Luteranos não são protestantes?

Em nossas igrejas nada se ensina sobre os artigos da fé que seja contrário à Sagrada Escritura ou à Igreja Cristã Católica, havendo-se apenas corrigido alguns abusos, que, em parte, se introduziram por si mesmos com o correr do tempo

Confissão de Fé de Augsburgo de 25 de junho de 1530, prólogo ao artigo 22.

Algumas vezes é dito que as igrejas de comunhão anglicana estão a “meio caminho” entre a Igreja Católica e o cristianismo protestante. Eles retém a liturgia, os sacramentos e os credos enquanto simultaneamente professam a supremacia da Bíblia na determinação da salvação.

Ao mesmo tempo existe uma outra família de igrejas, sob o nome de Martinho Lutero, que pratica uma versão um pouco diferente deste “meio termo”. Os luteranos retiveram a liturgia e doutrina históricas da Igreja Católica (isto é, Universal), mantendo os santos sacramentos como significado da graça (incluindo a Real presença de Cristo na santa Eucaristia), professam os antigos credos e seguem o calendário da Igreja. Ao mesmo tempo os luteranos professam o evangelho da justificação pela fé e a firme crença nas Escrituras como firme medida de nosso conhecimento de Deus e de seu plano de salvação. Por essa razão poder-se-ia dizer que os luteranos são tanto católicos como protestantes, e ainda nem católicos nem protestantes. Este é o caminho intermediário natural entre estas duas.

Na história recente, os luteranos da América do Norte têm flertado com um protestantismo desgastado. Hoje a Igreja Evangélica Luterana na América (IELA), a maior da América do Norte, mantém plena comunhão com quatro igrejas calvinistas (Igreja Reformada na América, Igreja Presbiteriana [USA], Igrejas de Cristo Unidas e Igreja Morávia na América), nenhuma das quais acredita na presença real e física de Cristo na Eucaristia.Também divide o altar com a Igreja Episcopal, grupo que abandonou a teologia católica apesar de manter o ritual católico. Por isso há uma grande possibilidade de num futuro próximo a IELA venha a se tornar apenas mais um componente deste protestantismo ultra-liberal que tem abraçado.

Ao mesmo tempo, a Igreja Luterana – Sínodo de Missouri (ILSM), a segunda maior no continente, possui na própria igreja um movimento de crescimento que busca trazer de volta e conservar “evangélicas” e “não denominacionais” as igrejas que na melhor das hipóteses ignoram, e na pior delas rejeitam a liturgia, os sacramentos e os credos – em suma, a maior parte do que tem de ser “acreditado em qualquer lugar, sempre, e por todos” (famosa definição do que seja “católico”) pela Igreja. Os luteranos não devem temer a oposição a estas tendências. É importante notar que, apesar do comum falar, luteranos não são protestantes.

A intenção de Martinho Lutero e daqueles que estão escritos na Confissão de Augsburgo era de Reformar, não Rejeitar, a Igreja como ele a tinha achado. Aparte às adições hiperbólicas de sentimentos anti-católicos por parte dos contemporâneos de Lutero, estes seguiram Lutero partilhando muitas práticas e pontos teológicos com Roma. Lutero travou batalhas intensas contra os “entusiastas” e “sacramentarianos” que recusavam o batismo infantil e a validade de um ministério ordenado, rejeitando a Real Presença de Cristo na Eucaristia, e de fato rejeitando todos os sacramentos como significado da graça de Deus.

As Igrejas Luteranas reconhecem e celebram os sacramentos do Santo Batismo, Santa Comunhão e Santa Confissão. Mantém as tradições das sagradas liturgias como expressão do Serviço Divino (Deus servindo seu povo pela palavra e pelos sacramentos), incluindo o sinal da cruz e os grandes hinos do Ofício Divino (Kyrie, Gloria Patria, Sanctus, Agnus Dei). Conservam o Ofício das Horas e o sagrado ministério. Professam os antigos credos da Igreja, o dos apóstolos, o Niceno e o Atanasiano, como reafirmação da verdadeira fé repetida desde os primeiros séculos da Igreja, incluindo a crença em uma “Única, Santa, Católica e Apostólica” Igreja. Em seu sermão de natal, Lutero disse que “aquele que quiser encontrar Cristo deve primeiro encontrar a Igreja… Aquele que quiser conhecer alguma coisa sobre Cristo não deve confiar em si mesmo nem mesmo erguer uma ponte até o paraíso pela sua própria razão; mas deve ir à Igreja escutar e questioná-la”. Todas estas coisas separam os luteranos dos protestantes que rejeitam a Igreja e pensam que tudo o que precisam é de uma fé individual. Em vez disso, somos católicos.

Ao mesmo tempo, os luteranos são o povo da Sagrada Escritura que professam a Palavra de Deus como, pelas palavras de Lutero, “O que é verdadeiramente santo entre todas as coisas santas”. Somos evangélicos no sentido real da palavra, professando a Boa Nova da salvação pela fé através da graça e sem qualquer mérito nosso. De fato, a escolha de “luteranas” para o nome das igrejas que aceitaram a reforma de Lutero deveria ser “evangélicas”, e não “luteranas”, como costumam ser conhecidas.

E mesmo que os luteranos partilhem seu fundamento na Palavra como os Protestantes, rejeitamos qualquer restauração sem sentido para “retornar à Igreja Primitiva”. Ainda que este seja a vontade profunda da Igreja e a promessa de Deus de ser ela a esposa de Cristo, nunca houve um tempo em que a Igreja esteve sem manchas ou rugas (Ef 5,27) que servissem de modelo que poderíamos reproduzir. Mesmo entre os doze havia Judas!

Ainda que as igrejas luteranas carregem o nome de um homem, ela está fundada sobre a rocha que é Cristo e nos ensinamentos confiados aos seus apóstolos. As Igrejas Luteranas Ortodoxas são parte desta “una sancta”, esta “Única, Santa, Católica e Apostólica” Igreja na qual todos os luteranos deve confessar. Acreditamos e proclamamos a Boa Nova. Somos tanto evangélicos quanto católicos, ao ponto de muitos luteranos chamarem-se de “evangélicos católicos”. De fato, o assunto básico da Confissão de Augsburgo é que o real católico é luterano! Mas acima de tudo, NÃO SOMOS PROTESTANTES.

2001 Dare E. Paul.

Fonte: http://orthodoxlutheran.fws1.com/notprot.html. Tradução: Rondinelly Ribeiro.

 

Comentário

 

Apesar de os protestantes pentecostais e neopentecostais pensarem que doutrinas tais como Eucaristia e demais Sacramentos, Sagrada Liturgia e Ordens Eclesiásticas, além da fé firme no dogma mariano da Maternidade Divina de Maria, como vocês podem ver no site de onde tirei este texto, são exclusivamente católicas e erradas, vemos que existem aqueles que com firmeza digna de um católico rejeitam algumas doutrinas do protestantismo com a mesma veemência.

Claro que para nós, católicos, as coisas não são como estão ditas neste artigo. Cremos que a Igreja Luterana não possui um ministério devidamente ordenado e não há validade na sua Eucaristia apesar de eles acreditarem nela à semelhança nossa. Crêem ainda na “Sola Scriptura” como doutrina básica, entre outros “Solas”. Os verdadeiros cristãos, ao contrário do que se fala no fim do texto, são católicos, e não luteranos.

Mas este texto é apenas mais um exemplo de como o protestantismo se encontra dividido contra ele mesmo, onde a convivência entre duas destas igrejas pode representar perigo, e não harmonia.

O autor fala que pelo fato de a maior igreja luterana dos Estados Unidos correr o risco de virar uma igreja protestante comum por estar em comunhão com igrejas doutrinariamente distraídas, quem sabe esta igreja luterana ortodoxa, com o tempo, não vai retornando à verdadeira doutrina, e terminar por aderir à comunhão católica? Sonhar não custa nada, não é verdade? Alguns avanços aconteceram já, como a assinatura da Declaração Conjunta de Justificação, lembram? Os estudos sobre Maria avançam cada vez mais colocando Maria, de fato, como membro efetivo na vida da igreja cristã. Quem sabe estas doutrinas nefastas de “Sola Scriptura” e outras não vão sendo esclarecidas, e deixadas pela verdadeira doutrina dos apóstolos?

Eu só queria estar vivo para poder presenciar a festa “pelo pecador que se converte”.

[]s a todos
Rondinelly Ribeiro

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