o que ensina o Magistério da Igreja. Quando se prescinde do Magistério da Igreja, cada um sente-se livre para examinar e interpretar a Bíblia ao seu bel-prazer, e o caso em questão é um dos mais tristes exemplos do mal que essa “liberdade” pode causar.

Que Deus o abençoe.

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NOTA:
[1] Discurso do Santo Padre a vários grupos de peregrinos jubilares, Sábado, 21 de Outubro de 2000.

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