Gostaria de saber: Como surgiu a vida monástica na igreja? Qual a originalidade de S. Bento na vida monástica? Qual o método pedagógico próprio da escola evangélica de S. Bento? Explane o lema “Ora et labora”. (Eliney)
Caríssima Eliney,
Que a graça e a paz de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja conosco!
Agradecemos o contato e a confiança em nosso apostolado. Pedimos as suas orações por nós. Não respondemos a trabalhos escolares ou acadêmicos, espero que este não seja o seu caso. No que se refere a suas questões podemos dizer o seguinte:
O monaquismo (do grego monachós[1]) é uma forma de vida cristã, totalmente consagrada a Deus no retiro, no silêncio, na oração, na penitência, no trabalho, na vida cenobítica[2] ou eremítica[3]. É inspirada no próprio Evangelho onde Jesus convida a deixar tudo e segui-lo: As raposas tem covas e as aves tem ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça (Lc. 9,58) [cf. Mt. 19,16-22; Lc. 9,57-62; I Cor. 7,8s.25-35]. Por volta do século III registra-se a forma eremítica onde alguns cristãos se retiravam para o deserto, a exemplo de S. Antão (251-356), considerado o Patriarca do monaquismo.
Com o tempo, a vida eremítica passa a ceder à vida cenobítica (comunitária). No Século IV, por volta do ano de 320, S. Pacômio (364) foi o primeiro a organizar o modelo de vida cenobítico submetendo os monges a uma Regra e a um superior chamado de Abade (pai). A casa dos cenobitas era chamada de monastérion (palavra grega) de onde se deriva o nosso mosteiro.
O historiador Daniel – Rops explica o nascimento da vida monástica dizendo:
É dentro das perspectivas especificamente cristãs que se deve considerar o nascimento do monaquismo. O que vai incitar homens e mulheres a afastar-se do mundo é a palavra de Cristo, quando convida os fiéis a deixar tudo a fim de segui-lo e a mortificar a carne para alcançarem a vida eterna (ROPS, Daniel. A Igreja dos Apóstolos e dos Mártires, Vol I,Quadrante: São Paulo, 1988,p.506).
No Oriente, o grande legislador dos monges foi São Basílio (379), cuja famosa Regra era seguida pela maioria dos mosteiros. No Ocidente foi São Bento (480-547) quem moldou a forma do monaquismo. Em 529 ele fundou o Mosteiro de Monte Cassino, o berço dos beneditinos. Conhecedor de diversas regras, São Bento, combinando- as, elaborou uma nova regra para seus monges. Seguindo a Regra de São Bento, os monges viviam em comunidade, onde os membros se ajudavam mutuamente na busca da perfeição, vivendo o dia a dia em períodos de oração em comum (ofício divino), estudo e trabalho, vivendo assim o lema ora et labora (ora [reza] e trabalha).
Conhecendo as diversas regras monásticas, elaborou uma para seus próprios monges que era, portanto, não uma concepção totalmente original, mas a feliz combinação de vários elementos dispersos da tradição. Sua genialidade está exatamente no equilíbrio com que harmonizou as diversas expressões da vida monástica. Uma Regra exigente e austera, que excluía, contudo as exageradas práticas penitenciais, características de mosteiros orientais e irlandeses (…) Ao lado dos votos de estrita pobreza, obediência ao abade e castidade, os monges se ligavam pelo resto da vida ao mosteiro onde ingressavam (a estabilidade monástica), o que pôs termo, no Ocidente, à inconveniência dos monges errantes (giróvagos). Bento elaborou um horário pré-estabelecido, que regulava o dia no mosteiro. Períodos de oração em comum (o ofício divino) a alma da vida monástica eram alternados com estudo e trabalho manual. Assim se uniu a disciplina e o sentido de ordem e regularidade do mundo clássico com o ideal cristão de vida comunitária inspirada no Evangelho. (MATOS, H. Cristiano J. Introdução à História da Igreja. 5ª ed. Belo Horizonte: O Lutador,1997.p,146-147).
Esperando tê-la ajudado, despeço-me.
In caritate Christi,
Leandro.
_________
NOTAS:
[1] Monachós = aquele que está só.
[2] Os monges viviam em comunidade.
[3] O monge vivia sozinho, isolado.
- Fonte: Veritatis Splendor