Meditações das obras de São Tomás de Aquino

A Virgindade de Maria Santíssima

 

Inviolata, integra et casta es, Maria: Quae es effecta fulgida coeli porta. O Mater alma Christi carissima: Suscipe pia laudum praeconia. Te nunc flagitant devota corda et ora; Nostra ut pura pectora sint et corpora. Tua per preclara dulcisona: Nobis concedas veniam per saecula. O benigna! O Regina! O Maria! Quae sola inviolata permansisti.

Inviolada, ítegra e casta sois, Maria; E porta fulgente do céu, Excelsa Mãe amantíssima de Cristo; Recebei os piedosos louvores de nossos cantos! Com fervor, de boca e coração vos rogamos, para sermos puros de corpo e alma. Por vossas preces e rogos tão doces. Alcançai-nos perdão para todo o sempre. Ó benigna! Ó Rainha! Ó Maria! A única sem mancha!

Maria Santíssima

A VIRGINDADE DE MARIA SANTÍSSIMA 

 

I – Sem nenhuma dúvida devemos afirmar que a mãe de Deus foi Virgem, mesmo no parto. Pois o Profeta não só disse « Eis que uma virgem conceberá », mas acrescentou: « e dará à luz um filho ». (Is 7, 14)

 

Há três razões  que mostram por que convinha que assim fosse:

 

1ª. Porque correspondia ao que é próprio daquele que iria nascer, ou seja o Verbo de Deus. Porque o Verbo não só é concebido no coração sem corrupção, mas procede do coração também sem corrupção. Por isso, para que ficasse manifesto que aquele corpo era do Verbo de Deus em pessoa, era conveniente que nascesse do seio incorrupto de uma virgem. Assim se lê: « Aquela que dá à luz a carne deixa de ser virgem. Mas porque o Verbo nasceu da carne, o próprio Deus protegeu a virgindade, mostrando assim que ele é o Verbo. Pois,  nem mesmo o nosso verbo ao ser gerado corrompe a alma, nem Deus, o Verbo substancial. ao escolher nascer, destrói a virgindade. »

 

2º. É também conveniente no que diz respeito ao efeito da encarnação de Cristo. Pois ele veio precisamente para tirar a nossa corrupção. Por isso não seria conveniente que, ao nascer, destruísse a virgindade da mãe. Eis por que, afirma Agostinho: « Não seria justo que, aquele que vinha sarar a corrupção, violasse a integridade com sua vinda ».

 

3º. Era conveniente que, aquele que mandou honrar os pais, não diminuísse a honra da mãe ao nascer.

 

Cristo, porém, juntou o admirável com o simples. Para mostrar que o seu corpo é verdadeiro, nasce de uma mulher; para mostrar sua divindade, nasce de uma virgem. Um nascimento assim era digno de Deus, como diz Santo Ambrósio num hino de Natal.

 

E assim, a Bem Aventurada Virgem deu à luz sem dores; houve, sim, a maior alegria, porque nasceu para o mundo o homem Deus, como diz Isaías: « Que a terra se cubra de flores dos campos, que ela exulte e grite de alegria ». (Is 35, 1-2)

 

II – A Virgem bem-aventurada permaneceu virgem depois do parto.

 

Diz-se em Ezequiel: « E o Senhor disse-me: Esta porta estará fechada; não se abrirá, e ninguém passará por ela; porque o Senhor Deus de Israel entrou por esta porta » (44, 42). Agostinho comenta assim este texto: « Que significa  ‘porta fechada na casa do Senhor’ a não ser que Maria permanecerá sempre intacta? E que significa ‘o homem não passará por ela’ a não ser que José não a ‘conhecerá’? E que significa ‘só o Senhor entra e sai por ela’, a não ser que o Espírito Santo a fecundará e o Senhor dos anjos nascerá dela? E qual o sentido de ‘estará fechada para sempre’ a não ser que Maria é virgem antes do parto, no parto e depois do parto? »

 

Sem nenhuma dúvida devemos detestar o erro de Celvídio, que pretendia ter sido a mãe de Cristo, depois do parto, conhecida por José e ter gerado outros filhos. Pois isto vai contra a perfeição de Cristo que, assim como pela sua natureza divina é o Unigênito do Pai, como o seu Filho em tudo perfeito, assim também convinha que fosse o unigênito da mãe, como seu fruto perfeitíssimo.

 

(III q. 28, a. 2 e a. 3; q. 35, a. 6)

(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae)

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