Lutero e a autoridade das Escrituras

Refutação ao texto do Pr. Errol Hulse (página Textos da Reforma).

Lutero “conseguiu derrubar as confissões (de fé) católico-romanas”. É com esta frase que o pr. Hulse inicia seu texto. Por extrema infelicidade há dois enganos primários cometidos: (1) A igreja luterana, assim como as demais protestantes, possuem a herança teológica da Igreja Católica, dessa forma as confissões de fé católicas estão presentes na teologia protestante; (2) Lutero não conseguiu derrubar a Igreja Católica.

Segundo ele Lutero conseguiu derrubar a Igreja Católica porque ela se baseia em tradições humanas e não estavam de acordo com a bíblia. A Igreja se tornara corrupta, ensinando práticas do diabo.

Lutero, então, de posse de uma iluminação divina fez o que nenhum cristão até então tinha feito: leu as escrituras e descobriu que a Igreja estava errada. Revoltou-se contra a venda de indulgências e iniciou a revolução protestante.

Em 1517 Lutero fixa suas famosas 95 teses no portão da igreja do castelo de Wittenberg. Queimou a bula papal que exigia sua retratação e foi excomungado pelo Papa Leão X em 1521.

Para os protestantes Lutero era um homem que tinha a vocação certa para o sacerdócio. “Suas fortes inclinações religiosas acabaram levando-o a tornar-se monge”. (Carlos Fernandes. Lutero: o homem que revolucionou o cristianismo). Entretanto não é isso que outros historiadores contam. “Certa vez, a caminho da universidade (2/7/1505), foi quase fulminado por um raio; em conseqüência, fez o voto de entrar no convento (“Hilf. St. Anna, icb will ein Monch Werden!” – “Ajuda, Santa Ana, quero tornar-me um monge”). Esta decisão era fruto do temperamento escrupuloso e pessimista de Lutero, que receava o juízo de Deus sobre os seus pecados (Lutero muito preocupava com a sua fraqueza e os seus pecados, que o deixavam inquieto)”. (Dom Estevão Tavares Bettencourt, O.S.B. – Livro Crenças, religiões, igrejas e seitas: Quem são? – Editora: O mensageiro de Santo Antônio – 3 ª Edição – Outubro de 1997 – SP).

A “corrupção” da Igreja Católica é enumerada em 8 tópicos. São eles:

– “O escândalo do menino Papa. Ele tinha 12 anos e acabou se revelando uma ?besta maligna?, vendendo o papado por uma oferta ?gorda? em dinheiro”.

– “O Papa Inocêncio VIII, pai de 16 filhos ilegítimos e ordenou a execução dos Valdenses que criam verdadeiramente na bíblia”.

– “O escândalo do cisma papal. Século VIV e XV. Três Papas reivindicavam a autenticidade do seu papado. Onde fica a infalibilidade papal?”.

– “O escândalo da imoralidade. O celibato não funciona de fato. Em 1Tm 3,4 lemos que essa doutrina do celibato é do diabo”.

– “O escândalo da idolatria. Eles conferiam às relíquias um poder supersticiosamente grande e da mesma forma aos ídolos. Pessoas indo de santo em santo, ídolo em ídolo para rezar e dando homenagem especial à Maria”.

– “O escândalo da guerra das cruzadas”.

– “O escândalo da inquisição… será que Jesus sugeriu que nós devíamos ameaçar as pessoas de serem queimadas vivas se não se tornassem cristãs? Isso foi algo terrível!”.

– “O escândalo das indulgências. A salvação comprada por dinheiro… desde quando podemos comprar a salvação com dinheiro?”.

Ao que podemos responder que:

O escândalo do menino Papa. Ele tinha 12 anos e acabou se revelando uma ?besta maligna?, vendendo o papado por uma oferta ?gorda? em dinheiro“.

Não se conhece em toda a história da Igreja Católica algum Papa que tenha assumido este cargo aos 12 anos. Provavelmente é mais um erro historiográfico comum entre os protestantes. Talvez o personagem a quem o pastor se refere seja João XII, que foi Papa no ano de 955, aos 18 anos de idade.

Houve uma época na história da Igreja em que o povo era quem escolhia os bispos e até mesmo o Papa. Santo Ambrósio (séc. IV) ainda era catecúmeno, se preparando para receber o batismo, ou seja, ainda não era nem cristão, mas apenas pela sua oratória o povo o aclamava dizendo “Ambrósio, bispo de Milão!”. (Pe. Cechinato. Os 20 séculos de caminhada da Igreja). Entretanto os reis e príncipes geralmente entravam também neste sistema, conhecido como “investidura papal”. Eles punham seus próprios interesses acima do bem espiritual da própria Igreja. Foi isso que aconteceu com a eleição de João XII: foi eleito Papa com 18 anos de idade sem ter a mínima capacidade para tal.

Ele viu-se cercado por problemas e intrigas políticas. Como tinha relações com reis, pediu auxílio não à Igreja, mas a Otão I, rei da Alemanha. Otão I entrou em Roma com seu exército e João XII o coroou “Imperador do Sacro Império Romano-Germânico”. João XII e Otão I fizeram aliança: Otão o defenderia.

Mas não foi tão simples assim. Otão voltou ao seu reino e os poderosos de Roma começaram a pressionar o jovem João XII. Este foi pedir ajuda ao príncipe Berengário, que era inimigo de Otão I. Ocorreu uma invasão por parte de Otão I que manipulou um sínodo que depôs João XII e elegeu seu próprio Papa: Leão VIII.

Otão volta para a Alemanha e João XII consegue depor o falso Papa Leão VIII. Otão I soube disso e voltou mais uma vez a Roma. Mas quando chegou João XII havia falecido, aos 27 anos de idade.

Vemos que João XII não tinha a capacidade para o Papado, mas não há nada que o coloque como inimigo da doutrina. Não fez nenhuma declaração contrária às verdades da fé.

 

O Papa Inocêncio VIII, pai de 16 filhos ilegítimos e ordenou a execução dos Valdenses que criam verdadeiramente na bíblia“.

O Papa Inocêncio VIII (Giovanni Battista Cibo, 1484-1492) Não tem nada a ver com os Valdenses. Ele, juntamente com Sisto IV, Alexandre VI, Pio III, Júlio II e Leão X, foram Papas em uma época muito difícil para a Igreja: o Renascimento. Nesta época a sociedade perdeu o respeito pelo sagrado. O humanismo agora era o que regia a forma de vida das pessoas. O pecado deixara de ser uma coisa feia, não escandalizava mais ninguém. Muito parecido com nossos dias.

Os papas deixaram de ser visto como “sua santidade” e passaram a ser considerados como simples chefes de Estado. É verdade que estes papas não cuidaram muito da espiritualidade, tinham amantes, filhos, mas, para esse tempo, foram bons papas.

Provavelmente a quem o pastor Hulse se refere é Inocêncio III. Os valdenses, cujo nome vem de Pedro Valdo, comerciante rico da cidade de Lyon, aderiram ao que pregava a heresia cátara. Eles adotavam a bíblia como única autoridade de fé, por isso o sr pastor se referir a eles como aqueles que “criam verdadeiramente na bíblia”. Eles, crendo verdadeiramente na bíblia:

– negavam a presença real de Jesus na Eucaristia, algo que a Igreja de Lutero, crendo verdadeiramente na bíblia, não nega;

– eram adeptos do celibato, o que, segundo o pastor Hulse, que crê verdadeiramente na bíblia, julga ser doutrina “do diabo”;

– não comiam carne, algo que, se não for vegetariano, o pastor Hulse faz e não vê nada de anti-bíblico.

– desprezavam a vida por crerem que a matéria (carne) é má e repudiavam a mulher por dar à luz a mais uma matéria má no mundo. Eles, crendo verdadeiramente na bíblia, não leram que “o Verbo se fez carne e habitou entre nós”, algo que o pastor Hulse, que também crê verdadeiramente na bíblia, também crê.

– Os Cátaros (Valdenses) proibiam também juramentos sob o pretexto de que não deveríamos misturar Deus aos afazeres temporais e condenavam toda a espécie de riqueza.

Por considerarem a bíblia como única autoridade os Valdenses são considerados os “proto-protestantes”.

Considerar os Valdenses como aliados, como o pastor faz, é admitir que eles estão corretos em suas condutas. Será que as igrejas protestantes aceitariam realmente tais doutrinas se existissem naquela época (séc. XII)?

Os hereges não eram condenados à morte de imediato, e muitos não foram. “Foram numerosos os cânones dos concílios que, excomungando os hereges e proibindo os cristãos de lhes darem asilo, não admitiam que se utilizassem contra eles a pena de morte. Deviam bastar as penas espirituais ou, quando muito, as penas temporais moderadas (Daniel-Rops, História da Igreja de Cristo, vol. III, A Igreja das Catedrais e das Cruzadas, Quadrante, pp. 605-606)”.

A Igreja demonstrou grande paciência antes de tomar medidas para conter o perigo cátaro. As heresias dos Albigenses foram condenadas pelo Concílio Regional de Toulouse em 1119, mas até o ano 1179, Roma se satisfazia apenas em enviar pregadores a Languedoc. Diga-se de passagem, homens santos como São Bernardo e São Domingos. Esses missionários tiveram pouco sucesso. Em 1179, o Terceiro Concílio de Latrão pediu às autoridades civis para que interferissem. Os reis da França, Inglaterra e Alemanha já haviam começado, por sua própria iniciativa, a suprimir o Catarismo que estava ameaçando a ordem social com suas perversas doutrinas sobre a família e a questão dos juramentos.

Enfim, considerar que os Valdenses estavam certos e os católicos errados é aceitar que tudo o que eles pregavam é verdade. Quem se habilita?

O escândalo do cisma papal. Século VIV e XV. Três Papas reivindicavam a autenticidade do seu papado. Onde fica a infalibilidade papal?”.

O cisma em nada interfere na veracidade da autoridade infalível do papa. O cisma que ocorreu foi de ordem política, não espiritual.

O cisma do ocidente, como ficou conhecido esse episódio confuso da história da Igreja, foi resolvido pelo Concílio Ecumênico de Constança, 1414 a 1418. Entre outras resoluções o Concílio decidiu a:

– resignação do Papa romano, Gregório XII (1405-1415)

– deposição do anti-Papa, João XXIII (1410-1415) em 29/05/1415

– deposição do anti-Papa avinhense, Benedito XIII (1394-1415) em 26/07/1417

– eleição de Martinho V em 11/11/1417.

Mas vamos à história. Gregório XI (201° papa) morreu em 27 de março de 1378. O conclave que deveria escolher o próximo Papa era composto por 16 cardeais. Desses, onze eram franceses. O problema era que o povo gritava, nas praças de Roma: “Vogliamo romano, o almanco italiano!” (queremos um romano ou pelo menos um italiano!).

Foi eleito um italiano, Bartolomeu Prignani, arcebispo de Bari, e adotou o nome de Urbano VI. Ele foi o último Papa que, até então, não era um cardeal.

Alguns cardeais saíram insatisfeitos do conclave, mas a eleição foi válida. Alguns nobres apoiados pelo rei Carlos V da França, também insatisfeitos, revolveram eleger seu próprio Papa: Clemente VII. Detalhe: era primo do rei…

Esta manobra visava manter a Igreja atrelada aos interesses da França. O Papa Urbano VI confrontou seu rival o (anti)papa Clemente VII, que aliás de religioso não tinha nada (era altamente mundano). Exigiu que ele renunciasse. Para combater Urbano, Clemente resolveu invadir Roma à força, com exércitos, em 1379, mas essa tentativa fracassou. Após esse episódio Clemente formou sua própria “Cúria” na cidade francesa de Avinhão. Urbano lançou a excomunhão sobre ele. Assim começou a seqüência de Papas e antipapas conhecido como o “Cisma do Ocidente”.

A sociedade também ficou muito confusa. Dividia-se em “Urbanistas” e “Clementistas”. Quando Clemente faleceu, em Avinhão, os clementistas elegeram mais um antipapa: Bento XIII.

Para tentar resolver o problema alguns bispos se reuniram na cidade de Pisa. Decidiram que Bento XIII e o Papa atual, Gregório XII, deveriam ser depostos. Elegeram então o novo Papa: Alexandre V. Entretanto, como tal decisão dos bispos foi inválida coexistiram em um mesmo momento três “Papas”: Gregório XII, Bento XIII e Alexandre V. O primeiro era o verdadeiro Papa, os demais eram ilegítimos (antipapas).

Alexandre V morreu após um ano e seu sucessor adotou o nome de João XIII. Permaneceu ilegítimo, por isso o cardeal Roncalli, em 1958, quando foi eleito Papa, adotou este nome.

Essa confusão toda mexeu com a cabeça da cristandade. Cardeais, bispos, padres, monges e leigos estavam divididos. Muitos já não sabiam quem de fato era o verdadeiro Papa, pois somada à confusão estava a dificuldade na transmissão de informações da época. Alguns santos inclusive defendiam um antipapa, pensando que era o legítimo. São Vicente de Férrer defendia Bento XIII como legítimo Papa. Santa Catarina de Sena defendia o legítimo Gregório XII.

A confusão chegou a ponto de dividir nações inteiras. Do lado de Clemente VII ficaram França, Nápoles, Sicília, Escócia e parte da Alemanha. Do lado de Urbano VI estavam Itália central, Inglaterra, Hungria e reinos Escandinavos.

O imperador de Luxemburgo Sigismundo propôs que se fizesse um Concílio para resolver o problema. Foi reunido o Concílio Ecumênico de Constança (16° ecumênico), que contou com 29 cardeais, 336 bispos, padres, príncipes e o imperador Sigismundo.

Gregório XII se propôs a abdicar do papado para que os antipapas também renunciassem, mas eles não quiseram assim. Então o Concílio decidiu depor ambos como “perjuros, hereges e cismáticos”. Foi eleito o cardeal Colonna, com o nome de Martinho V. estava encerrado o cisma.

O escândalo da imoralidade. O celibato não funciona de fato. Em 1Tm 3,4 lemos que essa doutrina do celibato é do diabo“.

Celibato não é do diabo. Se fosse, todos aqueles que decidiram ser celibatários, decidiram a seguir o diabo. Entre eles, então, estão:

– Jesus;

– Paulo;

– Timótio.

Só para citar alguns exemplos.

O celibato, antes de tudo, não é dogma da Igreja, mas sim norma interna, podendo revoga-la quando quiser, mas já se passaram 2000 anos e não foi revogada…

“Quero, de fato” – diz São Paulo – “que todos vós sejais como eu” (1Cor 7,7).

“Todos vós”, “todos vós”, Paulo gostaria que fôssemos continentes, como ele era, “todos vós”, dizia aos cristãos de Corinto: e estes, ademais, não se diferenciavam dos cristãos de todo o mundo. Estava Paulo recomendando doutrina do diabo?

Quando alguém escolhe ser celibatário o escolhe de livre vontade, seguindo um preceito evangélico. Paulo era celibatário, e queria que os cristãos fossem como ele era: celibatário! Mas também disse que quem não se conter que case. Ora, quem não se contém não possui a vocação para celibatário, quem se contém é porque consegue ser como Paulo. Não há doutrina demoníaca em nada.

O fato de ocorrerem escândalos sexuais entre os que escolheram a vida celibatária somente mostra como somos propensos ao pecado e como “é estreita a porta que leva ao céu”. Mas não se rejeita uma lei somente porque ela não é cumprida. Se fosse tal o raciocínio poderíamos fazer sexo e ter filhos antes de casar, porque muitos cristãos, católicos e protestantes, fazem sexo e engravidam antes do casamento, logo não necessitamos mais da virgindade antes do matrimônio.

É bom lembrar que “escândalo de imoralidade” não é privilégio de quem é celibatário. Muitos pastores protestantes, casados, dão “escândalos de imoralidade”. Por isso a causa de tais escândalos não é somente o celibato, mas a concupiscência da carne.

O escândalo da idolatria. Eles conferiam às relíquias um poder supersticiosamente grande e da mesma forma aos ídolos. Pessoas indo de santo em santo, ídolo em ídolo para rezar e dando homenagem especial à Maria“.

Não há idolatria na Igreja Católica. O fato de dar valor a santos do passado e à Mãe de Deus não significa crer que eles são deuses. A presença de imagens nas igrejas e nas casas está longe de, por si só, configurar idolatria. Deus mesmo ordenou e permitiu a presença de imagens, pois tais seriam utilizadas da forma correta: como ornamentações e veneração. Lembrar que Deus mesmo dizia que se faria presente e ditaria suas leis “do meio dos querubins” da arca.

A Igreja sempre usou imagens porque, após estudos teológicos intensos, observou que as imagens direcionadas da forma correta não configurariam idolatria, como fazia Israel no período do Antigo Testamento. Acrescentando o fato de, hoje, o cristianismo não ser politeísta, mas monoteísta. Crer que Católicos são idólatras é dizer que têm outros deuses, ou seja, são politeístas.

A posse de conhecimento de ler e escrever sempre, na história da humanidade, foi privilégio de poucos, mesmo nos dias de hoje ainda boa parte do Brasil é analfabeta. Pense, então, em centenas e centenas de anos atrás! A Igreja, então, utilizava das imagens o recurso para evangelizar um povo que não sabia ler, pois apesar de não saber ler, o povo também não tinha como ter bíblias, e não era por que a Igreja “proibiu” como alegam muitos, mas é porque naquela época ter uma bíblia despendia trabalho árduo, de vários copistas trabalhando durante anos, isso para se copiar uma só bíblia. Mesmo depois da invenção da tipografia por Gutemberg ainda assim as bíblias não eram tão populares.

São Gregório de Nissa (séc 4) disse: “O desenho mudo sabe falar sobre as paredes das igrejas e ajuda grandemente”. São Gregório Magno (séc 7): “tu não devias quebrar o que foi colocado nas igrejas não para ser adorado, mas para ser venerado. Uma coisa e adorar imagem, outra coisa é aprender, mediante essa imagem a quem ser dirigem as tuas preces. O que a escritura é para aqueles que sabem ler, as imagens o são para os ignorantes; mediante essas imagens aprendem o caminho a seguir. A imagem é o livros daquele que não sabe ler”.

As imagens católicas, ao invés de servirem de deuses estranhos, servem para o povo conhecer mais e mais a Deus através de seus santos.

A “homenagem especial à Maria” que os católicos fazem nada mais é do que cumprir a profecia dita por Maria, cheia do Espírito Santo: “doravante me proclamarão bem-aventurada todas as gerações” (Lc 1,48). Todas as canções, todos os escritos, todos os estudos têm um único objetivo: dar a Maria o direito de ser proclamada bem-aventurada por todas as gerações. Ela é bem-aventurada porque acreditou, e nós devemos seguir seus mesmo passos para que sejamos também bem-aventurados. Por isso Maria é valorizada na Igreja Católica e em algumas igrejas protestantes também, além do valor crescente que outras confissões históricas estão dando aos estudos de mariologia. Se estudam, é porque dão alguma importância, e se dão importância é porque ela, Maria, deve ter alguma, e por isso tentam descobrir. A Igreja Católica já descobriu tal importância há 2000 mil anos.

O escândalo da guerra das cruzadas“.

Como diz Dom Estevão Bettencourt, OSB, “não se pode entender um episódio do passado sem se reconstituírem previamente o quadro geral respectivo e as categorias de pensamento dos atores desse episódio”. Por isso o assunto “cruzadas” assim como “inquisições” necessitariam de muitas páginas para tentar (isso mesmo) se entender. Mas podemos resumir ao máximo e condensar as idéias para uma forma compreensível.

As cruzadas, como tudo na vida, tiveram suas parcelas positivas e negativas. Infelizmente, somente o lado negativo é apreciado e atacado. Elas devem ser vistas como expressão de fé não apenas como ambição de poder pelos Papas, ou aspirações guerreiras e desejo de enriquecimento por parte da nobreza, ou apenas manifestação de um imperialismo. O Papa Urbano II dizia “cada um se desfaça de seus próprios interesses e aceite a cruz”.

As cruzadas duraram cerca de dois séculos. No Concílio de Clermont na França, em 1095, o Papa Urbano II convocou os cristãos a uma investida para libertar a terra santa, especialmente o santo sepulcro, que estava em poder do islã. Foram feitas ao todo oito cruzadas.

O sentimento comunitário de fé do homem medieval era impressionante. Não eram apenas militares que ingressavam nas expedições, mas pessoas de todas as camadas da população, “somente a fé compartilhada explica a ação conjunta de cavaleiros e camponeses, ingleses, franceses e alemães, numa campanha solidária” (Henrique Matos, Introdução à história da Igreja).

Após a primeira cruzada foram instituídas ordens militares para guardar as áreas conquistadas. As ordens do Hospitaleiros e dos Templários, alemães, foram as mais conhecidas. Essas ordens, principalmente os templários, sofreram decadência e se transformaram em saqueadores, passaram a agir em benefício próprio, contrariando o que o Papa Urbano II havia pedido. Muito do que se escreve sobre os cruzados não possui fundamento histórico e baseiam-se em histórias fantasiosas e preconceituosas. Vejamos esta, por exemplo: “os cruzados deram-se inclusive ao canibalismo. Como Radulph de Caen, observou. ?As nossas tropas cozinham pagãos adultos na panela. Enfiam as crianças no espeto e devoram-nas grelhadas?”. Convenhamos!!.

Apesar dos desastres ocorridos as cruzadas devem ser vistas como uma ocasião em que os cristãos se demonstraram movidos por um forte ideal cristão, baseado na fé. Isto deve chamar mais a atenção do que os fatos que ocorreram a partir de cruzados que a disvirtuavam e faziam-na como ferramenta de seus próprios desejos.

As cruzadas contribuíram para o desenvolvimento da civilização cristã. Jerusalém foi reconquistada pelos muçulmanos em 1187, mas as cruzadas mantiveram a Europa cristã, longe do islã.

O escândalo da inquisição… será que Jesus sugeriu que nós devíamos ameaçar as pessoas de serem queimadas vivas se não se tornassem cristãs? Isso foi algo terrível!“.

Não era para isso que serviam as inquisições. Elas tinham o objetivo de lidar rigidamente contra as heresias da época, por isso na idade média ela foi usada contra o misticismo das bruxas, inclusive por protestantes.

Alguns protestantes e esotéricos apontam a bula “Summis Desiderantes Affectibus”, de 05.12.1484, como o “triste documento papal que deu início à Inquisição”. A bula não traz nenhuma definição nova sobre a bruxaria, mas fala sobre a possibilidade da influência demoníaca sobre as pessoas. Muito antes da edição dessa bula o poder civil já clamava para si o poder de executar as sentenças. Logo, não foi Inocêncio VIII o inventor dos processos inquisitoriais. Além disso, quem cometia os excessos era o poder civil, muitas vezes para arrancar falsas confissões para “legitimar” uma acusação e executar pessoas que incomodavam os “poderosos do pedaço”. Tanto é verdade que a Inquisição não foi usada somente por aqueles que se diziam “católicos”, ou para defender a fé católica: Miguel Servet, que pretendia fazer uma reforma mais radical do que aquela realizada por Lutero, Zwinglio e Calvino foi queimado vivo pela Inquisição francesa por denúncia de Calvino? Por que Calvino assim o fez? Porque Servet ousara discordar de suas idéias no livro “Restitutio Christianismi” (em contradição à obra-prima de Calvino “Institutio Christianae Religionis”) e se sentiu pessoalmente atingindo pela declaração “Queira Deus destruir todos os tiranos da Igreja!”. Na história das inquisições os motivos pessoais se sobrepõem aos da fé na maioria das vezes.

Recentemente historiadores, pesquisando os escritos do Santo Ofício Espanhol, que estavam esquecidos em bibliotecas em cidades espanholas, como Toledo, descobriram que ao longo de toda a inquisição espanhola não foram mortas “milhões” de pessoas como alegam muitos, nem foram usadas formas de tortura como ficou clássico em reconstituições das seções, como a “iron maiden”, um tipo de sarcófago de ferro com pontas dentro, onde a pessoa era trancada. Descobriram que ela nunca fora usada. Muito do que se especula terem sido as inquisições é fruto de um exagero e ódio dos seguimentos anti-clericais da época.

Com certeza não há como negar que não deveria existir tal movimento, pois não é de acordo com o Evangelho, mas não podemos julgar com nossa mentalidade e percepção social as decisões daquela época, pois só quem as viveu conhece as situações e mentalidade que propiciaram tais fatos.

Não esquecer que as perseguições inquisitoriais também fizeram parte da história do protestantismo. Como exemplos temos os anglicanos na Inglaterra, a caça às bruxas nos EUA, e outras perseguições feitas pelo próprio Lutero e Calvino.

Seria bom que os protestantes que se enveredassem a falar da inquisição católica não esquecessem de falar sobre a que fez parte de sua história também, porque é mais fácil desviar a atenção das pessoas falando dos erros dos outros enquanto se joga a própria sujeira debaixo do tapete.

O escândalo das indulgências. A salvação comprada por dinheiro… desde quando podemos comprar a salvação com dinheiro?”.

Indulgência não significa “salvação comprada por dinheiro”. A compreensão do que sejam as indulgências realmente não é das mais fáceis. Por isso quando não se entende, se critica. A doutrina das indulgências é explicada da seguinte forma:

“O pecado tem uma dupla conseqüência. O pecado grave [chamado pecado mortal (1Jo 5,16); é aquele que é cometido deliberadamente e conscientemente em matéria grave] priva-nos da comunhão com Deus e, conseqüentemente, nos torna incapazes da vida eterna; esta privação se chama ‘pena eterna’ do pecado. Por outro lado, todo pecado, mesmo o venial, acarreta um apego prejudicial às criaturas que exige purificação, quer aqui na terra, quer depois da morte, no estado chamado purgatório. Esta purificação liberta da chamada ‘pena temporal’ do pecado. Estas duas penas não devem ser concebidas como uma espécie de vingança infligida por Deus do exterior, mas antes como uma conseqüência da própria natureza do pecado. Uma conversão que procede de uma ardente caridade pode chegar à total purificação do pecador, não subsistindo mais nenhuma pena.

O perdão do pecado e a restauração da comunhão com Deus implicam a remissão das penas eternas do pecado. O cristão deve esforçar-se, suportando pacientemente os sofrimentos e as provas de todo tipo e, chegada a hora de enfrentar serenamente a morte, aceitar como uma graça essas penas temporais do pecado; deve aplicar-se, através de obras de misericórdia e caridade, como também pela oração e diversas práticas de penitência, a despojar-se completamente do ‘velho homem’ para revestir-se do ‘homem novo”. (Novo Catecismo da Igreja Católica, parágrafos 1472 e 1473)

A pena eterna do pecado nos é perdoada pelo Sacramento da Reconciliação (Confissão – Cf. Jo 20,23). Quando recebemos a absolvição sacerdotal, temos perdoada a pena eterna, mas não a temporal.

Afinal, Jesus disse que devemos “pagar até o último centavo” (Mt 5,26).

O que significa isso? Isto significa que quando pecamos deliberadamente (ou seja, não é um acidente como derrubar sem querer algo pela janela e alguém ser atingido pelo objeto que cai, morrendo em conseqüência do impacto) e conscientemente (ou seja, quando sabemos que tal coisa é errada e mesmo assim a fazemos) em matéria grave (ou seja, em algo importante), estamos escolhendo dizer “não” a Deus e “sim” àquilo que escolhemos fazer: “sim” ao prazer proibido, “sim” ao fruto do roubo – logo ao ato de roubar, “sim”, em suma, àquilo que colocamos naquele instante como valendo mais do que Deus, mais do que a Salvação. Esta escolha é aceita por Deus. Passamos a não mais ter a Sua graça, que trocamos pelo pecado. Este efeito (a perda da graça de Deus) é eterno; apenas pela absolvição sacramental (pelo Sacramento da confissão) podemos recuperar a Graça. Há também um outro efeito: ao fazer isso, nós, de uma certa forma nos acostumamos a dizer “não” a Deus. É por isso que é mais fácil pecar pela centésima que pela primeira vez. Abismo atrai abismo, diz o ditado.

Esta conseqüência é chamada “pena temporal do pecado”. Ela não ocorre apenas quando pecamos mortalmente; quando cometemos um pecado venial (ou seja, um pecado que não é mortal, que não se inclui nas condições acima), também passamos a ter “um apego prejudicial às criaturas”, também passamos a achar mais fácil dizer “não” a Deus.

Como podemos nos livrar desta pena temporal? A pena eterna é perdoada pelo Sacramento da Confissão. E a temporal?

A remissão da pena temporal pode ser feita pela caridade, oração e penitência.

Um costume muito antigo na Igreja é o das penitências públicas; o penitente, desejoso de pagar a pena temporal de seu pecado, após a absolvição sacerdotal ia para a rua para publicamente pagar por seu pecado.

Esta forma pública e pesada de penitência, entretanto, muitas vezes era impossível de cumprir para muitos, por razões de idade ou saúde.

A Igreja então, por misericórdia, apelou para o seu Tesouro de Méritos (as orações e obras de todos seus membros, vivos e mortos), e passou a indulgenciar alguns atos já por si meritórios.

O que é o tesouro de Méritos? Imaginemos por exemplo Madre Teresa de Calcutá: sua santidade era assombrosa. Mesmo assim, ou talvez até por causa disso, ela fazia penitências constantemente. Não tratava de seus dentes, para poder usar a dor de suas cáries como penitência. Fazia também caridade como poucos fizeram; sua história é conhecida. Orava também ao menos quatro horas por dia. Será que ela teria tantos pecados assim, que fosse necessário orar tanto, fazer tanta penitência, tanta caridade, para que pudesse livrar-se das conseqüências temporais do pecado? Claro que não. Ela o fazia porque sabia que aquilo que não lhe servisse, aquilo que fosse “excessivo” seria adicionado ao tesouro de Méritos da Igreja. Suas orações, sua caridade e suas penitências foram colocadas à disposição da Igreja, para que a Igreja pudesse dispor delas em favor de pessoas que precisassem.

É através das indulgências que a Igreja distribui estes méritos, que a Igreja faz com que outras pessoas possam ser beneficiadas pelas orações, caridade e penitências “excessivas” de seus membros. Dentre os atos indulgenciados pela Igreja podemos contar, por exemplo, a oração feita em um cemitério no dia de Finados, a participação na construção de uma catedral, e muitos outros.

Pela instituição das indulgências, a Igreja proporciona a seus membros uma participação neste Tesouro de Méritos; como se um alimento que já é nutritivo (uma boa ação) fosse “vitaminado”, passando a ter um efeito mais salutar que quando não “vitaminado” (ou seja, passando a ter uma ação maior na remissão da pena temporal do pecado que quando não é indulgenciado). A Igreja como que distribui entre seus fiéis, através das indulgências, os “centavos” que devemos pagar até o fim (nas palavras do Senhor em Mt 5,26), ajudando-os assim a chegar à perfeição.

A Indulgência corresponde a um período de penitência pública. Uma indulgência de cem dias, por exemplo, referir-se-ia a cem dias de penitência pública. Hoje em dia, por não haver mais penitências públicas (a não ser em alguns lugares, como as Filipinas), as pessoas perderam de vista o referencial que era então usado, e a Igreja passou a classificar as indulgências apenas como plenárias (remissão total da pena temporal) ou parciais.

Para que uma indulgência possa ser recebida, porém, é necessário que sejam cumpridas algumas condições:

1 – Deve ter sido feito um exame de consciência rigoroso e minucioso, seguido de Confissão e subseqüente absolvição sacerdotal, além de assistir a Missa completa e comungar.

2 – A pessoa que faz o ato indulgenciado deve ter absoluto horror aos pecados que cometeu e a firme intenção de não mais cometê-los.

3 – Ela deve ter em mente seu desejo de lucrar a indulgência associada ao ato enquanto o executa.

Dentre as ações indulgenciadas, havia algumas que podiam ser feitas de maneira indireta (o que foi proibido no século XVI, por haver uma compreensão errônea da doutrina por muitos). Um exemplo disso seria a participação financeira na construção de uma catedral.

Ora, para que alguém lucre uma indulgência, é necessário que antes tenha se confessado (afinal, São João escreveu que não adianta orar pelo irmão que cometeu um pecado que é de morte – 1Jo 5,16 É preciso que ele antes obtenha o perdão deste pecado – Cf. Jo 20,23). Para lucrar uma indulgência, portanto, a pessoa já deve ter sido absolvida da pena eterna de seu pecado, que a levaria ao Inferno.

Indulgências, portanto, nunca poderiam salvar alguém que por seus atos escolheu o Inferno.

Além disso, há a necessidade de que a pessoa tenha horror ao pecado cometido e firme intenção de não mais pecar. As indulgências não podem ser aplicadas aos pecados ainda a cometer, apenas aos já cometidos, e mesmo assim apenas nas condições expostas acima.

A indulgência é na verdade muito menos “indulgente” que a doutrina humana da garantia de salvação dos crentes independentemente dos pecados posteriores à sua conversão, pregada por muitos protestantes.

Dificilmente isso poderia ser considerado compra da salvação!…

Na tese 21 de Lutero, ele diz: “Erram, portanto, aqueles apregoadores de indulgências que afirmam que a pessoa é libertada e salva de toda pena pelas indulgências do papa”. Na de número 27 ele diz: “Pregam doutrina humana aqueles que dizem que, tão logo tilintar a moeda lançada na caixa, a alma sairá voando (do purgatório)”.

Ora, Lutero acreditava que eram as indulgências (o recibo que o fiel recebia quando dava o dinheiro) que libertava dos pecados, por isso salvavam a pessoa, como ele próprio diz em sua tese 33: “Serão condenados em eternidade, juntamente com seus mestres, aqueles que se julgam seguros de sua salvação através de carta de indulgência”. Só que ele estava enganado, porque para se receber uma indulgência a pessoa já estaria liberta dos pecados, pois ele (a pessoa) já se confessou, e pela confissão foi absolvida dos pecados. As indulgências nos auxiliam a pagar as penas temporais por podermos desfrutar do tesouro de méritos da Igreja. Uma pessoa que não se confessa não pode receber indulgências.

Seria como dizer que “uma pessoa pode ser salva quando recebe indulgências, mas não pela indulgência, mas pela confissão que ela fez antes. A indulgência serve para minimizar a pena que devemos pagar pelos pecados temporais, ?até o último centavo?”.

*** ***** ***

O pastor Hulse conta em três os eventos principais da “reforma”: “As 95 teses…; a queima das leis (bulas) católico-romanas…; a exposição firme de Lutero diante do rei Carlos V”.

Sobre as 95 teses o texto diz “As indulgências eram contra a bíblia. Lutero havia chamado a atenção das pessoas para as escrituras. Lutero havia puxado a corda do sino que acordara o mundo”. Não é mais necessário voltar ao assunto indulgências, basta correr a texto acima e rever o estudo acima. E continua com uma surpreendente e estranha colocação “depois de 1000 anos a igreja estava agora acordada para a realidade”. Ora, se a igreja estava dormindo na fantasia, então todas as bases teológicas até hoje imutáveis e estudadas a fundo também pelo autor do texto, elaboradas pelos teólogos católicos dentro destes mil anos, são fantasia? Será que S. João Crisóstomo, S. Agostinho, e S. Tomás de Aquino, só para citar estes três exemplos, estavam elaborando fantasias?

Sobre o segundo evento Lutero juntou “professores e alunos e todos que estavam ali fizeram como que uma procissão cerimonial e juntaram todas as leis da igreja católica, leis papais, bulas papais que havia se acumulado durante séculos. Leis que amarravam e amarram a consciência dos homens”. E logo depois “Lutero estava usando a autoridade das escrituras para destruir a tradição”. Primeiramente observa-se que o que chamam de “reforma” não foi reforma alguma, mas anarquia protestante. Os atos referidos somente mostram o quanto pessoas já começavam a ser influenciadas pelos anarquistas (reformadores). Será que os “professores e alunos” sabiam do conteúdo dos papéis que estavam queimando? Com certeza não tratavam apenas de indulgências. Então porque queimaram papéis dos quais não sabiam nem do que se tratavam? Porque eram do papa. Além do mais onde se encontra na bíblia a autoridade de alguém fazer alguma coisa dessas? Será que o que Lutero entendia como “tradição” eram “as leis, as bulas papais”? Vemos quanta confusão existe entre “Sagrada Tradição” e tradição dos homens.

No terceiro evento, segundo o texto, Lutero, diante de Carlos V, quando questionado pelo teólogo católico Johann Eck para negar suas heresias e retirar seus livros, disse: “não vou usar de mais argumentos, e a menos que seja convencido pela bíblia, não aceito a autoridade papal nem os concílios de tradição católicos. Todos eles se contradizem. Minha consciência está cativa à Palavra de Deus. Tudo que posso fazer é não negar meus livros, pois não posso ir de encontro à minha consciência. Ajuda-me Senhor Deus, amém!”. Definitivamente Lutero desconhecia que: a autoridade do papa (chefe visível da Igreja) é bíblica; os dogmas que ele cria eram baseados em Concílios Católicos e; nenhum Concílio, em toda história se contradisse teologicamente falando. Um Concílio revogar uma norma de um Concílio anterior pode, só não pode é negar uma doutrina, e isso nunca aconteceu. Segundo o texto, o fato de Lúteo ter repetido tudo o que disse em latim foi “um evento memorável”.

Por fim o texto mostra, na prática, um dos verdadeiros objetivos das igrejas protestantes: “é possível que o Brasil possa ser libertado de toda espécie de tradição católica”. Francamente, é pra isso que Deus veio? Exterminar quem é diferente? Ou para “amar até os seus inimigos”? As listas de “tradições” colocadas para defender um ponto de vista de que a Igreja Católica foi “acrescentando suas tradições humanas” no decorrer da história, e que a concepção universal de salvação somente mostra que a Igreja não é infalível, de fato, não dizem absolutamente nada. O que o pastor chama de “tradições” está milhares de anos -luz do que a Igreja ensina ser a Sagrada Tradição, daí o erro protestante. Que “fora da Igreja não há salvação” está correto, mas a Igreja sabe muito bem o que se deva entender por “fora”, “igreja” e “salvação”, o que não é o que fazem os protestantes, onde a salvação se restringe a quem conhece Jesus e sabe ler (Sola Fide, Sola Scriptura). As “bem-aventuranças” nos mostram um pouco sobre quem pode ou não pode ser chamado de “bem-aventurado”, e lá (Mt 5) não há restrição de religião, mas uma postura moral de qualquer ser humano. Um confucionista pode ser bem-aventurado não porque crê em Jesus, pois não o faz, mas porque ele é “puro de coração” e pureza de coração não se limita a quem é cristão.

O texto termina com o pastor fazendo críticas quando às revelações pessoais que tanto dividem o protestantismo e ao modernismo que racionaliza e tenta desmistificar as religiões.

Mas podemos ficar por aqui, o resto é problema deles…

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