Mais sobre a renovação carismática

NOTA: Esse artigo não representa mais o pensamento atual do autor sobre o dom de línguas. O pensamento atual do autor encontra-se entre chaves.

Nossa resposta a um leitor que perguntou o que pensávamos sobre a RCC (1) abarrotou a caixa de email do VS, com emails de todo tipo: desde dúvidas até reclamações.

Em respeito a todas as pessoas que me escreveram, neste trabalho procurarei responder aos principais pontos questionados:

1. Sobre o reconhecimento do dom de línguas

Eu sempre disse que reconheço a realidade da manifestação extraordinária do Espírito Santo no dom de línguas. Outra coisa é achar que o “xalandricá xalandricᔠdos carismáticos seja essa manifestação. Essas posições nossas estão também muito bem expressas em outro trabalho (2).

Contudo, há comunidades carismáticas onde o dom de línguas é manifestado de forma autêntica, sem os fingimentos ou simulações que mais parecem mantras pagãos.

[Após estudar a doutrina católica sobre o dom de línguas fica muito difícil afirmar que as ocorrências na RCC onde as pessoas falam coisas sem sentido, seja o dom de línguas.]

2. Sobre a experiência com os carismáticos

Não sou carismático e nunca cheguei a freqüentar sistematicamente suas reuniões. Tive oportunidade de ver uma ou outra reunião. A grande maioria das reuniões que tive a oportunidade de estar, o que vi foi o “xalandricá xalandricá”, com exceção de uma.

Há algum tempo atrás estive em Campos Gerais – MG (sul do estado) acompanhando a família de um amigo. Estávamos perto do Natal. Esse meu amigo estava passando por uns problemas pessoas, e então a sua família queria levá-lo à um Comunidade Carismática, para conversar com um dos organizadores. Nesta época eu ainda era protestante.

Chegando lá, fomos todos apresentados e junto com esse organizador (cujo nome não lembro e será ferido por Fulano) estavam mais duas moças. Fulano disse que a tia do meu amigo havia conversado com ele, adiantando o assunto. Pediu para que esse meu amigo se juntasse a eles três (Fulano mais as duas moças) em oração.

Todos os quatro fecharam os olhos. Fulano e as duas moças começaram a emitir sons como se viessem de um coração de anjos. Eles emitiam o mesmo som, como se estivessem cantando uma mesma música. Esse meu amigo (que nunca tinha visto aquela gente na vida) se juntou a eles no mesmo cantar angelical. Foi a experiência mais extraordinária que tive na vida. Todos nós presentes ficamos boquiabertos.

O que aquelas quatro pessoas fizeram não era humano. Nenhuma voz humana poderia emitir os sons que eles emitiram, como se fossem anjos cantando ao Senhor.

Dali em diante esse meu amigo recebeu o dom de curar as pessoas. Naquele mesmo dia ele rezou sobre o ventre de sua irmã mais velha que tinha complicações para engravidar. Na mesma noite ela engravidou da primeira filha.

[Infelizmente soube que este amigo deixou a Igreja Católica e hoje é espírita. Um dom recebido por Deus deveria confirmar alguém na fé.]

3. Modalidade das orações em línguas

Segundo D. Alberto Taveira, diretor espiritual da RCC, existem três modalidades das orações em línguas, das quais somente uma pode ser interpretada.

A modalidade relatada no item anterior é a segunda. Vejamos o que sobre ela diz D. Alberto:

“b) Essa oração também pode ser expressa em modalidade de canto, uma oração com uma melodia que não foi pré-estabelecida. Também essa modalidade não requer interpretação. A diferença em relação à modalidade anterior, é que aqui se trata de orar em línguas, mas num ritmo não falado, de expressão e cadência musical, de notas que se sucedem improvisadamente, numa modulação lírica com que se celebra as maravilhas de Deus. São cânticos que brotam geralmente nos momentos de louvor e adoração da assembléia, do grupo de oração, e que pouco tem em comum com os cânticos eclesiásticos tradicionais, ou também com os cantos de “composição artística”. Santo Agostinho, comentando as palavras do Salmo “Cantai ao Senhor um Cântico novo”, adverte que o cântico novo não é coisa “de homens velhos”. “Aprendem-no os homens novos, renovados da velhice por meio da graça, pertencentes ao Novo Testamento, que já é o Reino dos Céus. Por ele manifestamos todo o nosso amor e lhe cantamos um canto novo. Quando podes oferecer-lhe tamanha competência que não desagrade a ouvidos tão apurados?… Não busques palavras, como se pudesses dar forma a um canto que agrade a Deus. Canta com júbilo! Que significa cantar com júbilo? Entender sem poder explicar com palavras o que se canta com o coração. Se não podes dizer com tuas palavras, tampouco podes calar-te. Então, resta-te cantar com júbilo, se modo que te entregues a uma alegria sem palavras e a alegria se dilate no júbilo” (3).

[O estudo de D. Alberto foi realizado em atendimento a uma solicitação da CNBB. Seu parecer não tem qualquer autoridade doutrinária para o fiel católico. Ele apenas constatou o que viu e ouviu. Não significa que os fatos constatados estejam em conformidade com a doutrina perene da Igreja. E infelizmente percebemos que não estão.]

Considerações finais

Reconhecemos as manifestações extraordinárias do Espírito Santo junto à RCC, conforme minha experiência pessoal e conforme o estudo e acompanhamento feito por D. Alberto Taveira, Bispo de Palmas-GO. Porém, não significa que concordemos com os afastamentos sistemáticos da RCC da Doutrina Católica.

[Toda experiência só pode ser autenticada à luz da doutrina católica. Até o momento não encontro nem no Magistério da Igreja, nem na Doutrina dos Pais da Igreja e nem nos melhores manuais de mística católica, quaisquer elementos que endossem o ensinamento pentecostal e carismático sobre o dom de línguas. Desta forma, até que a Santa Sé se expresse claramente sobre este assunto, me reservo a não ter como católico o ensinamento da RCC sobre o dom de línguas.]

A Renovação Carismática só poderá ser considerada verdadeiramente Católica quando promover e viver segundo a Doutrina Tradicional da Santa Igreja.

Notas

(1) LIMA, Alessandro. Apostolado Veritatis Splendor: Leitor pergunta o que pensamos sobre a oração em línguas dos carismáticos. Disponível em https://www.veritatis.com.br/article/4596. Desde 17/10/2007.

(2) LIMA, Alessandro. Apostolado Veritatis Splendor: Dons de línguas não se fabricam. Disponível em https://www.veritatis.com.br/article/4373. Desde 13/7/2007.

(3) TAVEIRA, D. Alberto. Esclarecimentos sobre alguns pontos da RCC à CNBB. Disponível em http://www.cancaonova.com/portal/canais/formacao/internas.php?id=&e=4174.

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