Só uma pergunta: Por que antigamente as missas só eram rezadas em latim? Os fieis não entendiam latim, e a fé vem pelo ouvir e ouvir a palavra de Deus.
Tiago Oliveira
Caríssimo Tiago, Salve Maria.
A Liturgia celebrada em Latim tem um caráter eminentemente universal: como é uma “língua morta”, isto é, não é adotada por nenhuma nação específica, tem ela característica de invariância, perenidade e abrangência; ela era a língua do Império Romano.
Universal porque se enriquecera de todas as contribuições das nações reunidas sob a espada das legiões romanas: a qualidade elevadíssima do pensamento grego, as misteriosas confidências da Índia, a sabedoria milenar do Egito, os rudes costumes da África do Norte, a poesia cheia de assombro dos Celtas e Germanos ? todos estes tesouros o latim medieval juntara sob as pregas da toga romana. Sua literatura ganhou em variedade, em curiosidade, em élan. O latim usado pela Igreja romana era uma língua verdadeiramente adaptada a todos os homens. A Igreja, que se proclamava católica, teve a providencial oportunidade de acolher uma linguagem conveniente ao seu principal objetivo: a universalidade.
Os cristãos, adotando este latim já universal, sublimaram-no ainda. Como a nova religião tinha a ensinar verdades espirituais que o mundo jamais ouvira, era preciso forjar palavras novas. Os grandes sábios gregos e romanos, os grandes filósofos que foram os primeiros padres da Igreja, eram também grandes setores, grandes lingüistas (tais como Santo Agostinho e São Jerônimo)… Eles fizeram o latim sujeitar-se a uma prodigiosa transmutação: deram-lhe um vocabulário que viajava, por assim dizer, entre o céu e a terra; martelaram esta língua de juristas, soldados e agricultores, para forçá-la a exprimir o mundo do invisível. E, como as religiões antigas eram quase todas impregnadas de naturalismo, os padres da Igreja deram à língua latina seu diploma de espiritualidade.