Nossa Senhora Aparecida: Rainha e Padroeira do Brasil

?Nigra sum, sed formosa? (Ct 1,5)

(Eu sou negra, mas formosa)

 

 

Em outubro de 1717, o Conde de Assumar, governador recém-nomeado da Capitania de São Paulo e Minas Gerais (que depois seria desmembrada em duas, por sugestão dele mesmo), tendo resolvido inspecionar pessoalmente as famosas minas de ouro do Brasil, após haver tomado posse em São Paulo, seguia para a região das minas, pela chamada Estrada Real, que atravessava o vale do Rio Paraíba. À sua frente, iam alguns mensageiros para avisar as Câmaras das poucas vilas existentes, a fim de que pudessem prestar as devidas homenagens ao representante do Rei.

O governador pretendia hospedar-se na vila de Guaratinguetá, com toda a sua comitiva, à espera de suas bagagens que deixara no Porto de Parati. A Câmara Municipal guaratinguetaense, então, notificou os pescadores da vila para apresentarem todo o peixe que pudesse haver, para o Governador. Grande quantidade de pescado deveria ser salgada para quando estivessem viajando pelo descampado das Minas Gerais até Vila Rica (atual Ouro Preto). Pretendia-se também mostrar ao Conde os recursos do vilarejo.

Os pescadores, por experiência, sabiam que a época não era boa para pesca, mas tomaram seus barcos e lançaram-se no Rio Paraíba, à cata de peixe. Durante toda a noite, lançaram as redes nas águas do rio, mas nada conseguiram. Desiludidos, quase todos os pescadores abandonaram a pescaria, por volta da meia-noite. Só permaneceu um barco, com Domingos Alves Garcia, seu filho João Alves e Filipe Pedroso, cunhado de Domingos e tio de João.

Os três pescadores foram rio acima, até o porto de Itaguaçu. Foi uma longa distância percorrida, mas não pegaram um só peixe. Já rompia o amanhecer e estavam quase desistindo. Na altura do porto de Itaguaçu, onde a curva do Rio Paraíba desenha um M, João Alves, numa última tentativa, jogou mais uma vez sua rede, e sentiu algo pesado ao puxar as primeiras malhas. Surpreendeu-se ao puxá-la e encontrar uma imagem da Mãe do Redentor, a Virgem Maria, sem a cabeça, com uma lua debaixo de seus pés (Apoc 12,1) e anjos esculpidos em redor.

João envolveu a imagem na sua camisa e colocou-a num canto do barco. Remando um pouco mais adiante, decidiu lançar novamente a rede em busca dos peixes. Ao puxar a rede, vem com ela o que estava faltando: a cabeça da imagem. A segunda peça encontrada, depois de limpa, foi também envolvida na camisa de João Alves. Era uma imagem da Virgem da Imaculada Conceição, negra, feita de terracota (argila cozida), com 37 centímetros de comprimento e pesando um pouco mais de quatro quilos. Os pescadores, admirados, tiram o chapéu e fazem o sinal-da-cruz. Depois de rezarem, colocam-na com muito respeito no fundo do barco, e voltam a arremessar suas redes e, para a surpresa daqueles homens, os peixes surgiram em tanta abundância, que o barco quase afundou com o peso.  

Os pescadores alegraram-se muito com o ocorrido e foram levar o pescado à Câmara, mas primeiro passaram pela casa de Filipe Pedroso, no Morro dos Coqueiros, onde deixaram a imagem. Puseram-na dentro de um baú, enrolada em panos, separada uma parte da outra. Silvana da Rocha Alves, irmã de Filipe, mulher de Domingos e mãe de João Alves. uniu a cabeça da Virgem ao corpo com cera de mandaçaia. Na realidade, as duas partes só ficaram perfeitamente soldadas em 1946, quando um especialista as uniu com um pino de ouro e completou o acabamento externo.

A devoção à Nossa Senhora Aparecida começou com o gesto dos pescadores, recebendo a milagrosa imagem na sua casa. Foi como o Apóstolo João, que tomou Maria ao pé da cruz e a levou para morar consigo (cf. Jo 19,27).

Durante quinze anos, a imagem da Virgem foi conservada por Filipe Pedroso e sua família, em sua casa, onde se reuniam vizinhos e parentes para rezar o terço. Domingos e João Alves faleceram antes de 1726. Anos depois, Filipe Pedroso, o último sobrevivente da milagrosa pescaria, fixou residência no porto de Itaguaçu. Dessa maneira, a imagem voltava, por assim dizer, ao local de origem, onde fora retirada das águas do Paraíba.

Ainda em vida, Filipe confiou a guarda da imagem a seu filho Atanásio Pedroso. Atanásio fez para a Virgem um altar e um oratório de madeira. Até então a imagem ficava dentro do baú, e só era tirada de lá nas horas das rezas, quando era posta sobre uma mesa. Aos sábados, Atanásio chamava os parentes e amigos e com eles rezava o terço e entoava cânticos. Aquele foi o primeiro trono da Virgem Aparecida, onde ela começou a irradiar o seu amor e carinho para todos que com fé e esperança procuram encontrar Deus através de sua maternal proteção. O número de devotos começou a aumentar, alguns sentiram-se favorecidos por graças e até por milagres, que apregoavam. A fama da Virgem Aparecida foi crescendo e a notícia dos prodígios chegou aos ouvidos do pároco da igreja matriz de Guaratinguetá, Padre José Alves Vilela, que mandou seu sacristão, João Potiguara, assistir as rezas e observar. Baseado nas informações deste, e tendo ouvido outras pessoas, resolveu o vigário construir uma capelinha de pau-a-pique, ao lado da casa de Atanásio. Em face da grande afluência de devotos, logo essa capelinha ficou pequena. Era preciso construir outra maior.

Em maio de 1743, o Padre Vilela pediu ao senhor Bispo Dom Frei João da Cruz autorização para construir uma capela maior, com espaço suficiente para receber o grande número de fiéis que acorriam de maneira admirável, para rezar diante da Senhora Aparecida. A solicitação foi concedida e a construção foi terminada dois anos após a autorização diocesana, sendo aberta à visitação pública em 26 de Julho de 1745 (festa de Santa Ana, mãe da Virgem e avó do Messias), dia em que foi celebrada a primeira Missa. Era uma bonita igreja feita de taipa, no Morro dos Coqueiros, local alto e agradável. Além da igreja, com altares entalhados de madeira, havia a sacristia, a sala dos milagres e uma sala de reuniões.

O Padre Francisco da Silveira, que escreveu a crônica de uma missão realizada em Aparecida em 1748, qualificou a imagem da Virgem Aparecida como “famosa pelos muitos milagres realizados”. E acrescentava que numerosos eram os peregrinos que vinham de longas distâncias para agradecer os favores recebidos.

Por volta de 1860, o escritor português Augusto Zaluar, após visitar a capela de Nossa Senhora Aparecida, colocou por escrito esse testemunho:

“O cristianismo, religião da alma, não podia deixar de procurar para a sua oração os lugares que estivessem mais próximos do céu. Nas montanhas mais inacessíveis, nos píncaros gelados dos Alpes, ergueram os apóstolos do Evangelho os símbolos sacrossantos de sua liturgia.

Assim fizeram também nas vastas e acidentadas regiões da América do Sul os piedosos sacerdotes do Novo Mundo.

Entre todos esses templos que temos visto no interior do País, nenhum achamos tão bem colocado, tão poético, e mesmo, permita-se-nos a expressão, tão artisticamente pitoresco, como a solitária capelinha da milagrosa Senhora da Aparecida, situada a um pouco mais de meia légua adiante da cidade de Guaratinguetá, na direção de São Paulo.

A sua singela e graciosa arquitetura está de acordo com a majestosa natureza que a rodeia e com a montanha que lhe serve de pedestal, e domina, moldurado em um horizonte infinito, um dos panoramas mais arrebatadores que temos contemplado em nossas digressões.  
(…)
A fama da milagrosa Virgem espalhou-se por tal forma, e chegou a tão longínquas paragens, que dos sertões de Minas, dos confins de Cuiabá e do extremo do Rio Grande, vêm todos os anos piedosas romarias cumprir as religiosas promessas que nas suas enfermidades ou desgraças fizeram àquela Senhora, se lhes salvasse a vida ou lhes desse conforto nas tribulações do mundo.
(…)
As muitas curas que tem operado nos enfermos do mal de São Lázaro, que tanto abundam neste ponto da Província de São Paulo e na de Minas, estendendo-se mesmo às outras que lhes são limítrofes, são o incentivo à maior parte das romarias que o povo faz a este templo solitário e à protetora imagem da Senhora da Aparecida, que refulge no altar-mor, adornada com um precioso manto de veludo azul ricamente bordado de ouro, e parecendo sorrir compassiva a todos os infelizes que a invocam, e a quem jamais negou a consolação e a esperança.

Afortunados os rudes sertanejos que têm mais fé na intervenção divina do que nos resultados tantas vezes mentirosos da ciência humana!
(…)
Estas tradições são os melhores exemplos, as mais profícuas lições de moral que a religião e a piedade podem ensinar ao povo rude, porém impressionável e bom do interior do País.” (In: ZALUAR, Augusto Emílio. Peregrinação pela Província de São Paulo: 1860-1861)

Como se fixou o dia de Nossa Senhora Aparecida

Em 1894, o santo padre Leão XIII, incluiu a Virgem Aparecida no Calendário litúrgico da Diocese de São Paulo e determinou que sua Festa fosse comemorada no “quinto domingo depois da Páscoa”.

Todavia, a partir de 1908, o Papa São Pio X, mandou fixar no Breviário e no Missal, a data de 11 de Maio para a celebração da Festa.

Em 1939, os Bispos do Brasil reunidos solicitaram e conseguiram outra mudança: utilizar a data de 7 de Setembro, o Dia da Pátria, para também comemorar e homenagear a Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Padroeira do Brasil. Assim, de 1939 até 1953, a Festa da Virgem Aparecida foi comemorada no Dia da Independência.

Em 1954, tendo-se observado a inconveniência de duas comemorações no mesmo dia, a Santa Sé transferiu a data para 12 de outubro, a pedido da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

A Basílica Nova, o maior santuário mariano do mundo.

Entre os anos de 1883 a 1888, a Capela de Aparecida foi ampliada e reformada, sempre com o objetivo de melhor atender a afluência de fiéis, cada vez mais crescente e fervorosa. Essa Capela é a atual igreja velha de Nossa Senhora Aparecida, que continua em atividade até hoje. Em 1893, o Bispo diocesano de São Paulo, D. Lino Deodato Rodrigues de Carvalho, elevou a igreja à dignidade de “Episcopal Santuário de Nossa Senhora da Conceição Aparecida”. O Santuário foi elevado a Basílica Menor em 29 de abril de 1908, sendo por isso também chamado hoje de “Basílica Velha”.

Em 1894, chegou em Aparecida um grupo de padres e irmãos da Congregação dos Missionários Redentoristas, para trabalhar no atendimento aos romeiros que acorriam aos pés da Senhora Aparecida.

Em 8 de setembro de 1904, por determinação do Papa São Pio X, acontece a solene coroação da Senhora Aparecida, por D. José Camargo Barros, com a coroa oferecida pela Princesa Isabel.

A 16 de julho de 1930, o Papa Pio XI proclamou Nossa Senhora Aparecida “Rainha e Padroeira do Brasil”, “para promover o bem espiritual dos fiéis e aumentar cada vez mais a devoção à Imaculada Mãe de Deus”. A 5 de março de 1967, o Papa Paulo VI ofereceu a “Rosa de Ouro” à Basílica de Aparecida.

A idéia de construir a Nova Basílica nasceu com D. José Gaspar de Afonseca, Bispo do Rio de Janeiro, em sua visita oficial de 12 de Outubro de 1940. Na continuidade, para concretizar o seu desejo, agilizou as primeiras providências, escolhendo o terreno, determinando uma comissão para o estudo técnico e a confecção de um primeiro esboço.

Com o falecimento de D. José Gaspar, em 1944, assumiu a Diocese D. Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, que também desde o início manifestou o propósito de continuar os estudos e iniciar a construção.

Em princípio de 1946, foi escolhido o local atual para o Santuário, no Morro das Pitas, bairro da Ponte Alta, próximo ao Porto de Itaguaçú e bem próximo de onde era a casa de Filipe Pedroso, na qual a imagem permaneceu por mais de 10 anos, antes de ir para a Igreja do Morro dos Coqueiros, hoje Basílica Velha.

A colocação da pedra fundamental nos alicerces da Basílica aconteceu no dia 10 de Setembro de 1946, pelas mãos do Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. Manuel Gonçalves Cerejeira, que trouxe terra de Fátima e depositou no cofre da pedra angular, na presença de todos os Cardeais do Brasil, autoridades religiosas, civis e militares.

Em 15 de Agosto de 1967, por ocasião da comemoração do 250º Aniversário do encontro milagroso da imagem, a Basílica Nova, embora inacabada, foi inaugurada pelo Papa Paulo VI, representado por um legado especial do Vaticano.

A Basílica Nova foi sagrada pelo Papa João Paulo II, no dia 4 de julho de 1980. E em 1984 foi oficialmente declarada “Santuário Nacional”, pela CNBB.

O Santuário possui dimensões apreciáveis, com 173 metros de comprimento, 168 metros de largura, área coberta aproximada de 18.000 metros quadrados, cúpula com 80 metros de altura, quatro naves dispostas em cruz, cada uma com 40 metros, e uma torre com 108 metros. A capacidade é para 45.000 pessoas, sendo o maior Santuário mariano do mundo. Somente a Basílica de São Pedro no Vaticano é maior do que ela.

Em 19 de Abril de 1958, o Papa Pio XII criou a Arquidiocese Metropolitana de Aparecida.


A cidade de Aparecida é um dos maiores centros de peregrinação do mundo.

 

Oração à Nossa Senhora Aparecida

Ó incomparável Senhora da Conceição Aparecida,
Mãe de Deus, Rainha dos Anjos, Advogada dos pecadores,
Refúgio e consolação dos aflitos e atribulados.
Ó Virgem Santíssima, cheia de poder e de bondade,
lançai sobre nós um olhar favorável
para que sejamos socorridos
em todas as necessidades em que nos encontramos.
Lembrai-vos, clementíssima Mãe Aparecida,
que não consta que nenhum dos que têm a vós recorrido,
invocado vosso Santíssimo Nome
e implorado vossa singular proteção,
fosse por vós abandonado.
Animado com esta confiança, a vós recorro,
tomo-vos de hoje para sempre
por minha Mãe, minha protetora, minha consolação e guia,
minha esperança e minha luz na hora da morte.
Assim, pois, Senhora,
livrai-nos de tudo o que possa ofender-vos
e a vosso Santíssimo Filho, meu Senhor e Redentor Jesus Cristo.
Virgem Bendita, preservai este vosso indigno servo,
esta casa, a nossa Pátria e seus habitantes,
da peste, da fome, da guerra,
do comunismo, do aborto, da violência,
de espíritos obsessores, desastres, tempestades.
Enfim, livrai-nos, Nossa Senhora Aparecida,
de todos os perigos e males que nos possam flagelar.
Soberana Senhora,
dignai-vos dirigir-nos em todos os negócios temporais e espirituais,
livrai-nos da tentação do demônio
para que, trilhando o caminho da virtude,
pelos merecimentos da vossa puríssima Virgindade
e do Preciosíssimo Sangue de vosso Filho,
Nosso Senhor Jesus Cristo,
vos possamos ver, amar e gozar da eterna glória
por todos os séculos dos séculos.
Amém.

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CONSAGRAÇÃO OFICIAL À EXCELSA PADROEIRA DO BRASIL
 
Ó Maria Imaculada, Senhora da Conceição Aparecida,
aqui tendes prostrado diante da vossa milagrosa imagem,
o Brasil que vem de novo consagrar-se à vossa materna proteção.
Escolhendo-vos por especial Padroeira e Advogada de nossa Pátria,
nós queremos que ela seja inteiramente vossa.
Vossa a sua natureza sem par, vossas as suas riquezas,
vossos os campos e as montanhas, os vales e os rios,
vossa a sociedade, vossos os lares e seus habitantes,
com os seus corações e tudo o que eles têm e possuem,
vosso, enfim, é todo o Brasil.
Sim, ó Senhora Aparecida, o Brasil é vosso.
Por vossa intercessão, temos recebido todos os bens das mãos de Deus,
e todos os bens esperamos receber, ainda e sempre, por vossa intercessão.
Abençoai, pois, o Brasil que vos ama,
abençoai o Brasil que vos agradece,
abençoai o Brasil que é vosso.
Abençoai, ó Rainha de amor e misericórdia,
abençoai, defendei, salvai o nosso Brasil.
Protegei a Santa Igreja, preservai a nossa Fé,
defendei o Santo Padre, assisti os nossos Bispos,
santificai o nosso clero, socorrei as nossas famílias,
amparai o nosso povo, esclarecei o nosso governo,
guiai a nossa gente no caminho do céu e da felicidade.
Ó Senhora da Conceição Aparecida!
Lembrai-vos de que somos e queremos ser vossos vassalos e súditos fiéis.
Mas, lembrai-vos, também,
de que somos e queremos ser vossos filhos.
Mostrai, pois, ante o céu e a terra,
que sois a Padroeira Poderosa do Brasil
e a Mãe querida de todo o povo brasileiro.
Sim, ó Rainha, ó Mãe de todos os brasileiros,
venha sempre a nós o vosso Reino de amor
e, por vossa mediação,
venha à nossa Pátria o Reino de Jesus Cristo,
vosso Filho e Senhor nosso.
Amém.

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