Os defensores da chamada Missa Afro dizem ser uma inculturação a fim de contemplar a cultura afro-brasileira, mas, e, nisso concordo com D. Estêvão Bettencourt, o espetáculo daí resultante não atingiu a sua finalidade, que era elevar as mentes a Deus em atitude de oração; lembrou muito mais os festejos folclóricos do nosso povo, associados a Carnaval e a cultos não cristãos.
A inculturação tem como finalidade transmitir as verdades do evangelho, apresentando-as de forma que os destinatários as possam compreender e viver, aproveitando as expressões culturais de povos não-europeus, que guardam, assim, sua identidade. Não é tarefa das mais fáceis, podendo fácilmente descambar para o abuso, como se pode verificar dos vídeos.
Inculturar é assumir, dentre os elementos da cultura (linguagem, gastos, símbolos ) de cada povo, aqueles que possam ser veículos fiéis e dignos da fé católica, não deteriorada nem adulterada. ( )Quaisquer que sejam os gestos e sinais aplicados à Liturgia, deverão sempre contribuir para que se levem as mentes a Deus numa atitude de oração e adoração. Caso este objetivo não seja atingido, mas, ao contrário, se provoque dispersão e perplexidade entre os fiéis, os símbolos não podem ser considerados autênticos.[1]
Não, o Concílio Vaticano II não chancela a desculpem o termo, mas é o que cabe na minha indignação palhaçada que são as Missas Afro:
A Igreja não deseja impor na Liturgia uma forma rígida e única para aquelas coisas que não dizem respeito à fé (para aquelas coisas que dizem respeito a fé, não pode haver flexibilização) ou ao bem de toda a comunidade. Antes, cultiva e desenvolve os valores e os dotes de espírito das várias nações e povos. O que quer que nos costumes dos povos não esteja ligado indissoluvelmente a superstições e erros, Ela o examina com benevolência e, se pode, o conserva intato. Até, por vezes, admite-o na própria Liturgia, contanto que esteja de acordo com as normas do verdadeiro e autêntico espírito litúrgico (ou seja, o que é superstição, erro e contrário à fé e ao espírito litúrgico, não pode ser inserido na liturgia !) (Constituição Sacrosanctum Concilium n° 38).
Importante ainda destacar o que diz a Instrução Varietates Legitimae, que trata do assunto (n° 30 e 37):
Para preparar una inculturación de los ritos, las Conferencias episcopales deberán contar con personas expertas tanto en la tradición litúrgica del rito romano como en el conocimiento de los valores culturales locales. Hay que hacer estudios previos de carácter histórico, antropológico, exegético y teológico. Además, hay que confrontarlos con la experiencia pastoral del clero local, especialmente el autóctono . El criterio de los «sabios» del país cuya sabiduría se ha iluminado con la luz del Evangelio, se rá también muy valioso. Asimismo la inculturación tendrá que satisfacer las exigencias de la cultura tradicional aun teniendo en cuenta las poblaciones de cultura urbana e industrial.
Las adaptaciones del rito romano, también en el campo de la inculturación, dependen únicamente de la autoridad de la Iglesia. Autoridad que reside en la Sede apostólica, la ejerce por me dio de la Congregación para el culto divino y la disciplina de los sacramentos (Somente a Santa Sé, pela Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos pode autorizar a inculturação) (78); y, en los límites fijados por el derecho, en las Conferencias episcopales (79) y el obispo diocesano (80). «Nadie, aunque sea sacerdote, añada, quite o cambie cosa alguna por iniciativa propia en la liturgia»[2] (81). La inculturación, por tanto, no queda a la iniciativa personal de los celebrantes, o a la iniciativa colectiva de la asamblea (82) (Ou seja, não é assim, à la vonté!).
As Missas Afro que se vêem aos montes por aí não cumprem nenhum dos requisitos para a inculturação, não podendo ser consideradas como tal. São fruto do desconhecimento do verdadeiro espírito da liturgia e da desobediência das normas prescritas pela Santa Sé.
Voltando à pesquisa no YouTube, o que mais revolta é que muitos dos vídeos postados o foram por padres, ou seja, aqueles que deveriam ser os guardiões da Sagrada Liturgia são os primeiros a promover os abusos. Nesse Ano Sacerdotal, rezemos pelos nossos sacerdotes e cuidemos dos nossos seminários, para que sejam formados sacerdotes mais conscientes de sua responsabilidade com a Liturgia.
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NOTAS: [1] Revista: PERGUNTE E RESPONDEREMOS D. Estevão Bettencourt, osb. Nº 403 Ano 1995 Pág. 560 * [2] Ninguém, ainda que seja sacerdote, adicione, retire ou modifique coisa alguma por iniciativa própria na liturgia.
- Fonte: Blog In Mulieribus