NA LUZ PERPÉTUA – 17 DE FEVEREIRO – SÃO FLAVIANO

17 DE FEVEREIRO

 

SÃO FLAVIANO (+ 449)

 

Flaviano, sucessor de São Proclo, ocupou a sede patriarcal de Constantinopla durante os três anos de 446-449. Este governo coincidiu com uma época agitadíssima da Igreja oriental. Heresias, graves dissenções e lutas intestinas perturbavam a paz e tornavam quase insuportável a permanência na capital do império grego. Flaviano, envolvido fatalmente nas agitações político-religiosas daquele tempo, com a solidez de suas virtudes, com a firmeza de seu caráter, conservando-se sempre superior e absoluto senhor da situação, apresenta a figura dum grande Patriarca, digno da admiração de todos os tempos. A modéstia, unida à firmeza, a paciência imperturbável nas nas situações mais críticas, fizeram com que não se esquecesse nunca da sua alta posição e das obrigações a ela ligadas.

 

Logo após sua eleição para Patriarca se deu um fato, presságio de lutas vindouras. Segundo o costume daquele tempo, o Patriarca eleito enviará ao imperador os tais chamados eulogias, isto é, pão bento, símbolo da paz e concórdia. A oferta de Flaviano foi devolvida, com a retificação que só seriam aceitas eulogias de ouro. O Patriarca respondeu: “Ouro e prata não tenho e os tesouros da Igreja não me pertencem.”.

 

Quando a heresia monofisista do arquimandrita Eutiques começou a ganhar terreno em Constantinopla, Flaviano se lhe opôs, com toda a energia e franqueza apostólica. Principiou com esta campanha a subida para o Calvário do intermerato antistite. Eusébio de Doriléia, com um solene protesto contra a nova doutrina, déra sinal de alarme. Flaviano convocou um Concílio geral em Constantinopla (448), que examinou a doutrina eutiquiana e a condenou. Contra o autor foi lançada a excomunhão. Tendo na questão o apoio incondicional do grande Papa Leão, Flaviano não mais hesitou em entrar em luta aberta contra os poderosos amigos de Eutiques. Os que como tais se revelaram, eram o eunuco Chrysaphio, favorito e tesoureiro do imperador Teodósio II e Dioscuro, Bispo de Alexandria; dois formidáveis adversários, cuja política outra mira não vi salva, a ser a deposição e expulsão do Patriarca. Para alcançar este fim, todos os meios, por mais indignos que fossem, lhes eram desejáveis. Vendo que o Patriarca não cedia, nem ameaças com o desagrado do imperador lhe faziam modificar a atitude, trataram de alcançar de Teodósio a autorização para convocar um Concílio, com o intuito de, como diziam, restabelecer a paz religiosa. O Concílio chamado o latrocínio de Éfeso, realizou-se (449), sob a presidência de Dioscuro. De um sínodo, onde só inimigos tinham representação que justiça Flaviano podia esperar? De fato o sínodo de Éfeso foi a expressão da paixão, do ódio, do despotismo sem freio contra o Bispo católico.

 

A primeira humilhação foi a absolvição solene de Eutiques e a reabilitação de sua doutrina condenada. Seguiu-se a vergonha de Bispos subalternos declararem deposto o superior, e pronunciarem contra ele a sentença da excomunhão. De nada valeu a apelação de alguns Bispos, que de joelhos suplicaram a Dioscuro que não cometesse tamanha injustiça e retirasse a sentença pronunciada contra Flaviano. A injustiça ali não parou. De chofre apareceu um bando de gente armada, entre outros monges fanatizados, chefiados pelo afamado Barsumas, que com paus e facas se atiraram os Bispos católicos, exigindo-lhes debaixo de terríveis ameaças, a assinatura do documento de deposição e condenação de Flaviano. Sem exemplo na história eclesiástica foi o tratamento bárbaro que Flaviano mesmo sofreu, no meio dos inimigos. O próprio Dioscuro (segundo outros Barsumas) pisou-o com os pés e as feridas que recebeu dos outros fanáticos, foram tão graves, que morreu três dias depois.

 

O triunfo dos inimigos teve pouca duração. Dois anos depois se realizou o Concílio ecumênico da Calcedônia que restabeleceu a honra do grande Patriarca, dando-lhe o título de Mártir glorioso, que morreu em testemunho da fé verdadeira. O Papa Hilário, que como comissário apostólico, tinha presenciado as cenas horríveis do sínodo de Éfeso, construiu uma Igreja em honra do Bispo mártir. Nela se vê um quadro artístico que representa o martírio de São Flaviano.

 

Nota

 

A Igreja ensina que há em Jesus Cristo duas naturezas, a divina e a humana. A pessoa, porém, é uma só, a de Nosso Senhor Jesus Cristo, Homem-Deus. A heresia de Nestório, condenada pela Igreja, vê em Jesus Cristo duas pessoas, uma divina e outra humana, uma bem diferente da outra. Eutiques ensinou, contrariamente à fé católica, e ao Nestorianismo que em Jesus Cristo há só uma natureza. Que estas heresias, todas orientais pudessem causar tanta desordem e serem defendidas com tanta paixão, tem em parte explicação no caráter dos orientais, que pendem mais para a especulação teórica que os ocidentais. Quase sempre havia naquelas questões fortes elementos políticos e pessoais, que faziam cm que degenerassem em espetáculos como os observados na vida de São João Crisóstomo e São Flaviano.

 

REFLEXÕES

 

Admirável foi a resistência de São Flaviano opôs à heresia de Eutiques. Pondo de lado o respeito humano, desprezando a grande influência do terrível heresiarca, Flaviano preferiu morrer a negar a fé. “O Timóteo, guarda o depósito, evitando as profanas novidades de palavras e as contradições duma ciência de falso nome, da qual fazendo alguns profissão, decaíram da fé”. Essas palavras do grande Apóstolo dos gentios a seu discípulo Timóteo, Flaviano observou-as escrupulosamente, como se lhe fossem dirigidas. O mesmo devemos nós fazer: guardar a doutrina que nos foi transmitida, não uma que outros inventaram. Da doutrina que nos veio não nos é lícito, tirar um jota, nem lhe acrescentar uma vírgula. “Deus – diz São Paulo, – tendo falado muitas vezes e de muitos modos, noutro tempo, a nossos pais pelos profetas: ultimamente, nestes dias, nos falou pelo Filho” (Hb 1,2). A palavra do Filho está documentada e depositada na Igreja, que cuidadosamente a conserva nos livros bíblicos e na Tradição. Da Igreja é que todos os fiéis recebem a doutrina pura e imaculada. Para que ninguém possa ter queixa, como se a Igreja lhe quisesse impor coisas impossíveis e “reduzir-lhe a cativeiro o entendimento, para que obedeça a Cristo.” (2 Cor 10,5), Deus prometeu à Sua Igreja a assistência do Espírito Santo, para que lhe servisse  de luz nas trevas e de orientação nas dúvidas. Cristo não fundou a Igreja sobre a areia, mas deu-lhe sólido fundamento, capaz de opor firme resistência às tempestades. “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão sobre ela.” (Mt 16,18) Pedro conserva a Fé. Onde está Pedro, está a verdade. Quem se associa a Pedro, está com a verdade. Cristo não podia deixar sua Igreja e sua doutrina ao vai e vem das opiniões humanas, que não tem fixidez alguma e são como areia do mar. O futuro da Igreja não podia ser confiado a homens sujeitos a paixões, erros, preconceitos e ignorância. Como poderia o espírito humano estudar e compreender coisas que lhe estão muito além do alcance? A fé, a doutrina, está garantida, em toda a sua integridade pela infalibilidade da Igreja. Conservemos finalmente o sagrado depósito de fé, como a Igreja infalível de São Pedro o apresenta.

 

Santos do Martyrologio Romano, cuja memória é celebrada hoje:

 

Em Roma o martírio de São Faustino com quarenta e quatro companheiros.

Em Cesaréia, na Palestina, São Thedulo. Avançado já em idade, era um dos empregados do governador Firmiliano. Animado pelo exemplo dos mártires, declarou-se cristão. Em consequência desta sua declaração e de sua constância foi crucificado em 308.

Na mesma cidade São Juliano da Capadócia. Pagãos que o viram beijar os cadáveres dos mártires, denunciaram-no como cristão. Seu martírio foi a morte pelo fogo.

Em Florença, Santo Aleixo Falconieri, um dos sete fundadores dos Servitas. Morreu com 110 anos. Na hora da morte teve a consolação de ver Nosso Senhor, rodeado de anjos.

 

Fonte: LEHMAN, João Baptista. NA LUZ PERPÉTUA. Volume I. 2a Edição revista e aumentada. Edição Lar Catholico, 1935. Juiz de Fora/MG.

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