Quanto à palavra “seita”,
Antes de mais nada, cara Cleusi, a paz de Cristo. +
refiro-me ao sentido de separação, pois o movimento religioso que não crê na Trindade, ou dela se desvia para a direita ou para a esquerda, não é cristão, está separado do Cristianismo verdadeiro, ainda que afirme professá-lo.
Não é somente a crença na Trindade que determina se um segmento religioso deve ser, de fato e de direito, denominada de cristã. Por exemplo, para a maior parte dos protestantes do Brasil e do mundo, os católicos não são cristãos, apesar de estar claro que professamos a crença na Trindade. Provavelmente você se inclui nessa estatística. Quero dizer que a unidade na fé, que está expressa no Credo Cristão é o que discerne a característica que estamos discutindo. Se levássemos em conta sua hipótese, podemos considerar, sem discussão, que igrejas tais como a Universal do Reino de Deus são exemplos incontestes de igreja cristã, pois esta professa a Trindade. Mas, a menos que você seja uma defensora árdua e inconseqüente desta denominação, e de outras semelhantes, não é isso que igrejas protestantes, como as históricas, e muitas outras mais modernas, consideram, pois esta para estes é abominável. Da mesma forma, existem segmentos teológicos protestantes que comentem verdadeiras atrocidades à bondade de Deus, como é o caso da teologia calvinista. Sendo você batista, provavelmente é calvinista de algum dos pontos defendidos nas cinco pétalas. Deus, soberano, é o único responsável pela salvação do homem. Ótimo, nós católicos concordamos. Mas Deus, também, é o único responsável pelo mal que condenará o homem à pena eterna. Isto negamos e rejeitamos como heresia perigosa. Tenho cautela em afirmar que um calvinista seja cristão de fato, pois sua doutrina é por demais ?terrível?, somente sendo uma dádiva para os calvinistas. Para complementar o pensamento, vou, sempre que necessário, em cada parágrafo de resposta, indicar textos que tenham a ver com o que estou falando. Gostaria que, sempre que possível, você pudesse ler, com atenção, e, da forma que achar melhor, analisar os fatos apresentados.
Textos: Seitas, Igreja Particulares e Empresas da Fé; Os Protestantes são cismáticos?
Para os judeus, a Igreja Católica é uma seita,
Até hoje, já desde muito estabelecida e reconhecida como religião separada?
pois o início desta foi uma comunidade religiosa separada daquela que era vigente: o judaísmo. Os judeus não se conformam com esse tal grupo chamado cristão, que se separou da religião verdadeira, o judaísmo, para seguir um tal de… Jesus. Mas o que deve ser observado é que, quanto ao judaísmo, tudo começou bem com Moisés, mas, ao longo dos séculos, os homens foram deturpando a pureza do espírito da lei até o ponto de existir a hipocrisia dos fariseus e a ignorância dos saduceus quanto à vida vindoura (Lc 11:42-44; Mc 7:6-13; Mt 22:29). Igualmente, o início da Igreja Católica foi puro, com novos nascimentos genuínos, mas, ao longo dos séculos, a Igreja tornou-se tão depravada e desviou-se tanto do original, que Deus teve que colocar um Lutero na história para dar um puxão de orelha.
Concordo apenas em parte com sua conclusão. Vejamos: você diz que a Igreja Católica era pura e foi se corrompendo. Que Lutero precisou vir para limpar essa impureza. Inicialmente, você deve perceber que quem cometeu desvios do caminho das leis não foi o judaísmo, foram os judeus. As leis de Moisés permanecem, mas a sua interpretação criou um mundo paralelo de novas leis e rituais, causando uma aparente figura de devoção, mas na verdade encobrindo a verdadeira lei das pessoas. Por isso os fariseus, e não o judaísmo, eram hipócritas. A lei não mudou, mas o coração das pessoas, distantes de Deus, sim. E é isso que Jesus alerta e corrige. A Lei e os Profetas são revelação de Deus, e sobre elas está o fundamento da religião judaica. Veja que Jesus falou ao escriba que, por aceitar a soberania de Deus, este não estava longe da salvação (Mc 12,32-34). Da mesma forma José de Arimatéria, um membro do conselho judaico, era discípulo de Jesus (Mt 27,57). Da mesma forma, portanto, a Igreja Católica não perdeu a pureza que tu mesma atestaste. O que ocorreu no passado, e permanecerá ocorrendo enquanto estivermos no mundo, inseridos numa realidade social e submetida a ela (também a ela), é que os cristãos, católicos, também desviaram a correta doutrina para o caminho do erro religioso. Entretanto, o que eu chamo de erro religioso não é o mesmo que você chama, pois entre esses erros religiosos estão aqueles que originaram exatamente o protestantismo. Mas, historicamente, e sem dúvida, muitos cristãos erraram em suas condutas e decisões, por várias vezes nada bíblicas, e provocaram a revolta de muitos. Existiram pessoas cruéis dentro da Igreja Cristã, como ainda existem. Isto devido ao fato de a Igreja Cristã ser formada por homens submetidos e enfraquecidos pelo pecado, e pela tendência ao pecado. A fraqueza de muitos determinou a aparência que você chama de ?depravada? da Igreja. Porém classificar de depravada a Igreja que anteriormente era pura, é afirmar que a esposa de Cristo, incorruptível, se corrompeu, e, por conseguinte, chamar Jesus de mentiroso. Provavelmente, diante disso, sua noção de uma remota pureza da Igreja Católica tenha, agora, desaparecido, pois afirmar isto seria confirmar o que conclui, ou não? Porém afirmar a pureza da Igreja é confirmar a origem divina da Igreja Católica, e você, se segue a moda vigente no protestantismo, professa vigorosamente que a Igreja Católica não foi fundada por Jesus, mas por Constantino, no ano de 313. Podemos conversar sobre isto mais tarde. Um ponto, porém, deve ser ressaltado: o de que Lutero deu um puxão de orelha em alguém. Creio que, se a orelha de alguém deveria ser puxada, seria a do próprio, e de seus companheiros e seguidores. Ao contrário da imagem de ?iluminado? que Lutero tem entre os protestantes, na realidade, sua história é triste e permeada de equívocos que culminaram num desastre para o cristianismo. Não podemos negar que Lutero era um homem inteligente e estudioso, e que pretendia, ao menos inicialmente, não criar uma igreja nova. Mas suas idéias inovadoras se espalharam como uma doença e logo se tornou disseminada no corpo, fraco como estava, da Igreja da época da reforma. Surgiram sintomas dos mais diversos, e o próprio Lutero conseguiu diagnosticar esta pluralidade, como mostrei em uma citação dele em minha mensagem anterior. Gostaria que lesse os textos A grande revolta contra cristo; A revolta de Lutero ; Quem foi Martinho Lutero ; A influência das heresias antigas no protestantismo ; A igreja católica foi fundada por Constantino? A Moral e as palavras de Lutero; Porquê os protestantes não lêem as obras de Lutero? para uma reflexão maior.
O protestantismo teve de surgir porque a Igreja Católica entristeceu profundamente o coração de Deus com suas perversões, como os fariseus, escribas, saduceus e anciãos entristeceram a Jesus, pois eles deturparam a pureza inicial da Lei de Moisés.
Como disse acima, e se você acompanhou, não foi a Igreja Católica. Os protestantes costumam usar o geral quando se referem aos erros de algum católico. Por exemplo: ?Igreja Católica aceita reencarnação?, quando na verdade ocorre que um padre andou falando heresias. ?Igreja Católica permite o aborto? quando católicos fazem barulho em prol do abortamento. Por outro lado, em se tratando de igrejas protestantes, a individualidade é sempre proeminente em detrimento da conclusão geral que fazem pelo lado católico. Sim, fazem assim pois é na verdade melhor para quem quer sobrepujar o oposto quando não se deixam encontrar vestígios de pureza nele. Portanto, um padre pedófilo, todos pedófilos, e assim por diante. Isto é uma injustiça, em qualquer âmbito que se pense. Se tu leste o texto sobre a revolta, veja que não duvido que a revolta protestante tenha surgido como um mecanismo, um meio de Deus para fazer sua Igreja recobrar a luz que andava obstruída pelos cristãos. Mas, caindo para o lado factual, a reforma protestantes teve no seu universo religioso apenas uma parte de sua causa. Questões sócio-políticas e econômicas contribuíram incontestes para o ?sucesso? do grito de Lutero.
Infelizmente, pelas suas palavras do seu último e-mail, percebo que você nunca nasceu de novo, nem mesmo tem noção exata do que seja isso.
Cleusi, acompanhe comigo: para um ?nascido de novo? estar com Deus e ser guiado por Ele é o seu sustento, em resumo, digamos, simples, correto? Você fala de ?comunhão ininterrupta com Deus?, entre outras coisas. Mas você me julga. Após a leitura de um e-mail, você afirma que eu nunca nasci de novo. Sobre o que você entende sobre novo nascimento falaremos depois. Quero te mostrar que, se você diz que tem uma relação ininterrupta com Deus, mas me julgou, contrariando o que Jesus diz em Mt 7,2 e Paulo em Rm 14,13, então eu posso concluir que você, ?também?, não nasceu de novo, posto que tal ?interrupção? da relação com Deus não ocorreria ao ?nascido de novo?. Mas não pretendo achar ou deixar de achar sobre a sua vida espiritual. Você não pode falar de mim e eu de você dessa forma. Limitemo-nos, então, ao assunto, posto que seria necessário uma convivência para que seu julgamento fosse baseado em algo mais concreto, e não apenas no famoso ?achismo? ou por algum poder de ?percepção além do alcançe?, típico de muitos protestantes. Sobre eu não ter nem a noção do que seja novo nascimento, digo que tenho, e já lhe expus o que entendo por novo nascimento. Acontece que você, enquanto do lado de lá de nosso diálogo, não vai aceitar o que eu entendo por novo nascimento, então a noção exata não estará comigo, mas com você. Isto é óbvio, e é por isso que estamos conversando, para eu tentar lhe mostrar que o chamado ?novo nascimento? dos protestantes, pelo menos dos menos familiarizados com a Bíblia, mas muito íntimos de suas emoções, não é o que Jesus fala a Nicodemus. Vamos prosseguir…
Há como que um véu encobrindo o seu entendimento. É com tristeza e preocupação que percebo que o novo nascimento praticamente inexiste no meio católico, enquanto é comum no meio protestante (quando digo protestante, incluo, para fins de generalização, a igreja batista).
Uma curiosidade: sabia que batistas não são protestantes? Pois é, muitos protestantes estão rejeitando esta denominação, tão merecida. Talvez seja pela vontade de pular fora, como fazem os marujos em barcos afundando. Leia em Batistas não são protestantes e Luteranos não são protestantes. Bem, deixando a curiosidade de lado. Na realidade, tristeza é sua colocação generalista. Conclusões assim são tidas como as mais falhas. Como disse anteriormente, de posse de sua noção do que seja novo nascimento, e com os católicos tendo outra, você não ver mesmo ver ninguém ?nascido de novo? no meio católico, enquanto vai ver aos montes em seu meio. Da mesma forma posso dizer o mesmo em relação ao sentido oposto, posto que novo nascimento não é o que você acha que seja, apesar do bom trabalho dos ministros protestantes nessa tarefa.
Por exemplo, onde eu trabalho, cerca de 90% dos funcionários são católicos; há alguns de igrejas pentecostais, adventista, espírita. E apenas duas ?protestantes?: eu e uma professora. Em nenhum dos meus colegas católicos há sinais de novo nascimento. Ao contrário, há evidentes sinais de morte espiritual. No entanto, eu e essa professora somos nascidas de novo. Minha colega de sala, uma católica de caráter admirável e virtudes exemplares, ela mesma me falou dessa professora: ?Ela tem muita fé?, disse. Diante da ênfase da afirmação, não pude resistir e perguntei: ?Como assim?? Ela me respondeu: ?Não sei te explicar… A Joeli, quando fala de Deus demonstra que vive o que fala, ela demonstra ter uma comunhão muito especial com Deus. Ela tem alguma coisa de diferente.? E, de fato, quando pude ter contato maior com essa professora, confirmaram-se as palavras de minha colega.
De fato nem eu gostaria que fosse assim. Entretanto, Cleusi, a fé não se baseia nos homens, mas em Deus. Com certeza estar num meio onde as pessoas temem a Deus exerce uma boa influência sobre você, mas o seu temos a Deus deve prevalecer mesmo no meio do mais insalubre pardieiro. Ao contrário de você, vejo católicos que são exemplos para todas as pessoas, casados, jovens, idosos. Claro, todo católico que exerça a espiritualidade católica não vai parecer, aos olhos protestantes, alguém que esteja praticando o ?novo nascimento?, posto que estes possuem em sua espiritualidade os sacramentais tão rejeitados pelos evangélicos. Por outro lado, existem muitos protestantes, talvez você não conheça nenhum, posto que sua congregação está me parecendo uma convívio de anjos, que são os vulgarmente chamados ?crentes Raimundos?. Fato é, minha cara, que este fenômeno não é apenas religioso, é social. Um presidente da Igreja Batista invadiu o Iraque. Um primeiro-ministro anglicano ajudou, o maior país protestante do mundo é um exemplo a não ser seguido em termos de unidade religiosa. As igrejas da Europa estão ficando cada vez mais vazias. Por outro lado, igrejas neopentecostais, adeptas das mais variadas e lucrativas teologias, se espalham pela África. Tudo isso, Cleusi, pode se enquadrar em fenômenos ligados à cultura e modo de vida da população. Uma garota católica pode abortar sem que a sua igreja ensine isto, casais se divorciam, pessoas matam, roubam. E não são apenas católicos os responsáveis pelos índices de criminalidade no Brasil, estou enganado? Queria que você lesse uma história de conversão muito interessante, de Patty Bonds, com trechos um pouco semelhantes ao que você cita como exemplo: A conversão de Patty Bonds ? parte I e parte II
E fico pensando: deve haver algo na doutrina católica que impede seus seguidores de nascerem de novo e, conseqüentemente, de serem salvos.
Não, não há nada que impeça o ?nascer de novo?, claro, no sentido que os católicos entendem. Ademais, o que você chama de ?novo nascimento? parece ser garantia de salvação. Bem, vamos ver logo mais.
E esse impedimento não há no meio protestante, de modo tão acentuado.
Há ou não há? Então você quer dizer que existe no protestantismo, só que de modo não tão acentuado, um impedimento ao ?novo nascimento? e à ?salvação? já garantida?
Tenho uma opinião do que seja esse impedimento, mas acho que ainda não poderia dizer, talvez mais tarde.
Com certeza, e posso lhe mostrar que não existe impedimento algum, muito pelo contrário…
Você referiu-se a uma infusão do Espírito. No entanto, o novo nascimento é infinitamente mais do que isso:
O novo nascimento, da água e do Espírito, tem infusão do Espírito.
é uma regeneração do espírito do homem, é ser gerado de novo. Isso implica numa transformação tão profunda e tão grande que vai muito além de uma simples mudança. Uma nova natureza é colocada em meu coração, a natureza de Deus (Ez 36:26,27; Jr 31:33), a presença do próprio Deus, na pessoa do Espírito Santo, passa a viver em mim. A gente sente uma diferença inexplicável. É uma nova geração do ser interior, pelo lavar regenerador do Espírito, porque João batizou com água para arrependimento, mas Jesus batiza com o Espírito Santo e com fogo. (Tt 3:3-7; Mt 3:11). É uma nova criação, a espiritual. Ora, os adventistas guardam o sábado, referindo-se à primeira criação, a criação natural. Mas eu guardo o domingo, referindo-me à segunda criação, a espiritual, resultado do novo nascimento daquele que crê, e essa segunda criação foi ?inaugurada? no domingo da ressurreição, quando foi autenticada a re-criação do corpo físico, para a ressurreição daqueles que foram regenerados no espírito pela fé (I Co 15:20-23).
Hoje eu tenho uma comunhão ininterrupta com Deus, andamos juntos o dia inteiro, conversamos sobre todos os assuntos, Ele me repreende, me exorta, me ensina. Até mesmo à noite o meu coração me ensina. Meu modo de ser e de viver, e a estrutura do meu ser interior, estão tremendamente transformados e transformando-se, no processo de santificação, à imagem e semelhança de Deus, perdidas pelo pecado de Adão (Gn 1:27). Aqueles que convivem comigo percebem que eu sou ?diferente?, mas, porque não conhecem sobre o novo nascimento, não sabem definir o que pressentem.
Muito bem. Vejamos o que você quer dizer sobre o que significa novo nascimento. Para você, o novo nascimento a que a Bíblia se refere requer uma transformação ?tão profunda e tão grande que vai muito além de uma simples mudança?. Significa a sensação de Deus estar vivendo na sua pessoa. Há uma comunhão ininterrupta com Deus, com uma mudança no modo de viver. As pessoas, então, percebem que os crentes ?nascidos de novo? mudaram.De fato, este é o sentido que os protestantes modernos querem passar sobre o novo nascimento que aqueles que aceitam Jesus como ?seu único Senhor e Salvador? experimentam. É comum ver protestantes que se amontoam nas praças ou nos sinais de trânsito, hospitais, presídios, etc., começarem seus discursos com esta pergunta: ?você já nasceu de novo?? Se for alguém pouco informado sobre o que ele quer dizer, a resposta sempre será ?não?. Então o missionário passa a se deleitar com leituras, versos, testemunhos e, o componente principal, as emoções. Infelizmente, a maioria dos católicos não possui um conhecimento bíblico acerca do que se deve entender sobre nascer de novo, e acabam por achar que o termo utilizado pelos protestantes é algo que ainda não experimentaram na sua igreja, e que corresponde ao que a Bíblia ensina. Esta, a ignorância religiosa do povo católico, associada a algumas outras artimanhas publicitárias por parte das diversas denominações, é um importante componente no proselitismo. Vamos por partes. Existem muitas formas de se entender o que seja nascer de novo. Pessoas doentes graves que se curam, nascem de novo. Outras sobreviventes de graves acidentes, nasceram de novo. Outras que anteriormente viviam uma vida disforme, malogrando sofrimentos atrás de sofrimentos, quando encontram uma oportunidade de melhorar de vida, de certa forma, nasceram de novo. Enfim, Cleusi, quando estamos discutindo termos, é melhor que possamos defini-los. Quando estamos conversando sobre a justificação pela fé, devemos antes de tudo saber se o que você entender por ?fé? é o mesmo termo que eu uso. Então, se você usa o termo ?novo nascimento? conceituando-o como uma experiência subjetiva de sensações de bem-estar, de mudança de postura em relação aos outros, a si mesma e a Deus, você deve, então, conhecer a idéia que eu quero passar quando falo de ?novo nascimento?. E o termo que uso é o termo ensinado pela Igreja Católica, em seu Catecismo, com base e apoio na Bíblia.
Porque eu digo que ?nascer de novo? significa batismo? Porque é a conclusão mais clara a partir da doutrina bíblica. Nascer de novo também implica em sentimento, mas não é só isso, contrariando o que você escreveu lá no começo. O diálogo de Jesus e Nicodemus é o fundamento para a noção que estamos buscando, e temos que ir para Jo 3,5-7. ?Jesus replicou-lhe: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer de novo não poderá ver o Reino de Deus. Nicodemos perguntou-lhe: Como pode um homem renascer, sendo velho? Porventura pode tornar a entrar no seio de sua mãe e nascer pela segunda vez? Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não renascer da água e do Espírito não poderá entrar no Reino de Deus. O que nasceu da carne é carne, e o que nasceu do Espírito é espírito. Não te maravilhes de que eu te tenha dito: Necessário vos é nascer de novo?. De acordo com estudiosos das línguas bíblicas, entre eles Mark Brumley, a palavra grega para ?nascer de novo? é ?gennathei anothen?, que significa ?nascer do alto?. Ou seja, é necessário renascer, só que desta vez, do alto. Isto faz um contraste entre o nascimento carnal e o nascimento espiritual. Jesus complementa a afirmação feita inicialmente a Nicodemus com uma segunda afirmação, em que reafirma a primeira, mas desta vez Ele enfatiza que o que quer dizer com ?nascer de novo? é que se deve ?renascer (óbvio, nascer de novo) da água e do Espírito?. Logo, nascer de novo é renascer da água e do Espírito. Veja que Jesus, após pregar este ensinamento fundamental, batizou: ?Em seguida, foi Jesus com os seus discípulos para os campos da Judéia, e ali se deteve com eles, e batizava? (Jo 3,22). Asssim a Igreja Católica sempre entendeu. De acordo com o ensinamento de Jesus, ?nascer de novo…da água e do Espírito? significa o batismo.
Você, de acordo com as referências verificadas, deve entender que nascer da água significa uma coisa, e nascer do Espírito, outra. Porém, as duas são um ato único. A forma grega usada para escrever ?da água e do Espírito? (?ek hudatos kai pneumatos?) se refere a uma unidade lingüística. Você deve pensar que nenhum protestante concorda comigo, posto que sou católico. Mas veja o que conclui George Beasley-Murray, biblista norte-americano, e batista de confissão, sobre este trecho do Evangelho de João em que os evangélicos interpretam diferentemente da forma batismal: ?Sugestões como esta não fazem justiça ao texto. Deve-se perceber que o texto relata o nascimento do alto ao batismo e ao Espírito Santo? (Word Biblical Commentary: John, [Waco, TX: Word Books, 1987],36:48). Outro protestante, R.V.G. Tasker, biblista, afirma: ?À luz da prática do batismo por Jesus no versículo 22, torna-se difícil separar a construção das palavras ?da água e do Espírito? para se obter um entendimento diferente da descrição do batismo cristão? (Tyndale New Testament Commentaries: The Gospel According to St. John [Grand Rapids, MI: Eerdmans Publ., 1977], 4: 71). Você pode estar pensando que não vai se ligar ao que disse uma ou outra pessoa, que vai se guiar pelo que o Espírito Santo indica o que você deve entender. Mas lembre-se, Cleusi, que estes autores são protestantes, e provavelmente, antes de chegar a esta conclusão, tomaram atitudes semelhantes frente à bíblia que qualquer protestante: a interpretação pessoal. Eles chegaram a esta conclusão, e você não, e por isso enfatizo, como abordarei mais à frente, que o protestantismo é uma massa heterogênea de doutrinas frágeis, onde a divisão é encoberta por sorrisos, tapinhas nas costas, e outras coisas mais. O batismo, suas conseqüências, sua aplicação, sua necessidade, são apenas uma das diversas doutrinas confusas entre o protestantismo. Deus não é Deus de confusão, você deve saber disso.
Você, também, disse para mim que Lutero deu ?um puxão de orelha? na corrupção da Igreja Católica. Veja, portanto, de qual aurícula Lutero puxa, neste nosso caso: ?Aqui (Jo 3,5) Cristo está falando do batismo, de uma água tão natural e real quanto à de beber dos animais…Cristo também fala sobre o Espírito Santo e ensina sobre a água, isto mesmo, a água espiritual, do batismo, na qual o Espírito está presente e ativo? (Sermons on the Gospel of St. John. Luther’s Works ed. Jaroslav Pelikan [St. Louis, MO: Concordia Publ. House, 1957], 22:283). Geralmente, Cleusi, quando nós mostramos a um protestante que o seu ?herói?, ou qualquer que seja a opinião que tenha acerca de Martinho Lutero, concordo com a doutrina da Igreja Católica, a primeira reação é dizer que não segue a doutrina de homens, mas a de Deus, e que Lutero era homem e errou também. Com certeza está certo, não devemos seguir a doutrina de homens, e Lutero errou, e muito. E errou, inclusive, na reforma protestante, disseminando as doutrinas que hoje permeiam as igrejas e mais igrejas que surgem pelas esquinas, balcões e cinemas, pregando, cada uma, uma nova salvação, e, por que não, uma proposta de um novo ?novo nascimento?. A Igreja Católica, oficialmente, afirma que
?O Senhor mesmo afirma que o Batismo é necessário para a salvação. Também ordenou a seus discípulos que anunciassem o Evangelho e batizassem todas a nações. O Batismo é necessário, para a salvação, para aqueles aos quais o Evangelho foi anunciado e que tiveram a possibilidade de pedir este sacramento. A Igreja não conhece outro meio senão o Batismo para garantir a entrada na bem-aventurança eterna; é por isso que cuida de não negligenciar a missão que recebeu do Senhor, de fazer “renascer da água e do Espírito” todos aqueles que podeis ser batizados. Deus vinculou a salvação ao sacramento do Batismo, mas ele mesmo não está vinculado a seus sacramentos. No batizado, porém, certas conseqüências temporais do pecado permanecem, tais como os sofrimentos, a doença, a morte ou as fragilidades inerentes à vida, como as fraquezas de caráter etc., assim como a propensão ao pecado, que a Tradição chama de concupiscência ou, metaforicamente, o “incentivo do pecado” (fomes peccati”): “Deixada para os nossos combates, a concupiscência não é capaz de prejudicar aqueles que, não consentindo nela, resistem com coragem pela graça de Cristo. Mais ainda: ‘um atleta não recebe a coroa se não lutou segundo as regras’ (2Tm 2,5). O Batismo não somente purifica de todos os pecados, mas também faz do neófito “uma criatura nova”, um filho adotivo de Deus que se tornou “participante da natureza divina”, membro de Cristo e co-herdeiro com ele, templo do Espírito Santo. A Santíssima Trindade dá ao batizado a graça santificante, a graça da justificação, a qual:
– torna-o capaz de crer em Deus, de esperar nele e de amá-lo por meio das virtudes teologais;
– concede-lhe o poder de viver e agir sob a moção do Espírito Santo por seus dons;
– permite-lhe crescer no bem pelas virtudes morais.
Assim, todo o organismo da vida sobrenatural do cristão tem sua raiz no santo Batismo ? (Catecismo da Igreja Católica, 1257, 1264, 1265-66).
Passemos, então, Cleusi, adiante, pois estou ficando cansativo. Tenho certeza que logo abaixo posso esclarecer mais alguma coisa.
Não me importo muito com denominações. Penso que elas são somente para fins de ?localização?, para se ter uma idéia geral do que a pessoa pensa sobre assuntos da fé.
As denominações são, então, para fins de ?localização?? Cleusi, o apóstolo Paulo, pensava assim? O que diz a história da Igreja? Você conhece o que ensinam as denominações protestantes, além do básico ?bíblia, justificação pela fé, Solo Christus?? Creio que você precisa ter um senso religioso mais crítico quanto aos ventos de doutrinas que estão à frente de seus olhos, frutos de várias ?idéias gerais sobre assuntos de fé?.
Eu sou paranaense e você é maranhense. Você tem a cultura nordestina e eu, a sulista. Quando eu me apresentar diante de Deus, ele não irá me perguntar de qual denominação eu era ? se católica, presbiteriana ou luterana. Ele irá me perguntar: Cleusi, você me ama?
Mas existem católicos paranaenses e maranhenses, que possuem uma única fé, um único batismo, um único Deus, além de uma unidade sacramental e eclesial. A divisão, Cleusi, tem por objetivo apenas um: servir de acentuação para a verdade, e depois, desaparecer. No protestantismo, as divisão se perpetua, devido a cegueira de seus fiéis, cegueira essa muita das vezes, inocente e fruto de ignorância doutrinária, obscurecida pelo modernismo e pelas coações exercidas nos cultos e programas televisivos. Jesus, sem dúvida, não salvará membros de uma igreja em particular, em detrimento de outras, muito menos deixará de salvar não-cristãos. Seus planos para a salvação da humanidade estão além do que podemos prever, por isso posso apenas dizer que Ele salvará os que seguirem seus caminhos e os de seus discípulos, pois nos discípulos Ele está presente, falando por suas bocas. Muitos católicos, como muitos protestantes, devem estar esta hora na condenação eterna, enquanto outros devem estar aguardando a ressurreição para a vida eterna. A discussão deve se basear se eu ou você estamos no lugar certo, no lugar onde se encontra a doutrina que os apóstolos confiaram aos seus sucessores, à Palavra de Deus no seu entendimento mais fiel. Isto devemos procurar. A vida cristã é que vai nos mostrar diante de Deus, não a membresia. Mas isto não impede de eu mostrar a você que há erros, assim como verdades, no que você acredita, na igreja em que está, apesar de você se sentir outra pessoa, se sentir uma cristã. Não nego e até admiro pessoas assim, pois eu gosto de me espelhar nelas.
Quanto à unidade, todos os nascidos de novo são filhos ?gêmeos? de Deus,
Gêmeos?
pois há uma incrível semelhança espiritual entre eles, não importa sua raça, cultura, sexo, não importa de qual denominação sejam.
Raça, sexo, cultura, de fato, não importam. Mas doutrina, importa, e importa muito, pois importa na salvação. Existem caminhos largos à venda em várias igrejas por aí, Cleusi, e parece que não percebe isso. Converso com outros protestantes que já perceberam o perigo do que está acontecendo com as igrejas protestantes no Brasil: crescimento numérico. Percebeste que há um crescimento no número de evangélicos, mas será que isso é um motivo de alegria, ou um motivo de preocupação? Quem é que está crescendo mais, já parou para levantar esta estatística? Já pensou no perigo que será caso igrejas que pregam ?novos nascimentos? totalmente diferentes do que você entende, que entendem que Deus está à serventia dos desejos e das posses dos homens, que um tremelique no culto é um sinal de Deus maior que dar uma esmola, e assim por diante?
Eles têm a ?genética? do Deus-Pai, e essa genética é a nova natureza, presente em todos os que são filhos de Deus pela fé (Jo 1:12,13). Semelhança no relacionamento com Deus e com o próximo, no modo de pensar (pois que têm todos a mente de Cristo) e de viver (um viver santo, separado do mundo em todos os sentidos, mantendo-se imaculados no meio de uma geração pervertida e corrupta) (I Jo 3:9). A verdadeira Igreja Cristã é a igreja espiritual, isto é, o conjunto de todos os nascidos de novo, os que foram salvos pela fé, vivificados no espírito por Deus, regenerados pelo Espírito Santo, a família da fé, e eles estão espalhados pelo mundo, pelas denominações cristãs ? católica, protestante.
A verdadeira Igreja não é, apenas, espiritual (invisível). Ela é visível e fundada sobre a doutrina e os sucessores dos apóstolos. Creio que este tema não se inclui neste contexto que estamos conversando para iniciarmos um diálogo paralelo. Pode ficar para outra mensagem ou, caso queira, pode ler o artigo sobre eclesiologia.
Um só Senhor (o Deus tri-uno), uma só fé (a fé salvadora em Jesus), um só batismo (o batismo regenerador do Espírito Santo, o batismo espiritual do novo nascimento, pois que Jesus batiza os nascidos de novo com Seu Espírito). A mulher samaritana (Jo 4:20) estava pensativa sobre o local de adoração: se no monte dos samaritanos ou no dos judeus. Mas Jesus fê-la saber que os verdadeiros adoradores são aqueles que adoram a Deus em espírito e em verdade. E isso só é possível àqueles que se decidiram por Cristo através da fé. Em outras palavras: Deus vive em meu coração, ou não? Sinto o pulsar de Sua vida em mim e o mover-se do Seu Espírito em meu interior? Sim, porque, desde que recebi a Jesus como meu Senhor e Salvador, nasci de novo pela fé e recebi o Espírito Santo em mim, meu corpo tornou-se santuário do Deus vivo, templo de Deus.
Não tenho dúvidas que sim, mas, como lhe mostrei, ?nascer de novo? não é ser uma pessoa nova (pela bíblia). Renascer da água e do Espírito é ser batizado com o batismo cristão.
Há sinais de vida espiritual em mim? Há rios de água viva fluindo em meu interior, ou nele só há silêncio e morte? Em meu interior há luz e vida, ou só há trevas e podridão? Em meu modo de pensar, está presente a mente de Cristo? Em meu modo de falar eu transmito a graça de Deus? Em meu modo de agir, observa-se o fruto do Espírito (Gl 5:22,23)? Há sinais de novo nascimento em minha vida? Já tenho paz com Deus, ou meus pecados ainda me separam dele, pois ainda não aceitei o sacrifício da cruz? Estou em luta interior ou tenho o descanso da vida eterna desde já?
Não, não tem. A salvação não está finalizada. Temos, apenas, a esperança da salvação, se mantivermo-nos firmes na fé e nas virtudes. A doutrina protestantes do ?uma vez salvo, sempre salvo? não condiz com a Escritura, que afirma ?portanto, quem pensa estar de pé veja que não caia? (1Cor 10,12). Não haveria sentido tal advertência caso a salvação já estivesse garantida.
Penso sempre se o que estou fazendo/sentindo/pensando está alegrando ou entristecendo Aquele que me ama tanto e que eu tanto amo. Não quero ferir o coração dEle, por isso abstenho-me de envolver-me com o que Ele não aprova. E faço isso com alegria e amor, não por obrigação. Minha amizade com Deus é o que eu tenho de mais precioso. Um dia vou estar com Ele e isso me traz uma paz inefável. Não tenho medo da morte, nem do futuro, pois pertenço Àquele que tem amor, poder e sabedoria para cuidar de mim, em todas as coisas. Seja o que for que venha a acontecer comigo, terá que passar antes pela aprovação de Deus e eu descanso na certeza de que Ele me quer bem. Estou desfrutando da vida eterna desde agora, a cada instante. Estou viva espiritualmente!
Glória a Deus por você.
Tenho a segurança e a certeza da salvação ? e de que não vou perdê-la ? porque isso está firmado, não em mim, que sou tremendamente pecadora, mas está firmado em Deus que, Santo, fez-se pecado por mim na cruz. O que está firmado em Deus é inabalável. Se dependesse de mim, eu não poderia esperar nada, pois há pecados encobertos a mim que ofendem tremendamente a Deus. Sei que Deus tem poder para tirar a minha salvação, Ele tem pleno poder para isso (Mt 10:28; Mc 14:36), mas sei que Ele não irá fazer isso pois o que está firmado na obra salvadora dEle é consumado e inalterável.
Está firmado em Deus, porém o homem tem um papel na sua salvação. A coroa da vitória, a salvação, só será alcançada no final da corrida, lembra? Para tanto, a vida cristã deverá ser exemplar. Eu tenho esta vida hoje? Não, não tenho, então eu devo temer pela minha salvação, pois mesmo tendo conhecido a Deus, reconheço que ainda sou pecador e tenho sempre em mente que salvação que Ele me conseguiu na cruz está à minha disposição, mas pela tendência da carne humana à fraqueza, pode ser que meu estado de liberdade de escolha possa resistir à graça salvadora de Deus, e eu próprio me condene: ?os que praticaram o bem irão para a ressurreição da vida, e aqueles que praticaram o mal ressuscitarão para serem condenados? (Jo 5,29). Não se mede a prática por uma confissão. Não se salva o cristão que acha que, aceitando Jesus, sua ?vaga? está garantida. Existem aqueles, muitos, que são fracos na fé, são curvados ao pecado. Lembra da parábola do semeador? Pois a humanidade está representada nessa parábola. O poder da graça de Deus, por outro lado, é tão apaixonante, que mesmo pecando, eu, por exemplo, busco sempre me corrigir, quero buscar a confissão dos pecados, os sacramentos da minha Igreja. Hoje mesmo, à noite, irei à confissão e amanhã à missa receber o Cristo em mim. É fato que quando conhecemos Deus e as promessas, novas criaturas somos, somos filhos de Deus. Mas somos filhos mal-criados, é verdade, mas, também, assim como o filho pródigo, quando nossa consciência nos alerta e espinha com dores da alma, levantamos e queremos retornar ao Pai. Isso é a vida do cristão, quedas e levantes. Alguns santos da Igreja Católica já disseram que santo não é aquele que não peca, mas aquele que sempre se levanta. E só o apoio de Deus nos dá a força para nos levantarmos em nossas constantes quedas. Eu, por exemplo, seria medalhista olímpico em matéria de quedas, mas sempre meu coração quer se erguer em direção a Deus, quer se levantar à Ele, receber em meu coração a certeza de que Ele me ama e me quer bem, evidências que percebo sempre nos fatos corriqueiros do meu dia-a-dia. Se quiser, leia Salvação: Segurança ou Esperança?
Ora, isso não me faz viver relaxadamente, a meu bel-prazer, pelo contrário, compreendendo o extremo amor e sofrimento dele para comprar a salvação para mim com seu próprio sangue, encho-me de temor, tremor e amor, que me movem à santidade de vida em profunda reverência a esse Deus tão amável e tão terrível, pois que cousa horrível é cair nas mãos do Deus vivo. Um pai tem toda a força para matar seu filho com suas próprias mãos sem muito esforço; mas, porque ama esse filho, não irá matá-lo, ao contrário, irá fazer tudo para dar uma vida plena e feliz ao filho. E nisso o filho descansa. Por experiência própria, digo que a graça é irresistível aos eleitos e os verdadeiramente salvos vão irrevogavelmente perseverar até o fim.
Falso. A graça é resistível por que não é uma força, é um dom gratuito de Deus, oferecido a todos os homens. Sua interpretação é tipicamente calvinista, o que me preocupa, pois ser calvinista implica numa aberração em relação à teologia do amor de Deus. Os calvinistas, por exemplo, dizem que o homem, antes de ser regenerado pela graça de Deus, não pode fazer bem algum em direção à sua salvação. Porém, segundo conclui o frei Reginauld Garrigou-Langrange, um dos maiores teólogos tomistas que já apareceram, diz que ?não resistir à graça salvadora e regeneradora de Deus não é um mal, é um bem?, o que configura uma aparente contradição com a definição calvinista.
É algo intrínseco à própria natureza. Por exemplo, que de tão óbvio chega a ser infantil, a água é necessariamente molhada; se não o for, poderá ser qualquer coisa, menos água. Quanto ao batismo infantil, se ele opera a regeneração, por que não há sinais dessa regeneração em pessoas que foram batizadas na infância?
Claro que há sinais. Nem todos os adultos batizados na infância são corruptos, biblicamente falando. Mas, como já relatei antes, temos a nossa vontade curvada ao pecado, e muitos são fracos na fé, e acabam caindo em pecado, por negar permanecer na graça de Deus: ?Cada um é tentado pela sua própria concupiscência, que o atrai e alicia? (Tg 1,14).
Sim, porque estão por aí pessoas batizadas na infância que cultuam Satanás, que são possuídos por demônios ou que são serial killers com perversidade demoníaca.
Assim como existem pessoas, batizadas adultas, que fazem a mesma coisa. Minto?
Como pode o Espírito Santo e um espírito demoníaco habitarem num mesmo corpo humano?
Não pode.
O corpo humano habitado pelo Espírito Santo não é santo, santuário do Espírito Santo e templo de Deus (I Co 6:19)? Pode-se servir a dois senhores? Ou, menos, batizados na infância que mentem, roubam literalmente, têm um linguajar tremendamente obsceno e não transmitem nenhuma vida espiritual.
Novamente, batizados adultos fazem até pior
É assim uma professora onde eu trabalho, embora ela seja assídua nas missas, novenas e procissões.
Você, sem dúvida, não julgaria a conduta cristã e as virtudes de alguém por sua assiduidade aos cultos. Quando freqüentava cultos na igreja batista, haviam algumas jovens grávidas, que, quem sabe, antes de engravidar podiam ser alvos de bons comentários devido sua freqüência aos cultos… Existem muitos católicos que são católicos durante uma hora por semana, que é a hora da missa, de pois já não são membros da Igreja que pensam ser. A mesma coisa acontece com alguns evangélicos, quando, como se funcionasse como um ?habeas corpus divino?, alegam serem evangélicos quando questionados sobre algumas práticas, como fumo, bebida e, até, futebol aos domingos. Ser católico, ir à missa, ou ser evangélico não vai excluir ninguém de pecados, muito pelo contrário, basta ser homem, viver neste mundo e estar sensível ao ambiente ao redor.
E por que, por outro lado, há pessoas (por exemplo, batistas) que jamais foram batizadas na infância e, no entanto, dão nítidas evidências de novo nascimento, de vida espiritual em abundância?
Porque o sentido da palavra que vocês dão a novo nascimento é diferente. Sua interpretação é baseada nas emoções e numa postura nova de vida, e, de fato, todos que começam a freqüentar um ambiente religioso, muda alguma coisa em sua vida. Monique Evans, sem dúvida, mudou de vida, ela falaria, depois que virou evangélica. Por essa interpretação, conheço TJs e espíritas que ?nasceram de novo?, com ?nítidas evidências de novo nascimento?, quem sabe até mais que você e eu. O grande problema, portanto, é a subjetividade baseada nas emoções individuais.
A regeneração parece estar desvinculada do batismo físico e intimamente ligada ao batismo espiritual. Parece depender de uma só coisa: o encontro pessoal com Deus pela fé e a transformação que vem disso.
Não. Renascer da água e do Espírito, ser batizado, significa um ato único. Leia novamente o que escrevi acima.
Uma tese se comprova pelas evidência práticas.
Práticas até pode ser, mas não bíblicas.
Eu posso afirmar terminantemente que o sol tem formato triangular, mas o que se vê é o formato redondo! Também, se lermos a Bíblia em todas as suas referências ao batismo cristão, não há nenhuma referência nítida ao batismo de crianças, mas há muitas em relação ao batismo de adultos após crerem (por ex., At 8:12).
Entretanto você esquece que Atos descreve a primeira geração de cristãos, todos adultos. Durante o passar dos anos, o batismo foi oferecido a todos os membros da família, inclusive aos infantes. Não há porque impedir as crianças de irem à Jesus, pois pelo batismo somos considerados cristãos. O batismo protestantes (algumas denominações), simbólico e desnecessário, não é o batismo bíblico, onde a pessoa renasce pela água e pelo Espírito, sendo oferecido à todas as pessoas, mesmo às crianças, por sua projeção à circuncisão veterotestamentária. Leia sobre a doutrina do batismo infantil neste link, se desejar: A doutrina católica do batismo infantil; O Pecado Original
E ainda há muito que dizer, mas não quero cansá-lo com essas indagações que sempre perpassaram pela minha cabeça e, devo admitir, foram sempre uma bênção para mim, pois sempre me levam a buscar a Deus ? e a encontrá-lo. Tenho plena consciência de que meu modo de pensar não pode ?encaixar-se em todas as cabeças?, pois não tenho o direito de impor nada, senão de apenas expor o que penso. Mas é que, quando se acha um tesouro inexplicavelmente maravilhoso ? a vida eterna pelo novo nascimento ? a alegria é tanta que a gente deseja compartilhar com os outros, pois, quanto à maravilhosa experiência do novo nascimento, desejo que outros também vivam isso (Lc 15:8-10). Você pode dizer que é presunção minha querer determinar quem é e quem não é nascido de novo! Por favor, não pense assim, pois o que eu disse, disse com temor e tremor, sabendo também que, por ex., você como médico sabe muito bem quem está realmente doente e quem está apenas se fingindo de doente. Um homem sóbrio sabe nitidamente distinguir outros dois homens: o que está ébrio e o que está sóbrio.
Não se preocupe. O que conclui sobre o que você falou já escrevi no começo da resposta. E, da mesma forma, há muito o que dizer, posto que, como já escrevi muito, resolvi aguardar suas considerações para completar o raciocínio.
Após este ?jornal?, vou parar por aqui, torcendo para você não ter se cansado tanto a ponto de nunca mais querer dialogar comigo!
Graça e paz.
Cleusi
A paz