Sua questão, em primeiro lugar, se refere à possibilidade da oração do seu amigo ter sido fundamental para Deus conceder-lhe as qualificações e circunstâncias exigidas para o emprego.
Em seu livro "Miracles" (Milagres), C.S.Lewis observou que a questão da oração e aquilo "que deveria ocorrer de qualquer maneira" é como perguntar se a personagem Ofélia em "Hamlet" – que caiu em um rio e se afogou – morreu porque o galho em que se segurou quebrou ou porque Shakespeare quis que ela morresse. Segundo Lewis, a resposta é: as duas coisas! Ele escreve:
"Todo evento na peça ocorre como um resultado de outros eventos na peça; mas também todo evento ocorre porque o poeta quer que ocorra. Todos os eventos na peça são eventos shakespeareanos; de forma semelhante, todos os eventos no mundo real são eventos providenciais. Todos os eventos na peça, entretanto, ocorrem (ou deveriam ocorrer) segundo a lógica dramática dos eventos; de forma semelhante, todos os eventos no mundo real – exceto os milagres – ocorrem segundo causas naturais. 'Providência' e 'causa natural' não são alternativas; ambas determinam cada evento porque ambas são uma coisa só".
O que "deveria acontecer de qualquer maneira" não é algo que podemos saber, pois o que realmente aconteceu é influenciado pelas nossas orações (ou pelas faltas de oração). Mesmo que o objeto pelo qual estamos orando presentemente já tenha, em certo sentido, sido decidido pelos eventos que o precederam – excluídos os milagres – e estes eventos (finalmente) decididos pela Providência Divina desde toda a eternidade, isto não significa que os nossos pedidos são completamente irrelevantes.
Uma das coisas que Deus considera ao decidir como as coisas se darão são as nossas orações aqui e agora. Com efeito, nossas preces podem ser, sob Deus, causas reais de eventos em movimento desde a fundação do mundo.
Em razão de estarmos sujeitos ao tempo e Deus não, temos problemas em enxergar como isso pode se dar. Embora falemos de Deus como se estivesse na mesma linha temporal que a nossa (mesmo que imaginemos que a sua presença se estende infinitamente para antes e infinitamente para depois), este não é realmente o caso pois Ele está completamente fora do tempo.
Isto significa que os eventos que ocorreram ontem e que entraram no nosso presente estado de coisas são tão presentes a Deus quanto as orações que pronunciamos hoje. Isto é confuso? Sim, mas não significa que tal explicação seja ilógica. Por causa da nossa razão limitada (e decaída), há muitas coisas que não podemos compreender senão parcialmente ou não totalmente. E o tempo é uma dessas coisas. Mas não se preocupe: podemos dizer que todos nós iremos compreender isto perfeitamente aos 90 anos.