Liberalismo e socialismo

Boa parte dos esquerdistas tenta nos fazer crer que liberalismo e socialismo são expressões antagônicas. Enganados por essa falácia, repetimos esse sofisma todos os dias, perdendo de vista a análise das concepções filosóficas que criam ambos os termos.

 

Quando dizemos liberalismo, estamos nos referindo a um conceito bem mais abrangente do que a simples liberação econômica ou que a idéia do Estado que interfere minimamente no mercado. O liberalismo é a doutrina da Revolução Francesa, e por causa dela impregna a sociedade moderna. E isso de tal forma que a filosofia moderna é propriamente o liberalismo.

 

Bem, o que propugnam os liberais? Que o homem não tem inclinação alguma ao mal, e que a sociedade é que o corrompe, negando, portanto, o pecado original, a concupiscência e a ação da graça na alma, e mesmo patrocinando a atual crise de seriedade – traduzida num imbecil otimismo que teima em não ser realista, e vê em todo sacrifício um mal. Que a razão individual e a razão social são realidades tão diversas que se governam por pressupostos independentes, fazendo nascer, por essa crença, a absoluta liberdade de cada um pensar o que quiser, como se a verdade fosse relativa – ora, se a verdade é relativa, deixa a mesma de ser verdadeira, pois é ontológico à verdade ser absoluta (eis o absurdo do relativismo pregado por Kant e seus seguidores!). Que todos são absolutamente iguais, esquecendo que, apesar da igualdade essencial entre os seres humanos, somos criados por Deus desiguais em nossos acidentes – e essa desigualdade é um bem. Que a liberdade de expressão, de religião, de imprensa, de educação, são dogmas naturais do ser humano, ignorando que o bem comum e a verdade devem pautar nossas atitudes – inclusive cerceando aquelas quando ferir a moral. Que todas as nações devem, necessariamente, erigir-se em Estados, confundindo tais termos – e ocasionando conflitos no século XX exatamente pela máxima realização desse dogma (guerras entre judeus e palestinos, a I e a II Guerras Mundiais). Que o Estado é absolutamente independente de qualquer regra moral, instalando um rigoroso positivismo jurídico – que desrespeita as noções claríssimas de direito natural. Tanto os que sustentam que o Estado não deve se meter em nada quanto os que propõem o absolutismo estatal são liberais, apenas ressaltam tais aspectos isolados do liberalismo.

 

O socialismo, ensinam os Papas Gregório XVI, Beato Pio IX, Leão XIII, São Pio X, Pio XI e João Paulo II, é fruto do liberalismo. Sua matriz filosófica é a mesma. O liberalismo gerou o fascismo, pois este último é a tentativa de estatização uma nação, cumprindo à risca a cartilha liberal. Gerou também o nazismo, tentativa de independência total do Estado frente à moral, e, como o fascismo, idolatria do mesmo. Por sua vez, o liberalismo fez nascer também o socialismo: radicalização das idéias de igualdade absoluta sustentadas pelos revolucionários franceses, das quais encontramos sementes já na Reforma Protestante.

 

Todos esses sistemas – também com o capitalismo selvagem, outro pernicioso mito liberal, que desvincula as atividades mercantis de qualquer regra moral – são a expressão do que se chama ideologia: a valorização de uma idéia com prejuízo à realidade.

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