• Autor: Phillip B. Liescheski
  • Fonte: A Catholic Response Inc. (http://users.binary.net/polycarp)

– “Então o homem (Adão) disse: ‘Esta sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne’ (…) Por isso o homem deixará o seu pai e a sua mãe, e se unirá à sua esposa, e se tornarão uma só carne. E o homem e sua esposa (Eva) estavam nús e não tinham vergonha” (Gênesis 2,23-25).

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Recentemente leis e processos judiciais estão tentando definir a natureza do casamento (por exemplo, o Casamento-Emenda [nos Estados Unidos, visando estabelecer explicitamente que o casamento é a união entre um homem e uma mulher, para evitar a extensão dos direitos do casamento para casais heterossexuais não-casados ou do mesmo sexo]). O divórcio e o uso de contraceptivos são fatos comuns em nossa sociedade. Em outras partes do mundo, a poligamia já é um problema.

Para entender melhor essa confusão, é valioso rever o verdadeiro propósito do matrimônio segundo a perspectiva cristã. O Catecismo da Igreja Católica declara:

  • “Em sua pregação, Jesus ensinou sem equívoco o sentido o original da união do homem e da mulher, conforme quis o Criador desde o começo. A permissão de repudiar a própria mulher, concedida por Moisés, era uma concessão devida à dureza do coração (cf. Mateus 19,8); a união matrimonial do homem e da mulher é indissolúvel, pois Deus mesmo a ratificou: ‘O que Deus uniu, o homem não deve separar’ (Mateus 19,6)” (CIC 1614; v.tb. 1612-1617).

Em Marcos 10,2-12, Jesus – assim como o Profeta Malaquias (cf. Malaquias 2,14-16) – condena o divórcio sem exceções e aponta para o “início”, antes do Pecado Original, para mostrar o que Deus queria.

Em outros lugares, a Igreja ensina que a maior glória do casamento são os filhos:

  • “O instituto do Matrimônio e o amor dos esposos estão, por sua índole natural, ordenados à procriação e à educação dos filhos, e por causa dessas coisas (a procriação e a educação dos filhos), (o instituto do Matrimônio e o amor dos esposos) são como que coroados de maior glória” (CIC 1652).

Devido à importância dos filhos no casamento, a Igreja reconhece a dor da infertilidade:

  • “É grande o sofrimento de casais que descobrem que são estéreis” (CIC 2374).

As palavras de Jesus sobre o matrimônio são imediatamente seguidas da Sua bênção sobre as crianças – talvez uma sutil sugestão contra a contracepção:

  • “Que as crianças venham a Mim e não as impeçais, pois a elas pertence o Reino de Deus” (Marcos 10,13-14).

Segundo a antropologia cristã, “Deus criou o homem à Sua imagem (…) Homem e mulher os criou” (Gênesis 1,27). Jesus comentou:

  • “Não lestes que no início o Criador ‘os fez homem e mulher (…) e que os dois se tornarão uma só carne’? Portanto, eles não são mais dois, mas uma só carne. O que Deus uniu, nenhum ser humano deve separar” (Mateus 19,4-6)

Como Adão exclamou: “[ela é] osso dos meus ossos e carne da minha carne” (Gênesis 2,23). Deus nos criou à Sua imagem divina; portanto, toda pessoa humana tem uma dignidade intrínseca à parte do dinheiro, bens ou credo. Mas Ele também nos criou como um par: homem e mulher (cf. CIC 355, 383, 1416, 2331-2336). O homem não é a plenitude da humanidade; a mulher não é a plenitude da humanidade; ao invés disso, Deus criou o homem e a mulher como parceiros complementares.

Essa natureza complemenar é fisicamente óbvia na reprodução: são necessários um homem e uma mulher para se poder conceber naturalmente um bebê. Duas pessoas do mesmo sexo não podem fazer isso; e mais pessoas [do que duas] são desnecessárias. Essa natureza complementar se estende, em última análise, a toda pessoa. [Obras de] psicologia popular recentes, como “Homens são de Marte, Mulheres são de Vênus”, estão começando a reconhecer tal fato.

O matrimônio é um presente de Deus, que permite que um homem e uma mulher se unam intimamente em integral humanidade – a união de uma só carne – para preservar a vida da humanidade. Uma vez unidos, o casal não deve se separar (cf. Marcos 10,9). Duas pessoas do mesmo sexo não podem se unir em união de uma só carne. Três ou mais pessoas não são necessárias na união em uma só carne.

No entanto, um homem e uma mulher naturalmente estéreis ainda assim podem formar união em uma só carne. O amor deles ainda seria o tipo de ato que é essencialmente procriador. Medicamente, seus órgãos ainda são chamados de “reprodutores”, embora sejam realmente inférteis devido à idade ou alguma patologia. Normalmente, a união em uma só carne é fértil. Existem exemplos na Bíblia de casais que eram considerados estéreis, mas que vieram a ter um filho: Abraão e Sara; Isabel e Zacarias.

A união em uma só carne protege um membro do casal infértil de vir a ter filhos com terceira pessoa. Além disso, a vida casta una (celibato) não viola a união em uma só carne, já que não se faz nenhuma tentativa de obter qualquer tipo de união carnal (cf. CIC 1620). O celibato ainda pode ser um presente de doação oferecido ao Reino de Deus (cf. Mateus 19,12).

O ato conjugal é o ato em que [o casal em] uma só carne transmite a vida humana. Tem dois significados ou valores: procriador e unitivo (cf. CIC 2363-2369).

Como procriador, o ato conjugal gera novas pessoas à comunidade. Comer ou respirar é um bom ato de uma pessoa que preserva a vida do indivíduo. A procriação, por outro lado, tem importância social: preserva a vida da comunidade. É um ato de doação de vida entre um homem e uma mulher, em um relacionamento comprometido ao longo da vida, reconhecido pela comunidade, isto é, um matrimônio. A procriação é mais do que o nascimento de filhos; inclui também a responsabilidade de criá-los até a maturidade (cf. CIC 1652). Embora nem todo ato seja fértil devido à idade, à patologia ou ao tempo do ciclo natural da mulher, ainda assim é o único tipo de ato íntimo que pode ser fértil. Os pecados de Sodoma nunca serão procriadores.

Como unitivo, o ato conjugal ajuda a fortalecer o vínculo matrimonial entre marido e esposa. Eles se oferecem como um presente. Esse amor, confiança e proteção se estendem naturalmente aos filhos. Um vínculo matrimonial mais forte é bom para a criação dos filhos, uma vez que os filhos precisam de estabilidade durante a sua formação pessoal. Os problemas causados ​​pelo divórcio são uma prova desse ponto. Nos Estados Unidos, mais de 90% das famílias monoparentais são mães solteiras. Mulheres e crianças são as mais afetadas pelo desgaste do vínculo matrimonial.

Como questão secundária, em Mateus 19,9, Jesus parece condenar o divórcio: “Quem se divorcia da sua esposa, exceto por falta de castidade, e se casa com outra, comete adultério”. De acordo com uma nota de rodapé da Bíblia Nova-Americana, a frase-chave literal aqui é: “exceto ‘porneia'”, onde “porneia” é o termo grego usado para apontar “imoralidade”, “fornicação” e até “incesto”. Uma outra tradução da Bíblia pode oferecer uma ideia melhor, traduzindo esta frase como: “Quem se divorcia da esposa (a menos que o casamento seja ilegítimo) e se casa com outra pessoa, comete adultério”. Jesus não estaria afirmando, mas inferindo que certas uniões – como o incesto e o concubinato – são imorais e inválidas. Tais uniões ilícitas eram comuns no mundo pagão, mas não constituíam verdadeiros matrimônios. O divórcio nesses casos não romperia uma união válida, de modo que posteriormente não implicaria em adultério.

A contracepção e o divórcio atacam respectiva e diretamente os valores procriativos e unitivos. A poligamia destrói o objetivo unitivo porque não é exclusivo nem indiviso (cf. CIC 1645); também mina a natureza igualitária, porém complementar, do homem e da mulher (cf. CIC 369, 2387). Nas uniões entre pessoas do mesmo sexo, os atos sexuais (=pecados de Sodoma) não são atos conjugais; esses atos deliberados, que são reivindicados como “unitivos” e uma troca de doações entre os parceiros, não são atos que dão vida à comunidade, porque não são tipos de atos procriadores. Como os parceiros aqui não pretendem preservar a vida da comunidade, não devem também esperar nenhum reconhecimento especial da comunidade como casal. Eles podem estar se oferecendo à comunidade como indivíduos, mas não como um casal em uma só carne. Pelo menos, um homem e uma mulher casados, que praticam a contracepção, podem se arrepender e reformar seu matrimônio. Também um casal naturalmente infértil pode ter esperanças de vir a ter filhos (cf. CIC 2374-2379).

Jesus aponta para “o início” para nos mostrar o verdadeiro significado do matrimônio. Não importa o quanto afirmemos amar um ao outro ou sermos adultos que consentem no relacionamento: as uniões ilícitas destroem a integridade pessoal das pessoas envolvidas. Sem os dois significados [procriador e unitivo], os atos sexuais perdem o seu verdadeiro valor como amor vivificante. O corpo se torna um instrumento ou até mesmo um brinquedo para se controlar, ao invés de se tornar parte de toda a pessoa humana (cf. CIC 2369, 2337-2345). Com ambos os significados, homem e mulher se tornam marido e esposa na esperança de se tornarem pai e mãe. Devido ao potencial de ter filhos, o matrimônio, diferentemente da amizade, tem uma importância pública única.

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