Meditação na Missa (Parte 1)

“‘Todo aquele que o Pai me dá virá a mim, e o que vem a mim não o lançarei fora. Pois desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. Ora, esta é a vontade aquele que me enviou: que eu não deixe perecer nenhum daqueles que me deu, mas que os ressuscite no último dia. Esta é a vontade de meu Pai: que todo aquele que vê o Filho e nele crê, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia.’” (Evangelho de São João, VI, 37-40)
 
Por cair a memória dos finados num Domingo, prevalece sobre ele aquela comemoração, constituindo-se ótima oportunidade para, em nossas meditações, refletirmos acerca de importantes temas da Fé Católica.
 
Na reflexão sobre o Evangelho desta I Missa, destaca-se a crença na ressurreição dos mortos. A despeito de certa falsa teologia que apregoa uma aparente ressurreição na hora da morte, e que, infelizmente, encontra adeptos em não poucos sacerdotes e estudiosos, os versículos citados são claríssimos: Cristo ressuscitará os fiéis no último dia, não antes. E “último dia”, na Bíblia, na Tradição e no Magistério, significa o dia do Juízo Final, o dia da Volta de Cristo que “de novo há de vir, em sua glória, para julgar os vivos e os mortos, e seu Reino não terá fim.” (Credo Niceno-constantinopolitano) A ressurreição da carne, de que fala o Credo Apostólico – correspondente à ressurreição dos mortos, termo utilizado pelo Credo Niceno –, é evento do final dos tempos: os justos para a eterna bem-aventurança, os infiéis para a eterna danação. Não é ressurreição de um corpo espiritual ou da alma, mas da carne, o que contraria frontalmente essa nova teologia. Não deixa outra interpretação a clara disposição do Catecismo da Igreja Católica: “Quando? Definitivamente no ‘último dia’ (Jo 6,39-40.44.54;11.24); ‘no fim do mundo’ (Santo Irineu, Adv. Haers., 4,18,4-5). Com efeito, a ressurreição dos mortos está intimamente associada à parusia de Cristo.” (Cat. 1001)
 
Não se trata de um novo juízo, com possibilidade de anulação do juízo particular pelo qual passam todos os que morrem, na hora em que se apresentam diante de Cristo, Soberano Juiz, como se deste último houvesse uma espécie de apelação. O Juízo Final é meramente uma confirmação solene, diante de todo o universo, da sentença irrecorrível e irrevogavelmente pronunciada por Nosso Senhor no juízo particular.
 
“Como Jesus morreu e ressuscitou, Deus ressuscitará os que nele morreram. E, como todos morrem em Adão, todos em Cristo terão a vida.” (Missal Romano; Comemoração de Todos os Fiéis Falecidos – I Missa; Antífona da Entrada) Cristo, ao morrer na Cruz, conquistou-nos a graça por Seus infinitos méritos, a qual pode ser-nos imputada pelo Espírito Santo diante de nossa livre correspondência ao convite de Deus. Todos, então, que chegam diante de Nosso Senhor, capacitam-se a viver a vida eterna por Ele prometida aos que Lhe forem fiéis. Recebida no Batismo, a graça desenvolve-se gradualmente conforme a resposta livre de nossa vontade à sua ação. Na hora de nossa morte, se estivermos na graça, esta transformar-se-á em glória, e a visão beatífica no gozo celeste será a causa de nossa felicidade sem fim. Do contrário, repelindo o amor misericordioso do Criador, que não hesitou em dar Seu próprio Filho para o perdão de nossos pecados, nosso destino é a desgraça infernal, com os tormentos provocados por Satanás e seus anjos, sofrendo a pena de dano e a pena dos sentidos.
 
Nossa alma, ao separar-se do corpo por ocasião da morte, só tem dois destinos: ou vai para o Céu, passando ou não pelo Purgatório – onde os pecados já perdoados, mas ainda não suficientemente reparados serão satisfeitos por uma certa purificação –, ou vai para o Inferno. Em ambos os lugares, a alma, em seu “corpo espiritual”, recebe de Deus o prêmio ou o castigo. “Nele brilhou para nós a esperança da feliz ressurreição. E, aos que a certeza da morte entristece, a promessa da imortalidade consola. Senhor, para os que crêem em vós, a vida não é tirada, mas transformada. E, desfeito o nosso corpo mortal, nos é dado, nos céus, um corpo imperecível.” (Missal Romano; Prefácio dos Fiéis Falecidos, I)
 
No fim dos tempos, a alma será reunida novamente ao corpo, que ressuscitará, seja para a glória, seja para o tomento. “Se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, cremos também que Deus levará com Jesus os que nele morreram. Eis o que vos declaramos, conforme a palavra do Senhor: por ocasião da vinda do Senhor, nós que ficamos ainda vivos não precederemos os mortos. Quando for dado o sinal, à voz do arcanjo e ao som da trombeta de Deus, o mesmo Senhor descerá do céu e os que morreram em Cristo ressurgirão primeiro.” (I Ts 4,14-16) Por ser o homem um ser composto substancialmente de alma e corpo, não caberia a recompensa ou a penalidade somente a um de seus elementos, a alma, deixando que o outro, o corpo, apodrecesse para sempre no solo da terra. O corpo não é apenas um invólucro da alma, como querem os espíritas, mas parte da substância do ser humano, de sua identidade pessoal e única, e, como tal, receberá também, por ocasião da ressurreição dos mortos, a paga por seus atos. Não foi só a alma que pecou ou que acumulou méritos, mas o homem integral, corpo e alma. Pois é o homem integral, então, que será premiado ou castigado.
 
“Ó Deus, escutai com bondade as nossas preces e aumentai a nossa fé no Cristo ressuscitado, para que seja mais viva a nossa esperança na ressurreição dos vossos filhos e filhas. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.” (Missal Romano; Comemoração de Todos os Fiéis Falecidos – I Missa; Coleta)

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